Mudei de endereço

Postar um comentário

domingo, 31 de agosto de 2008

Meu novo amor

Meet Max, o Rei das Bochechas:


Outro ângulo das bochechas pode ser conferido aqui.

Postar um comentário

Aos que se importam

Domingo pé de cachimbo em Edmeston e estamos nos preparando para ir a um churrasco em outra megalópole vizinha.

Só vim a conhecer meu sobrinho hoje, e descobri maravilhada que ele tem bochechas muito maiores e mais polpudas do que eu imaginava pelas fotos.

Haveria histórias para contar da road trip - a mulher que não queria aceitar nossos passaportes, o comportamento exemplar de Oliver, o pinto dele que melhorou, a Billie Holiday que me salvou.

E em vez de contar história, só tenho vontade de dizer que ontem finalmente chorei e vomitei.

Foi diferente porque já chorei por muita coisa na vida, mas nunca por uma cidade. Percebi que sempre chorei por pessoas. A mãe que morreu, o namorado que abandonou, o professor que ficou de mal. Tem também os choros bons, de filmes catárticos e músicas que iluminam. Choro de filme também pode ser ruim, mas sempre é o choro pela história de alguma pessoa do filme. É: na verdade, nunca chorei por coisa nenhuma. Só por gente.

Já o choro de ontem, foi o choro do significante. Porque foi um choro pela estrutura mesmo. Ninguém vai morrer disso. Desta vez, todos evacuamos.

Só que a cidade - né, sei lá.

E não me conformo que ninguém saiba. Eu achei que a esta hora iria saber precisamente por que pontos o furacão iria passar e exatamente quais casas iria destelhar - e, principalmente, se os diques agüentariam o tranco ou não.

E como tudo na vida, a gente só sabe o que vai acontecer depois do acontecido. Elementar, cara Camila. Princípios básicos da existência: instabilidade, imprevisibilidade, efemeridade...

Desamparo, Heidegger que me desculpe, não necessariamente. Estou cercada por pessoas que me amam - e, o mais incrível, acabei de me descobrir amando uma pessoa nova. Que, aos 7 meses de idade, já está abrigando uma refugiada de furacão. Vai pro céu esse menino.

Ah sim. Além do choro e do vômito, tem uma outra coisa que eu precisava urgentemente falar:

Dirigindo pelo Estado-Unidão, dormindo em motel barato e conhecendo novas estações Greyhound, foi inevitável lembrar da minha vida de uns cinco, seis anos atrás.

E que ufa. Ufa! Porque esta, esta é a minha vida. Com furacão, vômito e tudo. Mas é tudo meu, só meu. Não estou vivendo a vida de outra pessoa. Aqui sou eu. Somos nós.

(Fim do momento mensagem-cifrada que só os chegados entenderam.)

É isso. Torçamos.

Marcadores:

Postar um comentário

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Pê esse rápido

Só para dizer que estou embarcando numa road trip com Alex & Oliver rumo a esta grande megalópole - e, além disso, cidade onde este blog mais faz sucesso no mundo, se considerarmos que dois de seus quinhentos habitantes o lêem quase diariamente - que é Edmeston. As condições para a viagem foram: 1) eu não me aproximo das partes pudendas do Oliver; 2) Alex tem direito de veto sobre a trilha sonora, primariamente sob minha responsabilidade. Então rogo pela vossa torcida também nos seguintes pontos: que não durmamos; que não nos percamos; e, principalmente, que o CD-player do carro alugado do Alex leia também DVDs de dados.

Enquanto isso, fiquem com mais este textinho sobre meu cotidiano em New Orleans, que deixo temporariamente para trás muito antes do previsto.

Pelos próximos dias, portanto, este blog será uma filial deste - a Rua dos Bobos jamais será a mesma.

Esperamos, por outro lado, que New Orleans e minha casa estejam me esperando iguaizinhas, sem uma alteração sequer, na quarta-feira que vem.

Postar um comentário

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Gustav - tô me incluindo fora dessa

Em menos de uma hora ficará estabelecido se irei enfim conhecer o meu sobrinho ou se teremos uma Reunião Extraordinária (e Parcial) da Liga da Justiça no seu novo headquarters em Austin.

O lado bom destes encontros e reencontros é evidente; já o outro...

* Uma encheção - malas. Com ou sem alça, não aguento mais pensar nelas - planejá-las, montá-las, empurrá-las, carregá-las, esvaziá-las.

* Uma grande preocupação - a cidade, como é que fica?

* Uma preocupação maior ainda, egoísta que só - e a minha casinha, sobretudo o meu quarto? Sobrevivem?

* A preocupação maior de todas - alguém me diz como eu dou a notícia para a minha avó?

***

A coisa mais bizarra do processo todo? A palavra evacuação. Onde quer que se vá, só se fala nisso - é uma escatologia coletiva sem precedentes. Donald Fagen, fica aqui minha sugestão para você: depois da sua homenagem aos procedimentos de segurança nos aeroportos, por favor componha uma canção para o título Won't You Evacuate With Me, Darling?

***

Eu corro do furacão - ou tempestade tropical, ninguém sabe -, mas não desço do salto: afortunadamente, meu aparelhinho de depilação funciona! Austin ou Edmeston me receberão de pernas devidamente depiladas.

***

Então, mais uma vez, até logo, não me esqueçam etc. E torçam e/ou rezem por New Orleans, que estaremos precisados.

Marcadores:

Postar um comentário

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Viver em New Orleans é assim

Repassando as grandes preocupações do meu dia, na seqüência em que foram aparecendo:

1) O depiladorzinho elétrico - será que funciona?

2) A disciplina Poetry of the Golden Age (poesia do "Siglo de Oro" espanhol) - será que dou conta?

3) O furacão Gustav - será que dá o ar da desgraça?

O mais angustiante, por enquanto, é que as respostas são apenas parciais, provisórias e podem mudar radicalmente a qualquer momento:

1) Meus pêlos terão de esperar até amanhã para saber. Nunca vi aparelho elétrico que precisa de quinze horas de carga inicial.

