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sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

O meu tipo de esculhambação

Falando em esculhambar ex-namorados, ninguém jamais o fará com mais classe e propriedade do que esta mulher:



Eles não formam o casal mais sexy de Hollywood? On the bed, on the floor, on a towel by the door...

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As 7 vantagens de se ter um amante-fumante

1. Você acabou de almoçar: arroz, frango e chuchu. Nada trash, mas também nada romântico. Aí você vai encontrar seu amante e entra em pânico: ninguém quer beijar um chuchu. Que é quando você se lembra de que seu amante é um amante-fumante, e portanto o seu hálito, para início e fim de conversa, será sempre, por definição, melhor que o dele.

2. As pessoas riem da sua cara e te dizem que o amor é cego, que você está uma boba e que não consegue mais pensar direito? Deixe estar: se o seu amante é um amante-fumante, você tem em mãos o melhor contra-argumento possível. Diga a quem for ingênuo o bastante para ouvir que você permanece absolutamente cética, racional e realista: "boba, eu? Claro que não, até percebo um defeito nele: é fumante!".

3. Perceber-se desesperada com o vício dele não porque fumaça fede, e querer que ele pare não porque poderei beijá-lo com freqüência e intensidade maiores ainda. Esses seriam benefícios secundários. Porque o desespero maior está em vê-lo entregar a vida ao vaqueiro de Marlboro em vinte pequenas doses todos os dias.

4. Perceber-se tão desesperada com isso que o post precisa ser deixado ridiculamente pela metade, pois não dá para cogitar vantagem alguma quando penso que o vaqueiro pode estar tirando o Rafa de mim.

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Sobre esculhambação e intimidade

Ser entrevistada, sob pelo menos um aspecto, é como participar de um congresso: o máximo que se pode esperar da experiência é que ela te ponha para pensar. Nunca saí de um congresso sabendo uma vírgula a mais sobre o tema em debate - mas em algumas belas e raras ocasiões, minha curiosidade foi atiçada a ponto de mudar ou reforçar o rumo e o foco dos meus interesses de leitura e estudo. Com entrevistas - e esta é a primeira da minha vida (vocês vêem que estou me sentindo praticamente no sofá da Hebe, ou da Oprah) -, quaisquer que sejam as perguntas, que mais se pode esperar delas além de que provoquem e estimulem (falei na Oprah, pensei em inglês: o verbo stir comes to mind) o pensamento? Pois certamente não se pode ter a pretensão de respondê-las e esgotá-las. Principalmente quando se tem um entrevistador sensível e interessado.

Desta outra perspectiva, então, a entrevista foi um sucesso, pois se minha tentativa de explicar para quem escrevo resultou um tanto confusa, os comentários da Luiza suscitaram uma pequena reflexão que tentarei elaborar agora.

Primeiramente, ficou claro que nós duas temos concepções díspares do que seja esculhambação. Não dá para ter certeza da extensão desta disparidade, mas ela certamente existe - pois, se até posso entender por que minha revolta com a Bel na quinta-feira fatídica (não a do Rafa, não a da Eva, a outra) pode ser considerada uma esculhambação das boas, não consigo lembrar uma ocasião sequer em que eu tenha esculhambado um ex-namorado. Já falei de momentos encantadores, momentos horripilantes e até mesmo um momento utilíssimo com o querido ex-namorado - mas nada que se aproxime do meu conceito de esculhambação. E, como ainda estou ruim de conceitos, não tentarei defini-lo aqui.

Mas posso dizer que só considero a esculhambação viável se aplicada a uma pessoa extremamente próxima (e ninguém encarna isso com mais propriedade que a Bel) ou então a uma distância segura (nada mais fácil e pertinente que esculhambar com a Xuxa, o Bush, a Veja e a Globo - e também, convenhamos, nada mais desinteressante). Ex-namorado é uma figura que se encontra exatamente no ponto médio entre a Bel e a Globo - alguém com quem já se teve muita intimidade e que agora não passa de uma amizade polida. Nada mais inapropriado, portanto, para a esculhambação. O que, pensando bem, mostra que não sou muito chegada em esculhambar. Porque talvez a verdadeira esculhambação - ou, pelo menos, a que consta do dicionário - seja justamente a da ex-mulher com o ex-marido, cuidadosamente projetada para detonar o outro.

Mas a minha esculhambação, ou é com a Globo ou é com a Bel (e, em breve, com o Rafa, é claro.) Só que a Globo, como já disse, não tenho vontade nenhuma de esculhambar - tantos já fizeram isso "tão mais e melhor" do que eu, que efetivamente não vale a pena. Das figuras e coisas distantes, acho mais divertido e original esculhambar com, por exemplo, Little Stick (Toquinho) ou com a aura quase mística criada e sustentada por alguns psicanalistas professores meus - mas isso não é o tipo de coisa que eu tenha vontade de recordar, repetir ou elaborar, portanto não encontra muito espaço aqui no blog.

A Bel, por outro lado, não tive o menor pudor de esculhambar um pouquinho, justamente por saber que ela me entenderia e que não a amo menos por isso. Ela pode até ter ficado um pouco magoada com minhas blasfêmias, e eu poderia até ter evitado de blasfemar aqui no blog - mas não é este o ponto. O ponto é que, dentre a miríade de sentimentos e sensações vivenciadas na quinta-feira fatídica, senti raiva da Bel. Contar sobre a perda do passaporte omitindo este fato seria como falar da morte omitindo o luto - seria deixar de reconhecer a força de um sentimento que só está ausente das amizades da Disney e das freiras. Seria tratar minha relação com a Bel com uma artificialidade que não poderia estar mais distante do que sinto na presença dela.

No fundo, Lu, acho que a grande diferença entre nós duas é que você vê o blog (não sei se este ou se os blogs em geral) como um lugar de exposição, enquanto eu o vejo como um espaço de proteção e elaboração de experiências. Antes que me internem à força, explico: obviamente o blog é público e portanto exposto - mas, por outro lado, ele é uma criação minha. É o meu espaço, a minha casinha que construí com o maior carinho e onde me sinto absolutamente à vontade para receber amigos e desconhecidos que aos poucos vão virando amigos também. O blog será propiciador de ataques e perigos e melindramentos se eu quiser que ele seja. É claro que alguém pode decidir que ele é tudo isso, independentemente da minha vontade. Paciência. Só não posso deixar de dizer o que precisa ser dito por causa disso.

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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Entrevista

Minha amiga Luiza (parênteses para uma reflexão profunda: parece que à enxurrada de Andrés em minha vida está se sucedendo uma ainda mais intensa de Lus - os grafólogos e numerólogos devem ter algo a dizer sobre isso) achou por bem me entrevistar. Não, ela não se contentou meramente em me fazer perguntas: ela precisou chamá-las de "entrevista". O que prova o quanto ela já me conhece, mal me conhecendo, pois intuiu perfeitamente que adoro entrevistas a ponto de nem ter mais respostas autênticas para o questionário do Bernard Pivot, pois já ouvi dezenas delas e decorei a melhor de cada categoria, encarnando com orgulho o conceito winnicottiano de falso self.

Mas as perguntas da Lu não têm respostas prontas - pelo menos, nenhuma que eu tenha tido vontade de copiar -; então, restou-me respirar fundo e respondê-las, refletindo e divertindo-me o máximo possível com cada uma delas.

