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domingo, 30 de setembro de 2007

P.S.

Talvez vocês já tenham percebido que a lista ali à direita, que se pretende um eterno work in progress, cresceu. Para os que ainda não haviam notado, fica a dica...

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Ouro Preto #3

Correndo o risco de deixar este blog um pouco monotemático, convido-os mais uma vez a exercitar a vossa paciência através da leitura de mais um texto meu sobre música. Quem sabe antes do Natal eu consigo escrever sobre a Maria Schneider?



Joshua Redman Trio - Ouro Preto, 2007

Foi o primeiro show que vi. Quer dizer, o primeiro show show, de verdade. Eu havia ouvido um pouquinho do disco novo, Back East, e gostado demais. A formação saxofonebaixobateria agrada-me bastanteparadoxalmente, são muitas as possibilidades harmônicas que se cria justamente a partir da ausência do piano, instrumento harmônico por excelência, pois isso me força a pensar a harmonia da música de uma forma diferente da habitual (e burra): afasto-me um pouco da concepção de harmonia como meras seqüências de acordes, conjuntos de notas tocadas em bloco, para me aproximar um pouquinho mais da harmonia como a estrutura subjacente à composição. Para mim, é como se uma banda sem piano ou guitarra/violão me tirasse um pouco da rotina, pois que me convida a prestar atenção nas notas que não são tocadas e que não fazem nenhuma falta, pois de alguma forma fazem-se ouvir internamente.

Bem; esse preâmbulo todo para dizer que eu conhecia um pouquinho do disco novo (tinha ouvido as duas ou três primeiras músicas, talvez?) – e também para acrescentar que eu tinha ficado particularmente entusiasmada com o tema que abre o disco, uma composição de Rodgers & Hammerstein. Portanto, fiquei muito feliz pelo fato de o show ter sido aberto justamente com esta música, que é daquelas que gruda de um jeito bom (o jeito ruim é o outro, isto é, aquele que nos faz querer arrancar a música de dentro como se fosse um câncer). Mas, o adjetivo mais preciso aqui não é “feliz”, e simsurpresa”: surpreendi-me com uma coisa que nem era pra ser surpreendente, mas que felizmente nunca cessa de me surpreender. Graças a Deus, ouvi muita música boa ao vivo, mas... Caros leitores, fazia um ano. Um ano, desde Nova York, que eu não ouvia jazz de verdade.

Não é minha intenção discutir aqui a Verdade platônica do jazz (o que é o jazz? ele está vivo? morto? vivo e cheirando mal? etc.), mas... Sabe quando você se esquece de que alguma coisa existe? Quando você passa por uma experiência, e esquece que aconteceu? Pois então: eu havia me esquecido de que esse tipo de música existe e é possível.

Eu havia me esquecido de que uma bateria pode soar tão bonito. Que a caixa soa diferente do ximbau, que soa diferente do prato, que soa diferente do outro prato, e que todos esses e outros timbres podem conspirar para criar melodias que interagem com aquelas tocadas por baixo e saxofone, em vez de soar tudo uma lata . Mas isso era o começo: eu havia me esquecido também da sensação de ouvir um baterista que swinga maravilhosamente sem precisar estourar os tímpanos de ninguém. Greg Hutchinson tem um domínio técnico do instrumento que é raríssimo de se ouvir, e que para mim transpareceu principalmente na dinâmica que, invariavelmente, cabe ao baterista construir. Pois, amigos, quem disse que o amor constrói ainda está para se dar conta de que, na verdade, é sempre o baterista que constrói. (Naturalmente, o “baterista médio” – o baterista Homer Simpson – destrói, mas isso não vem ao caso aqui.)

Eu havia me esquecido de que um baixista pode se apropriar tanto de um conjunto de músicas e conhecer tão bem a sua harmonia que a sua preocupação, visivelmente, há muito tempo deixou de ser xi-qual-é-o-próximo-acorde para virar eba-ouve-só-o-que-eles-estão-tocando. (Ah, e é claro que o fato de Matt Penman ser absolutamente lindo e sexy também não doeu nem um pouco.)

Eu havia me esquecido de tantas coisas relacionadas a um saxofone. Eu havia me esquecido de que alguém diferente do Wayne Shorter pode passar tão bem do tenor para o soprano, como quem passa do sorvete de belgian chocolate pro de macadamia nut brittle. (É, o som era bom assim.) Mas, principalmente, eu havia me esquecido de coisas relacionadas à improvisação em geral: eu não lembrava mais que existia um solista capaz de prender a atenção do ouvinte por tantos chorus seguidos, numa habilidade aparentemente inesgotável de criar melodias relevantes.