2) Também é cedo para dizer. A aula de hoje, a primeira, foi um sucesso auditivo e um fracasso literário. Não tive dificuldade alguma em compreender o que era falado - posso até dizer, audácia suprema, que cheguei a pensar sobre o que a professora dizia, e olha que não é sempre que eu penso.

Então chegou o momento-leitura. A professora dá dois minutos para a classe ler um texto de um poeta espanhol do século XV.

Hoje, enfim, entendi a sensação que devem ter os vestibulandos com dois módulos de CCAA nas costas quando abrem a prova da Fuvest na página de inglês.

Por dois minutos, olhei muito para aquele texto. Afastei-o um pouco (quem sabe a proximidade estava atrapalhando?), depois voltei a olhar mais de perto. Descobri que a fonte era Times New Roman, tamanho 12, cor preta; o espaçamento, normal; o alinhamento, justificado. O xerox, tirando umas manchinhas esparsas, era de boa qualidade; o papel era A4, gramatura 75.

Assim foi, piedosos leitores, meu primeiro contato com um texto em espanhol no mestrado em New Orleans. Tamanha sensorialidade eu estava esperando, a bem da verdade, do contato com um homem, mais que com um texto - mas tudo tem seu tempo.

E é justamente ele, o tempo, minha principal arma para dar conta dos textos para a semana que vem. Toda minha esperança está depositada nos duzentos ou dois mil minutos que terei à minha disposição para ir um pouco além da formatação, do xerox, e do tipo de papel nas leituras exigidas.

3) Se der, devo ir para ou para . O mais provável, no entanto, é que não dê - e não sei se esta probabilidade maior é de teor meteorológico ou se é apenas a probabilidade do meu desejo.

Marcadores:

Postar um comentário

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Minha sexta-feira em New Orleans

Foi assim:

The lazy Mississipi.


Manchinha de arco-íris que ela está pensando em pintar. Torçamos. :-)

Postar um comentário

Drops de início de semestre e de vida estado-unidense

- Alguns pensam que a realização do sonho americano se dá pela conquista da casa própria, com uma cerquinha pintada de branco e um gramado de fazer inveja aos vizinhos. Para outros, o sonho americano se materializa num carro esporte conversível.

Eu? De minha parte, saberei que sou uma pessoa bem-sucedida e que estou vivendo o sonho americano no dia em que eu morar numa casa com box de vidro. Repitam comigo: cortinas de banho são do mal. Asquerosas. Pegajosas. Insistem em grudar na pele durante o banho e em espalhar água por onde não devem. Eu odeio cortinas de banho. Das invenções mais estúpidas que se disseminaram pelo mundo. Ódio mesmo.

- Hoje à tarde, explosão total, super à la Hora da Estrela. Passei a manhã inteira fantasiando sobre o cookie de chocolate de Tulane, que é assim algo entre o cookie e o brownie. Chegando na Praça de Alimentação, por um minuto, o horror: cadê o cookie?? Não estava na padaria, mas Deus é amigo de Jacob e ambos colocaram os ansiados cookies ao lado do caixa.

Esse não é assim um cookie qualquer. Ele tem a propriedade de fazer a vida ficar perfeita enquanto você o come. (Algum paciente deve ter me dito isso sobre a cocaína, mas vamos fingir que não.) Com leite, então, é a glória.

- Tenho ficado mais tempo conectada do que eu deveria; instalei brinquedinhos novos no blog, conversei pelo MSN e pelo Skype com um monte de gente (a mais insólita dessas conversas pode ser conferida aqui). Sinto-me como o bebê que precisa estar muito seguro de seu próprio território e muito seguro do cuidado da mãe antes de poder sair para explorar o ambiente. Então fica combinado: eu amo o meu computador. Não sei como eu conseguia viver com o outro. Ele foi doado, mas confesso que me daria bastante prazer tê-lo destruído a machadadas, no melhor estilo catarse neandertal.

Esse tempo de conexão exacerbada foi necessário e delicioso, mas já estou em vias de reduzi-lo, pois só de cookies de chocolate não é possível viver. Já consegui começar - antes, voltar - a ler. E já estou planejando sair para ouvir música, pela primeira vez desde que moro aqui. Vou conferir um up-and-coming New Orleans musician que está em vias de habitar meu blogroll há algum tempo e que estou pagando pra ver se é tudo isso que dizem. A ouvir.

- Hoje comecei, também, a ouvir alguns disquinhos. Ah, é - não contei ainda que agora sou a feliz proprietária de nada menos que OBRAS COMPLETAS de Bill Evans, Billie Holiday, Clifford Brown, Coleman Hawkins e Duke Ellington. Tudo cortesia do DJ Mandacaru, um apaixonado por New Orleans, jazz, Southern cuisine, Nelson Rodrigues e Nelson Cavaquinho que entrou na minha vida para nunca mais sair. Almoçamos uma única vez, em São Paulo, e já lamento os outros tantos almoços que não compartilharemos nos próximos meses, e já comemoro os e-mails freqüentes que hão de continuar me divertindo e emocionando ao longo de minha estada em terra estrangeira.

E tudo, mais uma vez, por causa deste blog. Este blog, eu vou dizer, é uma bobagem, mas vem me rendendo as melhores coisas. Principalmente, vem me rendendo as melhores pessoas.

- É muito estranho morar num país onde o Häagen-Dasz é barato e a banana é cara.

***

- Ah sim. Hoje encontrei o prófi. E o que eu consegui dizer para ele? Que montei uma escrivaninha e um criado-mudo com minhas próprias mãos! Sim, sou boba mas sou feliz.

Postar um comentário

sábado, 23 de agosto de 2008

Tulane fica mais bonita com ela

Marcadores:

Postar um comentário

Vaziozinho

Então acabou. Não há mais nada de muito urgente para limpar, desinfetar, arrumar. Não há mais roupas para passar e guardar. Respondi os e-mails, os comentários do blog.

Quer dizer. Coisas a fazer, sempre as há. Tenho compras a devolver no Wal-Mart e na Bed Bath & Beyond; o fogão ainda não limpamos; ainda quero aspirar as escadas. Nenhuma delas, bem se vê, coisas sem as quais não se pode viver.

