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segunda-feira, 30 de junho de 2008

O jeito nas cadeiras

"Olha o jeito nas cadeiras que ela sabe dar
Olha só o remelexo que ela sabe dar"

(Isto Aqui O Que É?, Ary Barroso)

Esse papo de cadeiras do último post ajudou-me a recordar mais um fiapo de sabedoria daquela época em que a maioria da humanidade atinge o ápice de seu desenvolvimento intelectual: a infância. A partir daí, é ladeira abaixo, e não tenho motivos para supor que comigo tenha sido diferente, como a seguinte história facilmente comprova:

A morena das cadeiras de que me falava João Gilberto era formada com nota dez e três estrelinhas num curso de boas maneiras, além de ser dotada de uma sensibilidade ímpar para o manejo da vida em sociedade. Pois a morena, ao dar uma festa, dava um jeito nas cadeiras de modo que, em primeiro lugar, ninguém precisasse ficar de pé se não quisesse, e sem que as cadeiras obstruíssem a pista de dança ou o caminho dos garçons. Supridas estas primeiras e básicas necessidades, a moça fazia mais: delicadamente conduzia os convidados às suas respectivas cadeiras, de forma que amizades antigas fossem restabelecidas, atuais fossem mantidas e novas fossem criadas - tudo pela proximidade cadeiral.

Mas isto não garantiria para a moça mais do que um dez no curso de etiqueta. Para granjear as três estrelinhas, foi necessário contar com aquilo que não se aprende na escola: sua sensibilidade para detectar as sutilezas das relações sociais. Ao perceber, em plena festa, que um ex-marido se sentava perto de uma ex-sogra, ou que uma amante se aproximava de uma esposa, a morena, do alto de suas sandálias de prata, dava um remelexo nas cadeiras - e assim os convidados, mal se dando conta do que se passara, eram reconduzidos a companhias mais adequadas, atuais maridos com atuais sogras, amantes com maridos, amantes com esposas.

E foi devido a esse excepcional talento que a morena foi imortalizada por Ary Barroso. Porque dar um jeito nas cadeiras, até eu dou. Mas o remelexo, só a morena das sandálias de prata era capaz de dar.


***

Voltando ao assunto do post anterior, podem respirar sossegados que o Gabriel não ajeita nem remelexe cadeira alguma na entrevista com o Vinny.

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sábado, 28 de junho de 2008

Dicas entusiasmadas, reclamações rabugentas, um lamento e uma surpresa (ãpdeit)

- Tem novidade no meuspaço do André: comovido pela perturbadora notícia, ele dedicou seu concerto para piano trio e orquestra de cordas à memória do Esbjörn. Que eu ouvi como uma elaborada resposta a Tuesday Wonderland, a música - como se André houvesse capturado um "assunto" ali lançado e elaborado, a partir dele, um conto ou um poema.

- As críticas à estréia de Lolô nos EUA vieram em hora oportuna, para me assegurar de que ainda existe vida inteligente em meu futuro país de residência. Salvo comparações exageradas com Chick Corea e uma ou outra menção descabida (Philip Glass, jura?!?), os críticos dizem tudo o que os ouvintes da Helô já sabíamos faz tempo. Se você ainda não sabe de nada, não perca mais tempo lendo este post e corre .

- Não é que o disco novo do Brad Mehldau não seja legal. Ele é. Mas essa onde de power drummers em jazz trios ainda me mata.

- Definitivamente, não tenho mais idade para as viagens experimentais do Bill Frisell. Quando quero ouvi-lo, com freqüência cada vez maior vejo-me indo direto à fonte, ou à Broadway (1, 2 e 3).

- João Gilberto volta a dar o ar de sua graça cá por estas plagas justo quando estou a ir-me embora. Nem tudo é perfeito.

- E por falar em Heloísa, talvez vocês se lembrem de um gajo que em tempos idos incitava as Heloísas do mundo a mexer as cadeiras. Pois não é que ele mudou de vida? Cliquem em show e me digam se não minto.

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quinta-feira, 26 de junho de 2008

Um ano de blog

Esta semana - este blog - um ano.

Há um ano terminava um mestrado que, menos importante de tudo, ensinou-me a ler e a pesquisar. Terminava uma experiência que me ensinara a transformar em bomba propulsora uma paixão aterradora que, se deixada sem mestrado, viraria prisão perpétua.

Terminava uma análise que me ensinou ser impossível ser feliz sozinha numa relação em que o outro mal-me-quer. Terminava uma experiência que me ensinara que as coisas terminam.

Terminava um namoro abençoado que me ensinou a ser mulher de um homem magnífico.

Terminava um blog que me ensinou a não ter medo de querer escrever.

Terminava, enfim, a terceira temporada de uma série que não me ensinou nada, mas viciou bem.

Depois da terceira temporada, conforme eu previra, veio a quarta; também de acordo com minhas previsões, a nova temporada veio a ser bastante distinta de tudo o que eu havia previsto.

Depois do nominimo, e igualmente dentro dos conformes, vieram blogs independentes até muito mais legais do que o nominimo jamais foi.

Depois do namoro, que preguiça recapitular: foras tragicômicos, bachelors improváveis, bachelors promissores, O Grande Amor, o grande abandono, grandes e pueris divertimentos.