Mas, para além das coisas que minha memória recuperou, esse show me ensinou algo novo. É o seguinte: tenho uma pequena teoria sobre grupos de jazz que estão juntosmuito tempo. Acho que cada grupo acaba encontrando uma “zona de conforto” rítmica, na qual se sente mais à vontade tocando. Normal, como em qualquer relacionamento – um casal acaba se acostumando com determinados restaurantes, bares, práticas sexuais; uma banda se acostuma com determinados grooves.

E, claramente, a “zona rítmica” do Joshua Redman Trio cada vez mais estava se configurando como... Rápida. Bem rápida. Quase como o Ultimato Bourne, que não pára um instante (quase, porque coisa mais rápida que esse filme não há). Então, num determinado ponto do show, cheguei a pensar com meus botões: está tudo muito bom, tudo muito bem... Mas um pouquinho monotemático ritmicamente, tal qual este blog.

Qual não foi minha surpresa quando, sem mais nem menos, Joshua Redman dispara, sozinho, uma longa introdução a Angel Eyes – uma das músicas da minha vida, por supuesto –, sendo ao cabo desta acompanhado por baixo e bateria para criar simplesmente a versão mais bonita desta música que jamais ouvi. Frank Sinatra e Sting, tremei: tem um saxofonista que canta bem mais bonito do que vocês. Meu único lamento é que ela durou um chorus por mim, teria se estendido pelo resto da noite.

A surpresa se expandiu com a subida de Aaron Goldberg ao palco – deu-se o início da minha mais recente obsessão musical – para tocar um standard do Berlin e para fechar gloriosamente a noite com outra música absolutamente fora da zona de conforto rítmica da bandaconceito que, a esta altura, eu me via obrigada a repensar –: um funk delicioso que me deu vontade de sair dançando (é, o som era bom assim) e estudar música de novo.

Percebo agora que o “jazz de verdade” a que inicialmente me referi de fato nada tem a ver com uma suposta Verdade platônica, preocupada com a definição de conceitos ideais como, por exemplo, a saúde do jazz, seu plano de saúde, seu cheiro etc. A verdade que mencionei anteriormente refere-se, isso sim, a uma legítima experiência de verdade que pude vivenciar. Esta experiência é heideggeriana em seu cerne, pois não tem a ver com definições e sim com o desvelamento de algo que estava soterrado pelas experiências falatórias cotidianas; tem a ver com a rememoração daquilo que realmente importa.

Deixo meus pacientes leitores, então, com a única coisa que verdadeiramente importa, de tudo o que escrevi até aqui: o link para o site do Joshua Redman, no qual vocês podem ouvir trechinhos do disco Back East – desde na minha lista dos melhores de 2007.

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quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Caixinha de obviedades, o retorno

"Exigimos o fim imediato do desemprego", eis o primeiro item da pauta de reivindicações do partido político que se exibe na TV.

De minha parte, estou pensando em fundar um partido que exija o fim imediato da música ruim.

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Caixinha de obviedades

12 minutos do segundo tempo, São Paulo 1 x 0 Boca, o Boca parte para o ataque, e eis que o locutor decide explicar o que está acontecendo: "com esse resultado, o São Paulo está tranqüilo, mas o Boca está tendo que se virar para reverter o resultado". Aaaaaaaaaaaaah, bom. Ainda bem que ele avisou, não?

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E por falar em música

Segue o link de um blog de literatura absolutamente musical, ou melhor, sensual, pois que os conto-romances ali publicados convocam a participação de todos os sentidos: estes são textos para serem lidos, comidos, espiados. Um alto índice de "sinestesias por oração por minuto"? Não sei; não me dei ao trabalho de fazer as contas. Aliás, é capaz de não haver sinestesia alguma ali - estranhamente, porém, é esse o efeito atingido (sentido). Com vocês, Paulino Tarraf.

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quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Guitarristas

Na coluna ali da direita, hoje. Aliás, nada mais apropriado do que falar em guitarristas no dia em que chega às lojas a super-hiper-mega-deluxe edição de Secret Story, com nada menos que CINCO músicas inéditas. Os suckers por baladas-do-Pat-com-solo-de-synth-e-orquestra como eu sabem bem o que nos aguarda! Eita, ansiedade!!

