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sábado, 18 de outubro de 2008

Os jesuítas e eu

Eu realmente não sei se estou desiludida ou esperançosa, e isso com relação a umas três situações diferentes. É o estado mental mais difícil de manter: o reconhecimento e a entrega ao não-saber. Não ter pressa de definir o que estou querendo, nem querer entender precipitadamente o que se passa com o mundo, os bichos, os outros. Vou parar antes que o texto fique falsamente poético ou descaradamente misterioso. E vou partir para um exemplo que vai deixar tudo muito mais concreto, do jeito que eu gosto que a vida e as relações sejam.

Numa aula, já faz um tempo, um aluno fez uma pergunta excelente ao professor: quando é que a catequisação dos índios na América terminou? Quando se considera, historicamente, que a fúria evangelizadora chegou ao fim?

A resposta ultrapassou a pergunta e bateu direto em alguma tópica psíquica minha que ainda não consegui identificar - pré-consciente ou superego, não sei.

A resposta: não terminou.

Em nenhum momento os jesuítas ou what-have-you consideraram que os índios já estavam bons de evangelho - em nenhum momento pensaram que, catequisação?, ok, já deu, that's enough.

O processo de conversão jamais chega ao fim. Continua até hoje.

Meu coração até descompassou.

Porque além do terror evidente de trazer alguém para as próprias hostes à força (ou na base da lábia, que também é força), há ainda o terror adicional de perceber que isso é uma tarefa que não pode mesmo acabar. O que, aliás, é um bom sinal: de que a resistência existe e de que uma assimilação completa do outro é inviável.

Que vida amaldiçoada levam os jesuítas e afins, que não sabem a hora de parar de investir.

Eu também não sei, mas quero crer-me um pouquinho menos amaldiçoada do que eles. Porque demora, mas uma hora eu paro.

E enquanto não paro de vez, suspendo o investimento a um limbo inalcançável até mesmo por mim.

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