1. Afinal, pra quem vc escreve o teu blog? Pra ti? Pros teus leitores?

Gostei da pergunta porque ela ignora possíveis relações de causa-efeito e evoca uma resposta no nível da finalidade. E a resposta é bem fácil: é claro que é pra mim. Só não é fácil dizer quem é mim. Porque este mim não é diferente de nenhum outro leitor deste blog: a única diferença é que é para ela-mim que escrevo primeiro, é ao desejo dela-mim que tento prioritariamente me conformar. Ela-mim é uma figura e tanto, queria tanto que vocês a-me conhecessem! Uma pessoa simpática e boa, que me trata muito bem e que portanto não merece nada menos que todo o meu esforço na redação de textos que a-me saciem seu desejo. Infelizmente, porém, vocês nunca terão acesso a ela-mim - só aos textos que lhe escrevo em resposta. E - vejam como são as coisas - o maior desejo de ela-mim, sabem qual é? Me ver feliz! Por isso sou extremamente grata por ter esta leitora em minha vida. É aí que me trato melhor.

2. Não acha perigoso algum psicopata entrar no teu blog e achar informações importantes sobre vc a ponto de arrumar uma forma de ameaçá-la posteriormente? (desculpe, nóia dos dias de hoje, infelizmente)

Sim: acho perigoso e tenho medo. Não tanto medo quanto o de que me assaltem de novo e me façam rodar por Pinheiros por uma hora recebendo uma bênção a cada cinco minutos de um cara que traz um revólver na cintura - mas tenho medo, sim. Resta explicar do que tenho medo: dos psicopatas e bandidos e pessoas ruins deste mundo. E para o medo, assim como para tantos outros sentimentos difíceis de elaborar, tenho (tchã-rã!) o blog. Se um psicopata me ameaçar, vou escrever no blog a respeito. Aliás, já tive um psicopata da internet em minha vida muito antes de eu sequer ouvir falar na existência de blogs - e nem por isso o psicopata deixou de existir, me ameaçar e até me humilhar publicamente (um dia talvez eu conte essa história aqui). Fico pensando que se isso se repetisse nos dias de hoje, eu teria condições muito melhores de lidar com o psicopata: tenho mais maturidade e, sobretudo, tenho o blog. Tenho leitores que se importam e que adorariam me ajudar a elaborar a experiência ou mesmo tirar um sarro lascado do desgraçado. "Mas e se o psicopata te ameaçar impedindo justamente que você fale sobre ele?" Aí é que está: ele não pode fazê-lo. Eu vou dar um jeito de escrever sobre ele - mesmo que ninguém, a princípio, fique sabendo. Porque ela-mim saberá, e a partir daí os outros saberão, nem que leve muito tempo. A não ser, é claro, que o psicopata esteja com uma arma apontada para a minha cabeça - o que nos reconduz ao medo inicial. E aí nada há que fazer a não ser reprimi-lo: nunca deixarei de andar por Pinheiros.

3. Vc realmente escreve tudo o que te dá na telha ou filtra algumas coisas por saber que pode ferir algum dos seus leitores? Tipo, não vai mandar teu pai à merda no blog pelo fato dele ler, hehehe. Sei lá, pensei em pai pq familiares próximos são sempre alvo de sentimentos extremos... Meu palpite é que vc não filtra, já que vi posts em que vc de fato poderia ferir as pessoas, mas quem sabe vc refletiu antes de escrevê-los para dizer coisas desagradáveis da forma mais amena possível. Vc pensa nessas coisas antes de escrever um post?

Lu, você me superestima. A verdade é que não tenho muita noção do que as pessoas vão achar do que escrevo - e muito menos se vão se ofender, magoar, sentir-se desprezadas, sentir-se diretamente atacadas etc. Assumirei portanto a postura básica do psicólogo (uma criança uma vez disse: "psicólogo é uma pessoa que faz muitas perguntas") e responderei à sua questão com uma outra: que posts são esses em que eu poderia ter ferido as pessoas? E quem seriam elas? A não ser que você esteja se referindo ao post em que me revolto contra a estrutura social dos salões de beleza, estou no escuro...

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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

A melhor resposta

Ontem enviei una mensaje a várias queridíssimas pessoas, pedindo indicação de um professor de español, prometendo um doce ou um salgado a quem me fornecesse respuesta. Recebi dezenas delas, todas ótimas e cuidadosas, e algumas bastante informativas - mas nada tão inútil e delicioso quanto isso aqui, de mi muy cabrón amigo Don Tato:

"Jo tengo un (mui) amigo profezorsito de'spaniol mui bueno. El cabra es paraguajo, pero jente fina. El gajo es de la mejor calidad y mora cerca de la puente de la amistad. Atiende en domicilio para senoras e senoritas hermosas. Caso aya(?) Interes, llamar aqui el pinpon. Astaluegoyfuiatemasaudadesjoquieromidocito"

Ou seja: Luxemburgo, tremei!

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A primeira briga

Não chegou a ser uma briga, propriamente, mas aí o título do post não teria tanta graça. Foi mais uma coisa que ele fez e que me deixou com um grande beicinho e uma mágoa um pouco maior. Obviamente, não era a intenção, mas de intenções o inferno, etc. Embora talvez ele tenha apreciado o efeito colateral do beicinho. Enfim - conversamos sobre a causa do beiço e da mágoa e mais uma vez vivi uma experiência inédita (têm ocorrido em média uma ou duas por dia).

O conteúdo da conversa é irrelevante; basta vocês saberem que eu estava certa. Não deixa de ser um alívio estar indiscutivelmente certa logo na primeira briga. E mais ainda quando a reação do outro é tão acachapante.

Sempre me deparei com dois estilos principais e dominantes de conduzir brigas e discussões, os quais eu acreditava serem os únicos possíveis. Um é o estilo atleta: não importa a discussão nem os argumentos, o importante é sair vencedor. Outro é o estilo monge budista: nenhuma discussão vale realmente a pena ser discutida, o importante é sair ileso. E assim as pessoas seguem brigando, freqüentemente oscilando entre esporte e religião. Que, curiosamente, são os dois assuntos que não se discutem.

Mas desta vez, o impensável aconteceu. Rafa e eu conversamos e conversamos. E ao final da conversa, ele pediu desculpas e disse que eu estava certa (!!!?!??!!).

Antecipo possíveis reações dos leitores:

Reação cínica. "Lembre-se dos conselhos de Sawyer para Jin: 'tudo o que você precisa aprender a dizer para uma mulher é 1) desculpa; 2) eu estava errado, você estava certa e 3) essa calça não te deixa gorda'. O Rafa não passa de um malandro ixpérrrto que eternamente fingirá não reparar nos seus significativos pneus."

Reação blasé. "Mas se ele estava errado e você estava certa, o que é que tem demais ele reconhecer isso e pedir desculpas? Por que isso te surpreende? Não é o natural, o certo, o esperado?"

Eu não poderia ser mais solidária a ambas as reações. Em outros momentos, eu teria dificuldade de acreditar que alguém que me peça desculpas esteja sendo sincero (dificuldade prima-irmã à de acreditar que alguém, apesar de tudo, possa gostar de mim). E entendo que um pedido de desculpas como esse pareça absolutamente básico ao leitor emocionalmente estável.