E amanhã, então? Olha quanta coisa acontecendo: chegam às lojas, simultaneamente, o disco novo da Joni Mitchell - "apenas" o evento musical do ano, para mim - e o disco novo do Herbie Hancock, que é inteiro baseado na (e dedicado à) obra dela. E, como se ainda fosse pouco, amanhã será lançada a caixa de DVDs da terceira temporada de LOST (atenção: clicando o link, é favor ignorar o banner de Betty, a Feia), item de sobrevivência básica para aqueles que, como eu, definham pouco a pouco cada vez que pensam na lonjura da quarta temporada... Rever a terceira temporada inteira será a injeção de insulina e adrenalina que estava faltando para, com o perdão da dramaticidade, eu conseguir sobreviver até fevereiro.

Então, quatro coisas tão importantes acontecendo assim, no espaço de dois dias. Estou me sentindo a própria criança no Natal, atordoada com a pilha de presentes que ganhou, sem saber qual deles escolher para começar a brincar. Sim, porque, naturalmente, não tenho nenhum desses objetos de desejo em mãos, ainda... Fora todos os outros listados ali à direita. Fora os livros.

Depois as pessoas não entendem quando fico brava com quem reclama de não ter o que fazer...

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terça-feira, 25 de setembro de 2007

Na lista, hoje

Pianistas e afins. Enjoy!

P.S.: Percebi também que muito rapidamente configurou-se um outro critério de inclusão para esta lista: a contemporaneidade. Esta é a música da minha geração - porque poucas coisas me aborrecem tanto quanto o discurso sobre "os grandes mestres" isso e aquilo, que devem ser venerados, respeitados, polidos, assimilados e paparicados. Ok, mas... A vida é muito mais do que uma seleção de grandes mestres. A vida é o que está acontecendo agora...

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Termômetros gone wild

Sábado e domingo, saias vaporosas; ontem e hoje, jaqueta de couro. Al Gore, cadê você???

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segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Sobre a música que você não ouvirá no rádio

Hoje esqueci de levar CDs para o carro. Como estava com pressa, decidi que meu esquecimento era a senha que faltava para eu efetivar aquela experiência antropológica à qual me submeto umas duas vezes por ano: ouvir rádio.

É impressionante. É incompreensível. É louco. Ouvindo rádio, parece que vivo em outro planeta. Cadê a música brasileira que eu ouço, e que está sendo produzida hoje em dia? Cadê Sérgio Santos, Guinga, Wisnik, Ana Luiza? Para os programadores musicais das rádios, a música popular brasileira cabe num fusca. É Caetano, Chico e Gil na cabeça, o tempo todo - sempre aquelas mesmas cinco músicas de cada - e agora também, ao que parece, Ana Carolina. Então eu passei a tarde toda cantarolando que você é linda, que amanhã há de ser outro dia e que mistérios sempre há de pintar por aí - e fugindo diligentemente de tudo aquilo que soasse como é isso aííííííííí.

Não foi ruim. Afinal, eu adoro a maioria das cinco músicas que eles tocam do Caetano, Chico e Gil. O ruim é pensar que, há dez anos e daqui a dez anos, esta mesma cena de hoje se repetiu e se repetirá, com ínfimas variações. Gosto tanto de um leãozinho que um malandro de gravata vai querer falar com Deus. É isso aí.

No pop, que conheço menos, a coisa me é um pouco mais enigmática - não consigo identificar o Caetano-Chico-Gil correspondente e nem a Ana Carolina da vez. Mas permanece o sentimento de que eu sou de Marte e as rádios são de Vênus: cadê o disco novo da Kate Bush? E o da Tracey Thorn? Shawn Colvin? Nem pensar. A julgar por esta tarde, a música pop que se toca nas rádios hoje em dia é direcionada basicamente a três públicos-alvo distintos: roqueiros cinquentões e suas harleys; adolescentes e seus skates; dentistas e seus motorzinhos. Eu não sou nenhum deles.

Jazz, naturalmente, não tive a oportunidade de ouvir. Mas, dos programas de jazz que eu ouvia anos atrás - sempre de madrugada, claro -, a coisa não era tão diferente da MPB; era só um pouquinho pior. Se a MPB cabe num fusca, o jazz cabe num Smart. O Caetano-Chico-Gil deles é Miles-Coltrane-Hancock. E dá-lhe So What, Giant Steps e Cantaloup Island a madrugada inteira. Não é ruim - aliás, é maravilhoso. O único problema é que, algumas dúzias de madrugadas depois, você é induzido a acreditar que o jazz parou exatamente ali, na Ilha do Melão, e de lá jamais sairá.