Depois da análise, veio a vida sem análise. Que não é pior que a vida com análise. E todavia não é melhor.

Mas o que viria depois do mestrado, eu não tinha como saber.


***

É junho. Faz frio e tenho fome. Tenho mais fome que em todos os invernos passados.

Não preciso mais prever o futuro.

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quarta-feira, 25 de junho de 2008

Palavras que me são caras

"A anulação da morte lembra a morte em todos os aspectos." (Alec)

"Como enfeitiçada, fui atraída para você das profundidades lodosas da subserviência feminina ancestral, uma servidão anterior às palavras, a submissão de mulher de Neanderthal cujo instinto cego de sobrevivência e o medo da fome e do frio arrojaram aos pés do mais cruel dos caçadores, o selvagem hirsuto que amarrará as mãos dela nas costas e a levará, cativa, para sua caverna." (Ilana)

"Diga em suas orações, Michel, que a solidão, o desejo e a saudade são mais do que conseguimos suportar. E sem eles, perecemos." (Ilana)

A caixa preta, Amós Oz.

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terça-feira, 24 de junho de 2008

Achei

Um blog em espanhol para chamar de meu:

Generación Y

Fiquei até médias horas* de ontem na companhia desses textos que com uma delicadeza estonteante abordam problemas políticos e existenciais da envergadura de um iceberg; os textos de Yoani são a faísca.

Dos atualmente listados na página inicial, comoveram-me especialmente o lamento sobre o conservadorismo humano a partir de uma goteira no elevador e umas portas quebradas; e a não-resposta pseudo-anti-feminista dada pela blogueira aos ataques do Jacob cubano himself.

Só tem uma coisa: uma caixa com 5000 comentários, quem é que lê?


* As altas foram devotadas à Caixa Preta.

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segunda-feira, 23 de junho de 2008

Ataque de angústia fulminante: ignorância, modo quantitativo

A última vez que me senti assim foi na véspera do meu primeiro atendimento supostamente psicanalítico - supostamente porque me disseram que agora sim eu era, aham, uma psicanalista em formação; não que eu tenha acreditado nisso, mas a pessoa que mo disse realmente parecia acreditar, e isso sempre tem um peso -: onze horas da noite, estou me preparando para uma feliz noite de sono a prenunciar um feliz dia psicanalítico, quando pimba! A cruel constatação:

"Mas como é que eu vou fazer um atendimento psicanalítico se ainda não li as Obras Completas de Freud?"

Minha sorte foi ter percebido a tempo, por mais que quisessem me convencer do contrário, que minha tarefa era nada mais - e nada menos - que atender um paciente, e não recitar aos ventos os versículos da Gesammelte Werke.

Corta para a noite de hoje.

Fuçando os arquivos deste tão estimado blog, deparo-me com um post sobre uma lista dos 100 melhores romances em língua espanhola dos últimos 25 anos. Ele, pra início de conversa, leu aproximadamente 80% do que está lá, e comenta a seleção com autoridade e bom-senso - sem perder de vista, felizmente, que uma lista é-uma-lista-é-uma-lista.

Abstenho-me de comentar os fatos de que - valha-me Deus! - gostei bastante de A Festa do Bode e que O Amor Nos Tempos do Cólera é um dos livros da minha vida. Porque isso implicaria adentrar a esfera qualitativa da ignorância, e a fulminância do ataque não me permite tamanha estripulia. Ater-me-ei - com a esperança de que a mesóclise um dia me redima - à angústia da ignorância, modo quantitativo.

Eu tive a pachorra de verificar qual era a minha porcentagem de leitura daquela lista.

Pra quê.

Aqui entra a importância da melhor amiga, que não só entende perfeitamente a natureza da sua angústia como lhe oferece o conforto mais fofo e honesto, advindo do fundo, do raso e de todos os lados de seu bem-aventurado coração:

- Béééééééu, tem-uma-lista-etc.-etc.-e-o-Idelber-80%-etc.etc.-e-eu-não-conheço-nada!!!

- Calma, Cami: quanto foi que você leu?

- (4. E em português.)

- Nossa, QUANTO! Parabéns!!!

Eu adoraria que vocês ouvissem a voz da minha amiga para compreender o que é a inocência, a bondade e a compaixão humanas. Hoje eu presenciei uma coisa rara - uma epifania a cuja descrição nem Clarice se atreveria: o momento, sutil e fugaz, em que a pureza de uma alma se desvela em toda a sua inteireza.

Mas nem a pureza desta alma foi capaz de sanar a minha angústia.

Porque se há cinco anos, mais do que ler este ou aquele livro, minha tarefa era atender um paciente, desta vez não há pacientes a atender: somos eu e os livros. Nada entre eu e eles.

No que me pergunto se nesta empreitada new-orleaniana terei capacidade para algo além de 1) comer cookies; 2) seduzir um trompetista. O Alex, aliás, não duvida de que esta seja a real motivação por trás do meu doutorado: conquistar o instrumentista que falta para a minha banda-amorosa particular. (Mal sabe ele que minha prioridade continua sendo um contrabaixista; aqui no Brasil, como se sabe, esta é uma raça em extinção. E fora que o Kermit Ruffins, né, tem dó.)

Moving on.

Cookies, trompetistas e contrabaixistas à parte - será que dá?

Será que minha inhorância tem cura?