O problema e a verdade é que minha instabilidade emocional aplica-se também às brigas. O atleta e o monge são eu, e estou ciente de que esta frase teria mais impacto no contexto de um livro de auto-ajuda do que neste blog. Como, porém, meu objetivo não é ajudar ninguém, sinto-me absolutamente à vontade para dizer que ainda não descobri o que fazer para não fugir da briga nem da luta desenfreada pela vitória. Pois quando estou errada e não há a menor dúvida disso, empreendo as mais avançadas estratégias retóricas de argumentação, tudo para não perder a briga e conseqüentemente minha perturbada majestade. Ou então coloco-me como a última das súditas plebéias, com um discursinho de "sou-a-mais-errada-das-criaturas" que não convence a ninguém (e muito menos a mim mesma), tudo para não precisar olhar com honestidade e dignidade para a bobagem que fiz. Infelizmente, ainda não aprendi o que fazer, quando faço bobagem.

Assim, quando a situação-causa de nossa briga voltar a acontecer, naturalmente espero que ele aja de forma diferente - de forma a fazer o que é certo e a não me magoar.

Mas, muito mais do que isso, eu espero, na primeira briga provocada por alguma bobagem de minha responsabilidade, poder brigar como ele. O Rafa subverteu minha concepção atlético-religiosa de briga, na qual um sempre perde e o outro ganha, nem que seja por W.O. Aprendi que é possível ganhar - só ganhar. Os dois. Mais ou menos como é possível amar - só amar. Sem sofrimento.

Espero, na próxima briga, fazer jus a este recém-adquirido conhecimento.

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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

O link mais importante

Eu estava começando a ficar aflita com a perspectiva de escrever um ou dois parágrafos recomendando este novo blog, quando de repente decidi que podia transformar o bem difícil no muito fácil - decisão que, se a gente for ver bem, pode ser tomada com relação a muito mais coisas do que a gente é ensinado a supor, e isso não tem nada a ver com pensamento-positivo-atrai-pensamento-positivo. Tem a ver, isso sim, com o reconhecimento de que algumas pessoas vão tentar entender o que a Bel representa para mim, e outras não vão nem se esforçar achando que já sabem. Melhor amiga? É claro que sim, mas ainda é pouco. Irmã? Sim, em parte, mas o mais legal é justamente ela não ser minha irmã - como a fraldinha transicional cuja grande graça está justamente em não ser o seio materno. Mulher da minha vida? Melhorou, a despeito da conotação sexual bobinha. Vocês vêem que estou ruim de definições esta semana. Talvez porque, para tudo o que realmente importa, as descrições valham muito mais do que as delimitações num conceito. E isso me aliviou: bobagem inventar uma alcunha introdutória para a Bel, porque minhas experiências com ela - e minhas experiências solitárias com ela em mim - estão espalhadas pelo blog todo. E agora ela tem o dela. Ela diz estar grávida, e eu até concordo. Só espero que ela não se esqueça do tanto que já gestou, pariu e criou - como, por exemplo, eu. A Cami que anota as aulas num único e longuíssimo parágrafo, sem tópicos nem esquemas. A Cami que escreve textos angustiados à espera de uma resposta. A Cami desejosa e capaz de viver junto de alguém.

E espero, principalmente, que ela nunca duvide da sua capacidade de gestar tudo o que quiser.

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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Desconstruindo a teoria do comecinho-bom

O leitor assíduo talvez tenha reparado que venho utilizando-me do método covarde na tentativa de descrever meus recentes sentimentos apaixonados - isto é, venho dizendo o que esses sentimentos não são, sem conseguir arriscar algum palpite sobre sua natureza positiva. Hoje, darei um passo além nesse método, descrevendo e analisando uma situação na qual sou mais covarde ainda: aquela em que me dizem "aproveita bastante, que namoro no comecinho é uma delícia"!

Ainda não encontrei resposta mais adequada para esta bem-intencionada asserção do que um sorrisinho amarelo e a confirmação de que sim, é verdade, é uma delícia mesmo, estou aproveitando mesmo.

Mas é mentira, porque não é nada disso. E para dizer a verdade eu precisaria explicar tanta coisa para o adepto da teoria do comecinho-bom, que mentir costuma ser a saída mais prática, rápida e indolor. Para a verdade, eu tenho este blog.

A verdade é que o namoro é uma delícia - mas não por estar no comecinho. Examinemos as duas principais pré-concepções embutidas na teoria do comecinho-bom:

1. Se é preciso aproveitar com tanto afinco o comecinho bom, deve ser porque, passado o começo, o namoro vira uma chatice só.

2. Se todo namoro está destinado a virar uma chatice só, depois do comecinho bom sofregamente sorvido até a última gota, temos que todo namoro, no fundo, é igual: passa pelo mesmo ciclo delícia-chatice, ou delícia-sofrimento, independentemente das pessoas que constituam a relação.

Mas antes de demonstrar o quão falaciosas são estas duas pré-concepções, é preciso reconhecer certo grau de veracidade na teoria - afinal, não há estratégia retórica melhor do que valorizar a força do argumento a ser demolido oportunamente. É claro que é verdade que existe alguma coisa no comecinho de todo namoro que é diferente, e bom. No meu caso, fiz depilação ontem, quando o certo seria esperar os pêlos crescerem pelo menos mais uma semana. E o Rafa desencanou completamente de um jogo do Santos (que ocupa na vida dele posição análoga à de LOST em meu mundo fantasístico) só para ficar comigo. Duas coisas, portanto, absolutamente excepcionais, e boas. Mas, cá para nós, nem tão boas assim, e certamente bastante efêmeras. Não tenho dúvidas de que tanto o meu surto de desejo depilatório quanto a falta de desejo futebolístico dele não vão durar mais do que duas semanas. Minha pele e o Santos agradecem. E, decididamente, não são esses surtos efêmeros que fazem o começo do namoro ser bom.

Ou melhor: não são esses surtos efêmeros que fazem o namoro ser bom. De novo o método covarde: não está bom porque está no começo. Não está bom porque descobri novas possibilidades de prazer sexual - para isso, Deus criou o vibrador. Não está bom porque temos uma quantidade surpreendente de interesses em comum - para isso, Deus criou o yahoogroups. É óbvio e ululante que o prazer e os interesses em comum são bons - mas como explicar que não são eles que fazem o namoro tão bom, sem cair num platonismo que desconsidera a materialidade da experiência vivida?

Vejam bem, não estou atrás de um matema lacaniano que sintetize e transcenda a fenomenologia dos meus sentimentos. Mas dizer que o namoro está bom porque está no começo parece-me muito pior do que afirmar que o sexo é bom por causa da velocidade e do ângulo com que o pau entra na buceta. Porque, no segundo caso, pelo menos pau e buceta têm alguma coisa a ver com sexo.

Mas a delícia do namoro não tem relação alguma com o fato de ele estar apenas começando - a não ser, talvez, pela sensação boa que às vezes me visita dizendo que tudo isso é só o começo.

Só o começo de um namoro tão diferente (tchau, pré-concepção 2). Um namoro que não precisa de sofrimento para sobreviver (au revoir, pré-concepção 1).

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Lições aprendidas ontem

- Santos é uma ilha (!);

- Edmundo e Marcelinho Carioca jogaram juntos no Santos (!!);

- Seu Jorge foi fortemente influenciado por Lá Vem O Negão (de onde mais poderiam ter vindo os versos "vou te dar beijinho no cangote" senão de "fungou no cangote da linda morena"?);

- Quando você achava que conhecia bem a sua melhor amiga, ela te mostra ser uma mulher ainda mais surpreendente e intensa do que você estava acostumada a supor (!!!).

