Mudei de endereço

Postar um comentário

sexta-feira, 28 de março de 2008

Mais um post de mentirinha


Mari, eu e Bel no Met

***
Depois de um dia agitadissimo, cheio de pessoas e pensamentos novos, um pit-stop no Alex - que dorme largado enquanto digito aqui, eu que a esta hora ja deveria estar no banho - pra ver se a gente se recompoe para a festa do Idelber (eba!).

Mas, com o pit-stop, veio a checagem de e-mails - e, com ela, uma decepcao tao grande quanto as naus europeias, que os indigenas de inicio nao puderam ver. Estou comecando a divisar o casco da proa da decepcao. Nao e bonito.

Mas sabem do que mais? Eu quero ir a festa; logo, quero tomar banho; logo, quero me sentir melhor. E que melhor jeito de se sentir melhor (descontando o jeito "amolar amigos e familiares") do que se ver numa foto em que voce aparenta ser mais bonita do que de fato e?

Para nao falar na vantagem de que, postando a foto aqui, ainda finjo que escrevi um texto de verdade e atualizei o blog.

Marcadores:

Postar um comentário

terça-feira, 25 de março de 2008

A primeira foto + rapidinhas

Esta vai do blog diretamente para o meu porta-retrato:


(Eu e as duas raparigas naquele parque la.)

So para constar: a parte 2 da viagem esta sendo tao especial quanto a primeira; ja penso em New Orleans como a minha cidade; cidade esta que e uma mistura de Salvador com interior de Minas com cidadezinha americana de filme; cidade que e uma delicia, mas ta tao legal ficar de bobeira com o Alex que fico tentada a ficar mais dentro de casa do que fora; e divertidissimo acompanhar o povo do departamento transitando tranquilamente entre o portugues, o ingles e o espanhol; aqui o pessoal joga baseball no campus em vez de futebol; os professores sao os primeiros americanos que conheco que cumprimentam com beijo e abraco; gumbo e parecidissimo com moqueca de camarao; o Idelber e mesmo gente como a gente, e das mais queridas; estou com saudade de escrever direito no blog.

Estou com saudade do Rafa.

E tudo indica que serei muito feliz aqui.

EDITADO PARA ACRESCENTAR: As raparigas sao, da esquerda para direita, Bel, Lu e Cami.

Marcadores:

Postar um comentário

quarta-feira, 19 de março de 2008

A cura

Nem o parque, nem as ruas, nem a musica, nem as compras nem a deliciosa companhia haviam conseguido me deter na salinha de putadores para escrever qualquer coisa nova aqui no blog - mas o acontecimento de ontem exige registro imediato, nem que seja sucinto.

Vamos la, sem acento e com emocao: estou curada. E eu nem sabia disso! Fui descobrir ontem. O que nao quer dizer que eu esteja vazia de coisas para elaborar - muito pelo contrario. Ontem passei mal, fisicamente inclusive - mas, num momento muito crucial, isso passou. E fiquei bem. E aproveitei muito e depois terei mais ainda a escrever aqui, bem opinionatedly (palavra que deveria existir) inclusive.

Estou curada e consegui me colocar no colo, profundamente comovida em lembrar alguem que ja fui, reconhecendo-me num passado que hoje ja nao e mais eu. Eu me entendo, entendi a Camilinha de uns anos atras, tao mais dependente, tao legitimamente dependente. Continuo narcisica e dependente - agora, porem, de coisas que me fazem bem.

Estou meio gordinha, mas estou curada - muitos quilos de chumbo mais leve, portanto.

Em consideracao a mim, por favor desconfiem sempre (pra dizer o minimo!) sempre que ouvirem dizer que a cura psicanalitica nao existe. A desconfianca e amiga de quem quer se curar.

Nunca me senti tao livre - para ser gordinha, magrinha, bobinha, burrinha, genial ou mal-humorada. Eu posso. Eu sou uma pessoa.

(Ok, e macaco eh macaco e viado eh viado - mas, porra, eu sou uma pessoa. Eu.)