Por um lado, interrompi uma sensacional leitura justamente para escrever este post. Que não contribui em nada para o fim da minha inhô, mas pelo menos aplaca um pouquinho a angústia.

Por outro, o homem dos 80% apostou em mim.

E, nem de um lado nem de outro - é capaz que, até New Orleans chegar, eu mesma chegue nos 5%.

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domingo, 22 de junho de 2008

Mais uma, vai

Outros dois cruelmente separados na maternidade:

Larry Grenadier


Beavis

Pronto, parei. Juro.

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Hello goodbye

Acabo de fazer uma compra no mercado basicamente com coisas para o café da manhã. Eis um pequeno inventário dos hellos e goodbyes que já começo a dar.

Adeus água de coco, doce de leite, suco de milho, mixirica. You will be deeply missed.

Porém, ai porém: adeus e já vão tarde, leite com cândida (ou seja lá o que costumavam adicionar) e pão sem-graça. Olá, pães de mil grãos e prateleiras de laticínios.

Adeus monopólio Activia (que tomo por ser o mais gostoso, não por compartilhar desta crise de tantas mulheres), olá iogurtes com berries, com limão, com muitas variedades de granola.

Adeus requeijão leco e olá cottage fresco.

***

Pode não parecer, mas passo os dias pensando em coisas assim. E as tardes e noites também.

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Idiotices do dia

1. Idiotice futebolística-musical

Separados no nascimento:

Gary Peacock


Steve Swallow


Silvio Luiz

Desconfia-se de que este último seja o contrabaixista do disco da esposa. Dica dele.


2. Idiotice religiosa-sexual

Que as freiras casavam-se com Jesus Cristo eu já sabia, e achava pervertido o suficiente. Mas agora tem mais essa:

"In Catholic teaching the conjugal act is presented as a meeting that occurs not only between a husband and a wife who love each other, but also between the married couple and God." (Mais aqui, via.)

Se um dia eu decidir participar de uma suruba, certamente será essa a escolhida. Afinal, não me contento com pouco, e tudo vira nada perto do que deve ser uma transa com o marido e... Vejam bem, não é o marido e o galã da Record, não é o marido e o Brad Pitt, não é nem mesmo o marido e o Sayid: é o marido, e DEUS.

Vamos combinar que o marido em questão vai ter que ser muito macho pra aceitar o desafio.

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Sueño de la vuelta

Meu primeiro contato com a língua espanhola inequivocamente foram as palavras RELLENO CALIENTE, estampadas nas embalagens das tortinhas de maçã e banana do McDonald's - como, aliás, desconfio que seja o caso para toda criança brasileira não-pobre e não-gaúcha. Descontada, porém, esta experiência-padrão, é seguro dizer que meu segundo ou terceiro* contato com a língua espanhola se deu através da letra de Dream of the Return. Nunca me preocupei em ir más allá de la embromación, mas agora que o espanhol definitivamente chegou na minha vida para ficar, debrucei-me sobre estas palavras cujos fonemas povoaram a minha infância.

Antes das palavras, porém, a música. Não, nada de análises ou elucubrações: apenas lembranças sentimentais confrontadas com minha experiência atual. Este foi um dos primeiros solos do Pat que decorei, eu que em 1990 iniciava minha extenuante e inútil carreira de memorizadora de improvisos (se alguém tiver idéia de como posso ganhar dinheiro com isso, favor entrar em contato). Na verdade, são dois ou até três, a depender do gosto classificatório do ouvinte: primeiro o solo de Ibanez, depois 12 compassos de Lyle, desembocando em outros tantos de synth. Mas os solos, como sempre em se tratando de PMG, são apenas um dos incontáveis elementos que me interessam - além deles, a beleza da composição, a forma, a harmonia, os timbres do Lyle, a bateria inconfundível, o baixo econômico e preciso, a riqueza dinâmica, a simplicidade conquistada à custa de muita complexidade. Dream of the Return, apesar de composição do Pat, é inteira Pedro e Lyle para mim. Começou aí, aliás, meu interminável processo de luto por uma das experiências que mais me dói nunca ter vivido: porque posso até me conformar por nunca ter nadado no Tietê e nunca ter visto Pelé jogar - mas nunca, jamais me conformarei por nunca ter visto o PMG com Pedro Aznar. E o Lyle, bem, seu expanded piano é como a ilha de LOST. A guitarra pode ser Jack, Ben, Locke - mas é na ilha que todos eles agem; é a partir dos teclados e do piano que tudo acontece.

Sobre as palavras. Dei a elas, como de costume antes que eu efetivamente leia a letra, uma interpretação singular: sempre entendi que "amar é um poema" e "meu coração é um livro". Vejam se eu não estava justificada:


Dream Of The Return
(Pat Metheny / Pedro Aznar)

Al mar eché un poema
Que llevó con él mis preguntas y mi voz
Como un lento barco se perdió en la espuma

Le pedí que no diera la vuelta
Sin haber visto el altamar
Y en sueños hablar conmigo
De lo que vio

Aún si no volviera
Yo sabría si llegó**

Viajar la vida entera
Por la calma azul o en tormentas zozobrar
Poco importa el modo si algún puerto espera

Aguardé tanto tiempo el mensaje
Que olvidé volver al mar
Y así yo perdí aquel poema
Grité a los cielos todo mi rencor
Lo hallé por fin, pero escrito en la arena
Como una oración

El mar golpeó en mis venas
Y libró mi corazón


* Ok: o segundo deve ter sido tus besos nunca más.