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terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Se eu fosse o Aldo Rebelo

Ao invés de tentar impedir o desenvolvimento da língua portuguesa, contribuiria ainda mais para a sua evolução dicionarizando uma série de termos essenciais cunhados pelo meu primo entre seus 2 e 4 anos de idade:

CONTROLHO - controle remoto. Afinal, que é o controle remoto senão o instrumento por excelência de que dispomos para controlar, mais do que o que vai na TV, o que nos vai ao olho? Foucault would be proud.

FEDORANTE - desodorante. Termo especialmente apropriado para desodorantes que deixam um leve fedorzinho refrescante nas axilas.

FODE - veículo da marca Ford. Termo especialmente apropriado para designar meu Escort 97, que se desmilinguia progressivamente a cada quilômetro rodado, deixando-me vocês-sabem-como.

PUTADOR - computador. Termo epecialmente apropriado para uma época da minha vida passada à longa e excruciante espera de não menos longos e excruciantes e-mails.

E, como não poderia deixar de faltar...

O grande hit:

COCÔ-CARÇA - precisa explicar?

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domingo, 17 de fevereiro de 2008

Da felicidade. Sozinha.

Em alguns dos primeiros e-mails interessados que Rafa e eu vínhamos trocando, dei para reparar nos links patrocinados do Google exibidos ao lado das mensagens abertas (tanto eu quanto ele usamos Gmail). Dentre eles, "João Bosco E Vinicius Acabou" (assim mesmo), "Obras Completas de Nietzsche" (quem vê pensa) e, para o meu mais profundo horror, "Namoro Evangélico". Naturalmente, compartilhei meu horror com ele - que nunca havia sequer reparado na existência de tais links - e juntos bolamos um plano para eliminar o namoro evangélico de nosso pouco cristão diálogo. O plano consistiu basicamente em 1) reforçar o envio de beijos de lado a lado; 2) planejar a materialização dos beijos num encontro próximo. Funcionou que foi uma beleza, e desde então vimo-nos livres dos anúncios evangelizadores.

Mas os anúncios foram só a ponta do iceberg cristão. Imaginem uma igreja submersa da qual só se consegue vislumbrar a torre acima da linha do mar. A cruz fincada na torre é o link patrocinado do Google. O resto - o altar, o púlpito, o padre, os santos e, com sorte, até um lindo órgão - constituem algo que não sei se chamo de filosofia de vida, sintoma, pré-concepção ou ser-no-mundo. E desde a fatídica quinta-feira (não confundir com a quinta-feira da Eva nem com a do passaporte), tudo isso vem sendo corroído numa velocidade muito superior à das reações químicas que aprendemos na escola.


A igreja que carrego em minhas costas (dentro, não por sobre elas) ensina-me que sem sofrimento não há felicidade. Que o sofrimento suportado neste mundo há de ser recompensado com a felicidade no além. E se meus professores do colégio me consideravam boa aluna, é porque nunca tiveram acesso à menininha carola que de fato sou e agora estou em vias de declarar que era. Pois desta igreja sou a aluna mais aplicada. Uma aplicação que se nota até em meu já antigo perfil aqui do blog - minha vida amorosa caracterizada como "um desastre, mas também uma delícia". A conjunção adversativa mal consegue disfarçar a filosofia de vida, o sintoma, a pré-concepção e o ser-no-mundo nos quais desastre-e-delícia são como pinga-com-limão e Lennon & McCartney, um amálgama muito mais poderoso do que a soma de suas partes. A delícia que depende do desastre: nada mais cristão - o prazer proveniente da dor bem-suportada -; nada mais conservador - o conservadorismo da pulsão, que patina (goza? Rafa, ajuda!) num sofrimento intocado. Gosto desta imagem nada rigorosa: o sofrimento uma pista de gelo onde a pulsão patina quase sem deixar marcas, culminando num assassinato. O assassinato deixa marcas vermelhas visíveis. Não mais mortíferas que o roçar invisível da lâmina sobre o gelo.


Antes do atual namoro, é claro que já tive meu quinhão de júbilo romântico e erótico nesta vida. O júbilo de agora, por si só, não constitui novidade. A novidade é ele vir sozinho. É não precisar de sofrimento nenhum para me consumir e me acompanhar. E isso sim faz dele uma grande novidade. Por favor, não tentem resolver o paradoxo (não é novidade porque já estive apaixonada antes, é novidade porque nunca estive apaixonada assim antes). Não precisa. O que é preciso é saber que é possível ser feliz sem sofrer. Peço desculpas pela platitude desta observação, mas foram necessários anos de análise e dias de Rafa para que eu chegasse a ela.


Argumentará algum leitor: mas o que seria dos mocinhos sem os vilões? O que seria do azul se todos gostassem do amarelo? Respondo que há lugar no mundo para todos os vilões amarelos que se queiram - eles só não precisam invadir o meu namoro para me fazer feliz. Que venha o sentimento de desastre, nos momentos desastrados. Não estou negando o sofrimento; não estou em mania (OK, só um pouco). Estou apenas (apenas?) experimentando, pela primeira vez na vida, que o prazer amoroso não precisa trazer nenhuma dor embutida para poder ser vivido em sua totalidade.

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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Jogo dos sete erros

Quatro erros que não cometerei neste novo namoro, afinal sou uma bioniana que acredita no aprender com a experiência:

- Não deixarei que pseudo-semi-pretendentes se insinuem para mim e lhe provoquem ciúme; hei de ser grossa e rude, se necessário for.

- Não deixarei de pedir-lhe coisas pelo medo estúpido de estar sendo por demais demandante e portanto megera.

- Não deixarei de dar-lhe coisas pelo medo estúpido de estar sendo por demais doadora e portanto trouxa.

- Acima de tudo, jamais permitirei que ele me veja no pijama de inverno tenebroso que uso desde os doze anos de idade e cuja horrenda visão permanecerá restrita ao meu pai e à Bel (família é pra essas coisas).

Três erros que cometerei ou já estou cometendo neste novo namoro, afinal sou uma paciente que fugiu da análise:

- Não me furtarei a tecer comentários sarcásticos sobre Belchior e Lacan (temos tanto em comum, que é preciso ressaltar as diferenças).

- Não conterei meu ciúme retrospectivo de namoradas pregressas, pelo mero fato de elas o haverem tocado antes de mim.

- Acima de tudo, não deixarei de ficar agarrada a ele por todo o tempo que ele e eu quisermos, a despeito das ressalvas alheias de que estamos sendo por demais rápidos, precipitados, afobados, afoitos etc. Pois sou tão fugida da análise, que não posso compreender por que nosso atual estado de agarramento seria um erro. Ao contrário, parece-me das coisas mais certas que já tive a sorte de vivenciar.