Dado este estado de coisas que vim descrevendo até agora - resolvi fazer a minha parte. Tudo bem que eu sou uma e vocês são quatro (vejam que o número de leitores vai aumentando!), mas acredito na subversão possível de uma revolução silenciosa. E a subversão, amigos, consiste tão-somente em desconfiar do que os programadores de rádio querem fazer-nos crer. É expandir os horizontes para além dos fuscas e dos smarts.

Para isso, minha pequena contribuição neste sentido será a elaboração de uma lista contendo uma série de músicos e bandas que vocês, infelizmente, jamais ouvirão no rádio. Vou me restringir ao jazz porque é o que mais ouço e o que menos gente conhece. O critério para a inclusão na lista - além de, naturalmente, o músico ou banda em questão fazer excelente ou, no pior dos casos, boa música - é só esse: quanto menor a probabilidade de tocar no rádio, maior a probabilidade de aparecer aqui. Figurões do jazz, portanto, não terão lugar - e não porque não os amo, mas porque isso se encontra em qualquer allmusic.com da vida.

Começo com alguns bateristas - que Pat Metheny ensinou serem os músicos mais importantes de qualquer banda, sempre - e baixistas - cujo instrumento Itamar Assumpção ensinou ser o centro do universo. Digamos que, se eu fosse cachorro, minha orelha ficaria em pé cada vez que eu visse o nome de um desses sujeitos num disco. Alguns deles lideram suas próprias bandas; outros tocam em minhas bandas preferidas; todos, sem exceção, já tocaram pelo menos uma coisa que achei muito, muito interessante - ou, em casos mais raros, mudou a minha vida.

Boa navegação e bom divertimento!

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Eu amo as minhas amigas

- Oi, Cáááá!!! Seguinte, a gente se encontrou agora à noite e chegou à conclusão de que todas nós te adoramos. (Ruídos, chiados, "oooooooi Cáááá!!!" ao fundo.) A gente ficou falando bem de você um tempão, e aí a gente decidiu te ligar pra que você ficasse sabendo e ficasse feliz!!! A gente tava comentando que a sua defesa foi linda e que a gente te adora ("Sua vaca, você me esqueceu de avisar de novo da sua defesa, eu não fui, que raaaaaaiva, queria tanto ter idoooo!!"). Na verdade a gente falou tão bem de você que os nossos amigos que estão aqui com a gente falaram que quando chegarem em casa vão ler o seu blog imediatamente e tem uns que já querem até comer você.

- ??!?!??!!

***

Acreditem se puderem: o diálogo reproduzido acima não é fictício.

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A defesa de A a Z

Em uma palavra, minha defesa foi A. Apesar de eu estar me sentindo B e C desde D, meu orientador procurou deixar-me E e a banca mostrou-se absolutamente F e G. As argüições centraram-se em H e I, com J aparecendo vez ou outra como uma espécie de K. Foi muito L para mim encontrar-me naquela posição, pois eu não esperava por M, havia-me preparado para N - o que não quer dizer que a situação toda não tenha sido o O. O público presente, ao final, bradou P, Q! Estavam todos extremamente R e S, o que para mim foi o maior T. Uma sensação de U, o pensamento correndo V... Ou melhor, o dobro disso: W.

E agora estou assim: 12 days since Defesa!, marca o contador acima. E a defesa, para mim, ainda é algo X, Y e Z.

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sábado, 22 de setembro de 2007

3 anos

Há exatos três anos, uma câmera em close exibia-nos pela primeira vez os olhos castanho-caramelados daquele que viria a ser o nosso médico favorito.

Mal sabíamos nós que nossas vidas jamais seriam as mesmas: a partir dali, seríamos eternamente acompanhados por Jack, Kate, Locke, Sawyer, Sayid. Cruzaríamos com eles pelas ruas, sonharíamos com eles pelas madrugadas, choraríamos por eles sem que a realidade tivesse a menor possibilidade de consolar-nos.

E, principalmente, erigiríamos uma ilha dentro de nós. Para que todos eles e tudo isso ali ficassem, numa turbulência que é a própria vida.

Faz três anos hoje que o vôo 815 da Oceanic Airlines desabou sobre uma ilha que alguns crêem localizada no meio do Pacífico.

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sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Ouro Preto #2

Se tem uma coisa que eu gosto é de escritor que aconselha escritores iniciantes a ler, e músico que aconselha músicos iniciantes a ouvir. Não é perfeito? Este é o conselho mais absolutamente preciso e mais absolutamente inútil que há, precisão e inutilidade unindo forças para nos dar um ligeiro vislumbre da complexidade da vida. Pois nãocomo ser escritor ou músico sem ler muitos livros e ouvir muitos discos, mas ler muitos livros e ouvir muitos discos não faz de ninguém, necessariamente, escritor ou músico. Sensacional.

