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sábado, 2 de fevereiro de 2008

Eu odeio o banheiro do Pedrinho

Este comercial é outro que nos faz pensar por quais tortuosos caminhos psíquicos a mente de seu gênio criador precisou passar, do primeiro lampejo de idéia até sua concretização final. Pior: ele nos leva a questionar o que se passa na cabeça dos consumidores, pois se mais pessoas odiassem o banheiro do Pedrinho, o comercial já teria sido tirado do ar, mas ele continua firme nos intervalos de programação do Canal Sony há bem mais do que seis meses. Eu sei porque me lembro perfeitamente de que ainda namorava quando o comercial estreou, e o então-namorado, que freqüentemente assumia o comando do controle-remoto, aprendeu rapidinho a mudar de canal toda vez que o inominável se aproximava. O namoro acabou, a vida mudou, mas o amigo do Pedrinho e sua patética mãe continuam indo ao ar em virtualmente todos os intervalos comerciais de que se tem notícia (aliás, a mera existência de comerciais em canais de TV por assinatura é um conceito que me escapa): os intestinos do amigo de Pedrinho simplesmente não dão sossego.

Para quem não sabe do que estou falando, é este o drama: um menininho-cabelinho-tigelinha diz para a mãe que quer fazer cocô. Aliás, cocô não: ele quer fazer "côa-côaaaaaa..." (o que acontece a partir daí é irrelevante e envolve a preferência do tigelinha em questão pelo banheiro do amigo). E é nisto que consiste a genial jogada de marketing do comercial: acrescenta-se a vogal A após cada um dos Os da palavra original, bota-se um molequinho apenas razoavelmente simpático para proferi-la, e ta-da! Num passe de mágica, aquilo que não passava de merda vira um lânguido "côa-côaaaaaaa...".

Bem sei que este é o princípio de ouro e objetivo final de toda campanha publicitária: te convencer de que a merda é na verdade um docinho de coco que você precisa comprar imediatamente, em duas vezes sem juro. Mas tudo tem limite. Porque, por mais que os publicitários tentem, está escrito nas estrelas que só quem tem o poder de fazer da merda um troço aprazível é o bebê bem pequenininho, e mesmo assim só para sua mãe, quiçá sua avó e quase nunca seu pai. Excluindo-se esses portentosos pequenos seres, porém, o máximo que se pode fazer da merda é piada. Ou você trata a merda com todo o nojo que ela suscita e merece, ou faz piada da nojeira toda.*

Portanto, publicitários, o côa-côa engraçadinho do amigo de Pedrinho não convence ninguém. Pois ele não passa de um menininho querendo cagar, e não sou obrigada a partilhar da companhia de menininhos que falam de suas requisições intestinais em público desde que meu primo mais novo, hoje com 15 anos, deixou de informar envergonhadamente à mãe que "fez cocô-carça" (assim mesmo, na terceira pessoa, tamanho era seu embaraço). A diferença é que meu primo não tentava ser bonitinho - e, principalmente, suas aventuras intestinais não eram transmitidas e reprisadas ad infinitum no horário nobre.

Querem me fazer acreditar que bebendo cerveja vou ficar gostosa, ou que fazendo três minutos diários de exercício com o Maxi-Plus-Abdominator vou ficar gostosa, ou então que usando o sabonete de ervas e proteínas intergalácticas vou ficar gostosa? Tudo bem, sou trouxa mesmo, nessas coisas eu posso até acreditar. Mas querer me convencer de que merda é uma gracinha? Disso, publicitários, nem a Hebe é capaz.


* Há decerto quem consiga transformar a merda em objeto de desejo erótico; há ainda a possibilidade, bem mais freqüente, de se encarar a merda como apenas um indício do bom ou mau funcionamento corporal. Mas como discutir a maleabilidade da pulsão não vem exatamente ao caso, deixaremos essas situações extremas de lado.

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