** Um dos erros mais toscos de todo o Songbook: "sabrina" em vez de "sabría" (afora outros vários erros na mesma letra). Mas não deixa de ser poética a imagem de uma revistinha Sabrina lançada ao mar.

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quarta-feira, 18 de junho de 2008

Eu já

Segue a lista dos mais bizarros e selvagens eventos da minha atribuladíssima vida sexual. Afinal, eu não podia ser passada pra trás tão fácil:

EU JÁ

... acreditei que uma relação sexual consistia única e exclusivamente na fricção do pênis contra as mucosas vaginais (sim, nesses termos). Até uns dezesseis anos de idade aproximadamente.

... perdi o tesão num cara porque ele não tocava bem o bastante. Não o meu corpo, mas determinado instrumento musical.

... abri mão de sexo pra ficar ouvindo música. Isso só umas 481516 vezes.

... implorei para homens diversos não pronunciarem a palavra cueca dentro da minha casa.

... seduzi um homem vestindo nada mais e nada menos que uma legítima cocô-carça e um legítimo cocô-blusão.

... fui trocada por um mapa astral.

... roubei no beijo, abraço & aperto de mão para não beijar um menino gordinho na terceira série.

... intuí que um namoro iria pro brejo quando o ex ouviu Coyote e achou chato.

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Um dilema ético

Uma de minhas rotinas favoritas é ler meus sites e blogs de estimação enquanto tomo café da manhã. Preciso ficar mais esperta: esta semana, houve ocasião em que quase espirrei leite sobre o teclado. Eis os parágrafos responsáveis por isso, que introduzem o release do disco de estréia da contrabaixista e cantora Esperanza Spalding:

"Every few years, a new artist comes along with talent and potential so great that it challenges and redefines the common perceptions of what jazz is and where it's heading. The new light on the horizon may be a compelling vocalist one year, or perhaps an unmatched instrumental virtuoso a few years later, or maybe a brilliant composer a few more years down the road.

Bassist/vocalist/composer Esperanza Spalding is all of these things and more. And she will, in fact, challenge and expand your perceptions of jazz."

Como explicar aos meus seis leitores o quase-derramamento de leite? Tão assombroso é o absurdo, que não sei se começo pelo meio ou pelo fim; e quando me bate esse tipo de dúvida, sei que devo começar por um lugar tão inusitado quanto o assunto que irei comentar. Comecemos, então, pelo Bush.

Se vocês bem se lembram, qual foi o argumento principal utilizado para justificar a invasão do Iraque? Que lá havia as famigeradas armas de destruição em massa - coisa que logo foi desmentida e a maioria dos estado-unidenses nem ligou, como mostra o resultado das eleições presidenciais de 2004. Mas, além desse, havia outro argumento, tão mais sutil quanto poderoso: a insistente e falaciosa repetição de que existia um vínculo entre Saddam e a Al-Qaeda. Reparem que em nenhum momento se disse explicitamente que Saddam fora o responsável pelo 9/11 - mas foi precisamente isto que foi sendo progressivamente inculcado nas cabecinhas distraídas dos estado-unidenses*. Afinal, todos somos ovelhinhas quando não estamos prestando atenção.

O problema é que, ao ler o release da moça, eu estava. E que faz o texto? Não é que ele sujira que Esperanza seja a mais nova revelação do jazz - o que, por si só, já seria uma declaração suficientemente pretensiosa e bombástica. Não: sugere-se, simplesmente, que Esperanza seja pelo menos três vezes melhor do que todas as revelações do jazz, afinal ela faz três vezes mais coisas do que a típica revelação costuma fazer. Brad Mehldau toca, Luciana Souza canta, Brian Blade compõe? Esqueçam todos eles: Esperanza Spalding faz tudo isso, "and more"!

Existe uma ótima citação sobre o ato de escrever a partir da qual é possível traçar um paralelo com a música (não o ato de produzi-la, mas a própria música):

"Planejar escrever não é escrever. Traçar o projeto de um livro não é escrever. Pesquisar não é escrever. Falar com as pessoas sobre o que você está fazendo, nada disso é escrever. Escrever é escrever." (E. L. Doctorow)

A habilidade de tocar um, dois ou dez instrumentos não é música. Escrever notas numa partitura não é música. Ler a letra de uma música não é música. Música é música.

Quando se trata de música, já está claro, sou maquiavélica: pouco me importam os meios, interessa-me o resultado final. Tocar, cantar e compor, em si, não são valores absolutos. A conjunção destas habilidades só adquire algum valor se delas resultar boa música. Isto posto, que tenho a dizer sobre a música de Esperanza Spalding?

Digo que é SENSACIONAL. Ela é talentosa até não poder mais. Os timbres dela - tanto de sua voz como de seu baixo - me agradam muitíssimo. Os arranjos que ela escreve também - a rearmonização de Ponta de Areia, por exemplo, ficou massa, com uma linha de baixo irresistível. Ela improvisa solos memoráveis (confiram "If That's True") e isso, convenhamos, é coisa raríssima de se encontrar num contrabaixista. Ela compõe direitinho - duas músicas, em especial, são uma graça: uma que poderia estar no próximo disco do Djavan ("I Know You Know"), e outra no próximo da Alicia Keys ("Precious"). Minhas críticas e outros elogios ao disco encontram-se bem resumidos aqui, num dos raros casos em que ouvi o disco, li a resenha e fui fazendo ãrrã para tudo.

