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sábado, 19 de janeiro de 2008

O objeto infernal do analista

Certa vez, uma professora de filosofia política contou a seus alunos, eu incluída, um causo que, de tão absurdo, só pode ser verdadeiro. Rousseau (não a Danielle, o Jean-Jacques mesmo) cunhou um conceito, segundo essa professora, de difícil tradução: volonté générale, que em inglês sagrou-se como general will.

Pois numa tradução do inglês para o português, o tradutor resolveu esse problema de séculos lançando mão da seguinte expressão: (dou-lhe uma, dou-lhe duas...) General Will. Sim, general mesmo, de quepe e medalhinha no peito.

(É de se louvar, aliás, a fidelidade da tradução ao texto-base: outros tradutores, mais dados a liberdades interpretativas, teriam batizado o General de William.)

E assim, com esse feito, o tradutor livrou a cara de todos os demais tradutores de todas as épocas e de todas as línguas da história da humanidade, que desde então passaram a contar com esse precedente histórico sempre que justamente criticados em seu trabalho: "mas pelo menos eu não traduzi general will por General Will!".

De uma engenhosidade assim delicada, nenhum outro tradutor jamais será capaz. Mas alguns bem que tentam. E, quando não é o tradutor a tentar, vem algum funcionário do Dedalus e colabora com o Febeatrá (Festival de Besteiras que Assola as Traduções). Senão, vejamos:

O título da minha dissertação de mestrado é o seguinte: "A teoria como objeto interno do analista e seus destinos na clínica: luto e melancolia como metáfora".

A tradução no Dedalus ficou assim: "Theory as the analyst's infernal object and its vicissitudes in the clinical situation: mourning and melancholia as metaphor".

Se bem que, nesse caso, alguns poderiam argumentar que o título traduzido saiu melhor que o original. Afinal, luto e melancolia, em qualquer idioma que se apresentem, são sempre um inferno.

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