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quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Enfim apaixonada


De início, nosso relacionamento foi conturbado. Eu só conseguia olhar para a natação de forma desconfiada; no fundo, achava que ela não passava de uma prima distante da depilação - vejam, os nomes até rimam, só podia ser um sinal -, cujas intenções maléficas eram apenas parcamente disfarçadas pela ladainha do faz-bem-pra-saúde. Se, na depilação das pernas, as duas primeiras puxadas são as que com mais veemência elicitam um rastro de suor frio a escorrer pelas costas - sendo as demais cinqüenta puxadas 1% menos doloridas, em média - na natação eu acreditava haver encontrado dinâmica semelhante: as duas primeiras chegadas são as piores, sendo as próximas muito ruins.

Na minha primeira aula de natação, fui capaz de nadar dez metros de crawl - e não fui capaz de subir as escadinhas da piscina na primeira tentativa, pois a sensação era de que meus joelhos me haviam sido surrupiados pelo Gênio Maligno (um dia apresento vocês a esta essencial figura da história da filosofia, filho de Descartes e tetravô de Murphy).

Mas não desisti. Aprendi que não se entra na piscina de rímel e fiz amizade com diversas senhorinhas da hidroginástica. Passei incontáveis horas pós-natação prostrada diante de algum visor luminoso, numa atitude não muito diferente da exibida por Elaine neste vídeo.

Até que, é difícil precisar quando, de repente eu não necessitava mais visualizar fixamente o devil's cake com frozen do America para sobreviver a uma aula.

E, de três aulas para cá...

É difícil encontrar uma única causa razoável para o que aconteceu. Talvez seja porque eu não nade mais 10, e sim 1000 metros por aula, e o meu condicionamento físico melhorou. Talvez sejam o orgulho e o incentivo do meu pai e da Bel. Talvez seja o meu professor ultra-maxi gracinha e, confesso, ligeiramente xavequeiro, com quem, novamente confesso, venho flertando sutilmente desde o ano passado (eu havia esquecido como é gostoso flertar sem o menor compromisso e nenhuma perspectiva). Talvez seja o meu plano de ficar bonita e gostosa (yay, Nathi!) este ano, cuja estratégia principal consiste em manter distância das gôndolas de toddynho e chocooky no supermercado. Ou talvez não seja nada disso e seja algo que me escape inteiramente, feito obra do maior inimigo do Gênio Maligno (um doce para quem adivinhar de quem se trata).

Na primeira destas três últimas aulas, eu achava que havia sido pura sorte. Como um primeiro encontro em que corre tudo bem, mas no fundo você sabe que não tem nada a ver com aquele moço tão fortinho e tão simpático.

Mas aí a experiência se repetiu e se repetiu de novo, nas aulas seguintes. E a experiência foi que, após as duas primeiras chegadas/puxadas, eu não queria mais parar de nadar. Fiquei triste quando a aula chegou ao fim. Não via a hora de voltar para a piscina. Longe de estar cansada, saí da academia com vontade de nadar mais uma hora, assistir a um longo filme, escrever um breve texto.

Como o que escrevo agora.

E agora não dá mais para negar: eu gosto de nadar. E talvez - só talvez -, eu goste de moços fortinhos e simpáticos, afinal.

(Mais sobre paixões surpreendentes amanhã.)

~~~

* Pois a da virilha possui toda uma outra lógica de funcionamento, na qual a dor se espalha para muito além das áreas diretamente atingidas pela cera.

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