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segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Sobre a música que você não ouvirá no rádio

Hoje esqueci de levar CDs para o carro. Como estava com pressa, decidi que meu esquecimento era a senha que faltava para eu efetivar aquela experiência antropológica à qual me submeto umas duas vezes por ano: ouvir rádio.

É impressionante. É incompreensível. É louco. Ouvindo rádio, parece que vivo em outro planeta. Cadê a música brasileira que eu ouço, e que está sendo produzida hoje em dia? Cadê Sérgio Santos, Guinga, Wisnik, Ana Luiza? Para os programadores musicais das rádios, a música popular brasileira cabe num fusca. É Caetano, Chico e Gil na cabeça, o tempo todo - sempre aquelas mesmas cinco músicas de cada - e agora também, ao que parece, Ana Carolina. Então eu passei a tarde toda cantarolando que você é linda, que amanhã há de ser outro dia e que mistérios sempre há de pintar por aí - e fugindo diligentemente de tudo aquilo que soasse como é isso aííííííííí.

Não foi ruim. Afinal, eu adoro a maioria das cinco músicas que eles tocam do Caetano, Chico e Gil. O ruim é pensar que, há dez anos e daqui a dez anos, esta mesma cena de hoje se repetiu e se repetirá, com ínfimas variações. Gosto tanto de um leãozinho que um malandro de gravata vai querer falar com Deus. É isso aí.

No pop, que conheço menos, a coisa me é um pouco mais enigmática - não consigo identificar o Caetano-Chico-Gil correspondente e nem a Ana Carolina da vez. Mas permanece o sentimento de que eu sou de Marte e as rádios são de Vênus: cadê o disco novo da Kate Bush? E o da Tracey Thorn? Shawn Colvin? Nem pensar. A julgar por esta tarde, a música pop que se toca nas rádios hoje em dia é direcionada basicamente a três públicos-alvo distintos: roqueiros cinquentões e suas harleys; adolescentes e seus skates; dentistas e seus motorzinhos. Eu não sou nenhum deles.

Jazz, naturalmente, não tive a oportunidade de ouvir. Mas, dos programas de jazz que eu ouvia anos atrás - sempre de madrugada, claro -, a coisa não era tão diferente da MPB; era só um pouquinho pior. Se a MPB cabe num fusca, o jazz cabe num Smart. O Caetano-Chico-Gil deles é Miles-Coltrane-Hancock. E dá-lhe So What, Giant Steps e Cantaloup Island a madrugada inteira. Não é ruim - aliás, é maravilhoso. O único problema é que, algumas dúzias de madrugadas depois, você é induzido a acreditar que o jazz parou exatamente ali, na Ilha do Melão, e de lá jamais sairá.

Dado este estado de coisas que vim descrevendo até agora - resolvi fazer a minha parte. Tudo bem que eu sou uma e vocês são quatro (vejam que o número de leitores vai aumentando!), mas acredito na subversão possível de uma revolução silenciosa. E a subversão, amigos, consiste tão-somente em desconfiar do que os programadores de rádio querem fazer-nos crer. É expandir os horizontes para além dos fuscas e dos smarts.

Para isso, minha pequena contribuição neste sentido será a elaboração de uma lista contendo uma série de músicos e bandas que vocês, infelizmente, jamais ouvirão no rádio. Vou me restringir ao jazz porque é o que mais ouço e o que menos gente conhece. O critério para a inclusão na lista - além de, naturalmente, o músico ou banda em questão fazer excelente ou, no pior dos casos, boa música - é só esse: quanto menor a probabilidade de tocar no rádio, maior a probabilidade de aparecer aqui. Figurões do jazz, portanto, não terão lugar - e não porque não os amo, mas porque isso se encontra em qualquer allmusic.com da vida.

Começo com alguns bateristas - que Pat Metheny ensinou serem os músicos mais importantes de qualquer banda, sempre - e baixistas - cujo instrumento Itamar Assumpção ensinou ser o centro do universo. Digamos que, se eu fosse cachorro, minha orelha ficaria em pé cada vez que eu visse o nome de um desses sujeitos num disco. Alguns deles lideram suas próprias bandas; outros tocam em minhas bandas preferidas; todos, sem exceção, já tocaram pelo menos uma coisa que achei muito, muito interessante - ou, em casos mais raros, mudou a minha vida.

Boa navegação e bom divertimento!

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