Por tudo isso, espero que Esperanza seja a primeira a sair da minha listinha de desconhecidos e se transforme na próxima Norah Jones. Ela tem tudo para chegar lá: é jovem, linda e conta com uma campanha de marketing poderosíssima.

Agora voltemos ao release. Tem também a parte que diz que ela vai desafiar e expandir as minhas - as suas, as nossas - percepções do jazz. Mas essa é uma conversa tão claramente para ninar o boi, que me aterei ao óbvio: nem se eu partisse do Bush conseguiria dimensionar a imensa distância que vigora entre um Miles Davis e uma jovem musicista que lança um disco de estréia promissor.

Chegamos, enfim, ao dilema ético que é a razão de ser deste post. Quando eu era criança, me ensinaram que mentir era feio, e acreditei nisso. Ao longo da vida, porém, descobri que verdade e mentira são valores relativos, como recentemente demonstraram a ministra e a feminista. Se, por um lado, mentir para o Senado e para a população norte-americana em função dos interesses comerciais de alguns me parece a mentira mais condenável e escabrosa que há, mentir para o torturador é um ato de coragem.

Fica então a pergunta: numa escala que vai da mentira ao povo (trazendo dinheiro para poucos e morte para muitos) até a mentira ao torturador (que, pelo contrário, impede assassinatos), onde situar uma mentira inofensiva como a que se vê no release de Esperanza? Pois os benefícios dela advindos são muitos - maiores chances de divulgação de um trabalho excelente -, e o malefício é nenhum.

Se penso no problema de um ponto de vista exclusivamente intelectual, acho que tem mais é que mandar ver nos caôs mesmo. Só que até meu relativismo maquiavélico tem limites. Eu jamais teria coragem, por exemplo, de escrever coisa semelhante sobre o Gabriel, ou mesmo sobre o André Mehmari. Acende uma luzinha vermelha no superego que não me deixa ir adiante.

Naturalmente, uma série de fatores converge para o sucesso de Esperanza, dentre os quais se destaca a exploração de sua imagem. Mas o tom que norteia a campanha claramente é este: "temos aqui a melhor e mais revolucionária musicista de jazz dos últimos tempos". Está funcionando, que bom que está. E, todavia, meu superego teima em piscar. Não consigo silenciar a menininha que ouvia da mamãe: mentir é feio, muito feio.


*Uma pesquisa rápida no Washington Post há de suprir a falta de links desta parte do texto.

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segunda-feira, 16 de junho de 2008

Chorando

Esbjörn Svensson dies

E chorando, e chorando.

Eles tocaram aqui uma vez, em Ouro Preto. Vinham pro Bourbon também; na última hora não rolou. Cheguei a ver passagem de ônibus e hotel, mas desisti - afinal, haveria tantas chances de ouvi-los depois, né? Volta e meia eles estavam em NY... Bel e Lu, inclusive, foram ouvi-los por recomendação minha - e adoraram, e trouxeram CDs, e quase me mataram de inveja.

Os primeiros meses de 2004 foram marcados pela discografia completa deles. Eu não queria ouvir outra coisa.

Mas agora não consigo escrever mais nada. Depois preparo um post que tente fazer jus à minha adoração por esta música que vai fazer tanta falta.

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domingo, 15 de junho de 2008

Onde dois universos se encontram

"The movie version of Sex and the City opened last weekend, and the entertainment pages reported that theaters were jammed with women sporting the most expensive fashions they or their credit cards could handle. Seven hundred dollar Manolo spike heels were everywhere. In contrast, the crowd at Tuesday night's Return to Forever concert looked like a music nerd's convention. A typical fashion statement included shorts, tennis shoes and mid-calf brown socks. Grey hair, no hair, and middle-aged paunches were everywhere." (Mais aqui.)

Tirando o fato de que odeio fusion e acho o Return To Forever um dos Top 2 projetos mais malas do Chicória, identifiquei-me sobremaneira com as duas populações descritas na reportagem do AAJ.

Aparentemente, sou um tiozinho barrigudo de salto alto.

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quinta-feira, 12 de junho de 2008

Pequenas alegrias da vida

Almoçar, HOJE, num dos maiores redutos corinthianos de São Paulo.

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Ah, os outros

Um amigo me disse que gosta de mulher complicada. No sexo.

Complicada não quer dizer que ela se interesse por práticas sexuais que exijam longos e exaustivos planejamentos, e cenários, e props diversos. Tampouco quer dizer que a mulher seja difícil, que leve um tempo para se permitir incursões sexuais mais ousadas.

Não: mulher complicada é mulher travada.

Ou seja: se o sexo é ruim, mas ruim mesmo, aí é que meu amigo gosta. Não do sexo. Mas da mulher.

Agora vamos todos pensar juntos, antes de chamar o meu amigo de louco.

