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sábado, 25 de outubro de 2008

Reflexões sobre o sentido da vida a partir das diferentes pronúncias de boquete

Não faz muito tempo, aprendi a suposta pronúncia correta desta palavra tão expressiva. Suposta porque ainda não me conformei com ela, e este texto vem justamente advogar uma pronúncia alternativa. Acompanhem meu argumento:

Boquéte, que me dizem ser o correto, rima com o quê?

Era uma vez
Uma menina coquete
No carnaval, jogava confete
Sua mãe a reprovava
Por ser uma piriguete
Ninguém ignorava
Que ela fazia boquete

No haikai acima, temos que praticamente todas as palavras terminadas em éte aludem a moçoilas de pouca massa encefálica para quem as práticas sexuais são uma questão de moda e uma maneira de chamar a atenção do próximo (que tanto pode ser o contemplado pelo boquete quanto a mãe, as amigas, nossa sociedade repressora-capitalista etc.) - como a evangélica que beijou uma garota só para experimentar e outros soníferos eróticos afins.

Vejamos agora como ficaria o haikai caso a pronúncia correta fosse boquête:

Era uma vez
Uma menina gulosa
No carnaval, brincava gostosa
Para ela o maior banquete
Era se refestelar num cacete
Por isso, esplendorosa,
Sempre fazia boquete

Claro que cada um é cada um e sempre haverá quem prefira um boquéte coquete a um boquête de quem aprecia um cacete. Ainda assim, é difícil contrapor-se ao argumento de que algo feito com prazer e vontade costuma dar mais certo do que algo feito por puro coquetismo. E, ademais, boquête não faz distinção de gênero: se boquéte pressupõe uma aprendiz de vedete, o boquête está aberto a homens e mulheres, bastando para isso o gosto pelos banquetes.

Modestamente, portanto, venho por meio deste post propor o abandono da primeira pronúncia em prol da segunda. Afinal, o mundo será um lugar melhor quando as pessoas pararem de se impor certos prazeres exógenos aos seus desejos: acordar cedo nas férias para aproveitar; trabalhar muito para gastar ainda mais; beijar uma garota para experimentar, e assim por diante. Já temos tantas obrigações inapeláveis em nossa vida profissional e pública, por que impô-las também ao âmbito da vida privada? Por que não podemos, ao menos nas férias, acordar apenas quando os olhos se abrirem; ao menos o dinheiro pelo qual tanto trabalhamos, gastá-lo apenas no que nos convém; ao menos o tesão, investi-lo apenas em pessoas e fazeres que realmente desejamos?

Eu não sei por que não podemos. Sei que, como aliás todo mundo, já fiz muitos boquétes e boquêtes nesta vida, e quiçá em outras. Diferentemente de todo mundo, porém, tenho me esforçado cada vez mais por me dedicar apenas aos boquêtes - aos prazeres aos quais tenho ganas de me entregar com plena convicção. Convido todos a fazerem o mesmo - a vida fica mais estranha e assustadora quando temperada por boquêtes, e também muito mais divertida.

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