Mas o mais estranho não é isso. É pensar que hoje é sábado, e não almocei na Bel. Não irei à Benedito Calixto e nem tampouco encontrarei algum bachelor mais tarde. Não que estes fossem programas repetidos todo sábado, longe disso. Mas, em geral, estas eram atividades que me estavam dadas, disponíveis. E agora não.

Para ajudar, hoje é aniversário do meu pai, e ainda não consegui falar com ele. E é justo ele a pessoa que mais tenho medo de que me esqueça aqui. É aquela coisa: minha mãe morreu, mas a sensação que habita algum canto do meu corpo (e que Amós Oz, mais do que Freud, explica) é de que ela, na verdade, me abandonou, porque se encheu de mim. Porque eu não valia a pena. Foi fazer coisa melhor da vida. Quem diz que o meu pai não vai fazer a mesma coisa?

Tudo bobagem, eu sei. Bobagens que tomam conta quando há pessoas queridas no messenger e no skype - e nenhuma por perto.

Claro que a Isabel é a roomate que qualquer um pediu a Deus (também, com esse nome). E claro que isso não adianta.

Não preciso ser propriamente espírita para prever que semana que vem estarei novamente preenchida por quilos de livros a estudar e toneladas de livros a decifrar. Sim, porque os de português eu até posso estudar; já os de espanhol...

Bom. Ajuda saber que eu sabia que esse momento havia de chegar.

Então vou lá arrumar a cozinha e ler uma história de amor e terror, que sair da própria vida é o melhor remédio.

Marcadores:

Postar um comentário

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Será que sou aquilo que critico?


1) Sobre as fotos do meu quarto. Está tudo muito bom, tudo muito bem, mas coube ao meu perspicaz editor apontar um detalhe muito importante: a arquitetura puritana da cama. Dado que o teto que cobre o lado esquerdo dela (para quem deita) é muito baixo, atividades de natureza diversa do sono ficam comprometidas.

Com relação a isso, devo dizer que, por ora, minha vida sexual em New Orleans resume-se a um sonho erótico com Michael Phelps logo na segunda noite - e olha que a parte mais excitante foi quando ele carregou as minhas malas escada acima. Afora isso, presenciei também um evento inédito: um homem e uma mulher transando! No quarto ao lado do meu, deu para ouvir bastante coisa. Não foi nem constrangedor nem excitante, como eu talvez pudesse ter antecipado (isso nunca me aconteceu antes): foi, apenas... Falso. Minha experiência com filmes pornográficos bate ali no -1; talvez por isso eu só tenha podido relacionar os ruídos que chegaram a mim com lembranças distantes da Sexta Sexy. Foi um pouco assustador, na verdade, porque não conheço nada sobre a minha vizinha - mas sei que, decididamente, é americana, pois transa como as moças americanas de filmes porn-fake-light. Aí bateu o desespero: será que um dia, com cinco anos de Estados Unidos nas costas, eu vou passar a transar desse jeito? Pior: será que eu já transo assim, emitindo barulhinhos que soam forçados, e nunca percebi?? (Taí uma coisa que apenas alguns poucos - ou pouquíssimos, dependendo do ponto de vista - homens poderiam dizer.) Prefiro acreditar que não - acho que meu estilo está mais para Terça Insana do que para Sexta Sexy.

Mas voltando à minha cama, que é o que mais importa. O preocupado editor esqueceu-se de que, para atividades mais divertidas - tais como um café da manhã na cama ou uma guerra de travesseiros -, sempre poderei contar com as rodinhas que tanto facilitam sua locomoção. Que o teto baixo, portanto, não seja um empecilho para realizações vindouras.

2) Ao título do post. Outra dúvida que sempre me perseguiu, e para a qual ainda não encontrei solução definitiva, refere-se ao meu pertencimento a um grupo... Social? Televisivo? Esportivo?

Explico. Falar mal do Galvão Bueno é o maior lugar-comum que há - e, enquanto ele estiver na ativa, um lugar-comum fortemente necessário. Mas eu não vejo ninguém falando nada sobre o locutor mais risível da televisão brasileira: o Marco Antonio do vôlei (que fim terá levado ele?). Sim, aquele que gritava "afunda, afunda - afundou" - e, não nos esqueçamos, "Gilsão-mão-de-pilão-no-chão-do-Japão", frase repleta de rimas ricas repetida umas vinte vezes por set numa série de amistosos contra o Japão em que o Brasil não jogava nada e Gilson entrou para salvar a pátria.

Mas o Marco Antonio. Todos hão de lembrar que ele sempre mandava efusivas saudações para a Galera Band Vôlei - apenas mais uma pérola de seu interminável arsenal de bordões idiotas. E idiota considerei a tal galera, até o dia em que questionei: será que a Galera Band Vôlei... Sou eu?? Afinal, o que mais poderia ser a Galera Band Vôlei? Eu assistia a todos os jogos pela Band, acompanhava os campeonatos nacionais e estaduais, feminino e masculino...

Felizmente tive o consolo de saber-me menos idiota do que - este sim - o locutor mais imbecil de que o planeta tem notícia. Também num confronto Brasil x Japão, só que feminino (o que há nesse povo que desperta de tal forma a estultície dos nossos jornalistas televisivos?), Datena me manda essa:

"Fulano [comentarista], é impressionante o que essa jogadora japonesa faz! Ela parece estar em todos os lugares da quadra ao mesmo tempo - recebe, ataca, defende! É de uma jogadora assim que o Brasil precisa!"

Juro que agora me bateu uma vontade de fazer outro bolão para que o nome da onipresente jogadora seja descoberto. Mas não. Vou revelar. Preparados?

Então tá:

O nome da jogadora é...

NIPPON.

O Fulano comentarista, naturalmente, preferiu o silêncio.

Nessa hora, pensei que fazer parte da Galera Band Vôlei talvez não fosse tão mau assim.

***

E agora ouvirei um locutor americano qualquer rendendo-se ao ouro duplo brasileiro que há de vir no fim de semana. Agora é a hora. Tenho fé.

Postar um comentário

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Por hoje, só fotos (e uma música)

Hoje o post será rapidinho porque é impossível sentir-se totalmente em casa com roupas ainda na mala. O ferro de passar me aguarda, mas ainda dá tempo de pôr no ar algumas fotos pré-históricas - representativas da evolução da minha casinha e do empenho da Bel em eliminar os pardieiros que se acumulavam pelos cantos.


