Ouro Preto #2
Se tem uma coisa que eu gosto é de escritor que aconselha escritores iniciantes a ler, e músico que aconselha músicos iniciantes a ouvir. Não é perfeito? Este é o conselho mais absolutamente preciso e mais absolutamente inútil que há, precisão e inutilidade unindo forças para nos dar um ligeiro vislumbre da complexidade da vida. Pois não há como ser escritor ou músico sem ler muitos livros e ouvir muitos discos, mas ler muitos livros e ouvir muitos discos não faz de ninguém, necessariamente, escritor ou músico. Sensacional.
Este, para mim, é o conselho número 1, que se desdobra em 1a, 1b, 1c ... 1z: aos artistas em geral, cabe ler, ouvir, sentir, cheirar, lamber, olhar, esfregar, assoprar e mais todas as ações que estiverem ao seu alcance para entrar em contato sensível com os objetos do mundo.
Foi precisamente isso que eu, escritora iniciante, tentei fazer em Ouro Preto. Devo admitir, fiel à minha honestidade intelectual, que de todas as ações listadas acima o que rolou mais foi ouvir, mesmo. Ah, e lamber também: lamber, morder, mastigar e engolir dúzias de torresmos todos os dias. Mas, excetuando-se os torresmos (e frango com quiabo, farofa com lingüiça, doce de leite), sou uma pessoa predominantemente auditiva; então, contei com isso para registrar diversas frases proferidas aqui e ali – algumas engraçadas, outras inusitadas e pelo menos uma profundamente verdadeira.
Se eu fosse escritora, pegaria todas elas e as transformaria num romance simples, sensível e sentimental. Mas como sou blogueira, tudo o que posso fazer é listá-las aqui, para o deleite de vocês. Uma escritora tem que começar por algum lugar; eu comecei por esta pesquisa. Porque, muito mais do que ler, gosto imensamente de ouvir – coisas como estas:
“Vocês estão aqui por pura folgazanice espiritual?”
“Você já comeu veia de vaca?”
“Olha, parece que Santo Ivo foi o primeiro santo transexual da história da Igreja.”
“Tem os músicos-arara e os músicos-carne-fraca.”
“Aquilo era uma imensidão de homem, sobrava homem pra tudo quanto era lado!”
“Eu tenho medo de igreja.”
“Se for importante, ele vai voltar a ligar.”
“Estamos combatendo os crimes contra a alma.”
Ganha um doce quem adivinhar qual das citações acima foi proferida pela escritora preferida do meu pai: eu.
Marcadores: recordar
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