Este, para mim, é o conselho número 1, que se desdobra em 1a, 1b, 1c ... 1z: aos artistas em geral, cabe ler, ouvir, sentir, cheirar, lamber, olhar, esfregar, assoprar e mais todas as ações que estiverem ao seu alcance para entrar em contato sensível com os objetos do mundo.

Foi precisamente isso que eu, escritora iniciante, tentei fazer em Ouro Preto. Devo admitir, fiel à minha honestidade intelectual, que de todas as ações listadas acima o que rolou mais foi ouvir, mesmo. Ah, e lamber também: lamber, morder, mastigar e engolir dúzias de torresmos todos os dias. Mas, excetuando-se os torresmos (e frango com quiabo, farofa com lingüiça, doce de leite), sou uma pessoa predominantemente auditiva; então, contei com isso para registrar diversas frases proferidas aqui e ali – algumas engraçadas, outras inusitadas e pelo menos uma profundamente verdadeira.

Se eu fosse escritora, pegaria todas elas e as transformaria num romance simples, sensível e sentimental. Mas como sou blogueira, tudo o que posso fazer é listá-las aqui, para o deleite de vocês. Uma escritora tem que começar por algum lugar; eu comecei por esta pesquisa. Porque, muito mais do que ler, gosto imensamente de ouvircoisas como estas:

Vocês estão aqui por pura folgazanice espiritual?”

Você comeu veia de vaca?”

Olha, parece que Santo Ivo foi o primeiro santo transexual da história da Igreja.”

“Tem os músicos-arara e os músicos-carne-fraca.”

Aquilo era uma imensidão de homem, sobrava homem pra tudo quanto era lado!”

Eu tenho medo de igreja.”

“Se for importante, ele vai voltar a ligar.”

“Estamos combatendo os crimes contra a alma.”

Ganha um doce quem adivinhar qual das citações acima foi proferida pela escritora preferida do meu pai: eu.

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O poder da mente

Hoje passei a aula de natação inteira absolutamente concentrada. Era como se todas as minhas energias mentais tivessem sido canalizadas para uma única e essencial idéia, da qual parecia depender a minha própria sobrevivência: o delicioso bolo de chocolate que eu haveria de saborear, sem pressa nenhuma, garfada por garfada, pela tarde inteira e noite adentro, cada mordida do bolo quente temperada pelo frio do frozen yogurt do America.

Não é que deu certo? Aproximadamente cinco horas depois, minha aula de cinqüenta minutos acabou, e agora estou em casa comendo uma maçã da Mônica.

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terça-feira, 18 de setembro de 2007

Ouro Preto #1

É quase meia-noite e acabo de chegar de um atendimento daqueles que benza-me Deus. Ainda assim, ou talvez especialmente por isso, não posso me conter nem mais um segundo: preciso espalhar urgentemente para o mundo inteiroou para os três leitores deste blog, o quequase na mesmaque (atenção!)... Meninos, eu vi. Ou melhor: eu ouvi.

EU OUVI O MELHOR SHOW DE UM PIANO TRIO DA MINHA VIDAAAAAAAAAAA!!!! AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHH!!!!!!!!!!

Pronto, espalhei. Resta agora contar um pouquinho mais sobre como isso se deu.

Foi inesperado. Fui para Ouro Preto para ouvir Hang Gliding – e foi exatamente isso o que aconteceu. que também aconteceu mais.

Voltei para casa cantando Lambada de Serpente.

Em primeiro lugar, a constataçãosurpreendente em sua obviedade – de que não é com Keith Jarrett e Brad Mehldau que se faz uma canoa (tá, tá, gente, a metáfora é fraca, eu sei, mas lembrem-se, agora passa de meia-noite, o atendimento não teve nem cabeça etc. Mereço um desconto).

Vamos ao que interessa. Muito se fala, no jazz, emencontrar a própria voz” – a voz com a qual se possa improvisar e comunicar emoções e sentidos por meio da música. Bem: Aaron Goldberg certamente tem a sua. Mas não é isso o mais lindo e raro. O que marcou esta hora e meia de música como uma das mais fundamentais de toda a minha vida não foi a capacidade de o pianista expressar a si próprio, mas sua habilidade em expressar a voz inerente a cada uma das composições que tocoutanto as próprias quanto as alheias.

