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sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Sobre esculhambação e intimidade

Ser entrevistada, sob pelo menos um aspecto, é como participar de um congresso: o máximo que se pode esperar da experiência é que ela te ponha para pensar. Nunca saí de um congresso sabendo uma vírgula a mais sobre o tema em debate - mas em algumas belas e raras ocasiões, minha curiosidade foi atiçada a ponto de mudar ou reforçar o rumo e o foco dos meus interesses de leitura e estudo. Com entrevistas - e esta é a primeira da minha vida (vocês vêem que estou me sentindo praticamente no sofá da Hebe, ou da Oprah) -, quaisquer que sejam as perguntas, que mais se pode esperar delas além de que provoquem e estimulem (falei na Oprah, pensei em inglês: o verbo stir comes to mind) o pensamento? Pois certamente não se pode ter a pretensão de respondê-las e esgotá-las. Principalmente quando se tem um entrevistador sensível e interessado.

Desta outra perspectiva, então, a entrevista foi um sucesso, pois se minha tentativa de explicar para quem escrevo resultou um tanto confusa, os comentários da Luiza suscitaram uma pequena reflexão que tentarei elaborar agora.

Primeiramente, ficou claro que nós duas temos concepções díspares do que seja esculhambação. Não dá para ter certeza da extensão desta disparidade, mas ela certamente existe - pois, se até posso entender por que minha revolta com a Bel na quinta-feira fatídica (não a do Rafa, não a da Eva, a outra) pode ser considerada uma esculhambação das boas, não consigo lembrar uma ocasião sequer em que eu tenha esculhambado um ex-namorado. Já falei de momentos encantadores, momentos horripilantes e até mesmo um momento utilíssimo com o querido ex-namorado - mas nada que se aproxime do meu conceito de esculhambação. E, como ainda estou ruim de conceitos, não tentarei defini-lo aqui.

Mas posso dizer que só considero a esculhambação viável se aplicada a uma pessoa extremamente próxima (e ninguém encarna isso com mais propriedade que a Bel) ou então a uma distância segura (nada mais fácil e pertinente que esculhambar com a Xuxa, o Bush, a Veja e a Globo - e também, convenhamos, nada mais desinteressante). Ex-namorado é uma figura que se encontra exatamente no ponto médio entre a Bel e a Globo - alguém com quem já se teve muita intimidade e que agora não passa de uma amizade polida. Nada mais inapropriado, portanto, para a esculhambação. O que, pensando bem, mostra que não sou muito chegada em esculhambar. Porque talvez a verdadeira esculhambação - ou, pelo menos, a que consta do dicionário - seja justamente a da ex-mulher com o ex-marido, cuidadosamente projetada para detonar o outro.

Mas a minha esculhambação, ou é com a Globo ou é com a Bel (e, em breve, com o Rafa, é claro.) Só que a Globo, como já disse, não tenho vontade nenhuma de esculhambar - tantos já fizeram isso "tão mais e melhor" do que eu, que efetivamente não vale a pena. Das figuras e coisas distantes, acho mais divertido e original esculhambar com, por exemplo, Little Stick (Toquinho) ou com a aura quase mística criada e sustentada por alguns psicanalistas professores meus - mas isso não é o tipo de coisa que eu tenha vontade de recordar, repetir ou elaborar, portanto não encontra muito espaço aqui no blog.

A Bel, por outro lado, não tive o menor pudor de esculhambar um pouquinho, justamente por saber que ela me entenderia e que não a amo menos por isso. Ela pode até ter ficado um pouco magoada com minhas blasfêmias, e eu poderia até ter evitado de blasfemar aqui no blog - mas não é este o ponto. O ponto é que, dentre a miríade de sentimentos e sensações vivenciadas na quinta-feira fatídica, senti raiva da Bel. Contar sobre a perda do passaporte omitindo este fato seria como falar da morte omitindo o luto - seria deixar de reconhecer a força de um sentimento que só está ausente das amizades da Disney e das freiras. Seria tratar minha relação com a Bel com uma artificialidade que não poderia estar mais distante do que sinto na presença dela.

No fundo, Lu, acho que a grande diferença entre nós duas é que você vê o blog (não sei se este ou se os blogs em geral) como um lugar de exposição, enquanto eu o vejo como um espaço de proteção e elaboração de experiências. Antes que me internem à força, explico: obviamente o blog é público e portanto exposto - mas, por outro lado, ele é uma criação minha. É o meu espaço, a minha casinha que construí com o maior carinho e onde me sinto absolutamente à vontade para receber amigos e desconhecidos que aos poucos vão virando amigos também. O blog será propiciador de ataques e perigos e melindramentos se eu quiser que ele seja. É claro que alguém pode decidir que ele é tudo isso, independentemente da minha vontade. Paciência. Só não posso deixar de dizer o que precisa ser dito por causa disso.

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