AH! E hoje e aniversario de outras duas pessoas amadas demais: Bel e Lu. Meus (e seus, e nossos) PARABENS a elas. Yay! ;-)

Postar um comentário

quinta-feira, 13 de março de 2008

Tô indo + pós-NY

É claro que não deu tempo de fazer nem metade das coisas que planejei. Já estou dando graças a Deus - e à minha avó - por ter arrumado a mala; e já está também de bom tamanho eu conseguir escrever umas mal-traçadas aqui antes de encarar todo o odor e o charme do Rio Tietê. É que eu precisava falar da parte 2 da viagem, que promete tanto quanto a primeira: irei conhecer minha futura cidade, bem na semana em que vai rolar um congresso gigante (da Brazilian Studies Association, imaginem vocês), hospedada na Casa LLL... Ou seja: diversão garantida até a volta!

Até lá, este blog ficará parado de tudo - o ue significa que estou lhes concedendo a grande oportunidade de explorar exaustivamente os links aí do lado...

Por favor me esperem, que eu volto. E, se você me mandou um e-mail e eu não respondi - não é que eu esteja ou estivesse sem tempo para fazê-lo. Aliás, do Presidente da República ao Presidente do Posto da Esquina, não conheço uma pessoa com mais tempo do que eu. O problema é que o enorme tempo que eu tenho, em vez de sobrar, está se esvaindo todo, caminhando para diversos lugares que nem sei dizer quais são.

Agora a Marginal me chama, mas abril está praticamente aí - e, com ele, diversos novos assuntos para tratar aqui no blog. E, se a vida continuar me tratando bem como vem fazendo, haverá também alguns comentários aqui à minha espera... ;-)

Abraços e hasta la vuelta!

Postar um comentário

quarta-feira, 12 de março de 2008

Música em NY, parte III: programação geral

Sinto aquela ligeira palpitação no peito característica de quando o garçom do meu restaurante preferido se aproxima da mesa, marcando o fim da procrastinação: é hora de fazer o pedido. Terei de escolher, ao longo da refeição, uma entrada, uma ou duas bebidas, um prato principal, uma sobremesa e quiçá um café. Parece muito - mas é quase nada se comparado à quantidade de prazeres da vida que precisarão esperar uma próxima visita ao Filippa.

Pois finalmente, após um escrutínio intenso e nada exaustivo - eu poderia fazer isso todo mês, sério mesmo - do cardápio nova-iorquino, cheguei ao seguinte:

Couvert

Dia 14 - Third World Love no Drom

Entrada

Dia 15 - Kate McGarry no 55 e Marilyn Crispell no Village

Bebida

Dia 16 - Alex Sipiagin no Cachaça

Prato principal

Dia 18 - Pat Metheny Trio no Town Hall

Eventual acompanhamento ao prato principal

Dia 19 - Jason Lindner Big Band no Iridium

Sobremesa

Dia 20 - Joshua Redman no Village

Cafezinho

Dia 21 - Gary Peacock no Birdland

Rapidamente e sem links, que a vida é curta e a mala a fazer é longa: Omer Avital faz um dos melhores shows do planeta, e este será meu primeiro contato com o amor do terceiro mundo; Marilyn Crispell é uma pianista que sempre quis conhecer melhor, e agora é a hora; o Alex Sipiagin, veterano da Mingus Big Band, está com uma banda à altura, da qual estou especialmente curiosa para ouvir o Seamus Blake; a big band do Jason Lindner deve ser divertidíssima, mas só vou se der tempo; o trio do Joshua Redman é com Reuben Rogers e, YAY, Brian Blade, o dispensador de currículos e comentários; e o trio do Gary Peacock é com Marc Copland e Bill Stewart, a mesma banda que gravou aquela série New York Recordings com a melhor versão instrumental de Modinha de que se tem notícia.

Bora então reviver o Édipo fazendo a mala - sim, pois não se pode levar tudo, e elaborar o Édipo também é isso.