Primeiro, que se diga que o desejo dele tem o grande mérito de fazer por cair por terra uma das maiores falácias de um psicologismo ingênuo: se uma experiência é boa e Fulano gosta, vai querer repeti-la; se for ruim e desgostosa, tenderá a evitá-la.

Depois, que se diga que meu amigo tem um grande problema. Pois de sexo bom ele parece gostar - um gostar que, neste caso específico, quer ser repetido.

Finalmente, reconheça-se que talvez - talvez - este meu amigo não seja o excêntrico que estamos supondo. Talvez a maioria dos homens seja assim e nem se dê conta. Talvez a única diferença do meu amigo para os demais seja que ele se aperceba do próprio desejo.

Porque mulher safada, mulher desejosa, mulher arreganhada ou qualquer que seja o nome que se queira dar - não preciso nem supor que isso povoa a imaginação das pessoas; há toda uma indústria dedicada a preencher esta fantasia.

Agora vamos considerar por um instante as moças que posam peladas (não vamos falar das que atuam, para não complicar ainda mais a discussão - de complicados já bastam os amores do meu amigo):

Quantas delas são capazes de dizer que gostaram e gostam de fazer o que fizeram.

Quantas são capazes de gostar?

Não estou nem dizendo publicamente, que já são folclóricas as declarações de que só fiz o trabalho porque era um nu artístico etc. e zzz... Mas quantas são capazes de senti-lo e afirmá-lo para seus maridos, namorados, casos, parceiros.

Não sei, não sei quantas.

Mas desconfio de que homens capazes de ouvir e gostar disso sejam pouquíssimos.

***

Agora deixemos de lado as que posam nas revistas e saites e consideremos aquelas que posam apenas (ou com maior freqüência) para seus maridos, namorados, casos e parceiros.

Quantos serão os maridos, namorados, casos e parceiros que agüentam - mais, que apreciam - saber que sua mulher gosta de sexo?

***

(Atenção: considerações psicanalíticas de orelhada a seguir. Para considerações psicanalíticas rigorosas, favor consultar Calligaris. Um dia chego lá.)

Porque vejamos. Se uma mulher diz que gosta de sexo, é o mesmo que dizer que gosta de comer. Gostar de comer é relativamente independente das comidas que se come (sim, a maleabilidade do vínculo da pulsão com os objetos). Posso até dizer "amor, seu macarrão está uma delícia". Mas meu gosto não veio do macarrão: é anterior a ele. E mais: meu gosto por massas não exclui vinhos, bolos e carnes da minha imaginação.

Claro está que os objetos despertam a pulsão - daí a relativa independência entre um e outro. Mas, uma vez desperta, a pulsão traça caminhos imprevisíveis. E o objeto que a despertou vira apenas um entre vários.

(Vale notar: a pulsão é despertada e redespertada o tempo todo. Graças a Deus.)

Então, se mostro a um homem que gosto de sexo, que estou dizendo, no fundo?

Que, meu amor, te-amo-te-adoro-te-quero. Mas*. Meu gosto por sexo é anterior a e independente de você.

Ou seja: se você não existisse na minha vida, seria outro. A fazer precisamente tudo o que você faz agora. Ou até mais. E melhor.

Convenhamos: assusta.

Uma mulher que gosta de sexo - que gosta de comer - é uma mulher que não se pode controlar.

(Nem por si mesma, nem por ninguém.)

É compreensível que seja mais fácil não gostar. Não dizer. Não assumir. Não mostrar.

É compreensível que para um homem seja mais fácil gostar de uma mulher que não goste, ou que tenha dificuldade de gostar.

E tudo bem: porque sempre haverá as outras.

Principalmente, sempre haverá os outros.


* Esta micro-palavrinha resume o problemão - e este post - inteiro. Toda a dificuldade está em poder utilizar, no lugar de uma conjunção adversativa, uma aditiva - isto é, conciliar estas duas informações: 1) que uma mulher possa amar um homem específico; 2) que uma mulher possa amar o sexo em geral.

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quarta-feira, 11 de junho de 2008

Um ponto para Rousseau


Ano passado, meu jornal estado-unidense favorito publicou uma das reportagens mais impressionantes que já li, competentemente traduzida pela Piauí. A história do excepcional violinista (dizem, não sei - eu, a níver de música erudita, conheço as obras completas de Nelson Cavaquinho) ignorado pela multidão fez sucesso a ponto de ganhar uma versão tabajara no Fantástico - com, se não me engano, o spalla da OSESP Claudio Cruz. Mas isso fiquei com preguiça de pesquisar para linkar aqui, que afinal a vida é muito curta.

A reportagem é de uma profundidade que não estamos acostumados a atribuir a trabalhos jornalísticos. Não, pelo menos, a esse jornalismo. Aqui, porém, tenho vontade de destacar apenas um dos muitos tópicos de discussão que o artigo levanta:

"Não há um padrão étnico ou demográfico que possa diferenciar as pessoas que ficaram para ouvir Bell, ou as que deram dinheiro, da vasta maioria que seguiu o seu caminho apressado, sem tomar conhecimento do músico. Há brancos, negros e asiáticos, jovens e velhos, homens e mulheres, representados nos três grupos. Só existe um grupo demográfico cujo comportamento foi sempre consistente. Toda vez que uma criança passava, tentava parar para assistir. E, toda vez, o pai ou a mãe não deixava." (grifo meu)

Este fim de semana observei de camarote algo parecido.