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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Conhecer pelas paredes

"Habitual fretting about her children, her husband, her sister, the help, had rubbed her senses raw; migraine, mother-love and, over the years, many hours of lying still on her bed, had distilled from this sensitivity a sixth sense, a tentacular awareness that reached out from the dimness and moved through the house, unseen and all-knowing. Only the truth came back to her, for what she knew, she knew. The indistinct murmur of voices heard through a carpeted floor surpassed in clarity a typed-up transcript; a conversation that penetrated a wall or, better, two walls, came stripped of all but its essential twists and nuances. What to others would have been a muffling was to her alert senses, which were fine-tuned like the cat's whiskers of a old wireless, an almost unbearable amplification. She lay in the dark and knew everything. The less she was able to do, the more she was aware."

(Ian McEwan, Atonement. Capítulo 6, parágrafo 4 - grifo meu.)

São curiosas as associações que a gente estabelece. Poucas vezes li um retrato tão fiel de um funcionamento psíquico onipotente (ou, de forma mais precisa, onisciente - "she (...) knew everything"), e calhou que bem este retrato suscitou-me uma metáfora para o funcionamento psíquico esperado de uma situação tão desesperadamente impotente: a supervisão analítica.

Não se trata, em primeiro lugar, do desespero das donas-de-casa dos subúrbios estado-unidenses, do agitar frenético de braços do afogado: isso é desperateness, e estou falando de hopelessness. Que, junto da esperança, é o que precisa estar presente na experiência de supervisão: a desesperança de que se irá entender o paciente, e a esperança de que, a despeito de nós mesmos, ainda assim seremos capazes de fazer algo por ele.

Dessa desesperança, supervisor e supervisionando compartilham, ou gostariam de poder compartilhar. Porque muito mais freqüentemente cedemos à tentação de crer na mosquinha, outro ser mitológico da filosofia ocidental (prima do Gênio Maligno de Descartes e de parentesco ainda não determinado com Jacob de LOST). A mosquinha paradigmática é a que está junto do analista registrando o menor movimento e o mais remoto som emitidos pelo paciente, para depois... E aí é que está o diabo da mosquinha: por maiores que sejam suas capacidades observadoras, ela nunca consegue despejar as informações registradas no ouvido do supervisor, para felicidade deste e desespero (agora sim o das housewives) do analista. O desespero do analista é a certeza de que a mosquinha estava lá, como não, eu vi!, é achar a mosquinha uma burra e desejar que ela fosse um grilo falante ou pelo menos um bicho ligeiramente mais expressivo, é não tê-la capturado num vidro de geléia para levá-la ao supervisor e torturá-la até que diga a verdade. A mosquinha acaba sendo muito superior ao gravador ou à filmadora, pois tem mil olhos e não mente nunca, já que nunca diz nada. Alguns insistem em que ela não existe, mas estou para conhecer um analista que já não tenha pressentido ou desejado sua presença junto de si.

Só que o segundo diabo da mosquinha é que, para além de sua mudez contumaz, o bom supervisor não está nem um pouco interessado nela. Ele prefere os sons que ressoam através de duas paredes: sua subjetividade e a do analista supervisionado. Prefere os sons terrivelmente amplificados por essas paredes, sem ignorar os que podem estar sendo abafados. Tornar-se supervisor é treinar a capacidade de ouvir por entre paredes. Tá certo que os sons saem muito mais estranhos do que uma mosquinha seria capaz de reproduzir ou mesmo conceber - mais estranhos e bem mais próximos de uma realidade em que até os lacanianos, vejam vocês, podem se apaixonar.

Mas o terceiro diabo da mosquinha é que, mesmo sem mosquinha nenhuma, nunca se está a salvo do sentimento de onipotência. Emily Tallis, a personagem descrita no parágrafo que abre este post, nem cogita a possibilidade de suas assunções serem falhas, tamanha é sua confiança na epistemologia das paredes. O maravilhoso da descrição de Ian McEwan, na seqüência do texto, é deixar-nos vislumbrar, perdida entre uma série impressionante de acertos, uma suposição equivocada. E não uma suposição qualquer, pois que trata da filha mais velha Cecilia, efetivamente a mãe da família - posição social e psíquica que Emily, com todas as moscas e paredes do mundo, não pode fazer idéia do que é.

Confesso não fazer muita idéia do que é ser analista.

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terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Da falta de recursos

Estou vivendo uma frustração pela qual só passei antes uma vez na vida: a de ter muito o que falar, e nenhuma condição de escrever. Já ouvi Amós Oz declarar-se completamente incapacitado para escrever sobre sua experiência de guerra; minha guerra particular foi um atendimento que ao menos serviu para eu constatar que nunca mais iria querer aquele tipo de vivência, paciente, família e enquadre terapêutico para a minha vida. Hoje, mais de ano depois, começo a cogitar o que naquele caso me destruía tanto. Para falar, vai mais um passo. Escrever, daqui a alguns anos, quem sabe.

Por outro lado, não é a primeira vez que boas ou fantásticas experiências ficam sem poder ser ditas. Duas das coisas mais emocionantes que me aconteceram no ano passado - minha defesa de mestrado e o show da Maria Schneider - ficaram sem registro neste blog. Mas já falei sobre elas, para aqueles que quiseram ouvi-las. E, sobretudo, não tenho pressa nenhuma em relatá-las aqui: sei que uma hora, quando eu menos esperar, elas irão aparecer. Basicamente, meu futuro não depende da descrição detalhada das orientações da Maria Schneider ao baterista brasileiro, nem do relato da minha satisfação em perceber meu trabalho extremamente bem lido e criticado por alguns dos meus mestres mais queridos. Sei que não vai ser fácil escrever sobre essas emoções - nunca é -, mas essa certeza é contrabalançada por outra de peso equivalente: a de que, mais hora menos hora, vai "calhar" de mestrado e Maria Schneider darem as caras aqui no blog.

Coisa bem diferente é a frustração que estou vivendo agora. Pois tenho a maior urgência, como se disso dependesse a minha própria vida, em contar o que estou vivendo - publicar no blog, ligar para toda a família, mandar um e-mail para a CNN e para a Xuxa, para a Veja e para a Carta Capital - porque o mundo inteiro merece saber que a felicidade existe e é concreta.

E a triste verdade é que não posso contar o que estou vivendo para ninguém. Não posso, porque me faltam recursos. Que diabo vou escrever? Que o toque dos lábios dele na minha pele branca me causa uma sensação corporal que até quinta-feira passada eu não sabia que existia? Não que isso não seja verdade, mas não é isso que eu vivo quando o supra-citado toque acontece. Não estou fazendo amor nem tampouco estou trepando - estou fazendo uma coisa muito mais difícil de explicar, que eu nunca tinha visto, lido ou ouvido antes, e que portanto não serei eu que haverei de mostrá-lo, escrevê-lo ou dizê-lo. A pornografia até que tangencia levemente alguns dos aspectos da minha experiência, mas nem de longe me basta - e, principalmente, falas pomposas recheadas de lábios e olhos e carnes tuas e minhas mescladas e fundidas num corpo só soam incrivelmente estéreis. Paradoxalmente, só o que me parece verdadeiramente honesto neste momento é admitir que não tenho a menor idéia do que está acontecendo, e todo o Proust, Goethe e Barthes que já li na vida não estão me ajudando em nada a dar algum contorno lingüístico para o que venho vivendo desde quinta-feira às oito e meia da noite. E quando Werther não dá conta, melhor recorrer à Alicia Keys mesmo. Oh, baby.