Postar um comentário

terça-feira, 11 de março de 2008

Música em NY, parte II: evento deliciosamente psicótico do dia

É capaz que eu saia atrasada de casa - se bem que, quando as quebras de recordes de congestionamento acontecem diariamente, é impossível sair de casa suficientemente adiantada - mas eu precisava de todo jeito comunicar aqui no blog o segundo grande evento psicótico-premonitório da minha vida - ou a mais pura serendipity, a depender do gosto do freguês. Aconteceu assim:

Hoje sonhei com uma música e acordei pensando nela. A música, No Wonder, é da Luciana Souza, mas sonhei com a versão da Kate McGarry no espetacular disco The Target, e acordei pensando assim: poxa, ela - Kate - e o marido - Keith Ganz, guitarrista que participa brilhantemente do tal disco - moram em Nova York; eles bem que podiam tocar lá semana que vem... Uma pena que não vão. (Como disse em outro post, eu já havia montado a minha programação musical da semana, conferindo tudo quanto é site de bar e, principalmente, o jornalzinho do AAJ-NY).

Mas o site de nada menos que o meu bar favorito em NY estava estranhamente desatualizado, faltando justamente a programação da bendita semana em que estarei lá. O 55 é o moquifo onde há aproximadamente uns dois milênios o Mike Stern faz temporada às segundas e o Wayne Krantz às quintas, sempre a 10 ou 15 mangos com direito a dois drinks. Eu, como boa órfã do Supremo que sou, rapidamente adotei o 55 como meu micro-barzinho-de-excelência-musical do coração - uma pena que ele fique logo ali, um pouquinho acima da linha do Equador. Mas se desconsiderarmos esse pequeno inconveniente, trata-se um lugar super acessível e agradável, sem frescura alguma, com a programação musical sempre boa, sempre lotado - o que não é lá muito difícil, considerando-se que ele ocupa uma área três vezes menor que o Supremo - e sempre, sempre com a qualidade do som estupenda. Ali, além dos supra-citados milenares senhores, já tive a graça divina de ver a super-banda Welcome to Life do David Binney, que começa por Brian Blade na bateria (qualquer banda que começa pelo Brian Blade na bateria dispensa que os demais músicos me apresentem suas credenciais).

Aí hoje a programação do 55 saiu. Mike Stern estará lá, claro - e, embora been there, done that, ele sempre constitui uma opção razoável para uma segunda-feira otherwise completamente morta.

E quem mais vai tocar no 55? Quem???

Não sou boa de fazer suspense nem quando me esforço - que dirá num texto que abre o jogo logo de cara, com aquela história toda de sonho e serendipity. Sim - Kate McGarry, é claro. Mas a grande graça de tudo isso, para os efeitos deste post, é a resposta à seguinte questão: quando hei de ouvir a Kate McGarry, a cuja voz e cuja banda meu inconsciente sabiamente recorreu esta noite?

Pasmem: NO MEU ANIVERSÁRIO!

No que cito minha sapientíssima amiga Nath:

YAAAAAAAAAAAAAAAAAAYYYYYY!!!!!!!!!!!

E o melhor: às seis horas da tarde! O que me dará tempo suficiente para um jantar delicioso em horário mais do que apropriado. E me dará também a possibilidade de ouvir outra mulher fenomenal - a da musiquinha aí de cima - à meia-noite e meia no Village.

Sra. McGarry e esposo estarão acompanhados pelo ótimo baterista Clarence Penn - empregado, só para citar as minhas patroas preferidas, de Luciana Souza e Maria Schneider (não, não é a da manteiga e do Marlon Brando: vem aprender mais sobre ela aqui).

E eu - se elas aceitarem o convite! - estarei mais bem acompanhada ainda por Bel & The Botters.

Ê, vida difícil... ;-)

Postar um comentário

segunda-feira, 10 de março de 2008

Uma imagem de felicidade

Agora era o momento mais apropriado para eu apelar àquela frase mais pronta do que macarrão instantâneo, segundo a qual uma-imagem-vale-mais-do-que. Só que nunca fui muito chegada em equações - especialmente as que tentam equiparar diferentes modalidades linguajeiras. Embora eu seja obrigada a admitir que é divertidíssimo formular equações assim. Exemplos:

1 imagem qualquer = 500 palavras escritas = 1000 palavras faladas = 1554 palavras pensadas = 1778 palavras sonhadas por mim

ou

1 frase do Proust = 423424893 imagens quaisquer

ou

1 frase do Proust = 1 pincelada do Van Gogh

ou

1 acorde do Toninho Horta = todas as palavras da Bíblia

ou

2 acordes do Toninho Horta = Bíblia + Corão

ou

No Caminho de Swann = Terra dos Pássaros = O Quarto de Van Gogh em Arles

Mas voltemos à equação inicial e substituamos a imagem qualquer por outra que mostre um pouquinho da felicidade que uma pessoa pode sentir por outra. Temos então que tal imagem equivalerá exatamente ao número de palavras publicadas neste post.

