Um ponto para Rousseau
Ano passado, meu jornal estado-unidense favorito publicou uma das reportagens mais impressionantes que já li, competentemente traduzida pela Piauí. A história do excepcional violinista (dizem, não sei - eu, a níver de música erudita, conheço as obras completas de Nelson Cavaquinho) ignorado pela multidão fez sucesso a ponto de ganhar uma versão tabajara no Fantástico - com, se não me engano, o spalla da OSESP Claudio Cruz. Mas isso fiquei com preguiça de pesquisar para linkar aqui, que afinal a vida é muito curta.
A reportagem é de uma profundidade que não estamos acostumados a atribuir a trabalhos jornalísticos. Não, pelo menos, a esse jornalismo. Aqui, porém, tenho vontade de destacar apenas um dos muitos tópicos de discussão que o artigo levanta:
"Não há um padrão étnico ou demográfico que possa diferenciar as pessoas que ficaram para ouvir Bell, ou as que deram dinheiro, da vasta maioria que seguiu o seu caminho apressado, sem tomar conhecimento do músico. Há brancos, negros e asiáticos, jovens e velhos, homens e mulheres, representados nos três grupos. Só existe um grupo demográfico cujo comportamento foi sempre consistente. Toda vez que uma criança passava, tentava parar para assistir. E, toda vez, o pai ou a mãe não deixava." (grifo meu)
Este fim de semana observei de camarote algo parecido.
Passagem de som do show do Gabriel. O talentoso pianista Vítor Gonçalves (esse sim eu posso dizer) toca Aqui, Ó e alguns forrós na sanfona - único instrumento, aliás, que soa maravilhosamente bem na sala do Parque Lage.
Não demora muito e um menininho vem correndo de lá de fora e se posta diante do Vítor. E pára.
Demora menos ainda e seu (presumivelmente) pai corre atrás dele, segura os ombros do menininho e começa a sacudi-los para um lado e para o outro. Afinal, é um forró, né - hay que bailar, ao que parece.
O menininho, por sua vez, sacode os braços para se libertar do pai. Ele não está irritado; é só que movimentar os ombros, naquelas circunstâncias, não lhe parece a atividade mais urgente a ser empreendida.
A cena se repetiu algumas vezes: o menininho se soltava do pai e parava, olhando para a tríade homem-instrumento-música. O pai logo voltava a sacudi-lo: "dança, dança!". E o menino indiferente aos clamores do pai, e intrigado por uma cena que talvez ele nunca tivesse presenciado antes.
Custou-me muito tirar a foto que ilustra o post - toda vez, vinha o pai balançar os ombrinhos do menino.
Não sei se minha angústia veio da observação desta cena ou de pensar que, um dia, este menino provavelmente sacudirá os ombros e imobilizará os ouvidos de alguém.
A reportagem é de uma profundidade que não estamos acostumados a atribuir a trabalhos jornalísticos. Não, pelo menos, a esse jornalismo. Aqui, porém, tenho vontade de destacar apenas um dos muitos tópicos de discussão que o artigo levanta:
"Não há um padrão étnico ou demográfico que possa diferenciar as pessoas que ficaram para ouvir Bell, ou as que deram dinheiro, da vasta maioria que seguiu o seu caminho apressado, sem tomar conhecimento do músico. Há brancos, negros e asiáticos, jovens e velhos, homens e mulheres, representados nos três grupos. Só existe um grupo demográfico cujo comportamento foi sempre consistente. Toda vez que uma criança passava, tentava parar para assistir. E, toda vez, o pai ou a mãe não deixava." (grifo meu)
Este fim de semana observei de camarote algo parecido.
Passagem de som do show do Gabriel. O talentoso pianista Vítor Gonçalves (esse sim eu posso dizer) toca Aqui, Ó e alguns forrós na sanfona - único instrumento, aliás, que soa maravilhosamente bem na sala do Parque Lage.
Não demora muito e um menininho vem correndo de lá de fora e se posta diante do Vítor. E pára.
Demora menos ainda e seu (presumivelmente) pai corre atrás dele, segura os ombros do menininho e começa a sacudi-los para um lado e para o outro. Afinal, é um forró, né - hay que bailar, ao que parece.
O menininho, por sua vez, sacode os braços para se libertar do pai. Ele não está irritado; é só que movimentar os ombros, naquelas circunstâncias, não lhe parece a atividade mais urgente a ser empreendida.
A cena se repetiu algumas vezes: o menininho se soltava do pai e parava, olhando para a tríade homem-instrumento-música. O pai logo voltava a sacudi-lo: "dança, dança!". E o menino indiferente aos clamores do pai, e intrigado por uma cena que talvez ele nunca tivesse presenciado antes.
Custou-me muito tirar a foto que ilustra o post - toda vez, vinha o pai balançar os ombrinhos do menino.
Não sei se minha angústia veio da observação desta cena ou de pensar que, um dia, este menino provavelmente sacudirá os ombros e imobilizará os ouvidos de alguém.
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