Explico. Nunca até este show eu havia ouvido versões tão lindas e convincentes de canções do Tom tocadas por um grupo de jazz. E olha que a primeira delas foi Luiza – uma música tão perfeita, tão difícil de arranjar, quase nunca regravada... E não é que ele o fez? E fez assim: apresentou o tema em uníssono com o baixo, uma solução simples e elegante. E depois Luiza virou uma mid-slow waltz à la Question & Answer (sim, minha referência para trios, quaisquer que sejam os instrumentos em questão, sempre será o Pat Metheny Trio). Funcionou maravilhosamente bem. E a harmonia? Quer coisa mais difícil do que rearmonizar uma música do Tom? Se o cara não muda nada, bom, eu perco ligeiramente o interesse, como ouvinte. Por outro lado, se o cara muda tudo, é 100% de chance de que não ficará nem de perto tão bom quanto o original. A típica situação do bicho contra o qual não adianta ficar ou fugir. E, tanto em Luiza quanto em Inútil Paisagemque virou uma balada, tradicional, sentida – manteve-se a harmonia original, com algumas sutis e importantíssimas modificações. Quando menos se esperava – ou melhor, quando mais se esperava ouvir um acorde conhecidovinha algo diferente e surpreendente. E sempre de muito bom gosto.

E teve Lambada de Serpente – a música que saí de cantando, dormi sonhando e no dia seguinte acordaria assobiando, soubesse eu assobiar. Mas sobre essa felizmente não preciso escrever nada, porque tem um pedacinho dela aqui. Corram , ouçam e depois me digam.

E quando eu achava que a sensibilidade do pianista restringia-se ao cancioneiro nosso, mais uma vez fui remetida ao surpreendente-que-é-óbvio: sensibilidade não tem nacionalidade, e Isn’t She Lovely me fez sentir tão American quanto eu sei que Aaron Goldberg é brasileiro.

Sobre o trio. O baixista, irmão musical do pianista, eu conhecia e gostava de outros carnavaisagora, naturalmente, passei a adorar. Muitas vezes, a execução era menos perfeita que a intençãoem bom português, o cara desafina – mas, estranhamente, isso não me incomodou em nada; afinal, o que estava em jogo não era uma execução sem falhas de nenhuma ordem, mas uma execução sensível, em sintonia com o que vinha do piano. O baterista, embora não compartilhasse da intimidade dos dois, foi perfeito: preciso e econômico, atendo-se ao básico na exposição dos temas e soltando-se um pouco mais em polirritmias nas perguntas e respostas (de novo...) com o piano.

Do pianista, que será que me chamou mais a atenção? Ainda não sei se descobri, pois essas coisas se sente mais do que se diz. Além da beleza do toque, do bom gosto nos arranjos e rearmonizações e de tudo o mais que falei até aqui – acho que foi a mão esquerda dele. As inovações rítmicas. Nada mais sonífero que um pianista de jazz cuja mão esquerda repousa paquidermicamente em previsíveis quartas e quintas enquanto a mão direita corre para e para , lépida e fagueira, sem muito senso rítmico. Nada mais diferente dele. Que refresco, que alívio. Uma capacidade natural e fluida de criar frases rítmicas não-convencionais, belas, leves – uma conquista claramente advinda de horas de audição de música brasileira, possibilitando justamente a não-redução de tudo à melodia de Donna Lee.

Aaron Goldberg estudou Psicologia e Filosofia. Eu também.

Esse show, além de me emocionar, me inspirou. Quero poder ouvir os meus pacientes da mesma forma que esse cara pôde ouvir a música brasileira: descobrindo novas e verdadeiras possibilidades em cada pessoa / canção.

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quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Enfim mestra

São seis horas da tarde e ainda não anotei a placa do caminhão.

Talvez seja porque ainda estou em cima dele, junto de meus amigos, familiares, colegas e professores, celebrando o término de um trabalho árduo e bem-sucedido.

MUITO OBRIGADA a todos os que estiveram comigo no dia de hoje, virtual ou concretamente!

E agora... Vou correr atrás da banda! Beijos e até segunda!

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Mudando de assunto

O ticker aí de cima marca 0 days until Defesa! hoje. Que me resta fazer, então, além de discutir campanhas publicitárias de lingerie e os limites da sensualidade feminina?

Mas neste território impera a batida máxima da imagem que vale por mil outras coisas. Sendo assim - com vocês, a diferença entre sensualidade e... e... Bom, eu fiquei olhando pra segunda foto aí de baixo por uns cinco minutos, e não me ocorreu nenhum adjetivo, substantivo ou mesmo advérbio que pudesse passar perto de definir essa experiência. Então, deixo essa tarefa a cargo dos leitores: com vocês, a diferença entre sensualidade e ___________.