Em meio a isso tudo, um tilt qualquer apagou a descrição de "quem sou eu" que ficava ali na coluna à direita. Trata-se de um acerto mediúnico do blogger, pois desde quinta já não sou a mesma pessoa (embora continue detestando uva passa). Não sei como será a próxima descrição de mim mesma. Só sei que ela passará pelo Rafa.

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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Feels like ooo

Porque a vida também é feita de letras derramadas e cantoras que gemem. E a sorte é toda minha:

"Baby, baby, baby,
I see us on our first date
You're doing everything that makes me smile
And when we had our first kiss
It happened on a Thursday
Oh, it set my soul on fire
Oh, baby, baby, baby
I can't wait for the first time
My imagination's running wild"

(Alicia Keys, em You Don't Know My Name)

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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

O melhor episódio de Sex & The City

Terceira noite sem dormir + Sex & The City na TV = post na certa. Não sei se pelo arrebatamento com o bebê dos Tatini, se pelo post sobre salto alto ou se por NY como um todo - o fato é que o episódio "I heart NY" me comove como o diabo e acabo de proclamá-lo o melhor de toda a série. E o que é que o episódio tem?

- Tem o melhor outfit da Carrie de todos os tempos, e se o mundo fosse um lugar justo eu teria um igualzinho pra usar amanhã.

- Tem ela falando "hello, lover!" pra sandália mais peruamente maravilhosa de todos os tempos. (No trailer do filme rola um hello-lover também!)

- Tem o Mr. Big se anunciando cada vez mais definitivamente como o grande amor da vida da Carrie.

- Tem Moon River e tem também Toots Thielemans.

- Tem o Mr. Big explicando pra Carrie (precisava??) que Moon River é um clássico.

- Tem a Carrie apaixonada por NY.

- Tem o Mr. Big subornando o tiozinho da carruagem, imperdível.

- Tem uma das melhores storylines da Samantha, com ela fazendo papel de louca ciumenta e o Richard do bom namorado injustiçado - e no fim, não é que ela estava certa, ele estava mesmo comendo a estagiária. Nasceu daí uma das minhas top 5 cenas de S&C, exibida no episódio seguinte: Samantha cola cartazes de Cheater! Liar! de Richard Wright pela cidade; uma policial vem dizer que é proibido; Samantha responde "This man said he loved me, and I caught him eating another woman's pussy"; a policial, "Go ahead, M'am".

- Tem a Charlotte no MoMA.

- Tem Monet e Pollock no MoMA.

- Tem uma storyline bizarra da Charlotte, com um homem inicialmente interessante que começa a ter um ataque de pânico ao descobrir que ela é rica.

- Tem um grande outfit da Charlotte também, no date com o tal homem: um vestido floral vermelho e branco que também devia morar no meu armário.

- Tem o Steve batendo seu próprio recorde de fofurice.

- Tem o nascimento do Brady, quer mais? A giraffe in the room, most definitely.

- Tem a frase que encerra o episódio e que já me fez chorar muito, mas hoje não: algo como "the loved ones will always be in our hearts - and if we're lucky, one plane ticket away". Isso do vôo que os (nos) separava me matava. Hoje mata um pouco menos.

E o episódio tem bem mais, mas eu não o peguei na TV do começo, portanto vou parando por aqui. Dá pra ver os dois fantásticos outfits neste clipe:

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Abaixo a legitimação do desejo

Via Nonsense:

Salto alto pode melhorar vida sexual de mulheres.

Como se alguém ainda tivesse alguma dúvida: alguns sapatos fazem com que eu me sinta mais sexy só de pensar em usá-los. Óbvia e infelizmente, porém, a pesquisa passa longe dos meandros do desejo humano e trata de músculos e reflexos e planos inclinados.

Mas um lampejo de humanidade está presente na revelação das motivações da pesquisadora:

"A pesquisadora, de 34 anos de idade, diz que gosta de usar salto alto. Preocupada com informações, nem sempre comprovadas, que ligavam o uso de sapatos de salto a males como a esquizofrenia, ela resolveu procurar algo de positivo no uso do acessório."

Sinceramente: deu dó. Lembrei-me de um ex-bachelor que certa vez declarou solenemente ter descoberto a causa científica do meu prazer com determinada prática sexual:

"É que ativa a circulação de sangue na região."

Também dele, deu dó. Que dó, precisar justificar o desejo e o prazer com uma pesquisa científica. Que dó, precisar justificar o desejo e o prazer com qualquer coisa. É como se, antes de ficar comprovado que salto alto relaxa a musculatura pélvica, meu gosto em usar sapatos, botas e sandálias de salto fosse uma tara inexplicável e vergonhosa, uma "coisa da minha cabeça" tão pouco merecedora de crédito quanto os sintomas histéricos antes do advento da psicanálise. Mas agora, não mais: agora, a ciência explica (explica?!?) a conexão sexo-salto alto, justificando e legitimando meu prazer. Ufa: não preciso mais ter vergonha de apreciar tais sapatos! Afinal, meu fascínio por eles não é um produto da minha imaginação pervertida: saltos altos realmente facilitam o orgasmo, pesquisas comprovam!

Algumas pessoas pensam e sentem assim, sem se dar conta. Elas não chegam a articular todas as frases da linha de raciocínio delineada acima, que começa na culpa por um determinado prazer subjetivo - muito embora socialmente compartilhado - e termina na promessa de alívio oferecida por uma comprovação científica impregnada de objetividade (objetividade??!). Dessas pessoas - desse jeito de pensar - eu quero distância; e muita proximidade eu quero de quem compartilhe de meus gostos e desejos sem que eu precise parar tudo, ir à lousa (de salto alto) e dar uma aula de ciências sobre eles. A menos, é claro, que este seja o desejo da pessoa em questão.

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Com vocês, o bebê mais lindo do mundo

Ainda não sabemos se ele se chama Max, Marco ou Rumpletistekin, mas definitivamente ele é lindo e aparentemente passa bem:



ATUALIZAÇÃO: Gente, ele se chama Max! E haja determinação para resistir à vontade de copiar todas as fotos dele do blog dos Tatini e colar aqui.

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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Diálogo verídico

Eu: Afinal, você provou o doce que o Bachelor X fez especialmente pra você?

Amiga: Ai, Cami, sabe que não me animei? E o pior é que ele me ligou hoje à tarde me perguntando se eu tinha gostado, e aí achei que ia ser muito chato dizer pra ele que eu não tinha nem experimentado...

Eu: Você disse o que, então?

Amiga: Falei pra ele que provei o doce e achei horrível.

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Luiza e eu

Depois de escrever este e este posts, fiquei pensando no meu jeito de ouvir letras de música, e não demorou muito para que eu me lembrasse da grande exceção à regra da "seqüência de sílabas fonéticas". Porque existe uma única música cuja letra, não sei como, memorizei de um jeito absolutamente peculiar. Este texto é uma tentativa de desdobrar esse "não sei como" em algumas palavras mais.

Luiza foi, sem dúvida alguma, a grande música da minha primeira infância: eu ansiava, com uma intensidade completamente nova para mim, por sua chegada no vídeo do Tom a que assistia todas as manhãs, depois de Bambalalão.