Quando ainda não sabíamos que este apartamento seria o eleito. O moço aí é o locatário, que ainda está devendo as persianas do meu quarto, grr. Afora isso, é gente boa. A porta que se vê ao fundo é a nossa.



A sala, já com o piso novo de madeira falsa. De onde tiramos a foto tem duas janelas como esta daí. O ambiente como um todo ainda não está muito diferente disso - faltam, basicamente, um tapete e uma pintura para a sala ficar com cara e jeito de casa.



Pardieiro inicial do quarto!! Vejam que nada nesta vida vem pronto.


Ela não sabia (nem eu, para falar a verdade), mas Bel veio a New Orleans basicamente para faxinar. A dedicação dela para comigo e minhas coisinhas nessa breve e longuíssima estada (assim como a sensação térmica aqui é de uma quentura muito maior do que a temperatura propriamente dita, também a presença da Bel durou muito mais do que oito dias) foi muito diferente de qualquer outra relação que já experimentei antes - inclusive minha relação com ela, predominantemente baseada em trocas. Nesses incontáveis dias, ela esteve aqui para mim. E só. Para me autorizar a chorar pela mala perdida, eu que estava me achando meio fresca por isso; para escolher eletrodomésticos bons e baratos; para transportar malas, sacolas, saquinhos, sacolões, potes e vidrinhos; para esquecer de tudo isso enquanto víamos ginástica artística ao fim do dia.



Mas pelo menos providenciei para que ela comesse bem. Reparem no pedaço de criado mudo do lado esquerdo...


A prova do crime.



TA-DA!!! Esse foi o criado-mudo que me fez compreender o Maluf. Aquela história toda de que foi o Maluf que fez? Faz todo o sentido. Pois agora o Maluf sou eu: esse criado mudo, esse mesmo, Camila e Bel que fizeram!



Primeiros momentos de vida da minha cama. As camas nascem, é claro, quando a gente se deita nelas.

Em tempo: a música da semana foi a primeira pela qual me apaixonei em solo estado-unidense. Estava no meu iPod e não me sai da cabeça. Divirtam-se!

Postar um comentário

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Afinal, como estou me virando?

Este será um post desinteressantezinho porém assaz útil, pois responde à questão colocada acima.

1) Casa

Chegamos zuretas e esbaforidas na sexta à noite, com uma mala a menos do que o previsto. Vimos casa no sábado e no domingo, e na segunda alugamos uma - bem pequenininha, baratinha e fácil de dar conta. Foram esses os (meus, pelo menos) critérios. Segunda mesmo começamos a faxina. Terça de manhã, acordamos daquele sono profundo que só os faxineiros conhecem com um telefonema desesperado de Isabel (pronuncia-se Issabell, com a língua estalando o último ele no céu da boca): tenemos que cambiar de apartamento! Isso aí: cancelar o contrato. Desencanar. Procurar outro.

(Isabel é insone e simplesmente não conseguiu dormir naquele que doravante chamaremos apartamento número 1. Y tú, no te molesta el ruido?, perguntava-me ela. Para uma pessoa acostumada a acordar com a conversa dos porteiros e com os ônibus engatando uma primeira na subida, o bairro universitário de New Orleans é praticamente uma Mata Atlântica sem os grilos. Mas fato é que não se pode viver onde não se pode dormir, e janelas anti-ruído nunca são inteiramente confiáveis; era, portanto, imperativo mudar.)

Perto deste singelo imprevisto, alguns dirão que a barata de ontem foi uma mera e idiota barata. Mas sabe que não? Conversamos com o locatário, rasgamos o contrato e saímos de lá no mesmo dia. O medo de não conseguir cancelar o contrato, de não conseguir sustar o cheque, de não receber de volta o dinheiro do depósito, do dono do apartamento nos processar - tudo isso foi tão horrível e ameaçador, e durou tão pouco, que é como se quase não tivesse acontecido, tamanho foi o trauma e tão pouco traumática sua superação.

Nessa brincadeira perdemos um dia, pois Isabel já havia mudado quase todas as suas coisas para lá - para não falar no desperdiício dos nossos heróicos esforços faxineiros. Mas tudo bem: acabo de inventar uma lenda segundo a qual amigas que faxinam unidas jamais serão mutuamente esquecidas.

Então ligamos correndo para o apartamento número 2 - o definitivo -, que pela graça de algum Deus nova-orleaniano (como tem igreja nessa terra, djeezuz), ainda estava disponível. Ele é um pouquinho mais caro do que o número 1, e tão melhor que cheguei a abençoar a insônia de Isabel - certamente, estamos muito mais bem acomodadas agora. Uma que temos banheiros individuais e lavadora e secadora só nossas. Outra que a rua é bem mais bonita. E a casinha também. E o bonde passa bem em frente. E tem uma porção de lojinhas e restaurantes do lado. E é mais perto da faculdade - 15 minutos de caminhada da porta de casa à porta do Newcomb Hall.

Só o que falta agora para eu me instalar com maior conforto é terminar de organizar as roupas, que a maioria ainda está nas malas. O processo está sendo mais lento do que rodar um programa no meu ex-computador, pois estou passando quase tudo. Claro que elas não estão ficando lisinhas, mas claro também que ficam melhor do que estariam sem nem um ferrinho por cima delas. Hoje minha avó disse estar orgulhosa de mim, e é tudo o que me importa.


2) Comida

O melhor cookie de chocolate do mundo fica no bandejão da universidade e esforços consideráveis serão necessários para que eu não coma um por dia. Ainda na categoria melhores do mundo, a melhor salada cole slaw da história fica quase na esquina da minha casa e custa dois dólares. Boas omeletes também são disseminadas - alô vovó, no domingo comi uma com corações de alcachofra! De resto, ontem almocei arroz com feijão e lingüiça, e hoje jantei um pouquinho de arroz que a Isabel fez e um sanduíche preparado no Seu Jorge Forma, que por aqui custa tipo uns vinte dólares. Perto de casa tem também um árabe muito bom e vários cafés honestos ainda por explorar. Passei parte desta tarde num deles e tomei até um five dollar shake digno do preço. Claro que no café da manhã não pode faltar cottage. E, estupidamente, já deixei faltar iogurte, um pecado bem ridículo na terra de Organic Valley (que Marlboro que nada); uma visita ao Whole Foods não deve tardar. Aliás, nunca é demais lembrar: yay, moro numa cidade que tem Whole Foods!


