Uma experiência antropológica
No térreo, as moças. Todas morenas de cabelos loiríssimos, magras, peitudas e de formas graciosas. Movendo-se freneticamente em aparelhos cujo nome não me arrisco a pronunciar, manejando apetrechos pesados e curiosos, contorcendo-se em posições cuja funcionalidade me escapa.
Eu até deveria, mas não me sinto intimidada por elas. As instrutoras, especialmente, são simpáticas. Sorriem para mim, sempre.
Desço ao subsolo e adentro um outro universo.
Ali é o território das mulheres que, animadas, conversam sobre os filhos, netos e grupos de oração da igreja. Receitas, maridos e planos de saúde. Noras e mais noras e conselhos íntimos.
Eu até deveria, mas não me sinto deslocada entre elas. Pergunto sobre seus netos e algumas já me chamam de filha.
No térreo, uma sensualidade estranha, exibida à exaustão mas nunca pronunciada, dita. No subsolo, um salão de bingo, mesmo que sem as cartelas e os feijões.
Faço natação num horário em que a academia é dominada por esses dois grupos sociais. Eu, como única jovem não-loira do local, sinto que minha presença branca e morena contornada por um vestidinho Vila Madalena destaca-se em meio às belas jovens que travam um incessante combate às calorias inexistentes e às senhorinhas em busca de algum condicionamento físico e de uma vida social.
Não sou loira nem peituda, nem gosto de bingo nem tenho netos. Se no colegial eu já me achava outsider, imagina agora.
Curiosamente, porém, não é o que acontece.
Tenho uma gostosona e uma velhinha morando dentro de mim.
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