Existem vários tipos de felicidade. No sábado, exerci a felicidade pela irmã mais velha que casou.

A felicidade dela, e do sortudo que a desposou*, eu caracterizaria como ridícula, na acepção 1.1 do Houaiss: "destituída de bom senso, de ponderação". Porque num mundo e numa época em que as pessoas se casam ou para sair da casa dos pais ou para ticar um item de uma lista cujos próximos itens são filhos, cachorro e casa de praia (ok, às vezes o cachorro é um gato e a casa é em Campos), Sydney & Vaughn casaram-se não porque era a coisa mais sensata e ponderada a se fazer - mas porque se amam mais do que o amor é capaz, são felizes demais juntos e sabem que, em se casando, serão mais felizes ainda. É claro que, em função disso, eles vão se mudar das casas de seus respectivos pais, terão lindíssimos filhos, criarão cachorros (e pelo menos um gato, fica a minha torcida) e manterão uma casa no campo e outra na praia. Mas tudo isso é conseqüência de um amor fundamental - um amor ao mesmo tempo fundação e cimento da cidade que eles já vêm construindo juntos. E o contrário é tão mais comum - todo mundo tão desesperado para morar na tal cidade dos sonhos que compra a primeira que aparece em três vezes sem juros, com casinhas pré-fabricadas e palmeiras de plástico.

Por isso o casamento foi tão incomum, e a dança dos noivos - um tango - das coisas mais emocionantes que já pude presenciar na vida. A foto que segue foi tirada pouco depois disso, em meio às minhas declarações de amor à noiva (foi só o que me ocorreu dizer a ela naquele momento). Como a festa estava para lá de boa, meu batom, àquela altura, já tinha ido - metade para a boca do Rafa e a outra metade para taças de champanhe e drinks docinhos diversos. O rímel, porém, continuava lá, intrépido e impávido, segurando firme a onda de todo o choro.**


Foto by Paulino Tarraf / maquilagem by Tia Mê

* Só quem conhece a Sydney poderá dimensionar a magnitude da sorte do Vaughn.

** A Sydney que é bom vocês não vão ver, azarados leitores, até que eu lhe peça a concessão dos direitos de sua imagem para este blog. O que só deve acontecer lá para janeiro de 2009, que é quando ela voltará a ficar acessível para o resto da humanidade.

Marcadores:

Postar um comentário

sábado, 8 de março de 2008

Feliz comunicado

É chegada a hora de assumir publicamente a segunda grande revolução pela qual venho passando, já que da primeira vocês já sabem. Este é o texto mais difícil e mais escancaradamente feliz que já publiquei aqui, fazendo jus à decisão mais difícil, importante e maravilhosa que já tomei. Portanto, se você prefere declamações desgraçadas que se esmeram em rimar amor e dor, este não é o texto para você.

Mas, se a felicidade também lhe interessa, você veio parar no lugar certo.

Antes dos fatos, vamos à verdade subjetiva que os constitui: estou feliz. Não é que este seja “o momento” “mais feliz” “da minha vida”. Pois não se trata de um momento isolado; pois a felicidade de que falo não se compara quantitativamente com felicidades de outrora; pois a vida como sempre a entendi mudou completamente de figura e de fundo*.

Eu sou a felicidade: entrei para o Programa de Pós-Graduação em Literatura do Departamento de Espanhol e Português da Universidade de Tulane, em New Orleans. A começar no segundo semestre. A durar cinco anos. Com bolsa. Com um dinheirinho além da bolsa, que os hómi acharam meu currículo bacana e botaram uma fé no meu futuro acadêmico. Com meu especialista em heavy-metal favorito como professor, e com o liberal, libertário e libertino mais querido como colega.

Mas ora, direis, ouvir estrelas – ou vocês ainda não ouviram as estrelas do parágrafo anterior? – de onde essa constelação surgiu, afinal?