3) Roupa lavada

O único evento digno de nota neste quesito é que estou usando um amaciante em forma de lencinho de papel que se coloca na secadora. Na lavadora, só o Omo mesmo, que por aqui se chama Cheers.

E, embora ninguém ainda saiba meu nome, já estou começando a me sentir em casa.

Postar um comentário

E o Oscar vai para

Todos aqueles que disseram que a roomate se chama Isabel!

O prêmio, como não poderia deixar de ser, é alguns dias de estadia grátis em New Orleans. Mas como aqui quem manda sou eu, decidi que o prêmio principal vai para a Aline, que apostou que a roomate se chamava Pat Metheny - sendo assim, ela ganha não apenas o direito à estadia na minha casa (aliás, corram que vale até maio de 2009), como também uma linda salada cole slaw totalmente grátis, proveniente da lanchonete vizinha.

Fiquei feliz da vida com os comentários e e-mails que foram chegando ao longo do dia. Porque nunca tive problema algum em ficar sozinha - costumo fazer uma boa sala para mim mesma. Mas o que sustenta a solidão é saber-me muito bem acompanhada.

Obrigada, pois.

Postar um comentário

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Estou aqui, um pouco bem e um pouco aflita, estou com fome, estou feliz

E já começo com uma desistência, que sou brasileira e desisto sempre. No caso, de contar tudo o que aconteceu - a chegada, a busca por uma casa, a umidade que gruda na pele, a saga da troca de casa, a mala perdida, a melhor cole slaw da história, a mala reencontrada, a Bel o tempo todo, a Bel indo embora, as saudades no estômago, o Nextel a mil, a matrícula sendo feita.

Passo, então, ao que se passa agora.

1) Estou aqui.

Há dez dias, eu não sabia de nada. Onde e com quem iria morar, em que cama dormir, que vizinhos cumprimentar, em que restaurante almoçar.

Hoje tenho o maior alívio e orgulho de dizer que estou instalada neste quartinho aqui:




Com esta pessoa aqui:


Está aberta a temporada de adivinhações: como se chama minha querida roomate? A única pista é: o nome dela é a maior coincidência das galáxias. E mais não digo.

Mais fotos seguirão em breve, que a maioria está na câmera da Bel.


2) Um pouco bem, um pouco aflita.

Estou lenta. Um pouco pelo calor, um pouco pelo desconhecimento; tarefas banais, como tomar banho, por exemplo, são agora ressignificadas: tenho de me abaixar para pegar o xampu; ainda não me acostumei à cortina no lugar do box de vidro; às vezes me perco na ordem dos cremes a passar. A vida fica confusa sem uma rotina - nem que seja a rotina do banho.

Estou cansada, mas quase não percebo.

A partida da Bel foi bem difícil.

Da minha família também. Mas, enquanto eu me despedia do meu pai, da minha avó e das minhas tias, ela estava comigo.

Quando me despedi dela, não havia ninguém ao meu lado.

Mas eu consegui. Eu fiz um plano. Criei uma rotina. Nos minutos que antecederam a partida dela, eu só conseguia - eu só podia - repetir para mim mesma: comprar hidratante, pegar táxi; hidratante, táxi. E assim eu fiz. Comprei um hidratante novo, vim de táxi para casa e terminei a faxina do banheiro em homenagem a ela.

Fiquei bem.


3) Estou com fome

Tirando as despedidas, hoje enfrentei o maior desafio da viagem inteira.

Antes disso, tive também um dos momentos mais felizes: finalmente terminei de arrumar o meu quarto, do jeito que eu queria, e fiquei imaginando o que minha família e a Bel vão achar dele. Eles eu não sei, mas eu adorei e, principalmente, já me apropriei totalmente. Outras partes da casa ainda estão por ser desbravadas e conquistadas. Mas o quarto é meu.

Há pouco, enquanto eu arrumava os últimos detalhes, pregando um calendário na parede, lembrei-me de que há poucos meses pedi para o meu pai fazer isso por mim, no meu ex-quarto de São Paulo. "Pregar um troço na parede, como assim", foi meu pensamento na época. Nem cogitei a possibilidade de fazê-lo sozinha.

Hoje, nem cogitei a possibilidade de não fazê-lo, tão simples a atividade me pareceu.

Tantas outras coisas das quais eu me julgava incapaz... E não é que eu não era. Estou aqui e estou bem. Numa casa que até sexta ou sábado estará perto dos eternamente inatingíveis cem por cento. Planejando o piquenique comemorativo do fim de semana que vem. Vibrando a cada chamada da minha família e a cada e-mail da Bel.

Retomando o blog.

(Ah, sim, o computador é novo, e está reluzindo ao brilho da minha baba.)

Mas antes, eu dizia que estava com fome.

Pois é, estou com muita fome.

O plano era, depois de arrumar o meu quarto, comer alguma coisa, limpar o último armário que faltava na cozinha e lavar e guardar os copos e taças que compramos hoje.

Tudo muito razoável, portanto.

Todavia, eis que.

(Parênteses para contar o que aconteceu ontem.)

Ontem mi querida y destemida roomate (ella es uruguaya) matou uma barata na cozinha.

Felizmente não presenciei esta cena de horror.

Hoje pedimos para a casa ser dedetizada.

Beleza. O Omar veio aqui hoje à tarde e mandou ver no spray na casa toda. Inclusive, a aranha de um centímetro de diâmetro que morava no meu quarto morreu pouco tempo depois. Achei ótimo.

Acabada a arrumação do meu quarto, portanto, desci para pôr em prática o plano cozinha.

Quando de repente.

Não era uma aranhinha de um centímetro de diâmetro que eu encontrei morta na cozinha.

Sim, era o que vocês estão pensando.

Mind you - a roomate saiu e não chegou ainda.

