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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

A primeira briga

Não chegou a ser uma briga, propriamente, mas aí o título do post não teria tanta graça. Foi mais uma coisa que ele fez e que me deixou com um grande beicinho e uma mágoa um pouco maior. Obviamente, não era a intenção, mas de intenções o inferno, etc. Embora talvez ele tenha apreciado o efeito colateral do beicinho. Enfim - conversamos sobre a causa do beiço e da mágoa e mais uma vez vivi uma experiência inédita (têm ocorrido em média uma ou duas por dia).

O conteúdo da conversa é irrelevante; basta vocês saberem que eu estava certa. Não deixa de ser um alívio estar indiscutivelmente certa logo na primeira briga. E mais ainda quando a reação do outro é tão acachapante.

Sempre me deparei com dois estilos principais e dominantes de conduzir brigas e discussões, os quais eu acreditava serem os únicos possíveis. Um é o estilo atleta: não importa a discussão nem os argumentos, o importante é sair vencedor. Outro é o estilo monge budista: nenhuma discussão vale realmente a pena ser discutida, o importante é sair ileso. E assim as pessoas seguem brigando, freqüentemente oscilando entre esporte e religião. Que, curiosamente, são os dois assuntos que não se discutem.

Mas desta vez, o impensável aconteceu. Rafa e eu conversamos e conversamos. E ao final da conversa, ele pediu desculpas e disse que eu estava certa (!!!?!??!!).

Antecipo possíveis reações dos leitores:

Reação cínica. "Lembre-se dos conselhos de Sawyer para Jin: 'tudo o que você precisa aprender a dizer para uma mulher é 1) desculpa; 2) eu estava errado, você estava certa e 3) essa calça não te deixa gorda'. O Rafa não passa de um malandro ixpérrrto que eternamente fingirá não reparar nos seus significativos pneus."

Reação blasé. "Mas se ele estava errado e você estava certa, o que é que tem demais ele reconhecer isso e pedir desculpas? Por que isso te surpreende? Não é o natural, o certo, o esperado?"

Eu não poderia ser mais solidária a ambas as reações. Em outros momentos, eu teria dificuldade de acreditar que alguém que me peça desculpas esteja sendo sincero (dificuldade prima-irmã à de acreditar que alguém, apesar de tudo, possa gostar de mim). E entendo que um pedido de desculpas como esse pareça absolutamente básico ao leitor emocionalmente estável.

O problema e a verdade é que minha instabilidade emocional aplica-se também às brigas. O atleta e o monge são eu, e estou ciente de que esta frase teria mais impacto no contexto de um livro de auto-ajuda do que neste blog. Como, porém, meu objetivo não é ajudar ninguém, sinto-me absolutamente à vontade para dizer que ainda não descobri o que fazer para não fugir da briga nem da luta desenfreada pela vitória. Pois quando estou errada e não há a menor dúvida disso, empreendo as mais avançadas estratégias retóricas de argumentação, tudo para não perder a briga e conseqüentemente minha perturbada majestade. Ou então coloco-me como a última das súditas plebéias, com um discursinho de "sou-a-mais-errada-das-criaturas" que não convence a ninguém (e muito menos a mim mesma), tudo para não precisar olhar com honestidade e dignidade para a bobagem que fiz. Infelizmente, ainda não aprendi o que fazer, quando faço bobagem.

Assim, quando a situação-causa de nossa briga voltar a acontecer, naturalmente espero que ele aja de forma diferente - de forma a fazer o que é certo e a não me magoar.

Mas, muito mais do que isso, eu espero, na primeira briga provocada por alguma bobagem de minha responsabilidade, poder brigar como ele. O Rafa subverteu minha concepção atlético-religiosa de briga, na qual um sempre perde e o outro ganha, nem que seja por W.O. Aprendi que é possível ganhar - só ganhar. Os dois. Mais ou menos como é possível amar - só amar. Sem sofrimento.

Espero, na próxima briga, fazer jus a este recém-adquirido conhecimento.

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