Passagem de som do show do Gabriel. O talentoso pianista Vítor Gonçalves (esse sim eu posso dizer) toca Aqui, Ó e alguns forrós na sanfona - único instrumento, aliás, que soa maravilhosamente bem na sala do Parque Lage.

Não demora muito e um menininho vem correndo de lá de fora e se posta diante do Vítor. E pára.

Demora menos ainda e seu (presumivelmente) pai corre atrás dele, segura os ombros do menininho e começa a sacudi-los para um lado e para o outro. Afinal, é um forró, né - hay que bailar, ao que parece.

O menininho, por sua vez, sacode os braços para se libertar do pai. Ele não está irritado; é só que movimentar os ombros, naquelas circunstâncias, não lhe parece a atividade mais urgente a ser empreendida.

A cena se repetiu algumas vezes: o menininho se soltava do pai e parava, olhando para a tríade homem-instrumento-música. O pai logo voltava a sacudi-lo: "dança, dança!". E o menino indiferente aos clamores do pai, e intrigado por uma cena que talvez ele nunca tivesse presenciado antes.

Custou-me muito tirar a foto que ilustra o post - toda vez, vinha o pai balançar os ombrinhos do menino.

Não sei se minha angústia veio da observação desta cena ou de pensar que, um dia, este menino provavelmente sacudirá os ombros e imobilizará os ouvidos de alguém.

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terça-feira, 10 de junho de 2008

Dois baianos

O fim-de-semana foi passado bem junto de dois baianos. O primeiro é o querido que vocês já conhecem:


Já o segundo...


Meu Senhor do Bonfim bem que podia arrumar um igualzinho pra mim... (Passei esses dias com o Legendary João no iPod, over and over - principalmente ontem. Vontade, agora, de experimentar um ao vivo. Música que nunca ouvi antes. E que, bem, não dá para saber de antemão se eu iria gostar. Mas dá para fantasiar. Que deve ser uma delícia.)

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sexta-feira, 6 de junho de 2008

Textos e interpretações

Um querido camarada me propôs um desafio:

"Você postaria intencionalmente uma foto em que você aparece descabelada e horrível?"

Vamos ao contexto. Na melhor tradição Edson / Pelé, conversávamos sobre as diferenças entre a Camila do blog e a Camila em pessoa. Diz o camarada que a primeira é um personagem e a segunda... Bom, ele não disse o que é a segunda e não sei se faço justiça a seu pensamento ao propor uma oposição binária entre ficção e realidade. Mas uma coisa ele disse: que a primeira é muito mais controlada que a segunda. Se ao vivo num bar posso usar maquilagem, no blog tenho o backspace, mais efetivo que qualquer pancake. Essa evidente diferença no nível de controle de que dispomos em uma situação e na outra faria da Camila do blog a pessoa que quero ser, enquanto pessoalmente eu seria aquilo que sou.

Mas oxe.

O camarada se esquece.

Que sou psicanalista, né.

Acredito em inconsciente.

Acredito que o inconsciente está pouco se lixando para nossas tentativas de controle consciente sobre as coisas - incluindo aí a imagem que fazemos e passamos de nós mesmos. O inconsciente está no bar, está no blog. Backspace algum apaga suas marcas.

Mas é claro que a discussão ficou mais metida a séria do que isso. E chegou ao inevitável o que é blog / o que é literatura. Mais: o que é interpretar um texto. Bora então resolver o problema da hermenêutica em um post, que ambição pouca é bobagem.

Diz meu camarada que, independentemente da concepção que se tenha de interpretação, um texto é sempre um texto - seja um blog, seja uma obra literária. Pressupõe ele, portanto, que partimos sempre da mesma estratégia de leitura, para qualquer texto que se apresente.

Tendo a pensar diferente. De certa forma, é claro que infelizmente só posso partir de mim mesma para interpretar um texto (quisera ser John Malkovich por um dia). Mas graças a Deus, I am many, e cada dia um pouquinho mais, graças a tudo o que leio. Porque o texto cria o leitor. Amós Oz criou uma leitora que eu nem suspeitava que pudesse existir. O blog LLL também. E Freud, e Leaves of Grass. Nem a pau que abordo tudo da mesma forma. Ou, pelo menos, meu esforço é justamente para que nem a pau. Porque se um texto não me transforma, então pra quê.

Por isso não consigo, de jeito nenhum, pensar que este blog é recheado de personagens literários, e nisso concordo com o Alex. Mas sei que esse "por isso" do começo da frase não explica nada: por-isso-o-quê? E dá-lhe o método covarde: não é por causa da intenção do autor. A intenção do autor - e o método de construção do texto - nada tem a ver com a materialidade do texto. Nisso, portanto, discordo do Alex, que diz que a arte é uma construção consciente (em oposição a "coisas que fluem" do corpo e do espírito). Porque a vida, apesar de curta, é misteriosa demais para se restringir as origens e os limites da arte a um método ou outro. Não duvido de que existam artes construídas consciente, pré-consciente e inconscientemente. O método não importa. Não quero saber se Dorival demorou nove anos para compor João Valentão ou se Dolores Duran escreveu a letra de Por Causa de Você em poucos minutos (no guardanapo, com o lápis de sobrancelha). Ou melhor, até quero, pois o assunto me fascina. Mas, no fim, o que fica é a arte: é a música, são as canções. Dizem que Tom compôs Águas de Março num momento relax depois de dias burilando Matita Perê. Só me resta perguntar se, antes de dispor dessa informação, alguém arriscaria dizer que a segunda é literatura e a primeira é blog.*