Naturalmente, a coisa mais razoável a ser feita seria jogar a barata fora, desinfetar o local que abrigou os últimos suspiros da pobre e continuar com o plano.

Só que... Então.
Eu até consegui pregar um calendário na parede.

Aliás, eu consegui, com a ajuda da Bel, montar uma escrivaninha e um criado-mudo. Podem me perguntar o que for sobre parafusos, pregos, chaves de fenda, que vou saber responder.

Consegui tantas coisas que vocês não fazem idéia.

Mas lidar com barata?

Aí não.

Em suma: ela ainda estava agonizante. Depois de uma hora ao telefone com minha tia - que foi acompanhando o processo todo e mostrou-se a melhor AT que jamais existiu -, e de duas tentativas mal sucedidas de resolução do problema - nas quais me aproximei da cozinha, olhei para a barata e fugi chorando sem qualquer esboço de reação prática -, consegui jogar litros de veneno em cima da barata e cobri-la com várias camadas de papel higiênico. Depois, subi correndo para o meu quarto e daqui não saí mais (ah é: meu quarto fica no segundo andar de uma casinha fofa).
Então a vida tem sido assim: tenho me surpreendido com coisas das quais não sabia ser capaz, e fico bem orgulhosa de mim mesma. Por outro lado, muitas vezes ainda fico achando que é pouco. Então o esforço é no sentido de não perder a perspectiva: não perder de vista que o que fiz hoje foi um feito histórico na minha vida, um passo digno de homem que chega à Lua.

Porque, se não for assim... Não vale a pena pensar em termos comparativos. Se eu pensar que minha grande realização da semana foi jogar veneno sobre uma barata, enquanto Michael Phelps no mesmo período ganhou oito medalhas de ouro numa Olimpíada... Bem, mais vale pensar que há dez dias eu não tinha nada, e hoje estou até matando barata na minha casinha. Se isso não for motivo de orgulho, não sei o que é.

O diabo é que estou morta de fome, e cadê a coragem de me aproximar da cozinha?


4) Estou feliz

Sou a pessoa sozinha mais bem acompanhada que há. O Nextel, depois do fogo e da roda, é a terceira grande invenção da humanidade, empatando com o papel-toalha. Falo com minha família várias vezes por dia.

Sou grata aos recados tão afetivos que chegaram a este blog e à minha caixa de entrada.

Estou feliz por viver em uma cidade tão, tão bonita.

Estou muito feliz por esta cidade tão bonita ser dotada de músicas e comidas que estão entre as que mais me agradam.

Sobretudo, estou feliz por estar progredindo nas minhas tentativas de cuidar de mim mesma.

***

UPDATE final-feliz: minha roomate chegou, jogou a barata fora, me acalmou, me felicitou por meu grande feito e ficou comigo enquanto eu jantava. Uma salva de palmas para ela.

Marcadores:

Postar um comentário

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Até daqui a pouco

Estas são as minhas últimas horas aqui no apartamento, e decidi passar parte delas envolvida em uma atividade tão familiar, corriqueira e imprescindível para mim: escrevendo no blog.

Ontem, finalmente, entendi. Saquei o que era a esquisitice que me acompanhava desde algum momento indeterminado da minha festa de despedida. Naquele imponderável momento, parei no meio daquela gente toda e pensei - essas pessoas estão indo embora. E não era: quem estava indo embora era eu. E a festa não era só um substantivo. Era um substantivo acompanhado de... Locução adjetiva? Não sei. Assim como eu não sabia que, na expressão festa de despedida, o mais importante era a despedida, não a festa. Só soube no meio dela, e foi estranho - a festa foi ótima; a despedida, nem tanto.

Estranheza e esquisitice me acompanharam até ontem à noite. Meu pai estava saindo daqui, depois de horas ajudando-me a fazer as malas, quando comecei a falar com uma voz que apenas muito lentamente descobri ser a minha:

Eu tenho medo de que você não vá para lá me visitar. De que isso não seja uma prioridade para você. De que você não se importe mais comigo. De que a gente perca o contato ou a intimidade. Eu tenho medo de que você me esqueça.

Pronto, era isso: eu tenho medo de que as pessoas me esqueçam.

Morar sozinha em terra estrangeira? Pagar as contas? Limpar o banheiro? Fazer as unhas?

Não duvido de que tudo isso seja muito difícil. Mas, sem querer esnobar - na boa, acho que já passei por experiências mais traumáticas do que essas.

Mas o medo de morrer nas e para as pessoas que eu amo - isso é assustador. E agora estou achando que é com isso que venho tentando sonhar ultimamente. Tentando e não conseguindo.

***

Claro que minha família riu desse medo, tão absurdo ele lhes parece. Claro que eu sei que eles não vão me esquecer.

Claro? Claro nada.

Enfim.

***

Então já que estou indo para os Estados Unidos, melhor entrar no clima e pensar alegrias - pus no blog uma música que para mim representa boa parte de tudo o que aquele país tem de melhor: Herbie Hancock, Gershwin, Wayne Shorter e Stevie Wonder - e uma pitada de Canadá, que ninguém é de ferro.

A maravilha da Joni Mitchell - e isso Lyle Mays já disse em entrevista - é que ela não se mistura com ninguém. Ela se sobrepõe a todos eles e faz de Gershwin, Hancock etc. uma experiência musical dela. Summertime vira composição de Joni Mitchell. E, é claro, Summertime nunca mais foi a mesma depois de cantada por ela.

Como gosto de pensar grande, acho que meu objetivo em New Orleans não deve estar nem um milímetro aquém disso: pegar o melhor da cidade, em todos os lugares e sentidos, e fazer disso uma experiência minha - da qual irei rise up singing.

Na verdade, apesar de saber a letra de Summertime de cor, nunca soube do que se tratava (sim, tenho essa peculiaridade com letras de música: decoro fonemas, nunca um texto prenhe de significados). Só vim a descobrir agora que a música fala de alguém que, one of these mornings, irá rise up singing - mas que, till that morning, nada poderá harm esta pessoa, pois daddy and momma estão standing by.