Disso eu me lembro, e me lembro também de que meu grande ideal de beleza e feminilidade nesses primeiros anos, além de minha mãe, era a mulherada da família do Tom Jobim - sua mulher, filhas e noras que desafinavam terrivelmente (mas isso eu não percebia muito bem, na época) quando fora do ambiente protegido do estúdio. Vai ver por isso minha mãe insistia que eu desse mais atenção para o Danilo do que para elas, e me estimulava a atentar para os outros instrumentos, além dos vocais. Sim, porque a grande graça de assistir ao vídeo estava em me postar diante do guidão da bicicleta ergométrica - que dava exatamente na altura da minha boca, era o microfone perfeito! - e cantar o máximo de linhas melódicas que eu conseguia, do show inteiro, de todos os instrumentos cujos sons eu era capaz de distinguir. Mais ou menos como o neto do Freud brincava de fort-da com o carretel, ou como as crianças em geral se relacionam com os filmes da Disney. Eu também assistia compulsivamente às produções Disney - principalmente Dumbo, numa antecipação sinistra do que estava por vir - mas nunca nada se aproximou da necessidade imensa que eu tinha de assistir àquele vídeo de novo, e de novo, e mais uma vez, e decorar cada nota visível e divisar outras tantas inventadas.

Coisa semelhante eu vim a viver depois com Monteiro Lobato, Pat Metheny, Thomas Ogden, LOST e tantos outros objetos de minha estima. Mas nunca com aquele mesmo sentimento de necessidade, com aquela mesma urgência de me reconectar com uma parte de mim mesma. Porque por mais que eu precise saber o que está acontecendo na ilha, não vou deixar de existir se por acaso a greve dos roteiristas se prolongar indefinidamente. Eu sou eu e LOST é LOST. Mas esse senso de que eu sou eu não existia com tanta clareza aos seis anos de idade: eu era eu tanto quanto era aquele homem tocando piano na TV. Aprender a tocar piano, naquelas condições, pareceu-me tão natural quanto aprender a ler ou usar garfo e faca corretamente.

Naquele vídeo, todo um mundo de objetos veio a ser internalizado e idealizado. Com o Tom eu me identificava; as mulheres, idealizava com um leve senso de estar fazendo algo errado ou proibido, pois minha mãe as reprovava. O Danilo eu também idealizava, mas com um distanciamento maior, pois sob influência de minha mãe passei realmente a considerá-lo muito superior a todas aquelas moças. O Paulo eu estranhava, na acepção freudiana do termo, pois já naquela época ele lembrava muito o Tom, ao mesmo tempo que não se confundia com ele.

Mas esses, os objetos-pessoas, eram os menos significativos. Havia, principalmente, os objetos-música - inicialmente, as tocadas no vídeo, e que foram se expandindo até chegar nos milhares de discos que habitam minha vida hoje. Lembro que desenvolvi uma reverência quase preconceituosa por Chega de Saudade, a "canção mais linda do mundo" - eu tinha vontade de bater em quem quer que ousasse questionar esta verdade auto-evidente -; que a melodia hipnótica de Retrato em Branco e Preto me acompanhava até durante as leituras de Turma da Mônica; que "borzeguim" virou uma palavra comum em meu vocabulário infantil.

Disso tudo me recordo; mas não lembro quem teve a idéia de fazer com que eu cantasse Luiza acompanhada por minha mãe ao piano. O fato é que isso passou a acontecer, e é aqui que se fazem necessárias algumas palavras no lugar do "não sei como".

Com certeza, eu já devia saber a letra - e mais ainda a melodia - de cor, como sempre segundo o esquema da "seqüência de sílabas fonéticas". Mas isso, para minha mãe, não devia ser suficiente. Imagino-a me explicando pacientemente que uma cantora de verdade não se limita a reproduzir fonemas com precisão: uma cantora de verdade está preocupada em interpretar a letra, como uma atriz interpreta suas falas numa peça ou filme.

A partir daí, é razoável supor que eu tenha ficado preocupadíssima em atentar para os significados embutidos nas palavras de Luiza, para poder cantá-la de modo a agradar minha mãe. Deve ter sido assim que cheguei a uma série de imagens que até hoje me acompanham toda vez que ouço, toco, canto ou penso em Luiza. Em itálico, a letra original; em fonte normal, sua interpretação por uma menina de seis - ou vinte e cinco - anos.

Luiza
(Tom Jobim)

Rua,

Uma lua cheia num céu bem escuro.*

Espada nua

Minha espada da She-Ha.

Bóia no céu imensa e amarela
Tão redonda a lua

A lua boiando na minha piscininha de armar.

Como flutua
Vem navegando o azul do firmamento
E no silêncio lento

A lua navegando de um lado para o outro nesta mesma piscininha.

Um trovador, cheio de estrelas

Um provador de roupas com cortinas pintadinhas de estrelas.

Escuta agora a canção que eu fiz
Pra te esquecer Luiza
Eu sou apenas um pobre amador

Um funcionário atrás de uma mesa com uma plaquinha onde se lê "amador".

Apaixonado
Um aprendiz do teu amor
Acorda amor
Que eu sei que embaixo desta neve mora um coração

Uma caverna de neve - diferente de um iglu porque a neve era fofinha - onde eu entrava e encontrava, escondido lá no fundo, um coração que a cada batida liberava um pouco de sangue e tingia a neve à sua volta de vermelho.

Vem cá, Luiza
Me dá tua mão

A Vera Fischer dando a mão pro Tom Jobim.**

O teu desejo é sempre o meu desejo
Vem, me exorciza
Dá-me tua boca
E a rosa louca

Uma rosa vermelha bem aberta, girando freneticamente em torno de seu próprio eixo.

Vem me dar um beijo
E um raio de sol
Nos teus cabelos

Um raio - não de sol, de tempestade mesmo - incendiando os cabelos da Vera Fischer.

Como um brilhante que partindo a luz
Explode em sete cores

Um diamante que vira um arco-íris.

Revelando então os sete mil amores

Um arco-íris de sete mil cores.

Que eu guardei somente pra te dar Luiza
Luiza
Luiza

* Nunca consegui aprender que a música começa com rua e não lua. Tenho ao menos o consolo de saber que o Almir Chediak também não aprendeu: no songbook Tom Jobim, tal qual na minha cabeça, Luiza começa com Lua.
** Esta música talvez seja a grande razão de eu sempre ter ido com a cara da Vera Fischer, mesmo na época em que ela era mais malhada pela imprensa.

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domingo, 3 de fevereiro de 2008

Rumo ao triatlo

Peço licença para compartilhar com vocês um evento histórico: hoje, domingo, três de fevereiro de dois mil e oito, APRENDI A ANDAR DE BICICLETA!!!

Aproveito para dedicar tão importante vitória às mestras ciclistas Bel e Lu, ao vendedor de cocos e ao guardador de carros do Parque Villa-Lobos. Sem vocês, esta conquista não teria sido possível!