Surgiu de um convite do Idelber Avelar (se você ainda não sabe quem é, morro de inveja, pois você está para ler pela primeira vez um blog fundamental), que um dia leu cá este blog e gostou. Conversa vai, descobrimos um interesse mútuo nos temas do luto e da melancolia; conversa vem, ele me perguntou se eu não queria estudar lá onde ele dá aula.

Então eu fui pensando se queria, enquanto participava do processo seletivo; fui pensando e conversando com pessoas sábias e queridas, fui pensando e me informando sobre o tal departamento.

Fui pensando até pensar que eu quero muito – um doutorado em literatura e uma vida em New Orleans. Até pensar que tenho todas as chances de ser muito feliz lá – como sou aqui.

E agora só estava faltando isso: dar a ótima nova para vocês aqui no blog.

Vocês não sabem o longo caminho que percorri para chegar a este post. Foi preciso, por exemplo, desde fazer o TOEFL em Três Corações até convencer minha avó de que eu não estava sendo cooptada por uma rede de prostituição internacional. Pelo menos essas duas tarefas já foram cumpridas, mas ainda haverá muito o que recordar, repetir e elaborar até agosto, que é quando parto definitivamente para a Bahia norte-americana.

Estão todos convidados a recordar, repetir e elaborar comigo pelos posts subseqüentes...

* Figura e fundo eram intercambiáveis, a depender da perspectiva; figura e fundo eram amor e dor. Hoje, amor e dor continuam lá. Mas não de forma intercambiável; não com o mesmo valor de troca. O amor não precisa mais da dor para se fazer sentir.

Postar um comentário

quarta-feira, 5 de março de 2008

Tristeza

Mais um diálogo verídico neste blog:

Empregada: São quantas horas de vôo, dos Estados Unidos pra cá?

Eu: Bom, depende de que lugar dos Estados Unidos você está falando.

Empregada: Ah, é??!?

Eu: Mas é claro!!!

Empregada: Nossa, Camila, você está muito irritada, melhor eu não conversar mais com você hoje...

No que fiquei bem triste, e por razões que a empregada em questão nem passa perto de imaginar. E o pior: triste, primeiramente, por motivos-clichê, desses que levam a pessoa a se unir a Regina Duarte e Hebe Camargo na luta pela paz. Porque, infelizmente, esta é uma tristeza que não me leva a nada. Outras pessoas, uma tristeza assim seria capaz de mobilizar. Enraivecer, revoltar e estimular a participar de trabalhos voluntários ou mesmo reuniões de condomínio. Mas eu, eu só me entristeço, e com cada clichê lascado. Vamos a eles:

Fiquei triste porque a maioria dos brasileiros acha que os Estados Unidos são uma entidade mítica inatingível; são uma coisa só - portanto, nada mais coerente que, para chegar a este bloco compacto e único, leve-se um número fixo e imutável de horas de vôo. Fiquei triste porque, enquanto tento acompanhar o noticiário internacional para descobrir quantos delegados Obama está à frente de Hillary, a maioria dos brasileiros não sabe o que é um mapa dos Estados Unidos. A maioria dos brasileiros não sabe o que é um mapa do Brasil. A maioria dos brasileiros não sabe o que é um mapa.

A maioria dos brasileiros nunca estudou. Não é que a maioria dos brasileiros nunca tenha ido à escola; a maioria vai, mesmo que por pouco tempo. Mas a maioria dos brasileiros nunca estudou. Eu fui começar a aprender a estudar no terceiro colegial. A maioria dos brasileiros não tem a chance de saber em que consiste o ato de estudar. A maioria dos brasileiros não tem a chance de saber que existe uma coisa na vida que se chama estudar.

A maioria dos brasieiros acha que estou irritada quando estou simplesmente abismada. Com a minha própria capacidade de esquecer todos os clichês acima.

É a culpa da classe média que se sabe privilegiada e não sabe o que fazer com isso. Principalmente a classe média que não se dispõe nem a participar de reuniões de condomínio - mas também não engole um pretenso movimento social capitaneado pela Regina Duarte.

A maioria de mim é acomodada demais para transformar a tristeza em alguma ação positiva. É esta a tristeza maior.