Eu sou o bebê de Summertime, tempos depois: em pleno verão estado-unidense, estou chegando lá para conferir se posso spread minhas wings e take to the sky sem que daddy and momma estejam confortavelmente plantados ao meu lado. Quer dizer - sem, numas. Porque eu acho, sim, que eles não vão me esquecer. Meu pai, minha avó, minhas tias, a Bel e os mais chegados.

***

Acho que devem passar uns bons dez dias até eu conseguir um putador (many thanks, Luiza!), conexão com a internet, tempo e sobretudo estrutura psico-físico-química para voltar a postar aqui. Mas eu volto (dã!). E, até lá... Espero que alguém ainda se lembre. :-)

Marcadores:

Postar um comentário

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

O fim da lista

A saga da digitalização ainda não terminou, mas a lista já:


Ralph Towner - Solstice

Sérgio & Odair Assad - Play Piazzolla

Sérgio Santos - Áfrico

Shirley Horn - You Won't Forget Me

Steely Dan - Aja; Gaucho

Thelonious Monk - Criss Cross; Underground; Thelonious Monk & John Coltrane

Toninho Horta - Serenade; Terra dos Pássaros; Toninho Horta

Wayne Shorter - Alegría; Native Dancer

Wes Montgomery - Full House; Smokin' at the Half Note

Postar um comentário

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Vovó, os sustos e os homens

Então chegou o momento que todos esperavam: o momento do sermão pré-viagem da minha avó.

A despeito de sua quase total ausência neste blog - possivelmente pela incompatibilidade do formato blog com o formato vó -, ela é das pessoas mais presentes na minha vida. Me liga todo dia entre dez e onze, e nunca deixa de protestar no dia seguinte quando não me encontra: "filhinha, por onde você andou?". Freqüentemente eu lhe peço para adivinhar onde eu estava. Ela, é claro, quase sempre acerta: "estava jantando na casa da Bel" ou "saiu com o namoradinho" (faz tempo que ela não aposta na segunda alternativa).

Costumo abrir bem os ouvidos para ouvir o que minha avó tem a dizer, pois ela é uma pessoa inteligente e de opiniões fortes, mas que não hesita em relativizar suas idéias quando confrontada com um argumento convincente, bastando este argumento ser de genuína importância para o interlocutor. Foi assim na semana em que quase morri, quando levei o já histórico e ridículo fora: ela me viu daquele jeito e dizia, filhinha, mas você não pode ficar assim, você mal conhecia o moço!, se você tivesse namorado 3, 4 anos, tudo bem, mas assim não pode!... E ficou repetindo essa idéia, enquanto me embalava, até o embalo surtir o efeito desejado. O ritmo cadenciado do balançar do colo de minha avó fez com que eu me organizasse um pouco - o suficiente para lhe dizer que o tempo cronológico de um relacionamento nada tem a ver com o envolvimento, a intensidade e o investimento que se depositam e se vivem nele.

Quando eu disse isso ela parou o embalo, espantada. Que coisa, disse ela. Bem se via que o que eu acabara de dizer não se adequava à sua experiência (e nem tampouco à experiência que ela tinha de mim - ela nunca presenciara nada semelhante nos 3, 4 anos de namoros passados que ela conhecera tão bem); mas compreendeu, e não duvidou mais, da minha experiência.

Então ontem minha avó me olhou muito séria e disse para eu ser uma boa companhia para as pessoas com quem eu conviver, pois não há nada pior do que gente que reclama de tudo; disse para eu lavar minhas roupas e louças, pois até hoje não se tem notícia de roupas e louças que se tenham lavado sozinhas; disse para eu tomar cuidado naquela terra estranha e cuidar bem das minhas coisas, além de pedir para que eu telefonasse na primeira dor de barriga.

(Minha outra avó, em compensação, nada disse - minhas duas avós têm em comum, além do apreço cá por esta neta, apenas o talento culinário -: minha outra avó apenas chorou. Eu nunca a tinha visto chorar antes.)

O tópico mais relevante do sermão, porém, ainda não fora abordado.

Minha avó o introduziu solenemente, dizendo que viera pensando muito sobre um certo assunto, e que precisava conversar comigo a respeito antes da minha partida.

Então minha avó me disse, basicamente,

1) que eu assusto os homens;

2) que devo cuidar para não assustá-los tanto (os pobres).

Antes de passar ao conteúdo dos conselhos, gostaria de lembrar que, em geral, os jovens e adultos costumam escutar os velhos de maneiras bastante díspares, mas no fundo bem parecidas. Ou desconsideram tudo o que eles têm a dizer, aqueles velhos gagás completamente desconectados da realidade da nossa época - ou agem como se estivessem diante de uma esfinge sagrada e empalhada de sabedoria milenar e inalienável. Sim, as escutas são parecidas: o velho gagá e o velho sábio são duas facetas do mesmo objeto interno esquizo-paranóide, depreciado e super-valorizado - e, sobretudo, desvinculado do objeto-externo que um dia lhe serviu de suporte.

Não que eu tente buscar um inexistente meio-termo quando converso com pessoas idosas em geral ou com minha avó em particular, pois certamente existem velhos gagás e velhos sábios no mundo - e, além disso, não é porque minha avó me oferece muitos conselhos sábios que ela também não me dê de lambuja alguns outros que prefiro ponderar e depois esquecer.

Ao conteúdo, portanto:

1) Infelizmente, não se trata de um conselho, mas de um fato que não tenho como negar. Infelizmente mesmo, pois não gosto de provocar susto ou medo em ninguém, ainda mais se considerarmos que eu mesma sou a maior patife que conheço: não consigo nem ir tomar vacina sozinha com medo de desmaiar, morro de aflição ao pensar na escassez de manicures e depiladoras em New Orleans, acordo de madrugada assustada com um pesadelo com o Onorato.

E, ainda assim, tem quem se assuste. Com uma mulher que tem medo de seringas, da própria coordenação motora com alicates e de músicos de jazz caras-de-pau.

2) Taí um típico conselho da minha avó que espero poder esquecer por toda a vida.

Taí um ótimo exemplo de situação sobre a qual penso não ser eu aquela que deve se adaptar ao mundo, mas o mundo (uma pequeníssima parte dele) é que precisa se adaptar a mim.

Porque, se um homem se assusta comigo, é porque ele não entendeu NADA.