Maggie Gyllenhall (a atriz mais sensual da atualidade?) em campanha que deixa a Victoria's Secret parecendo uma brincadeirinha de criança (link cortesia de Mistress Matisse):



Britney Spears no (onde mais?) MTV Awards:


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terça-feira, 11 de setembro de 2007

A defesa segundo o pai do Amós Oz

Por falar nisso, a palavra hebraica ‘hagdará’, ‘definição’, deriva da palavra gader, ‘grade’, ‘cerca’, pois toda definição estende uma cerca entre o que pertence a ela e o que fica de fora. E no latim acontece exatamente a mesma coisa – da palavra finis, que significa ‘cerca’ e tambémfim’, deriva a palavra definire, ou seja, ‘delimitar’, ‘proteger’, ‘cercar’. De definire deriva também, com toda a certeza, a palavra defens, ‘defesa’, em numerosas línguas ocidentais. E lembre que fence em inglês significa exatamentecerca’.”

(Amós Oz, De Amor e Trevas, p. 87)

***

Nunca como nestes últimos dias ficou tão claro para mim precisamente este sentido da palavra defesa: delimitar, circunscrever, definir. Foi com isso que quebrei a cabeça o feriado todo: como transformar um trabalho de 130 páginas em uma apresentação de 20 minutos?

Acho (espero) que estou perto de uma resposta.

P.S. para o dia de hoje:

P.P.S. idem: Parabéns, Caio!!! ;-)

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domingo, 9 de setembro de 2007

Agar

Dormir na mesma cama que ela. Aprender a espantar pesadelos com ela (filha, se aquela mulher feia vier te seqüestrar de novo, diz pra ela que ela pode te seqüestrar à vontade, que quando você acordar vai estar aqui com a mamãe). Comer o brigadeiro que ela fazia. Aprender a ler poesia com ela. Aprender a ler com ela. Aprender a tocar a música do reloginho com ela. Sentir-me a pessoa mais especial do mundo quando ela aplaudia. Esperar pelo momento em que ela leria minhas redações. Aprender a ouvir música com ela (filha, agora presta atenção no que o baixo está fazendo e tenta cantar junto). Morrer de vontade de usar as roupas dela. Passar a tarde em seu colo enquanto ela me ensinava português, geografia e matemática. Mostrar o meu diário para ela (filha, tem muito menino aqui, de qual deles você gosta mais?). Ouvi-la lendo Drummond, Vinícius e a Turma da Mônica. Ouvi-la tocando a coda de Cais. Ouvi-la cantando Cais. Decorar o Soneto da Fidelidade. Conversar com ela em francês. Conversar com ela em português. Conversar com ela enquanto ela tomava banho. Ouvi-la imitando a Elis enquanto ela tomava banho (já conheço os passos dessa estrada). Ficar com preguiça ao observá-la fazendo ginástica. Aprender a encolher a barriga em alternativa ao cansaço. Bach e Beatles e o meu primeiro contato com o inglês: tchustchubi sambada rock’n’roll music. Caetano e Gil: não me esqueço de querer compistar. Noel: quando o apito da fábrica de tecidos vem ferir os meus ouvidos. Tom Jobim e Bambalalão toda manhã. Ser reconfortada por ela ao descobrir que Papai Noel não existia. Treinar a carregar o buquê para o meu casamento. Treinar a valsa para o meu casamento. Brigar com ela por não deixar que o meu casamento acontecesse na semana seguinte. Fazer as pazes e falar para ela do menino de que eu gostava. Votar na Erundina por ela. Aprender por que as formigas não caem quando sobem na parede (filha, você quer mesmo que eu te explique o que é a lei da gravidade?). Aprender por que o rio da minha aldeia é mais bonito do que o Tejo. Acostumar-me com a idéia de que Deus não existe, pois se existisse não haveria criança passando fome na rua. Aprender que a França era o lugar mais maravilhoso e mais distante do mundo, o mais admirado e o mais odiado, pois que a tirava de mim uma vez por ano (será que minha filha vai achar isso de Nova York?). Viajar com ela para a França e perceber que a maravilha estava toda nela. Perceber o orgulho dela quando senti saudade do meu pai e do piano. Aprender que sapato e bolsa com a mesma estampa é brega. Aprender que assistir novela é brega, mas e daí, pode ser divertido. Aguardar ansiosamente para assistir à primeira exibição do clipe de Black or White com ela. Ir a um show do Milton com ela. Ir ao show do Caetano com ela e gostarmos ambas principalmente de Black or White. Sentir-me adulta ao voltar para casa às três da manhã depois de uma festa com ela. Sentir-me criança por ainda não saber amarrar os cadarços aos seis anos de idade (aos vinte e cinco, estou quase ). Sentir-me abandonada quando ela me deixou sozinha no ensaio da apresentação de balé. Sentir-me enciumada quando todas as crianças do ensaio por ela se apaixonaram ao ouvi-la contar uma história. Rapunzel e Rumpletistekin. Sentir-me envergonhada (e um pouquinho convencida) quando os meninos do hotel em que estávamos, sem saber quem eu era, comentaram que ela era a mulher mais gostosa que eles tinham visto. Sentir-me extremamente convencida quando os meus amigos diziam que eu tinha a mãe mais legal do mundo. Passar as tardes na Aliança Francesa brincando de professora. Passar as tardes na Aliança Francesa brincando. Ouvir a aula dela do lado de fora da sala e ter a certeza de que um dia eu estaria ali dentro. As festas da Aliança francesa: muita música e muita comida (será que aprendi a amar música e comida com ela?). Observá-la absorta, lendo, todos os dias, sempre: aprendi a amar literatura com ela.