Marcadores:

Postar um comentário

segunda-feira, 3 de março de 2008

Música em NY, parte I: agora vai

E chegamos mais uma vez àquele momento tão ansiadamente esperado e celebrado: o de abrir o calendário musical do jornalzinho do AllAboutJazz-NY e quebrar a cabeça decidindo o que vou ouvir, quando, quantas vezes e, como não se pode mesmo ter o falo*, o que irei deixar de lado.

Este post tratará do evento musical central desta ida a NY, que faz jus à minha antiga observação segundo a qual os shows que eu deixaria de ver em janeiro seriam substituídos por outros igualmente desejáveis em março. Se, por um lado, houve a baixa irrecuperável, dolorosamente sentida e apenas parcialmente mourned da orquestra da Maria Schneider - entra em cena, na semana em que estarei lá, ninguém menos do que ele. E eu, como tenho problemas mentais e uma difícil história de vida (minha mãe morreu, etc.), estava pensando em não ir. Mas superei ou quero muito superar todas as minhas dificuldades mentais e vitais, e resolvi que agora é a hora - dentre outros motivos, porque a Bel estará comigo e isso me dá uma segurança tremenda - mas, principalmente, porque NÃO VEJO A HORA DE VOLTAR A SER DA MÚSICA DO PAT, que é das coisas que mais gosto de ser na vida. Este post é o início da retomada...

Então. Este será o meu VIGÉSIMO SHOW DO PAT METHENY TRIO. Pretendo chegar pelo menos até o centésimo, até o final dos tempos (= quando o Pat deixar de gravar e tournear). Do Pat Metheny Group foram dez até agora, dos noventa e nove a que pretendo comparecer (shows do PMG são mais raros, não se pode sonhar tão alto).

Voltando ao trio. Ainda não conheço o disco novo - problema a ser solucionado até o final da semana, para meu deleite memorizador e desespero de todo aquele que pegar uma carona comigo, obrigado que estará a ouvir solos de guitarra dobrados por minha terrível-porém-empolgadíssima voz.

Os shows, até onde acompanhei, sempre tiveram duas horas e meia de duração. Suponho que isso não tenha mudado. Já tive minha fase de gravar diversas fitas cassetes com todas as combinações possíveis das músicas que poderiam compor o repertório do show - eu lia as resenhas publicadas pelos fãs em fóruns de discussão - mas agora, aproveitando que não estou acompanhando fórum nenhum, decidi brincar de cabra-cega e montar eu mesma um set-list (vamos combinar, o termo "repertório" é feio como poucos) que me transformaria num ser flutuante pelo resto do mês.

Vamos botar aí uma hora para as músicas novas, o que me deixaria com uma hora e meia para brincar. O critério de agrupamento das músicas foi o andamento; em negrito, as mais fortemente desejadas:

1. Mid-slow:

Esta lista só poderia começar por Question & Answer, o grande achado & realização de toda a história dos Metheny Trios e provavelmente a música dele que mais me emociona depois de First Circle. É claro que estou falando daquela versão do Trio Live de quase vinte minutos, com solo de Ibanez, solo de baixo e solo de synth. Sou capaz de argumentar a noite toda, para quem me pagar umas caipiroskas, que o Pat guitarrista nunca soou, tocou uma melodia e improvisou melhor do que nestes vinte minutos.

Giant Steps, uma fake-bossa em que o baterista é tudo, pois é justamente a levada bossa-nova-de-gringo que possibilita o realce da beleza harmônica da música, normalmente soterrada por andamentos muito rápidos. O bom da versão do Trio Live é que o Bill Stewart não tem a menor idéia do que seja bossa nova, o que faz dele o baterista ideal para criar o clima fake necessário para o Pat calmamente ir despejando seus acordes. E o problema de pensar em ouvi-la com esse novo trio é que o Antonio é apenas o melhor baterista de bossa-nova que o mundo já conheceu**. E não sei se Giant Steps funcionaria como a bossa que o Antonio sabe construir tão bem.

Timeline, a música preferida do meu disco preferido do Brecker, que nunca ouvi ao vivo.

2. Mid-fast:

April Joy, pura nostalgia de um tempo que não vivi.