E Deus me livre de cuidar para não assustar alguém que não entendeu nada.

Meus próprios sustos já são suficientes para me manter ocupada.

Meus sustos, e minhas saudades antecipadas.

Marcadores:

Postar um comentário

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

200 de M a Q - xô system failure

A vantagem para o fã de LOST de digitalizar perto de um milhar de CDs é que você descobre uma recém-adquirida empatia por Desmond: assim como ele, sua vida passa a existir em função de um botão. Ele de 108 em 108 minutos, eu de 8 em 8, interrompemos momentaneamente o que quer que estejamos fazendo para acudir ao chamado do botão. Se Desmond falhasse, seria o fim do mundo; para mim, seria um início muito ruim de mundo. Então dá-lhe botão, e ripa na chulipa da Rigmor Gustafsson, que sem cantoras nórdicas não se pode viver.

Antes dela, porém, vem o povo de M a Q:

***

Maria Schneider - Allegresse; Concert In The Garden; Sky Blue

Marvin Gaye - What's Going On

Michael Brecker - Time is of the Essence

Miles Davis - Four & More; E.S.P.; Kind of Blue; My Funny Valentine

Milton Nascimento - Angelus; Clube da Esquina; Clube da Esquina no. 2; Geraes; Milagre dos Peixes; Milton; Minas

Moacir Santos - Coisas; Saudades

Mônica Salmaso - Nem 1 Ai; Voadeira

Nana Caymmi - A Noite do Meu Bem

Nelson Cavaquinho - Nelson Cavaquinho (1972); Nelson Cavaquinho (1973)

Oliver Nelson - The Blues & The Abstract Truth

Orquestra Popular de Câmara - Orquestra Popular de Câmara

(Lá vai:)

Pat Metheny - As Falls Wichita, So Falls Wichita Fallls; Beyond The Missouri Sky; Bright Size Life; First Circle; Letter From Home; Offramp; Pat Metheny Group; Quartet; Secret Story; Still Life (Talking); The Road To You; The Way Up; Travels; Watercolors; We Live Here

Paul Motian - Reincarnation of a Love Bird

Paulinho da Viola - Paulinho da Viola (1971)

Paulo Bellinati - Afro-Sambas

***

Sim: a lista de M a Q vai só ate o P. Quarteto Novo, Quincy Jones, Quinteto Violado, I'm so sorry.

Os entediados podem respirar aliviados: amanhã, a brincadeira acaba. Isso, é claro, se Jacob não mandar um system failure pra cima de mim.

Postar um comentário

sábado, 2 de agosto de 2008

200 - J, K, L

Sem introdução desta vez: vamos direto ao tema.

***

James Taylor - Hourglass; Live

João Gilberto - Amoroso; Chega de Saudade; João Gilberto (1961); Eu Sei Que Vou Te Amar; O Amor, o Sorriso e a Flor

John Coltrane - A Love Supreme; Ballads; Giant Steps

Joni Mitchell - Blue; Both Sides Now; Court & Spark; Hejira; Mingus; Shadows & Light; The Hissing of Summer Lawns

Keith Jarrett - Belonging; Death & The Flower; Facing You; Köln Concert; My Song; Survivor's Suite; The Melody At Night, With You; Whisper Not

Luciana Souza - Brazilian Duos

Lyle Mays - Lyle Mays

***

Pra quem perdeu o começo da brincadeira e/ou não entendeu os critérios de inclusão na lista, agarre o fio da meada aqui.

Postar um comentário

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

A idéia era ir até o banco

Que fica praticamente na esquina de casa. Então eu fui. Só que eu fui que fui. Passei banco, mercado, posto, locadora, padaria e quando vi, já estava quase em outro bairro.

Dei meia-volta agradecendo aos céus que a Bel, uma pessoa boa, altruísta e equilibrada, estará comigo nos primeiros dias de New Orleans fazendo o meu AT*.

Pois nunca estive tão concreta: gravar disquinho, tomar vacina, arrumar mala; um, dois, feijão com arroz. É o máximo a que meu pensamento chega. Lembra um pouco a angústia pré-vestibular de anos atrás. Fiz dois vestibulares na vida e, nas duas vezes, sofri de uma angústia que se manifestou em duas fases. Primeiramente, indo para a escola onde eu faria a prova, o medo era de ter esquecido o RG. Eu desenvolvia, assim, um TOC momentâneo, conferindo a cada 2 minutos se ele estava mesmo na bolsa. Pior: eu tinha certeza de que, mesmo se o RG estivesse lá, não ia adiantar, pois ele não seria aceito por algum motivo estroboscópico qualquer. Quando enfim eu entrava na sala, acabava o problema do RG e sobrevinha a angústia pré-prova: "sua idiota, o que você ficou fazendo esses meses todos que não estudou direito e só jogou paciência?" E eu virava uma Socratinha - só sabia que nada sabia, e me doía o estômago.

Até a prova chegar. Quando o tomador-de-conta da sala finalmente nos permitia abrir a prova e sentar o pau na máquina, eu me divertia muito. Pulava as questões de física e química, que ninguém é de ferro, gabaritava em português e inglês, que algum talento se há de ter, e me virava em todo o resto. Nas duas vezes, fiz o suficiente para passar.

Até aqui, a coisa vem se repetindo. A fase do RG foi na época do visto. Eu tinha certeza de que o entrevistador encontraria algum problema na minha documentação e não me concederia visto algum. Só que a viagem da minha casa até a escola durava quinze minutos. O processo de obtenção do visto, mais de mês.

E agora estou na fase recriminatória. Mais uma vez, a culpa de tudo é a paciência. Quem mandou ficar jogando paciência em vez de... De... Bom, desta vez não sei o que eu poderia ter feito em vez de jogar paciência, mas não é esse o ponto. O ponto é o medo. Enquanto não vejo a prova aberta na minha frente.

Até lá, estou aceitando voluntários para revezar o Acompanhamento Terapêutico com a Bel.

E, chegando lá, espero me divertir com a prova.


*O Acompanhamento Terapêutico, para quem não sabe, é uma modalidade de atendimento psicológico que ultrapassa as paredes do consultório, podendo se realizar na casa do paciente, em instituições ou espaços públicos.

Marcadores: