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terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Da falta de recursos

Estou vivendo uma frustração pela qual só passei antes uma vez na vida: a de ter muito o que falar, e nenhuma condição de escrever. Já ouvi Amós Oz declarar-se completamente incapacitado para escrever sobre sua experiência de guerra; minha guerra particular foi um atendimento que ao menos serviu para eu constatar que nunca mais iria querer aquele tipo de vivência, paciente, família e enquadre terapêutico para a minha vida. Hoje, mais de ano depois, começo a cogitar o que naquele caso me destruía tanto. Para falar, vai mais um passo. Escrever, daqui a alguns anos, quem sabe.

Por outro lado, não é a primeira vez que boas ou fantásticas experiências ficam sem poder ser ditas. Duas das coisas mais emocionantes que me aconteceram no ano passado - minha defesa de mestrado e o show da Maria Schneider - ficaram sem registro neste blog. Mas já falei sobre elas, para aqueles que quiseram ouvi-las. E, sobretudo, não tenho pressa nenhuma em relatá-las aqui: sei que uma hora, quando eu menos esperar, elas irão aparecer. Basicamente, meu futuro não depende da descrição detalhada das orientações da Maria Schneider ao baterista brasileiro, nem do relato da minha satisfação em perceber meu trabalho extremamente bem lido e criticado por alguns dos meus mestres mais queridos. Sei que não vai ser fácil escrever sobre essas emoções - nunca é -, mas essa certeza é contrabalançada por outra de peso equivalente: a de que, mais hora menos hora, vai "calhar" de mestrado e Maria Schneider darem as caras aqui no blog.

Coisa bem diferente é a frustração que estou vivendo agora. Pois tenho a maior urgência, como se disso dependesse a minha própria vida, em contar o que estou vivendo - publicar no blog, ligar para toda a família, mandar um e-mail para a CNN e para a Xuxa, para a Veja e para a Carta Capital - porque o mundo inteiro merece saber que a felicidade existe e é concreta.

E a triste verdade é que não posso contar o que estou vivendo para ninguém. Não posso, porque me faltam recursos. Que diabo vou escrever? Que o toque dos lábios dele na minha pele branca me causa uma sensação corporal que até quinta-feira passada eu não sabia que existia? Não que isso não seja verdade, mas não é isso que eu vivo quando o supra-citado toque acontece. Não estou fazendo amor nem tampouco estou trepando - estou fazendo uma coisa muito mais difícil de explicar, que eu nunca tinha visto, lido ou ouvido antes, e que portanto não serei eu que haverei de mostrá-lo, escrevê-lo ou dizê-lo. A pornografia até que tangencia levemente alguns dos aspectos da minha experiência, mas nem de longe me basta - e, principalmente, falas pomposas recheadas de lábios e olhos e carnes tuas e minhas mescladas e fundidas num corpo só soam incrivelmente estéreis. Paradoxalmente, só o que me parece verdadeiramente honesto neste momento é admitir que não tenho a menor idéia do que está acontecendo, e todo o Proust, Goethe e Barthes que já li na vida não estão me ajudando em nada a dar algum contorno lingüístico para o que venho vivendo desde quinta-feira às oito e meia da noite. E quando Werther não dá conta, melhor recorrer à Alicia Keys mesmo. Oh, baby.

Em meio a isso tudo, um tilt qualquer apagou a descrição de "quem sou eu" que ficava ali na coluna à direita. Trata-se de um acerto mediúnico do blogger, pois desde quinta já não sou a mesma pessoa (embora continue detestando uva passa). Não sei como será a próxima descrição de mim mesma. Só sei que ela passará pelo Rafa.

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