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quarta-feira, 31 de outubro de 2007

A primeira enquete

ACABO (acabo mesmo, ainda estou passada) de receber um convite tão inesperado quanto praticamente irrecusável: passar uma semana com Bel & The Botters (nasce uma banda de rock!) em NY em fevereiro. Mas não é um convite qualquer, daqueles "passa lá em casa". Here's the trick: B & TB irão alugar um apartamento lá por aquelas bandas manhattanianas, o que portanto me isentaria do pagamento da estadia, isto é, uns 100 mangos diários (lembrando que um mango lá vale um dólar). Ou seja, o convite não apenas é tentador - a combinação Botter & NY é tentadora de qualquer ângulo que se a considere- como também é muito sério. Exige consideração cuidadosa. Daí a necessidade da colaboração de vocês para tomar esta decisão... É favor ler e clicar ali do lado.

P.S.: De qualquer forma, é bom já ir tirando o visto...

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segunda-feira, 29 de outubro de 2007

I feel emotional

O som tava ruim e o visual inexistente. Não consigo lembrar de nenhum outro show em que a minha expectativa "imagética" (cenário, figurinos etc.) era tão forte quanto a musical. Mas os graves estavam distorcidos e a voz dela às vezes se perdia - e o palco era muito, muito baixo. Mal se via o telão. Eu fiquei no meio do povão - se é que se pode chamar de "povo" pessoas que pagam 200 reais por um ingresso -, mas teria visto muito mais se tivesse ficado mais afastada do palco, assistindo a tudo tranqüilamente de um telão. Não me arrependo: se paguei os tais 200 reais, foi para (tentar) ver a mulher cara-a-cara, no palco, não numa tela maiorzinha. Para isso temos os DVDs. Mas a produção podia ter se esforçado um pouquinho mais em fazer do show uma experiência audível e visível. É pedir muito? Deve ser, se considerarmos que ainda hoje, no portal do Estado, encontramos informações sobre o show da cantora "holandesa" no Rio. Sim, estou misturando alhos com bugalhos, a produção do festival não pode se responsabilizar pelo que sai no jornal; estou só extravasando meu desânimo com o pouco caso, a falta de cuidado, o amadorismo com que é tratada a música por aqui (por todo lugar, talvez). Aí bate aquele desespero: o jornal diz que a Björk é holandesa; se a minha avó ler, vai acreditar. Agora, a questão que não quer calar: quantas coisas será que o jornal não diz, sobre política e economia, com relação às quais fico na mesma posição da minha avó?

Mas nada disso me impediu de curtir, pular, cantar e me emocionar com o show. E a maior cambalhota anímica não veio de Hyper-Ballad - gosto quando minha alma me surpreende e se contorce inteira em função de um estímulo que meu cérebro não estava prevendo - e sim de Jóga. Daí o título deste post... Procurem vídeos no youtube e se emocionem também, se puderem. Não tenho tempo de postar os links aqui, que a sala do hospital precisa fechar...

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sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Ninguém mais vai na Björk, não?

Eu sei que essa é uma pergunta que tem estratosféricas chances de cair no vazio, mas dado que perguntar não ofende (e ainda mais no próprio blog) - por acaso alguém aí conhece alguém que vá na Björk? Se este segundo alguém for gente boa, é favor colocar-nos em contato, pois o programa promete ser total e completamente índio até o momento de ela entrar no palco, quando minha alma promete dar suas costumeiras - e sempre surpreendentes - cambalhotas de entusiasmo. Até lá, uma companhia cairia bem... Ah, e por favor torçam para não chover. Por favor.

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Das vantagens do alheamento à feminilidade

Já escrevi aqui sobre algumas das minhas dificuldades relacionadas a ser-mulher-no-mundo. Mas nem tudo são espinhos: minha falta de noção sobre as coisas do universo feminino tem lá suas vantagens. Fui poupada de alguns traços e vivências típicos da neurose feminina, da qual felizmente não adoeci por completo. Vamos a eles:

Nunca guiei minha vida pelos astros. Isso, na prática, significa que nunca atentei para os signos dos namorados e bachelors em geral. Sempre deixei as análises astrológicas para as amigas.

Nunca tive ciúme do namorado por causa do orkut. Pensando bem, acho que nunca cheguei a perguntar aos meus namorados se eles tinham orkut.

Nunca fiz a dieta da lua, do sol, das estrelas, do shake, das cores, das pedras preciosas, do tipo sangüíneo. O ápice do controle alimentar a que me submeti foi reduzir as duas fatias de bolo de chocolate para uma, as três bolas de sorvete para duas, as quatro colheres de arroz para três. E isso por uns dois meses, que ninguém é de ferro.

Nunca tive problemas intestinais. As mulheres costumam preocupar-se bastante com o funcionamento do intestino. Está funcionando? Voltou a funcionar? Regularmente? Com que freqüência? Ingerem pós, grãos, iogurtes, remédios. Eu, ao contrário, nunca consegui entender os meandros do funcionamento do meu intestino; nunca me ocorreu reparar nisso.