Ser vestida por ela. Ser penteada por ela. Ser perfumada por ela. Ser fotografada por ela. Ser amada por ela.

***

Faz quinze anos que minha mãe morreu. Tive pesadelos com carros desgovernados, direções que não respondiam, freios que aceleravam.

O terror maior de todos: abrir o armário e deparar-me com o vazio.

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quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Dos sonhos menos lindos

Os restos diurnos

# Um jogo do US Open na TV e a súbita consciência, com um pouquinho de descrédito, de que eu estava ali, dentro da televisão, exatamente um ano atrás;

# A conversa com a minha esteticista sobre cremes anti-idade e a firme disposição em chegar aos 40 anos linda e fresca como a Sarah Jessica Parker;

# Um e-mail do David Binney avisando de uma apresentação no 55 e a constatação, com um misto de surpresa e sentimento de sorte retrospectiva, de que o show dele que vi no ano passado é um evento relativamente especial, que acontece uma vez por ano;

# Na praia e os nomes de inúmeras cidadezinhas, bairros, parques, colinas e jardins britânicos.

# Elucubrações a respeito de bachelors variados.


O sonho

Eu namorava o Mr. Big. E o Mr. Big era um total e completo MALA. De repente, vi-me novamente em NY. E todos esses sonhos com NY, desde que voltei, têm uma coisa em comum: em todos eles, eu sempre esqueço no Brasil o event guide do All About Jazz, sempre me recrimino e me culpo por ter deixado para trás aquele que é simplesmente o item mais fundamental de toda a viagem, e sempre tenho uma trabalheira danada para arranjar uma outra cópia do meu guia de sobrevivência em NY.

Mas, nesse sonho, eu me lembrava do e-mail do David Binney. E para o 55 eu segui, convicta.

Infelizmente, a banda dos meus sonhos – DB, Chris Potter, Adam Rogers, Craig Taborn, Scott Colley e Brian Blade – nem no meu sonho apareceu. Meu inconsciente disparou um maldito fast-forward justo no momento que mais importava.

Mr. Big estava comigo o tempo todo. Alheio e enfastiado. E agora, após o primeiro set, ele estava pronto para voltar ao Midley Hotel.

Eu estava determinada a ficar para o segundo e, se houvesse, o terceiro set.

A direção da casa estava determinada a educadamente convidar o público a se retirar, para ceder lugar à extensa fila que crescia fora e, democraticamente, possibilitar a todos que ouvissem à música que em lugar nenhum se ouve.

Há uns dez casais no bar, muito maior no meu sonho do que na 55 Street. Uma garçonete anuncia que vai sortear o feliz casal que terá o direito de permanecer ali pelos próximos sets. As mesas que os outros casais agora ocupam serão substituídas por pelo menos cinco pessoas cada.

Com aquela confiança inabalável que nos sonhos, não tenho dúvida nenhuma de que serei eu a sorteada. Afinal, eu vim de tão longe, meu amor é tão grande.

Mas o Mr. Big está prestes a bater em retirada e botar tudo a perder. Por mais que eu seja a escolhida, não poderei continuar se estiver sozinha. Preciso dele comigo mais um pouconem que seja para o show continuar.


***

O sonho acaba por .

As associações eu não conto, que elas são por demais íntimas e embaraçosas e estão reservadas à minha futura análise.

Mas o espaço dos comentários está reservado para as interpretações selvagens de vocês...

P.S.: Na foto, Bel e eu em NY, este sim o sonho mais lindo...


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