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Cinco letras de música que são o fim da picada, mas que eu adoro mesmo assim

Em ordem crescente de fim-da-picadice:

5. Só Danço Samba. Música de Tom Jobim, letra de Vinícius de Moraes.

"Só danço samba
Só danço samba
Vai, vai, vai, vai, vai"

4. The Fez. Música e letra de Walter Becker e Donald Fagen.

"No I'm never gonna do it without the fez on
Oh no"

3. Céu de Brasília. Música de Toninho Horta, letra de Fernando Brant.

"E eu nem quero saber se foi bebedeira louca
Ou lucidez"

2. Vitoriosa. Música de Ivan Lins, letra de Vítor Martins.

"Quero sua alegria escandalosa
Vitoriosa por não ter
Vergonha de aprender como se goza"

1. Minha Casa. Música e letra de Toninho Horta.

"Ê meninão
Frevo abriu portão
Vou receber você de pé no chão"

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Dez letras de música

Ficou difícil fazer uma lista de livros sem depois pensar numa outra qualquer que tivesse a ver com música. Letras, pois bem: enquanto eu rememorava e selecionava as minhas dez preferidas de todos os tempos do dia de hoje, foi ficando cada vez mais claro que, assim como na literatura, também em letra de música eu gosto mesmo é de uma boa história. Porque letra de música, para mim, não é tanto um conjunto de palavras que se organizam para constituir um sentido qualquer quanto uma série de fonemas que dançam e conversam com a melodia. Vai daí que: 1) para que uma letra de música consiga chamar minha atenção para o seu nível semântico, provavelmente ela terá de me contar uma história - do contrário, é de se esperar que seja remetida à categoria "seqüência de sílabas fonéticas"; 2) sei de cor várias e várias letras de música sem ter a mais remota idéia de que diabo elas estão falando.

Seguem então algumas letras que, além de sabê-las de cor, muito me maravilharam com o diabo de que estão falando:


10. Conversa de Botequim. Letra e música de Noel Rosa.

"Telefone ao menos uma vez para 34-4333
E ordene ao Seu Osório que me mande um guarda-chuva
Aqui pro nosso escritório"


9. A História de Lily Braun. Música de Edu Lobo, letra de Chico Buarque.

"Nunca mais romance
Nunca mais cinema
Nunca mais drink no dancing
Nunca mais cheese
Nunca uma espelunca
Uma rosa nunca
Nunca mais feliz"


8. Matita Perê. Música de Tom Jobim, letra de Paulo César Pinheiro e Tom Jobim.

"Manhã noiteira de força viagem
Leva em dianteira um dia de vantagem
Folha de palmeira apaga a passagem
O chão, na palma da mão, o chão, o chão"


7. Desenredo. Música de Dori Caymmi, letra de Paulo César Pinheiro.

"O olhar que prende anda solto
O olhar que solta anda preso
Mas quando eu chego eu me enredo
Nas tramas do seu desejo"


6. A Flor e o Espinho. Letra e música de Nelson Cavaquinho e Guilherme de Brito.

"Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com a minha dor"

5. Waters of March. Letra e música de Tom Jobim.

"And the river bank talks of the waters of March
It's the end of all strain, it's the joy in your heart"


4. A Case of You. Letra e música de Joni Mitchell.

"I remember that time you told me, you said
'Love is touching souls'
Surely you touched mine
'Cause part of you pours out of me
In these lines from time to time"


3. Saudades dos Aviões da Panair (Conversando no bar). Música de Milton Nascimento, letra de Fernando Brant.

"E lá vai menino xingando padre e pedra
E lá vai menino lambendo podre delícia
E lá vai menino senhor de todo fruto
Sem nenhum pecado, sem pavor
O medo em minha vida nasceu muito depois"


2. Hejira. Letra e música de Joni Mitchell.

"I'm porous with travel fever
But you know I'm so glad to be on my own
Still somehow the slightest touch of a stranger
Can set up trembling in my bones"


1. Catavento e Girassol. Música de Guinga, letra de Aldir Blanc.

"Meu catavento tem dentro
O vento escancarado do Arpoador
Teu girassol tem de fora
O escondido do Engenho de Dentro da flor
Eu sinto muita saudade
Você é contemporânea
Eu penso em tudo quanto faço
Você é tão espontânea"

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sábado, 2 de fevereiro de 2008

Eu odeio o banheiro do Pedrinho

Este comercial é outro que nos faz pensar por quais tortuosos caminhos psíquicos a mente de seu gênio criador precisou passar, do primeiro lampejo de idéia até sua concretização final. Pior: ele nos leva a questionar o que se passa na cabeça dos consumidores, pois se mais pessoas odiassem o banheiro do Pedrinho, o comercial já teria sido tirado do ar, mas ele continua firme nos intervalos de programação do Canal Sony há bem mais do que seis meses. Eu sei porque me lembro perfeitamente de que ainda namorava quando o comercial estreou, e o então-namorado, que freqüentemente assumia o comando do controle-remoto, aprendeu rapidinho a mudar de canal toda vez que o inominável se aproximava. O namoro acabou, a vida mudou, mas o amigo do Pedrinho e sua patética mãe continuam indo ao ar em virtualmente todos os intervalos comerciais de que se tem notícia (aliás, a mera existência de comerciais em canais de TV por assinatura é um conceito que me escapa): os intestinos do amigo de Pedrinho simplesmente não dão sossego.

Para quem não sabe do que estou falando, é este o drama: um menininho-cabelinho-tigelinha diz para a mãe que quer fazer cocô. Aliás, cocô não: ele quer fazer "côa-côaaaaaa..." (o que acontece a partir daí é irrelevante e envolve a preferência do tigelinha em questão pelo banheiro do amigo). E é nisto que consiste a genial jogada de marketing do comercial: acrescenta-se a vogal A após cada um dos Os da palavra original, bota-se um molequinho apenas razoavelmente simpático para proferi-la, e ta-da! Num passe de mágica, aquilo que não passava de merda vira um lânguido "côa-côaaaaaaa...".

Bem sei que este é o princípio de ouro e objetivo final de toda campanha publicitária: te convencer de que a merda é na verdade um docinho de coco que você precisa comprar imediatamente, em duas vezes sem juro. Mas tudo tem limite. Porque, por mais que os publicitários tentem, está escrito nas estrelas que só quem tem o poder de fazer da merda um troço aprazível é o bebê bem pequenininho, e mesmo assim só para sua mãe, quiçá sua avó e quase nunca seu pai. Excluindo-se esses portentosos pequenos seres, porém, o máximo que se pode fazer da merda é piada. Ou você trata a merda com todo o nojo que ela suscita e merece, ou faz piada da nojeira toda.*

Portanto, publicitários, o côa-côa engraçadinho do amigo de Pedrinho não convence ninguém. Pois ele não passa de um menininho querendo cagar, e não sou obrigada a partilhar da companhia de menininhos que falam de suas requisições intestinais em público desde que meu primo mais novo, hoje com 15 anos, deixou de informar envergonhadamente à mãe que "fez cocô-carça" (assim mesmo, na terceira pessoa, tamanho era seu embaraço). A diferença é que meu primo não tentava ser bonitinho - e, principalmente, suas aventuras intestinais não eram transmitidas e reprisadas ad infinitum no horário nobre.

Querem me fazer acreditar que bebendo cerveja vou ficar gostosa, ou que fazendo três minutos diários de exercício com o Maxi-Plus-Abdominator vou ficar gostosa, ou então que usando o sabonete de ervas e proteínas intergalácticas vou ficar gostosa? Tudo bem, sou trouxa mesmo, nessas coisas eu posso até acreditar. Mas querer me convencer de que merda é uma gracinha? Disso, publicitários, nem a Hebe é capaz.


* Há decerto quem consiga transformar a merda em objeto de desejo erótico; há ainda a possibilidade, bem mais freqüente, de se encarar a merda como apenas um indício do bom ou mau funcionamento corporal. Mas como discutir a maleabilidade da pulsão não vem exatamente ao caso, deixaremos essas situações extremas de lado.