James, que funciona deliciosamente em formato de trio, sempre impulsionando o Pat a improvisos que momentaneamente me fazem até esquecer da versão original.

3. Up-tempo:

Solar, conforme ouvida no disco do muchacho, porém agora com adição de baixo.

(Go) Get It, conforme ouvida na turnê (outra palavrinha que vou te contar...) do Speaking of Now (disquinho fraco de tudo, mas que rendeu bons momentos ao vivo), também aqui com a adição do Christian.

Lone Jack, que em minha polêmica opinião consiste num samba de gringo de arrepiar. Essa já ouvi o Antonio tocar e argumento para aquela mesma pessoa que me pagou as caipiroskas que ele é o baterista perfeito para esta música.

All The Things You Are, para pirar com o que essas pessoas são capazes de fazer com um standard que poderia ser tão banal.

Round Trip / Broadway Blues, porque um show do PMT precisa de pelo menos dois clássicos do Ornette para decolar.

4. Ballads:

Lonely Woman, que também marcou uma era. Ouço e re-ouço e me delicio em descobrir a obra do Horace Silver, mas LW é insuperável.

Travels, a balada do Pat com o improviso mais perfeito. Tanto que eu adoraria ouvi-la regravada com o improviso como melodia, sendo que a melodia em si poderia ser perfeitamente ignorada em prol de um novo improviso. Não sei como ninguém ainda não fez isso.

Pra Dizer Adeus, que eu ouvi dizer que eles estavam tocando (ok, ainda leio os fóruns de vez em quando) com o David Sanchez. Foi demais para mim. Nunca ouvi o Pat tocar nada do Edu Lobo, e ele foi começar simplesmente pela minha música preferida do Edu. Assim fica difícil.

If I Could, para chorar.

The Moon Is A Harsh Mistress, porque é a balada mais linda de todos os tempos.

E com isso já passamos de uma hora e meia de música, mesmo se só contarmos as que coloquei em negrito.

Vocês hão de ter reparado que listei e negritei mais músicas de andamento rápido e lento. Isso tem menos a ver com uma preferência particular do que com a minha consideração de que estas são as duas zonas rítmicas em que o trio atual - com Christian & Antonio - se sai melhor. O anterior - com Larry Grenadier & Bill Stewart -, indiscutivelmente meu preferido de todos os quatro que possuem registros em disco (os outros dois: Jaco & Bob Moses, Charlie Haden & Billy Higgins), claramente transitava melhor por aquela zona mid-slow da qual Q&A era o exemplo paradigmático.

Para uma retomada, este post está de bom tamanho. Agora é só ouvir o Day Trip e selecionar as outras músicas que eu gostaria que compusessem a hora restante de show.

Mas o melhor de tudo é saber que o show real certamente será infinitamente melhor do que o melhor show que minha mente e meus ouvidos são capazes de conceber.

* Prometo para breve o fim das piadinhas lacanianas bestas. É só uma fase. Me deixem.

** Atenção: não esperem ouvir a bateria do Tamba ou Zimbo Trio. Esperem coisa muito melhor.

Marcadores:

Postar um comentário

sábado, 1 de março de 2008

Aprendam aqui o que é o Outro

Desde meados do segundo ano da graduação em Psicologia, venho ouvindo as mais diversas definições deste conceito tão caro à psicanálise lacaniana:

- o Outro é o inconsciente;

- o Outro é a estrutura;

- o Outro é a linguagem.

Três definições, aliás, perfeitamente intercambiáveis, já que o inconsciente é estruturado como linguagem. Prosseguindo:

- o Outro é o sistema;

- o Outro é o Nome-do-Pai;

- o Outro é a cadeia de significantes;

até chegar à mais recente delas:

- o Outro é o tesouro de significantes (piratas, atacar!).

Então, já que era assim, é claro que eu adorava formular as minhas próprias definições para o esotérico conceito:

- o Outro é o panóptico do Foucault;

- o Outro é a CIA;

- o Outro é o Pedro Bial.

Mas, até anteontem, a única coisa que eu me sentia suficientemente segura para afirmar sobre o Outro sem medo de errar é que se deve escrevê-lo com O maiúsculo e pronunciá-lo "grande outro".

Até anteontem. Porque finalmente, sete anos depois, alguém conseguiu me explicar este conceito que eu já havia desistido de conseguir apreender nesta vida e mesmo numa próxima. Eis o alguém e sua obra:

















A forma como o autor vai aos poucos delineando o conceito é ao mesmo tempo lógica e despretensiosa, pois começa por considerações sobre o estruturalismo e culmina numa nota de rodapé (!). As três primeiras definições que listei parecem-me agora de fato verdadeiras - mas sem a contextualização sobre o estruturalismo de que agora disponho, elas davam ensejo apenas a elucubrações como as três definições por mim propostas.

É que nenhum lacaniano ferrenho (que eu saiba, ao menos) acompanha este blog, mas é fácil imaginar um torcer de narizes frente à superficialidade do meu contentamento com a apreensão de um conceito: que coisa mais rasa e ralé, entender um conceito! Aliás, quanta superficialidade em restringir o Outro a um mero conceito a ser compreendido! Bom mesmo é transitar pelas sombras da dúvida e da ignorância!

Tudo isso é verdade e eu mesma dou pouca importância a conceitos bem delimitados e definições precisas. Só que, vamos combinar, algum sentido há que se fazer - de um lugar provido de algum sentido é preciso partir. Se não a gente estudaria Lacan em tcheco (o puro significante, não é mesmo?*) e dava tudo na mesma. E ouso dizer que não dá: é bom, é MUITO bom, encontrar um livro cujo autor tem a pachorra de explicar o que é o Outro sem pressupor que o leitor já sabe do que se trata - e sem pressupor, o que é ainda melhor, que o leitor de fato não sabe do que se trata, mas isso não importa.

Acompanhemos, portanto, o raciocínio do autor em trechinhos por mim selecionados:

"Grosso modo, podemos dizer que o fundamento do estruturalismo consiste em mostrar como o verdadeiro objeto das ciências humanas não é o homem enquanto centro intencional da ação e produtor do sentido, mas as estruturas sociais que o determinam." (p. 42)

"A fim de melhor compreender esse ponto, lembremos o que significa 'estrutura social' nesse contexto. O estruturalismo trouxe uma teoria da sociedade que transformava a linguagem no fato social central. Processos como trocas matrimoniais, modos de determinação do valor de mercadorias, organização do núcleo familiar, articulação de mitos socialmente partilhados seriam todos estruturados como uma linguagem, até porque a linguagem é, antes de mais nada, um modo de organização, de construção de relações, de identidades e de diferenças. Neste sentido, ela fornece a condição de possibilidade para a estruturação de toda e qualquer experiência social." (p. 42)

"Tudo se passa como se as relações com o outro, nossas ações ordinárias, escondessem as mediações das estruturas sociolingüísticas que determinam a conduta e os processos de produção de sentido.Tal ilusão nos faria esquecercomo temos relações com a estrutura antse de termos relações com outros indivíduos. Como se a verdadeira relação intersubjetiva fosse entre o sujeito e a estrutura, e não entre o sujeito e os outros." (pp. 42-43)

"(...) mesmo as modalidades de apreensão subjetiva da ação da estrutura são determinadas pela própria estrutura. O sujeito pode objetivar a estrutura que determina seu pensamento e falar dela em um discurso da terceira pessoa, como se fosse um Outro. Mas não pode objetivá-la a partir de uma perspectiva que não seja determinada por este próprio Outro." (p. 43)

No que chegamos à nota de rodapé salvadora:

"Aqui já podemos compreender a diferença lacaniana crucial entre 'outro' e 'Outro'. Os 'outros' são fundamentalmente outros empíricos, que vejo diante de mim em todo processo de interação social. Já o 'Outro' é o sistema estrutural de leis que organizam previamente a maneira como o 'outro' pode aparecer para mim. O primeiro diz respeito aos fenômenos, o segundo, à estrutura." (p. 43, grifo meu)

A nota continua, mas foi a frase grifada que me permitiu, enfim, pensar o Outro a partir de um lugar semanticamente viável. E, por isso, sou grata ao Rafa**.

* Piada interna.

** O livro foi o primeiro presente dele para mim. Nerd. Total. Adoro.

Marcadores: