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quarta-feira, 5 de março de 2008

Tristeza

Mais um diálogo verídico neste blog:

Empregada: São quantas horas de vôo, dos Estados Unidos pra cá?

Eu: Bom, depende de que lugar dos Estados Unidos você está falando.

Empregada: Ah, é??!?

Eu: Mas é claro!!!

Empregada: Nossa, Camila, você está muito irritada, melhor eu não conversar mais com você hoje...

No que fiquei bem triste, e por razões que a empregada em questão nem passa perto de imaginar. E o pior: triste, primeiramente, por motivos-clichê, desses que levam a pessoa a se unir a Regina Duarte e Hebe Camargo na luta pela paz. Porque, infelizmente, esta é uma tristeza que não me leva a nada. Outras pessoas, uma tristeza assim seria capaz de mobilizar. Enraivecer, revoltar e estimular a participar de trabalhos voluntários ou mesmo reuniões de condomínio. Mas eu, eu só me entristeço, e com cada clichê lascado. Vamos a eles:

Fiquei triste porque a maioria dos brasileiros acha que os Estados Unidos são uma entidade mítica inatingível; são uma coisa só - portanto, nada mais coerente que, para chegar a este bloco compacto e único, leve-se um número fixo e imutável de horas de vôo. Fiquei triste porque, enquanto tento acompanhar o noticiário internacional para descobrir quantos delegados Obama está à frente de Hillary, a maioria dos brasileiros não sabe o que é um mapa dos Estados Unidos. A maioria dos brasileiros não sabe o que é um mapa do Brasil. A maioria dos brasileiros não sabe o que é um mapa.

A maioria dos brasileiros nunca estudou. Não é que a maioria dos brasileiros nunca tenha ido à escola; a maioria vai, mesmo que por pouco tempo. Mas a maioria dos brasileiros nunca estudou. Eu fui começar a aprender a estudar no terceiro colegial. A maioria dos brasileiros não tem a chance de saber em que consiste o ato de estudar. A maioria dos brasileiros não tem a chance de saber que existe uma coisa na vida que se chama estudar.

A maioria dos brasieiros acha que estou irritada quando estou simplesmente abismada. Com a minha própria capacidade de esquecer todos os clichês acima.

É a culpa da classe média que se sabe privilegiada e não sabe o que fazer com isso. Principalmente a classe média que não se dispõe nem a participar de reuniões de condomínio - mas também não engole um pretenso movimento social capitaneado pela Regina Duarte.

A maioria de mim é acomodada demais para transformar a tristeza em alguma ação positiva. É esta a tristeza maior.

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