Meu blog é lápis de sobrancelha no guardanapo, sem dúvida alguma. Escrevo isso aqui com muito carinho, até porque só sei escrever - e fazer todas as coisas que importam, aliás - desta forma. Mas o cuidado, o carinho, o gosto, a preocupação com a escrita - nada disso faz deste blog mais do que uma coleção enorme de falatórios (Heidegger que me perdoe a utilização do termo no plural) - pontilhada aqui e ali, é claro, por duas ou três linhas de epifania, revelação, desvelamento e fala autêntica. Se não me engano, é este o próprio movimento da vida.

Para um texto sem conclusão, nada melhor do que pelo menos uma resposta clara e definitiva. No caso, à provocação do querido camarada:



* O exemplo do Tom é melhor que o primeiro, pois poderíamos cair na armadilha das equivalências simples: construção lenta = consciente; rápida = inconsciente. Começa que tudo é consciente, e o inconsciente permeia tudo. O exemplo do Tom é melhor porque ele mesmo diz que, num caso, o trabalho de burilamento a posteriori da obra foi muito maior do que no outro, que exigiu dele menos burilações (menos intervenções conscientes, portanto).

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quinta-feira, 5 de junho de 2008

Ficar

Então vocês me dêem licença, que agora eu vou falar. Da confusão mental que está me atravessando.

Primeiro eu queria jogar o tempo numa máquina de comprimir. Primeiro é quando cheguei de viagem. Cheguei gostando tanto da cidade, tão certa de que havia tomado a decisão certa, e tão arrasada com o que me esperava aqui (pudera), que desejei que tudo se resolvesse em uma semana: as burocracias e as despedidas. E que eu voltasse e continuasse com minha vida imediatamente.

Mas isso foi primeiro. Agora vem o depois.

O tempo, quero estendê-lo - esticá-lo como a massa de pizza que só encontramos aqui.

Isso é relatividade: quanto mais tempo livre eu tenho, mais o tempo me falta.

Ando num frenzy diferente. Porque não se trata de querer fazer mil coisas: meu frenzy é de ser. De ficar. Só isso.

Quero ficar na chácara com a minha tia. Na rede, com uns tantos livros no colo e com ela por perto. Trabalhando sempre, e nunca a me perder de vista. Quero ficar no Cenourão com o tio Lima. No sofá, enquanto ele vem e me diz que um dia moraremos todos juntos. E que me ama. Quero ficar na praia com o Gabriel. Na areia, enquanto dormimos. E comemos biscoito. Quero ficar no estúdio com o Tato. Com Augusta e as meninas ali do lado. E com música amada para ouvirmos de novo. Quero ficar no bar com uma amiga tão querida. Enquanto conversamos sobre psicologias e famílias. E tomamos mojitos.

Quero sobretudo ficar em casa. Quero que Lili venha de novo e segure minha mão o tempo todo. Que meu pai venha sempre e segure meus pés. E minhas amigas da USP, e as do HC.

Quero tanto ficar sozinha. E acompanhada também, um pouco. Por um mancebo (essa doeu, eu sei) cuja identidade os chegados já conhecem.

Algumas dessas coisas vêm acontecendo (eu tenho muita sorte). Outras, nem de longe. E nem vão acontecer. Porque a vida pode ser um rio, mas o tempo não é uma pizza.

E tem o afastamento e o fim. Que não posso e nem quero controlar: cada um sabe o que é melhor para a própria vida, embora freqüentemente não saiba. Tem sido um exercício de desapego espiritual que seria instrutivo, não fosse tão sofrido. E inesperado.

No fim, não era confusão. Porque está tudo muito claro. Está tudo muito estranho. E tudo vai ficar muito bom.

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quarta-feira, 4 de junho de 2008

Viola, Violar







Momento Tieta - eles merecem, né não?

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Máximas do trânsito

Você sabe que o trânsito está ruim quando -

seu carro só anda quando o farol fecha.

Você sabe que o trânsito está péssimo quando -

seu carro só anda quando o farol abre. Depois de ter aberto e fechado n vezes sem que nada acontecesse.

Você sabe que o trânsito está apocalíptico quando -

seu carro está em São Paulo.

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Se eu for pensar muito na vida

Morro cedo, amor.

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segunda-feira, 2 de junho de 2008

The Cenourão Sessions: It's For You + Aqui, Ó!

Mais duas produções da Liga, saídas do forno:



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Uma linda história de amor

Eu tenho mesmo os melhores amigos do mundo. Compadecidos da minha situação, eles decidiram me levar ao Namoro na TV. Mas é claro que não podia ser um Namoro na TV qualquer: este contou com a participação especial dos gloriosos Lyle Mays e Fausto Silva, grandes pessoas humanas tanto no pessoal quanto no profissional. Infelizmente, o vídeo do programa se perdeu, mas deixo com vocês o áudio desta que foi a experiência mais marcante do fim de semana. Acreditem: meus problemas acabaram.