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sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Os fatos

Primeiramente, vamos aos fatos, que senão ninguém entende mais nada nesta bagunça que é este blog.

Ontem embarcaríamos, às 23h45min.

***

11h50min - estou no cabeleireiro tomando um banho de sol nos cabelos (qualquer dúvida, perguntem para o meu cabeleireiro) quando Bel me liga com uma voz cujo timbre imediatemente amoleceu meus joelhos. "Cami, não estou achando o meu passaporte..."

11h51min - momento de retardo súbito: "Bel, sem o passaporte não dá pra viajar, né?". Abstenho-me de fornecer a resposta dela. Segue-se o diálogo padrão. Mas o que aconteceu? Você já procurou? Já viu nas malas, bolsas, gavetas? Sim para tudo, agora a Lu está ligando na Polícia Federal. Ok, qualquer coisa me liga. ("Qualquer" coisa? Não, não estávamos interessadas em "qualquer" coisa; a partir dali e pelo resto do dia, só uma coisa ocuparia nossos pensamentos.)

12h05min - acaba o banho de sol e começa a hidratação. Penso na fantástica história que teremos para contar quando voltarmos da viagem: por um momento achamos que não iríamos mais porque a Bel não achou o passaporte e entrou em pânico, mas logo depois percebeu que ele estava no lugar de sempre e ela é que não tinha olhado direito. Então penso também na fantástica história que eu iria contar quando minha mãe saísse do hospital de gesso no braço depois do acidente, e penso enfim que nunca pude assinar o inexistente gesso do braço de minha mãe.

12h06min - começa a dor no estômago.

13h - chego ao outro salão para fazer a unha (sim, os profissionais da minha beleza espalham-se pelos salões da zona norte) e minha manicure, após elogiar meu cabelo (ficou um arraso mesmo, não é por nada não), pergunta o que eu tenho. Explico que eu ia (vou?) viajar etc. etc. Ela diz que tem tempo suficiente para encontrar o passaporte.

13h20min - clientes e manicures comentam que o Big Brother deste ano terá muita baixaria.

13h25min - clientes e manicures debatem a sexualidade de determinada participante. As manicures tendem a achar que se trata de uma mulher; as clientes, de um travesti.

13h26min - começa a ânsia de vômito.

13h30min - meu celular começa a morrer e subitamente encontro a solução para todos os meus problemas: preciso chegar em casa o mais rápido possível e botar o celular para carregar. A relação entre carregar o celular e encontrar o passaporte assume proporções lógicas que o próprio Descartes não se atreveria a questionar.

14h10min - chego em casa e coloco o celular para carregar.

14h11min - a relação lógica desmorona.

14h12min - ligo para a Ju e deixo recado dizendo que não irei à supervisão, porque... Começo a chorar.

14h45min - Ju retorna a ligação. Paro de chorar para falar com ela. Ela pergunta se já olharam atrás das gavetas. Respondo que sim, ué, é claro que eles já pensaram nisso. Ela diz que, "no nervoso", ninguém consegue achar nada, é assim mesmo.

14h50min - ligo para o meu pai e retomo o choro.

15h00min - sinto raiva da Bel. É a primeira vez que identifico esse sentimento por ela com tamanha clareza em mim. Como é que ela não foi ver isso antes, aquela tonta? Como assim, ela deixou para ver o passaporte na última hora? Pois ela não ouviu que sonhei repetidas vezes que eu esquecia o passaporte em casa no dia da viagem?

15h30min - começo, lentamente, a me lembrar de algumas coisas. 1) A Bel não é caipira que nem eu, que acha até a comida do avião o máximo (ok, ela se diverte com a comida do avião tanto quanto eu, mas isso não faz dela uma caipira). O passaporte, para ela, é mais ou menos como o RG para mim: não carrego na bolsa porque uso a carteira de motorista, mas sei que ele está lá, na gaveta dele, com aquela foto horrenda a olhar para mim toda vez que olho para ela. A Bel costuma viajar para o exterior todos os anos, às vezes mais de uma vez por ano. E o passaporte dela sempre esteve lá, naquela mesma gaveta, olhando para ela com uma foto provavelmente um pouco menos horrenda do que a exibida no meu RG. 2) A Bel é a pessoa mais obsessivamente organizada que conheço. Se fosse comigo, que só neste mês perdi uma calcinha, um batom e quase que perco também um cartão de crédito (no fim, estava com a minha avó, louvado seja o Senhor), perder o passaporte seria absolutamente esperado. Mas a Bel??!? Vejam bem, a Bel é aquela pessoa que, nas aulas ruins a que assistíamos juntas, anotava no caderno todos os slides que o professor projetava, mesmo sabendo que o conteúdo deles estaria disponível no xerox depois. Ou seja: ela não deixa passar nada. Foi com ela, aliás, que aprendi a "fazer um caderno" - mas isso já é assunto para outro post.

16h - interrompo definitivamente o choro e dou início a um processo vegetativo. Ligo a televisão e está passando o homem que quebrou o recorde mundial de velocidade de quebramento de ovos. Não mudo de canal.

16h30min - passada a raiva porém restando a tristeza, ligo para a casa da Bel, falo com ela e o Marco. Os diálogos que se seguem podem ser sintetizados em uma palavra e um sinal de pontuação: poxa...

17h - chego a outro salão (são quatro ao todo em minha vida) para fazer limpeza de pele. Não tenho coragem de contar para a esteticista, amiga da família, o que está acontecendo. Ela não percebe e põe-se a relatar animadamente a história da vida de seus três filhos. Fico grata por isso.

18h30min - chego à padaria para tomar um suco (até então, o dia fora passado à base de duas torradas integrais). Ligo para a Bel de novo. Estamos com a voz um pouco melhor.

20h30min - leio um e-mail fofo da Mari e começo pensar nessa história toda em termos de adiamento e não mais cancelamento, o que me permite sentir um pouco de fome.

21h - vou com meu pai ao America e peço um Minuano seguido de um Frozen Tiramisù. Mas não consigo comer nenhum dos dois até o fim.

22h30min - cogito uma recaída. Formulo o e-mail mentalmente. Também mentalmente, praguejo um xingamento contra minha idéia fraca e vou dormir.

23h - já na cama, meu corpo entende que passei o dia inteiro na academia. Dóem os braços, as pernas, as costas e o canto de uma unha, cuja cutícula destruí.

23h-9h30min - acordo e durmo diversas vezes. Tenho um pesadelo no qual fui viajar com a família da Bel, eles estão no quarto ao lado do meu e quando vou ver eles não estão mais lá: no lugar deles, um fantasma horrível. Acordo gritando pela Bel. Durmo de novo e acordo com uma coceira desesperada nas pernas. Tento escrever no blog e não consigo. Acabo lendo sobre as primárias do partido democrata. Começo enfim a ler A Falta Que Você Me Faz, de Joyce Carol Oates. Me envolvo e me acalmo. Consigo voltar a dormir.

9h30min - quando eu mais tinha certeza de que o passaporte da Bel já estava nas mãos de Jive Miguel, ela me liga dizendo que Super Marco o havia encontrado.

***

A partir daí, só precisamos: 1) remarcar a viagem para 13/03, o que implica passarmos nossos (3) aniversários lá, vermos o Central Park na primavera e economizarmos U$1000 na passagem; 2) passar a tarde toda na piscina e o começo da noite vendo Seinfeld.

Mais reflexões sobre o final feliz amanhã.

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