Nunca percebi quem está olhando quem e quem gosta de quem. Tal habilidade sensitiva, da qual as mulheres costumam se gabar, ao fim e ao cabo prova-se absolutamente dispensável: todas as vezes em que quis ou precisei saber quem estava olhando quem e quem gostava de quem, foi só perguntar à mulher mais próxima, que naturalmente estava se empenhando nesta tarefa há muito mais tempo e com muito mais afinco do que eu. Assim, pude economizar minha sensibilidade para coisas mais importantes, tais como tentar adivinhar o que nos reserva a quarta temporada de LOST.

Nunca olhei revista de fotos & fofocas. Nunca consegui aprender quantas vezes Fabio Jr. e Roberto Justus se casaram, nem quantas vezes suas múltiplas esposas se submeteram a cirurgias plásticas.

Nunca demorei mais de uma hora e meia para me arrumar. A não ser quando terrivelmente apaixonada. Bem, eu sou uma mulher, afinal de contas...

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quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Guia para moças modernas e solteiras lidarem com seus microcomputadores antigos, parte 2

Caso os passos de número 1 e 2 do presente guia não tenham sido seguidos, quaisquer que tenham sido as razões para tamanha sandice, não se desespere: há sempre os passos seguintes, totalizando os infalíveis 7 passos para a moça moderna e solteira lidar com seu microcomputador antigo:

3. Manter um ótimo relacionamento com o ex-namorado para que ele venha até a sua casa em pleno domingão para rodar programinhas anti-vírus, reinstalar o Windows etc.

4. Permitir-se entrar em pânico quando o Windows reinstalado recusar-se a ser "inicializado".

5. Lembrar que você mantém um bom relacionamento com amigos, primos e bachelors meio-nerds meio-adolescentes meio-geniozinhos (leia-se: que sabem operar o DOS).

6. Não ter a cara de pau suficiente para pedir ajuda para nenhum deles.

7. Manter um excelente relacionamento com o ex-namorado para que ele venha até a sua casa no próximo domingão para copiar o winchester, formatar o HD, instalar o Windows de novo e, bem, vocês sabem, 4 8 15 16 23 42.

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segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Guia para moças modernas e solteiras lidarem com seus microcomputadores antigos

Você, moça moderna, não obteve esse título à toa. Não: você gasta tempo e dinheiro reciclando-se, revitalizando-se, recauchutando-se e uma série de outros verbos iniciados em "re" - tudo para estar em dia com as mais variadas tendências da atualidade e com as mais variadas atualidades da tendência de sua escolha. E você é a primeira a admitir que, das principais ferramentas de que dispõe para se manter na crista da onda da modernidade, destaca-se ele - o microcomputador.

Acontece que você, moça moderna que é, usa o microcomputador para ler notícias, ler blogs, escrever blogs, escrever notícias. (Foge ao escopo deste trabalho avaliar as diferenças qualitativas entre os blogs e notícias que você lê e os que você escreve.) Você nunca perdeu seu tempo com essas coisas de menino chamadas programação, hardware, DOS. E muito menos seu dinheiro - afinal, você tem coisas mais importantes em que investir: livros, as obras completas de Seinfeld, drenagens linfáticas.

Assim sendo, se você:

1. além de moderna, é solteira;

2. e se o único comando que lhe ocorre digitar ao ver um cursor verde piscando sobre uma tela preta é 4 8 15 16 23 42 -

PARABÉNS!!! Este texto é para você. Basta seguir rigorosamente os passos de nosso inestimável guia para manter seu computador limpo e saudável por um inestimável tempo - isto é, o tempo que vai levar para você iniciar um outro relacionamento.

1. Repita para si mesma, três vezes ao dia, a partir do primeiro dia pós-término do namoro: "o namoro acabou, o anti-vírus também". Isso lhe ajudará a lembrar-se de rodar o AVG e o AdAware no seu microcomputador DIARIAMENTE, agora que seu namorado não está mais lá para fazer isso.

2. Quando for baixar um programa pago e quiser dar o calote na empresa fabricante, procurando por cracks e keygens pelos astalavistas da vida, lembre-se sempre desta regra de ouro: "a nudez das moças é inversamente proporcional à qualidade e confiabilidade do site". Isso mesmo: você entrou num site de cracks e existem dezenas de moças peladas ali. Vá embora: o site não é para você, e não por razões moralistas. A verdade é que, quanto mais vestida estiver a moça, maiores as chances de o site ser confiável e não te passar um vírus junto com um crack que, invariavelmente, não funcionará.

Veja, é muito simples: são esses os dois fundamentais passos a serem percorridos pela moça moderna e solteira que quer manter seu microcomputador antigo atualizado e em dia com as mais diversas tendências atuais e atualidades tendenciosas. Ou qualquer coisa assim. E mais não digo, que cá esta moça não percorreu os já citados passos e agora precisa recorrer a computadores outros para divulgar suas notícias. Cumpre não abusar da boa-vontade alheia.

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domingo, 21 de outubro de 2007

Da lava que cobre tudo

Tenho uma amiga que acha que o meu namoro acabou por causa da rotina.

Ela não entendeu nada.

Fico com a grata sensação de que Deus teve a generosidade de me dar uma pequena prévia do meu futuro com o namoro quepouco acabou e que para sempre me deixará de coração entusiasmado – o coração entusiasmado não é aquele que bate acelerado; o coração entusiasmado é o que a gente sente bater – ao lembrar que tal namoro um dia começou. Um dia existiu. Esmagamento relaxante de manhã, o dia posto em revista à noite, SNL aos sábados, macarrão com legume aos domingos, carinho a toda hora.

