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domingo, 22 de junho de 2008

Sueño de la vuelta

Meu primeiro contato com a língua espanhola inequivocamente foram as palavras RELLENO CALIENTE, estampadas nas embalagens das tortinhas de maçã e banana do McDonald's - como, aliás, desconfio que seja o caso para toda criança brasileira não-pobre e não-gaúcha. Descontada, porém, esta experiência-padrão, é seguro dizer que meu segundo ou terceiro* contato com a língua espanhola se deu através da letra de Dream of the Return. Nunca me preocupei em ir más allá de la embromación, mas agora que o espanhol definitivamente chegou na minha vida para ficar, debrucei-me sobre estas palavras cujos fonemas povoaram a minha infância.

Antes das palavras, porém, a música. Não, nada de análises ou elucubrações: apenas lembranças sentimentais confrontadas com minha experiência atual. Este foi um dos primeiros solos do Pat que decorei, eu que em 1990 iniciava minha extenuante e inútil carreira de memorizadora de improvisos (se alguém tiver idéia de como posso ganhar dinheiro com isso, favor entrar em contato). Na verdade, são dois ou até três, a depender do gosto classificatório do ouvinte: primeiro o solo de Ibanez, depois 12 compassos de Lyle, desembocando em outros tantos de synth. Mas os solos, como sempre em se tratando de PMG, são apenas um dos incontáveis elementos que me interessam - além deles, a beleza da composição, a forma, a harmonia, os timbres do Lyle, a bateria inconfundível, o baixo econômico e preciso, a riqueza dinâmica, a simplicidade conquistada à custa de muita complexidade. Dream of the Return, apesar de composição do Pat, é inteira Pedro e Lyle para mim. Começou aí, aliás, meu interminável processo de luto por uma das experiências que mais me dói nunca ter vivido: porque posso até me conformar por nunca ter nadado no Tietê e nunca ter visto Pelé jogar - mas nunca, jamais me conformarei por nunca ter visto o PMG com Pedro Aznar. E o Lyle, bem, seu expanded piano é como a ilha de LOST. A guitarra pode ser Jack, Ben, Locke - mas é na ilha que todos eles agem; é a partir dos teclados e do piano que tudo acontece.

Sobre as palavras. Dei a elas, como de costume antes que eu efetivamente leia a letra, uma interpretação singular: sempre entendi que "amar é um poema" e "meu coração é um livro". Vejam se eu não estava justificada:


Dream Of The Return
(Pat Metheny / Pedro Aznar)

Al mar eché un poema
Que llevó con él mis preguntas y mi voz
Como un lento barco se perdió en la espuma

Le pedí que no diera la vuelta
Sin haber visto el altamar
Y en sueños hablar conmigo
De lo que vio

Aún si no volviera
Yo sabría si llegó**

Viajar la vida entera
Por la calma azul o en tormentas zozobrar
Poco importa el modo si algún puerto espera

Aguardé tanto tiempo el mensaje
Que olvidé volver al mar
Y así yo perdí aquel poema
Grité a los cielos todo mi rencor
Lo hallé por fin, pero escrito en la arena
Como una oración

El mar golpeó en mis venas
Y libró mi corazón


* Ok: o segundo deve ter sido tus besos nunca más.

** Um dos erros mais toscos de todo o Songbook: "sabrina" em vez de "sabría" (afora outros vários erros na mesma letra). Mas não deixa de ser poética a imagem de uma revistinha Sabrina lançada ao mar.

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