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sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Das vantagens do alheamento à feminilidade

Já escrevi aqui sobre algumas das minhas dificuldades relacionadas a ser-mulher-no-mundo. Mas nem tudo são espinhos: minha falta de noção sobre as coisas do universo feminino tem lá suas vantagens. Fui poupada de alguns traços e vivências típicos da neurose feminina, da qual felizmente não adoeci por completo. Vamos a eles:

Nunca guiei minha vida pelos astros. Isso, na prática, significa que nunca atentei para os signos dos namorados e bachelors em geral. Sempre deixei as análises astrológicas para as amigas.

Nunca tive ciúme do namorado por causa do orkut. Pensando bem, acho que nunca cheguei a perguntar aos meus namorados se eles tinham orkut.

Nunca fiz a dieta da lua, do sol, das estrelas, do shake, das cores, das pedras preciosas, do tipo sangüíneo. O ápice do controle alimentar a que me submeti foi reduzir as duas fatias de bolo de chocolate para uma, as três bolas de sorvete para duas, as quatro colheres de arroz para três. E isso por uns dois meses, que ninguém é de ferro.

Nunca tive problemas intestinais. As mulheres costumam preocupar-se bastante com o funcionamento do intestino. Está funcionando? Voltou a funcionar? Regularmente? Com que freqüência? Ingerem pós, grãos, iogurtes, remédios. Eu, ao contrário, nunca consegui entender os meandros do funcionamento do meu intestino; nunca me ocorreu reparar nisso.

Nunca percebi quem está olhando quem e quem gosta de quem. Tal habilidade sensitiva, da qual as mulheres costumam se gabar, ao fim e ao cabo prova-se absolutamente dispensável: todas as vezes em que quis ou precisei saber quem estava olhando quem e quem gostava de quem, foi só perguntar à mulher mais próxima, que naturalmente estava se empenhando nesta tarefa há muito mais tempo e com muito mais afinco do que eu. Assim, pude economizar minha sensibilidade para coisas mais importantes, tais como tentar adivinhar o que nos reserva a quarta temporada de LOST.

Nunca olhei revista de fotos & fofocas. Nunca consegui aprender quantas vezes Fabio Jr. e Roberto Justus se casaram, nem quantas vezes suas múltiplas esposas se submeteram a cirurgias plásticas.

Nunca demorei mais de uma hora e meia para me arrumar. A não ser quando terrivelmente apaixonada. Bem, eu sou uma mulher, afinal de contas...

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