E ainda querem que eu acredite que o namoro acabou por causa dessas coisas.

Tenho também uma amiga que prontamente interpreta como um sintoma inequívoco da depressão meus planos de passar algum período do dia sozinha.

Ela também não entendeu nada.

Com ou sem namoro, há coisas boas na vida que demandam a participação de uma pessoa apenas. Escrever no blog de manhã, fazer macarrão com toucinho à noite, minhas amigas aos sábados, a New Yorker e a Piauí em revista aos domingos, música a toda hora.

Solidão não é isso.

Solidão é mistura de falta com irrealidade; é o ponto em que as psicopatologias de Lacan e Winnicott se tocam.

É o ponto em que a falta de alguém ou alguma coisa é tão doída, que a realidade cessa de operar.

(ou)

É o ponto em que a realidade é tão doída, que a presença de alguém ou alguma coisa cessa de operar.

Recentemente ganhei um telefone celular novo, em substituição ao roubado. O novo possui três espaços a mais que o antigo na agenda de discagem rápida.

Que fazer com esses três espaços? Que fazer quando a gente tem o espaço, mas não tem a pessoa?

(Quer dizer, médio: um deles eu preenchi. Uma amiga querida com quem venho trabalhando bastante.)

Ainda assim, sobram dois.

Pensei inicialmente em preenchê-los com outras pessoas queridas e conhecidas.

E lembrei-me dos CDs que levo no carro.

Tenho uma disqueteira com espaço para 24 CDs. E CD é a coisa que mais sobra na minha vida. Ouço um, aparecem dez outros ainda por ouvir. “Não vence”, como diria minha avó.

Por isso mesmo, nunca tenho 24 CDs no carro. São sempre 23, ou menos. Porque nunca se sabe quando minha alma vai dar aquela cambalhota de vontade de ouvir de novo uma paixão antiga; quando vou conseguir baixar aquela raridade independente; quando vou passar na Pop’s e sucumbir a uma ou duas promoções ou lançamentos.

Nãopara preencher a disqueteira. Não dá. A vida precisa de espaço para o inesperado e o surpreendente.

Portanto, no que tange ao meu celular, urge deixar um espaço vazio.

o outro...

Sei , alguém se habilita?

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terça-feira, 16 de outubro de 2007

Mais um texto-mulherzinha

Ou quase. Domingo, no intervalo do Acústico MTV Paulinho da Viola, descubro que o autor da resposta mais criativa à perguntaPor que eu mereço ir para a maior premiação da música européia?” ganha um convite para a dita premiação no dito continente. Decido, então, colocar todo o meu talento literário a serviço deste nobre fim, redigindo uma resposta mezzo literária mezzo baseada em fatos reais que, pelo menos aos meus olhos (ou cabelos), justifica plenamente meu direito de acesso ao evento. Fora que a própria pergunta é tão ridiculamente pretensiosa que ela praticamente implora por uma resposta à altura. E, se os produtores da mê-tê-vê não se convencerem, sempre contarei com vocês, meus 51 leitores deste blog, habitantes de São Paulo e Sevilla, Oneonta e Évora (dêem uma olhada embaixo para constatar que Oneonta é a minha Quixeramobim).

Mas vamos ao texto. Por que, afinal, mereço ir para a maior premiação da música européia?

***

Nada mais injusto que a expressão "ninguém merece". Porque, certas coisas, algumas pessoas merecem, sim. Como esta: eu mereço ir para a maior premiação da música européia porque, até ontem, eu achava que a maior premiação da música européia eram os Gramophone Awards – e tal percepção distorcida da realidade traz conseqüências funestas para a vida de uma pessoa.

Tais desvios perceptivos tiveram início em minha infância: fiquei órfã. Órfã dos Menudos. A pior orfandade é aquela em que a paternidade nem chegou a se constituir. Precisamente o meu caso. Enquanto as demais meninas elaboravam suas angústias edipianas com o cabeludo de sua predileção, eu ouvia Mozart. Mozart também era cabeludo, mas de um cabelo diferente: seus cachos eram brancos e finos, estranhamente atraentes. E Mozart eu ouvia, e não sei bem se apesar dos cachos ou por causa deles, por ele me apaixonei.

Por causa de Mozart, fui à Europa; à Alemanha, especificamente, refazendo seus passos por Leipzig, Dresden e Berlim.

Foi assim que conheci Matoso. Violinista talentoso, seus cabelos claros reluziam contra a madeira escura do instrumento. Reluziam e balançavam, e por esse balanço meus cabelos deixaram-se levar... Até que um dia Mozoso disse que não podia mais.

Lustroso era ele, caspenta eu era, e tão denso era o sebo que kèrastase não bastou. Precisei de algo mais radical: um corte.

Hoje, meus cabelos são outros: curtos e saudáveis. Porém, são sós; precisam dos cabelos certinhos e curtinhos do pop, dos cabelos-pela-cintura do rock ou dos cabelos inexistentes do hip-hop.

E é preciso que isso se no cenário onde tudo aconteceu. Na Europa. Na Alemanha. Por cima do túmulo de Mozoso.

Depende da MTV a correção de um desvio em meu desenvolvimento áudio-psico-sexual. Meus cabelos afirmam em sintonia com minha boca: eu mereço!

