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segunda-feira, 3 de março de 2008

Música em NY, parte I: agora vai

E chegamos mais uma vez àquele momento tão ansiadamente esperado e celebrado: o de abrir o calendário musical do jornalzinho do AllAboutJazz-NY e quebrar a cabeça decidindo o que vou ouvir, quando, quantas vezes e, como não se pode mesmo ter o falo*, o que irei deixar de lado.

Este post tratará do evento musical central desta ida a NY, que faz jus à minha antiga observação segundo a qual os shows que eu deixaria de ver em janeiro seriam substituídos por outros igualmente desejáveis em março. Se, por um lado, houve a baixa irrecuperável, dolorosamente sentida e apenas parcialmente mourned da orquestra da Maria Schneider - entra em cena, na semana em que estarei lá, ninguém menos do que ele. E eu, como tenho problemas mentais e uma difícil história de vida (minha mãe morreu, etc.), estava pensando em não ir. Mas superei ou quero muito superar todas as minhas dificuldades mentais e vitais, e resolvi que agora é a hora - dentre outros motivos, porque a Bel estará comigo e isso me dá uma segurança tremenda - mas, principalmente, porque NÃO VEJO A HORA DE VOLTAR A SER DA MÚSICA DO PAT, que é das coisas que mais gosto de ser na vida. Este post é o início da retomada...

Então. Este será o meu VIGÉSIMO SHOW DO PAT METHENY TRIO. Pretendo chegar pelo menos até o centésimo, até o final dos tempos (= quando o Pat deixar de gravar e tournear). Do Pat Metheny Group foram dez até agora, dos noventa e nove a que pretendo comparecer (shows do PMG são mais raros, não se pode sonhar tão alto).

Voltando ao trio. Ainda não conheço o disco novo - problema a ser solucionado até o final da semana, para meu deleite memorizador e desespero de todo aquele que pegar uma carona comigo, obrigado que estará a ouvir solos de guitarra dobrados por minha terrível-porém-empolgadíssima voz.

Os shows, até onde acompanhei, sempre tiveram duas horas e meia de duração. Suponho que isso não tenha mudado. Já tive minha fase de gravar diversas fitas cassetes com todas as combinações possíveis das músicas que poderiam compor o repertório do show - eu lia as resenhas publicadas pelos fãs em fóruns de discussão - mas agora, aproveitando que não estou acompanhando fórum nenhum, decidi brincar de cabra-cega e montar eu mesma um set-list (vamos combinar, o termo "repertório" é feio como poucos) que me transformaria num ser flutuante pelo resto do mês.

Vamos botar aí uma hora para as músicas novas, o que me deixaria com uma hora e meia para brincar. O critério de agrupamento das músicas foi o andamento; em negrito, as mais fortemente desejadas:

1. Mid-slow:

Esta lista só poderia começar por Question & Answer, o grande achado & realização de toda a história dos Metheny Trios e provavelmente a música dele que mais me emociona depois de First Circle. É claro que estou falando daquela versão do Trio Live de quase vinte minutos, com solo de Ibanez, solo de baixo e solo de synth. Sou capaz de argumentar a noite toda, para quem me pagar umas caipiroskas, que o Pat guitarrista nunca soou, tocou uma melodia e improvisou melhor do que nestes vinte minutos.

Giant Steps, uma fake-bossa em que o baterista é tudo, pois é justamente a levada bossa-nova-de-gringo que possibilita o realce da beleza harmônica da música, normalmente soterrada por andamentos muito rápidos. O bom da versão do Trio Live é que o Bill Stewart não tem a menor idéia do que seja bossa nova, o que faz dele o baterista ideal para criar o clima fake necessário para o Pat calmamente ir despejando seus acordes. E o problema de pensar em ouvi-la com esse novo trio é que o Antonio é apenas o melhor baterista de bossa-nova que o mundo já conheceu**. E não sei se Giant Steps funcionaria como a bossa que o Antonio sabe construir tão bem.

Timeline, a música preferida do meu disco preferido do Brecker, que nunca ouvi ao vivo.

2. Mid-fast:

April Joy, pura nostalgia de um tempo que não vivi.

James, que funciona deliciosamente em formato de trio, sempre impulsionando o Pat a improvisos que momentaneamente me fazem até esquecer da versão original.

3. Up-tempo:

Solar, conforme ouvida no disco do muchacho, porém agora com adição de baixo.

(Go) Get It, conforme ouvida na turnê (outra palavrinha que vou te contar...) do Speaking of Now (disquinho fraco de tudo, mas que rendeu bons momentos ao vivo), também aqui com a adição do Christian.

Lone Jack, que em minha polêmica opinião consiste num samba de gringo de arrepiar. Essa já ouvi o Antonio tocar e argumento para aquela mesma pessoa que me pagou as caipiroskas que ele é o baterista perfeito para esta música.

All The Things You Are, para pirar com o que essas pessoas são capazes de fazer com um standard que poderia ser tão banal.

Round Trip / Broadway Blues, porque um show do PMT precisa de pelo menos dois clássicos do Ornette para decolar.

4. Ballads:

Lonely Woman, que também marcou uma era. Ouço e re-ouço e me delicio em descobrir a obra do Horace Silver, mas LW é insuperável.

Travels, a balada do Pat com o improviso mais perfeito. Tanto que eu adoraria ouvi-la regravada com o improviso como melodia, sendo que a melodia em si poderia ser perfeitamente ignorada em prol de um novo improviso. Não sei como ninguém ainda não fez isso.

Pra Dizer Adeus, que eu ouvi dizer que eles estavam tocando (ok, ainda leio os fóruns de vez em quando) com o David Sanchez. Foi demais para mim. Nunca ouvi o Pat tocar nada do Edu Lobo, e ele foi começar simplesmente pela minha música preferida do Edu. Assim fica difícil.

If I Could, para chorar.

The Moon Is A Harsh Mistress, porque é a balada mais linda de todos os tempos.

E com isso já passamos de uma hora e meia de música, mesmo se só contarmos as que coloquei em negrito.

Vocês hão de ter reparado que listei e negritei mais músicas de andamento rápido e lento. Isso tem menos a ver com uma preferência particular do que com a minha consideração de que estas são as duas zonas rítmicas em que o trio atual - com Christian & Antonio - se sai melhor. O anterior - com Larry Grenadier & Bill Stewart -, indiscutivelmente meu preferido de todos os quatro que possuem registros em disco (os outros dois: Jaco & Bob Moses, Charlie Haden & Billy Higgins), claramente transitava melhor por aquela zona mid-slow da qual Q&A era o exemplo paradigmático.

Para uma retomada, este post está de bom tamanho. Agora é só ouvir o Day Trip e selecionar as outras músicas que eu gostaria que compusessem a hora restante de show.

Mas o melhor de tudo é saber que o show real certamente será infinitamente melhor do que o melhor show que minha mente e meus ouvidos são capazes de conceber.

* Prometo para breve o fim das piadinhas lacanianas bestas. É só uma fase. Me deixem.

** Atenção: não esperem ouvir a bateria do Tamba ou Zimbo Trio. Esperem coisa muito melhor.

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