Entrevista
Minha amiga Luiza (parênteses para uma reflexão profunda: parece que à enxurrada de Andrés em minha vida está se sucedendo uma ainda mais intensa de Lus - os grafólogos e numerólogos devem ter algo a dizer sobre isso) achou por bem me entrevistar. Não, ela não se contentou meramente em me fazer perguntas: ela precisou chamá-las de "entrevista". O que prova o quanto ela já me conhece, mal me conhecendo, pois intuiu perfeitamente que adoro entrevistas a ponto de nem ter mais respostas autênticas para o questionário do Bernard Pivot, pois já ouvi dezenas delas e decorei a melhor de cada categoria, encarnando com orgulho o conceito winnicottiano de falso self.
Mas as perguntas da Lu não têm respostas prontas - pelo menos, nenhuma que eu tenha tido vontade de copiar -; então, restou-me respirar fundo e respondê-las, refletindo e divertindo-me o máximo possível com cada uma delas.
1. Afinal, pra quem vc escreve o teu blog? Pra ti? Pros teus leitores?
Gostei da pergunta porque ela ignora possíveis relações de causa-efeito e evoca uma resposta no nível da finalidade. E a resposta é bem fácil: é claro que é pra mim. Só não é fácil dizer quem é mim. Porque este mim não é diferente de nenhum outro leitor deste blog: a única diferença é que é para ela-mim que escrevo primeiro, é ao desejo dela-mim que tento prioritariamente me conformar. Ela-mim é uma figura e tanto, queria tanto que vocês a-me conhecessem! Uma pessoa simpática e boa, que me trata muito bem e que portanto não merece nada menos que todo o meu esforço na redação de textos que a-me saciem seu desejo. Infelizmente, porém, vocês nunca terão acesso a ela-mim - só aos textos que lhe escrevo em resposta. E - vejam como são as coisas - o maior desejo de ela-mim, sabem qual é? Me ver feliz! Por isso sou extremamente grata por ter esta leitora em minha vida. É aí que me trato melhor.
2. Não acha perigoso algum psicopata entrar no teu blog e achar informações importantes sobre vc a ponto de arrumar uma forma de ameaçá-la posteriormente? (desculpe, nóia dos dias de hoje, infelizmente)
Sim: acho perigoso e tenho medo. Não tanto medo quanto o de que me assaltem de novo e me façam rodar por Pinheiros por uma hora recebendo uma bênção a cada cinco minutos de um cara que traz um revólver na cintura - mas tenho medo, sim. Resta explicar do que tenho medo: dos psicopatas e bandidos e pessoas ruins deste mundo. E para o medo, assim como para tantos outros sentimentos difíceis de elaborar, tenho (tchã-rã!) o blog. Se um psicopata me ameaçar, vou escrever no blog a respeito. Aliás, já tive um psicopata da internet em minha vida muito antes de eu sequer ouvir falar na existência de blogs - e nem por isso o psicopata deixou de existir, me ameaçar e até me humilhar publicamente (um dia talvez eu conte essa história aqui). Fico pensando que se isso se repetisse nos dias de hoje, eu teria condições muito melhores de lidar com o psicopata: tenho mais maturidade e, sobretudo, tenho o blog. Tenho leitores que se importam e que adorariam me ajudar a elaborar a experiência ou mesmo tirar um sarro lascado do desgraçado. "Mas e se o psicopata te ameaçar impedindo justamente que você fale sobre ele?" Aí é que está: ele não pode fazê-lo. Eu vou dar um jeito de escrever sobre ele - mesmo que ninguém, a princípio, fique sabendo. Porque ela-mim saberá, e a partir daí os outros saberão, nem que leve muito tempo. A não ser, é claro, que o psicopata esteja com uma arma apontada para a minha cabeça - o que nos reconduz ao medo inicial. E aí nada há que fazer a não ser reprimi-lo: nunca deixarei de andar por Pinheiros.
3. Vc realmente escreve tudo o que te dá na telha ou filtra algumas coisas por saber que pode ferir algum dos seus leitores? Tipo, não vai mandar teu pai à merda no blog pelo fato dele ler, hehehe. Sei lá, pensei em pai pq familiares próximos são sempre alvo de sentimentos extremos... Meu palpite é que vc não filtra, já que vi posts em que vc de fato poderia ferir as pessoas, mas quem sabe vc refletiu antes de escrevê-los para dizer coisas desagradáveis da forma mais amena possível. Vc pensa nessas coisas antes de escrever um post?
Lu, você me superestima. A verdade é que não tenho muita noção do que as pessoas vão achar do que escrevo - e muito menos se vão se ofender, magoar, sentir-se desprezadas, sentir-se diretamente atacadas etc. Assumirei portanto a postura básica do psicólogo (uma criança uma vez disse: "psicólogo é uma pessoa que faz muitas perguntas") e responderei à sua questão com uma outra: que posts são esses em que eu poderia ter ferido as pessoas? E quem seriam elas? A não ser que você esteja se referindo ao post em que me revolto contra a estrutura social dos salões de beleza, estou no escuro...
Marcadores: elaborar
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