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Money-money-money

"Money, money, money...
Money makes the trees come down
It makes mountains into molehills
Big money kicks the wide wide world around"

(Joni Mitchell - This Place)

Este é o melhor artigo que já li sobre as reais motivações estado-unidenses para a guerra no Iraque. Via Weblog.

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Começos inesquecíveis - posts

Em Mistress Matisse, hoje:

"Ring ring!

Me: hello?

Caller: Are you a transsexual?

It’s nice when I know right away that an interaction is not going to go anywhere."

O otimismo é ou não é uma dádiva?

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domingo, 14 de outubro de 2007

Músicas em minha homenagem

Essa história do umbigo como gota d’água fez-me recuperar alguns mitos particulares muito mais significativos e duradouros que mitos públicos reconhecidamente influentes, tais como o Papai Noel e a Julia Roberts. Não: a grande mitologia da minha infância consiste numa coleção de músicas que, sem dúvida alguma, foram escritas, arranjadas e executadas em minha homenagem. Vejam se eu não tinha razão:

Águas de Março, Tom Jobim – pois se a música fala de março e eu sou nascida em março, como negar que ela foi feita para mim e o meu aniversário?

Miss Brasil 2000, Rita Lee – em 2000 eu faria 18 anos, tornando-me portanto apta a conquistar o título de primeira Miss Brasil do novo milênio. Claro que a música tinha sido feita para mim.

Eighteen, Pat Metheny & Lyle Mays (Pat Metheny Group) – essa música é um rockinho; daí, na minha cabeça, o título: “música dessas que pessoas de 18 anos gostam”. O que reforçou a necessidade de eu fazer logo dezoito anos (conheci esta música pouco tempo depois de Miss Brasil 2000... Tudo fazia sentido).

Hey Nineteen, Walter Becker & Donald Fagen (Steely Dan) – a mesma lógica dos números e idades: era uma música ter um número no título que eu achava que era para quando eu fizesse aquela determinada idade. Curiosamente, tal idéia nunca me ocorreu em relação a When I’m 64. Tudo tem limite.

She’s leaving home, John Lennon & Paul McCartney (Beatles) – essa sim os Beatles fizeram para mim, advertindo-me com monumental antecedência de que eu jamais deveria sair da casa dos meus pais, sob pena de deixá-los absurdamente infelizes e cantando em corinho para sempre.

Au Lait, Pat Metheny & Lyle Mays (Pat Metheny Group) – Naná sussurrando “você é linda....” – ora, quem mais poderia ser? Eu, é óbvio. Mais uma parceria Metheny & Mays claramente em minha homenagem.

Camila, Egberto Gismonti – essa nem precisa dizer. O disco é uma bomba, cheio de teclados horrorososmas salva-se esta única composição, até hoje uma das minhas músicas queridas do Egberto. O fato de ser a única música do disco que prestava deixava ainda mais evidente que isso podia ser responsabilidade minha.

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Música brasileira

Ontem fui questionada sobre música brasileira - o que tenho ouvido, de quais "cantores novos" tenho gostado.

Eita perguntinha difícil. Foi péssimo: deu um branco tremendo e a certeza terrível de que não ouvi nada que realmente abalasse as minhas estruturas desde o disco novo do Guinga, lançado em março e adquirido no inesquecível dia em que a enxurrada levou a chave do meu carro (mas essa é uma outra história).

Isso, porém, foi ontem. Hoje, eu teria uma resposta na ponta da língua: a música brasileira que tem me interessado ultimamente é a feita por Anat Cohen. Cliquem aqui para ouvir Carnaval de São Vicente, uma mistura de marcha-rancho com choro e samba que no fundo não é nada disso, mas certamente é um tributo involuntário ao Seu Jair do Cavaquinho, com a citação quase literal de um trecho da melodia de Doce na Feira; duvido, no entanto, que isso tenha sido intencional. (Sou só eu que me espanto diante da proximidade de almas de um senhor carioca e uma moça israelense?) Os instrumentos vão entrando pouco a pouco para criar esse híbrido rítmico e cultural de cordas, sopros e percussão brasileira.

Não vou me furtar a um comentário maldoso. Pelo menos tenho um precedente ilustre: André Geraissati costuma dizer que Still Life (Talking) é o disco que Toninho Horta queria ter feito. e nunca conseguiu. Pois bem: digo eu, agora, que este disco da Anat Cohen tem todo o jeito de ser o disco que o Núcleo Contemporâneo mais queria ter produzido - e, assim como o Toninho Horta, jamais conseguiu.

Continuando a navegar pelo site, ouve-se em seguida uma valsa de um outro disco dela, que poderia perfeitamente ter sido composta pelo... Guinga. Pronto: o ciclo se fecha.

Espero que vocês tenham um dia tão bonito quanto foi a minha manhã, com esta nova descoberta.

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sábado, 13 de outubro de 2007

Mulher fácil

Não sei se pela ausência da mãe concreta ou se por deficiências internas minhas, o fato é que (para) sempre fui um pouco alheia a algumas questões básicas da feminilidade.

Acho que nunca terei suficiente confiança na mulher em mim mesma para deixá-la decidir, por sua própria conta e risco, o hidratante a que submeterei meu rosto. A janela em que as meninas aprendem a escolher o próprio hidratante – dos 12 aos 14 anos, provavelmente – se fechou, assim como estão fechadas e emperradas as janelas da depilação e da maquilagem. Naturalmente que me maquilo, hidrato e depilo – mas com muito pouca convicção interna de que estou fazendo tudo isso direito.

Para tais coisas, porém, é possível tomar emprestadas as mães alheias – tias e amigas e mães de amigas – para que eu possa me conduzir com alguma segurança pelos caminhos hidratantes, depilatórios e maquiladores da humanidade. Mas para outras, nem o mastercard salva. Coisas tais que suas janelas parecem nem ter chegado a existir.

Ninguém me ensinou a ser difícil. A ler as intenções subjacentes aos olhares e gestos, a refrear o desejo, a fingir-se desinteressada, a mostrar-se superior e misteriosa, a adiar a gratificaçãoprópria e alheia. Sou um fracasso de dama. Sou uma mulher fácil. que as janelas não existiram, fiquei chegada em abrir uma porta. Assim: oi, quer ser minha amiga? Quer ser meu orientador? Quer ser meu bachelor?

Vem dando certo, o pior é isso. Se continuar assim, é capaz de eu nunca aprender a me relacionar como adulta-civilizada, dessas que e espalha sentidos por todas as partes, principalmente nas palavras alheias. Minhas palavras são superficiais: está tudo ali, na cara delas. Atrás, é claro que sempre tem mais. Mas o mais que não controlo: não consigo empurrar sentidos por detrás das palavras, forçar o filho de volta ao útero.

Faltei nas aulas de Recorta & Cola e nas aulas de Técnicas de Sedução Feminina. O resultado disso é que prefiro os homens que faltaram às aulas de Técnicas de Sedução Masculina tambémembora, naturalmente, habilidades manuais como recortar, colar e cozinhar sejam sempre bem-vindas. Enquanto as demais crianças aprendiam o significado implícito ao número de horas que o pretendente leva para telefonar após o primeiro encontro – se uma hora, é desesperado, se vinte e quatro, adequado, se quarenta e oito, lesado – enquanto as crianças se dedicavam a tais complexos cálculos afetivo-matemáticos, eu girava com um menininho-talvez-namorado no gira-gira. Desta lição, por exemplo, consegui fixar a última parte: quem demora quarenta e oito horas para ligar demorará quarenta e oito encontros para se emocionar.

Eu gosto dos que gostam de girar comigo no gira-gira até ficarem tontos, sem nenhuma pretensão de sair do lugar.

Eu gosto também dos que tomam a iniciativa de parar o movimento do gira-gira e me levar diretamente ao trepa-trepa.

Sobretudo, eu gosto dos que conseguem sair do parquinho sem nunca esquecer que o gira-gira e o trepa-trepa são coisas muito sérias.

Eu gosto dos que não gostam das regras de conduta que limitam o amor. Meu lado Emília, pois.

Mas como me hidrato, maquilo e depilo – nessas matérias fiquei de recuperação, mas afinal passei –, espera-se de mim que eu nempara o parquinho; que fique comportadinha e limpinha dentro da sala de aula, repassando lições de sedução que na verdade nunca aprendi.

Não consigo. Sou sempre a primeira a dar de ombros para as lições que deveria ter estudado; sempre a primeira a correr para o parquinho.

É claro que, dessas corridas, freqüentemente saio esborrachada. Quando vejo, o gira-gira está numa velocidade que não posso mais controlar, e o trepa-trepa não tem mais barras onde eu possa subir e me contorcer. A maquilagem começa a borrar e os pêlos mais escondidos começam a aparecer.

Vem dando certo. não sei se ser uma mulher fácil é mais fácil que ser uma mulher difícil.

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Será?

Que ele se candidata? Eu preferiria que o título desta postagem fosse "será", simplesmente. Mas ele é inteligente demais para eliminar o ponto de interrogação assim tão cedo.

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sexta-feira, 12 de outubro de 2007

A Emília de Itajubá

Dia das Crianças estranho, este.

Quando soube do meu admirador secreto do blog, meu maior admirador não se conformou em não ter sido o primeiro a me presentear com coisinhas listadas aquientão, num rompante consumista, comprou-me obras completas de Mr Goldberg. Os três CDs chegaram hoje, botando um fim definitivo numa série de timings ruins que vinham me acometendo até ontem e inaugurando um período de confiança que confio estar mais para um realismo contido que para um entusiasmo desenfreado.

Mas a boneca de pano da Emília que me esperava numa caixa de papelão na portaria do prédio hoje cedo, algo me diz que não foi nem o Tato nem o meu pai que me deram-na.

O engraçado é que sempre tive sentimentos ambivalentes em relação a possuir uma boneca da Emília. É claro que eu queria uma boneca da Emília, eu adorava a Emília. Mas como possuir uma boneca da Emília se a própria Emília me havia ensinado que a Emília-de-faz-de-conta era muito mais verdadeira e importante que uma simples Emília-de-pano? Além do que, Narizinho sempre foi minha melhor amiga e Pedrinho meu namorado; deles, eu podia ser uma igual. Mas Emília? Nunca houve uma boneca como Emília. Particularmente impressionante para mim foi o modo como ela seduziu Hércules. E também o modo como ela se safava das crueldades mais chocantesalguém se lembra do tanto que ela xingava Tia Nastácia, condensando em duas ou três frases séculos de preconceitos de raça e de classe? – com algum feito bonitinho ou tirada espirituosa.

Sim, hoje posso admitir: a verdade é que sempre invejei Emília, pois ela sempre teve tudo o que quis; sempre deu vazão a todo o seu amor e a todo o seu ódio, sem limitações. Com ela exercitei algo que na época deve ter sido muito difícil de exercitar em relação à minha mãe: a convivência e a convergência do amor e do ódio (o meu amor e o meu ódio) direcionados a uma mesma pessoa. Pois está claro que sempre amei Emília também: tudo que de interessante acontecia no sítio ou fora dele passava por ela, de uma forma ou de outra. Sem ela, dificilmente o Sítio do Pica-Pau Amarelo teria sido a Ilha de LOST da minha infância.

Emília sempre conseguiu tudo o que quis, exceto uma coisa: tornar-se humana. Era esse meu triunfo maníaco sobre ela, e possivelmente sobre minha mãe tambémvocês , que conquistam os Hércules do mundo, vocês ao menos não existem. São impossíveis bonequinhas insignificantes.

Infelizmente, porém, coube a mim identificar-me a elas. Ser igual à minha mãe e à Emília, desafiando os limites impostos pelos autores do mundo. Emília porta-voz de Monteiro Lobato, Camila porta-voz de seu inconsciente. Esta Camila por muito tempo dedicou-se com convicção ao papel de bonequinha dos Hércules e Jacobs, conseguindo de fato tudo o que quis, pagando por isso o preço de sua humanidade, convertendo-se com isso numa impossível bonequinha insignificante. Virei pano, um pano que se foi encardindo e gastando, até ser deixado de lado, objeto transicional que perdeu a função. Sem de pirlimpimpim que me pudesse reabilitar.

E agora uma Emília de pano, fabricada em Itajubá e presenteada por não sei quem, senta-se sorridente no sofá da minha sala.

Cuido para que eu e ela tenhamos agora uma vida feliz.

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terça-feira, 9 de outubro de 2007

Felicidade, sim

Tristeza não tem fim.

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segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Dialética sem síntese

Dando prosseguimento ao texto de baixo, agora com um pouco mais de serenidade.

O que mais me surpreendeu na experiência de ser seqüestrada e assaltada não foi o medo, o alheamento, a dessensibilização; isso tudo eu podia supor que alguém nestas condições iria sentir. O que eu não supunha de forma alguma era o estica-e-puxa – principalmente estica – egóico. Quando se é confrontado com a mais crua realidade do que a sua vida é – isto é, um nada que em nada altera os rumos da nação e do universo – é que vem com toda a força uma tentativa de fazer a nação e o próprio universo dependentes da sua vida. “Legado para a humanidade”, vejam vocês. Posso dizer com honestidade que nunca até aquele momento eu havia pensado em mim mesma em termos tão pretensiosos como estes, “o legado que deixarei para a humanidade”. Mas na sexta-feira eu pensei. E mais: pela primeira vez na vida pensei com a mais absoluta seriedade na possibilidade de ter filhos. Depois, é claro, eu entrava um pouco mais em contato com a realidade da vida (ao estica seguia-se o puxa): aula de inglês no dia seguinte e, com exceção da arma que esses caras portam, nada neles indica que possuem qualquer intenção de me matar. E eles preocupados com o carro de polícia que passava, com gente que podia estar olhando, e eu pensando – que viagem, ninguém tá vendo porra nenhuma, como esses caras são perseguidos. Por um instante me ocorreu que, caso eles tivessem tido acesso aos meus pensamentos de “legado para a humanidade”, teriam concluído algo bem semelhante: que viagem, que mocinha mais ingênua e desesperada, pois ela não está vendo que a gente quer uns 500 real pra passar o fim de semana.

Na sexta-feira eu virei o centro do universo, e odiei esta sensação. Não é esta a minha vida; não é disso que gosto, não é assim que eu quero ser. Eu gosto é de fazer parte de um universo no qual sou, sim, importantejunto das pessoas de que gosto, e das que não gosto também. Mas esta importância não faz de mim essencial nem especial. O mundo prossegue sem a minha presença, e é bom que prossiga.

Mas agora carregarei para sempre a sensação estranha (e um pouco embaraçosa) de ter sentido a minha vida como algo muito maior do que realmente é. Pior: nunca poderei apagar a vergonha de saber que, a primeira vez que considerei com seriedade a possibilidade de ter filhos, não foi com o intuito de me disponibilizar para o nascimento e o crescimento de outras pessoas que levarão suas vidas próprias – mas com o intuito de que tais pessoas fossem uma mera extensão de mim, fabuloso e relevante ser; uma mera extensão de mim, centro do universo.

Por isso fiquei com tanta pena do Luciano Huck.

As pessoas o criticaram por coisas que acho absurdas. É a lógica do nivelamento por baixo: se eu sou assaltado, você merece ser assaltado também, seu rico-filho-da-puta. Se os pobres sofrem, isso deve ser descontado nos ricos. Se eu pago meus impostos e não tenho segurança, o Luciano Huck também não tem que ter.

Não. Nada disso para mim faz sentido. O Luciano Huck, por mais que eu o deteste, merece sim ter segurança pública de qualidade. Ele e todos os brasileiros. Segurança e, principalmente, saúde e educação.

Fiquei com pena porque, em seu texto, ele deixa claro que esta sensação com a qual convivi por uma hora, durante o assalto, é a sensação-basal da vida dele. Ele não tem a menor dúvida de que ele é, de fato, o centro do universo. Sempre. Com ou sem assalto. (Fica até chato criticar a presunção das primeiras frases do seu artigo, ou a sua declaração de como ele contribui para fazer deste país um lugarbacana”. Seria como criticar o Big Brother, a Xuxa ou qualquer coisa que venha da Globo – é o próprio chute no cachorro morto. Deixemos, pois, o cachorro em paz.) Imaginem a pessoa insuportável que eu seria se, até agora, horas após o combo seqüestro & assalto, eu ainda estivesse preocupada com meu legado para a humanidade... Pois esta pessoa é Luciano Huck – cujolegado”, aliás, nem está em questão: “um país mais bacana”. Para não falar na “multidãoque choraria a sua perda.

E é isso o que torna as suas reivindicações tão hipócritas. Afinal, é agora, depois que ele e uma ou duas pessoas de seu conhecimento foram assaltadas, que é chegada a hora de “discutirmos segurança pública de verdade”. É como se, até então, estivesse tudo certo: como se as milhares de pessoas assaltadas e os milhares de assaltantes “sem infância ou educaçãoque o tivessem precedido pouco ou nada importassem. Mas agora que seu umbigo é posto em xeque, ah, agora sim é chegada a hora de cansar, de peidar, de fazer alguma coisa. O seu umbigo é a gota d’água.

Individualismo gera violência, que gera mais individualismo.

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domingo, 7 de outubro de 2007

Pedido

Todos sabem que adoro colo. Desde sexta, porém, só o colo quase que não está bastando; sendo assim, fica registrado que carne, osso & sangue estão aceitando manifestações de carinho e apoio. Aceita-se passe, abraços, e-mails, recados no blog e convites para café ou pinga. Outros eventos gastronômicos a combinar.

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Ser pai é

Acompanhar a filha em quatro horas e meia de peregrinação por Distritos Policiais em busca de um Boletim de Ocorrência.

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A morte do cool

E de repente eu não era mais eu: era um ser flutuante e crítico que me observava e recriminava de cima pra baixo. Como você pôde deixar isso acontecer? Quantas vezes o André não te disse para não ficar parada dentro do carro? E de repente o crime era meu e de repente eu não sentia vergonha, mas o rosto queimava como se em reação à maior gafe da história do Oscar, o rosto queimava e não havia nada que eu pudesse fazer, pois eu agora era um ser flutuante. As bochechas ardendo nada tinham a ver com o ser, assim como nada tinha a ver com ele o estômago que revirava a cada nova curva traçada pelo carro. "Jesus abençoe", o ser ouve dizer. Ironia número 1: minha avó sempre recomendou lembrar Jesus em horas como essa - especificamente, seu sangue, o sangue do senhor Jesus. O ser não podia estar mais distante de pensar em Jesus naquela hora, ocupado que estava com outro sangue, o sangue que insistia em fluir e depositar-se em lugares que não lhe convinham. Não sei se foi efeito da bênção de Jesus, mas o ser flutuante eterizava-se cada vez mais, cada vez mais próximo de Jesus e cada vez mais distante da carne. O ser era tão pequenininho, tão grandioso. O ser preocupava-se com a aula de inglês do dia seguinte - quando é que eu iria prepará-la? este contratempo não estava nos meus planos -, o ser preocupava-se com o legado que eu haveria de deixar para a humanidade. O ser conseguia ser pequenino e grandioso ao mesmo tempo - e o André? Ele deve estar com ódio de mim, achando que dei o cano de propósito, que sou uma ex-namorada vingativa. Muito burro, esse ser, que fazia daquele amontoado de carne e sangue ali embaixo o centro do universo, mas um universo que o ser não podia atingir - o sangue corria destrambelhado, a carne comprimia-se e esticava-se, o sangue ameaçava corroer os ossos. Mas de tanto que se esforçou, o ser conseguiu, se aprumou e fez o sangue nadar mais rápido ainda para o nariz e as bochechas: e se eu morrer agora, como é que é, vou ver o túnel e vou pensar nos momentos felizes da minha vida? E aí como é que vai ser? Os momentos mais felizes da minha vida são... Esses? Com J.? Não, não, isso não pode ser, não é hora ainda. Eu não posso morrer antes das lembranças de J. E foi assim que o ser, por esse breve instante, acessou a carne. E logo voltou a ficar grandioso. O tal legado para a humanidade. Uma dissertação de mestrado? Só? E o doutorado, não vai ser? E filhos, não vou ter? Mesquinho e grandioso: se carne, osso & sangue ali embaixo resolverem se desfazer e se confundir, todo mundo vai ficar sabendo que não traduzi todos os textos que deveria, não preparei as aulas que precisava, não escrevi os relatos de atendimento a que me propus. Mesquinho de novo: ai, vai ser um saco acordar cedo amanhã. Ironia número 2: a frente do som do carro é encaixada no painel - carne, osso & sangue estão deitados no banco de trás, de costas para os bancos da frente - e o ser desta vez não está nem mesquinho nem grandioso, está curioso: ih, já pensou se eles ligam o som? The Birth of the Cool é o que lá está, lembra o ser, lembra o ser e se irrita, porque nada mais verdadeiro que o oposto disso: ali é a morte, a morte do cool, não tem nada de nascimento não, o cool é tudo o que não pode acontecer nas bochechas ali embaixo que o ser se esforça para cutucar de novo, e não consegue mais. "Dez minutinhos aí deitada", o ser ouve uma voz dizer, e o ser começa a contar em grupos de sessenta. Para sua surpresa, o ser é tomado pelo estômago, de repente o estômago, tão distante lá embaixo, controla tudo, não deixa o ser contar mais nada, perde-se a noção. Alguns outros grupos de sessenta se passam e agora não sei mais quem foi que viu, se o estômago ou o ser ou as bochechas, que a chave estava no contato e que eu já podia ir embora.

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quarta-feira, 3 de outubro de 2007

O normal e o patológico - LOST e sexo

Sobre os conceitos de normal e patológico, por favor leiam Canguilhem e Foucault. Cá de minha parte, entendo e gosto muito mais de LOST e de sexo, sendo portanto disso que irei tratar. Cabe a vocês determinarem - ou, o que é muito melhor, abismarem-se com a quase impossibilidade de determinar - os limites entre estas tão fluidas categorias nas duas situações abaixo:

LOST - O básico, o normal da experiência de LOST, todo mundo já conhece: mesmo a pessoa menos maníaca e/ou propensa ao vício, uma vez exposta às cenas iniciais do primeiro episódio da primeira temporada, empreenderá demoradas sessões de LOST, assistindo a vários episódios na seqüência; roerá as unhas de indignação com a própria ignorância frente aos mistérios da ilha; sonhará com pelo menos um personagem pelo menos uma vez. Até aí, tudo dentro dos limites da normalidade. A partir daí, começa a despontar um segundo tipo de fã, um pouquinho mais doente, que é aquele que começa a achar fundamental rever todos os episódios e acompanhar The LOST Experience (se você nunca nem ouviu falar nisso, parabéns: a insanidade ainda lhe é uma dama desconhecida). A partir deste ponto - isto é, quando a pessoa (deveríamos chamá-la agora de paciente?) conhece a Hanso Foundation e a Mittelos Bioscience como se para tais instituições houvesse trabalhado a vida inteira - a pessoa começa a ouvir então os podcasts oficiais de LOST com os produtores Damon Lindelof e Carlton Cuse (Darlton, para os já definitivamente pacientes). Eventualmente, a pes... ops, o paciente começa também a acessar diariamente o blog Lost in Lost e a ouvir os podcasts do CA Monteiro. (Naturalmente, neste estágio já avançado da doença, o paciente não controla mais a utilização cotidiana de expressões como "I believe in Jacob", "Continue apertando o botão!", "Namastê" e derivados.)

E aí, quando vocês já estavam certos de que a doença havia atingido o seu clímax - quando o vírus de LOST parecia ter alcançado concentração máxima na corrente sangüínea (ou seria nas células? Ai, o vestibular) - ...

A pessoa (neste ponto, chamá-la de paciente pra quê? Desencana, agora é que ela não vai se tratar mais, mesmo) começa a RE-ouvir os podcasts oficiais de LOST.

Caros médicos freqüentadores deste blog: seria caso de internação compulsória? (Não que a pessoa citada seja eu, é claro que não, longe disso...)

Sexo - A indústria pornográfica especializada em sadomasoquismo é um empreendimento que destrói tudo aquilo que o feminismo levou décadas para construir, objetificando e explorando pobres mulheres submetidas a torturas degradantes. Certo?

Think again, dear friends, e enquanto isso acessem outros posts do ErosBlog - um site só para aqueles que não têm medo de reverem radicalmente suas próprias idéias e preconceitos, mesmo os mais disfarçadamente humanistas e bem-intencionados. Bacchus vem minando o meu moralismo - ao mesmo tempo que me proporcionando utilíssimas informações e deliciosas risadas - há mais ou menos um ano; hoje, o blog completa cinco de existência. Fica registrada minha admiração por este blogueiro que está entre os poucos em que me espelho.

E, agora, a pedra-de-toque deste post:

LOST meets kinky sex!

Sim!!! Segue a declaração de Damon Lindelof na Comic Con deste ano, contestando um ouvinte que disse serem os Outros muito mais violentos que os sobreviventes do vôo 815:

"I would actually argue though, were you to go back and look at Season 1, that you'd find more acts of violence that our guys committed upon each other than the violence that the Others committed upon them or each other, but our guys are just a lot prettier, so when Sawyer is punching you in the face, you're kinda like - more, please? You're just so attractive, do you wanna take your shirt off while the beating continues? That would work for me too, but when Pickett or Friendly is beating you up, it's kind of like - oh, this is brutal violence. Not the kind of violence we subscribe to, so we promise, as the show moves forward, if the violence continues it will be perpetrated by catastrophically good looking people."

Evidentemente que um Sawyer descamisado não faz mal a ninguém - mas, quando se trata de uma boa violência, cá esta paciente sempre preferiu Sayid com suas torturas. (Não que homens fortes, de beleza exótica e desprovidos de preconceitos atraiam o meu interesse - claro que não, quase nada...)