Inúteis pirações musicais, parte 1: os meus 200
Imagino que qualquer um que goste demais de uma coisa qualquer tenha certos devaneios cuja possibilidade de compartilhamento com o mundo exterior seja bastante restrita. No caso desta qualquer uma que aqui escreve, a qualquer coisa é música, e um dos muitos devaneios que a cercam é minha imaginária lista dos 200 discos preferidos.
E por que 200? Muito simples: porque esse é um número aproximado muito mais realista do que os cabalísticos 7, 10 ou mesmo 100. Duzentos é um número que suponho próximo de contemplar todos os discos que realmente importam para mim. Vamos reformular esta frase: discos que importam há muito mais; os 200, mais ou menos, são aqueles que moldaram minha vida, que definem meus parâmetros estéticos de excelência, que em alguma época da minha vida eu soube - e freqüentemente ainda sei - de cor, que me fizeram chorar, gargalhar, arrepiar, coçar e toda uma série de reações físicas que demonstram cabalmente a falácia da dissociação entre o puramente físico e o emocional.
Mas é claro que esta lista não existe concretamente nem na minha cabeça, pois nunca tive vontade, possibilidade ou motivos para compilá-la. Fazer um brainstorm desses 200 discos é a tarefa mais fácil do mundo, no primeiro minuto - já a empreendi algumas vezes, em conversas com amigos -, mas no segundo minuto começam as dúvidas: não estou esquecendo nenhum do Tom? E do Horta, lembrei de todos? E os discos de saxofonista, são só esses mesmo? No terceiro minuto, a conversa geralmente estaciona no Tom, no Horta ou no que quer que atice a sensibilidade do interlocutor com mais veemência naquele dado momento. Afinal, melhor ficar com um Passarim na mão do que tentar inutilmente capturar dois saxofonistas voando.
A função dos 200, assim, resume-se a pontuar enfaticamente algumas opiniões. Segue um exemplo clássico de sua utilização: no meio de uma conversa sobre, digamos, Moacir Santos, eu lanço um "putz! Saudade tá super entre os meus 200", no que o interlocutor retruca "sim, esse tá no topo dos meus 200 também", sendo que o topo possui a imensa e reconfortante vantagem de ser da extensão que o dono da lista quiser.
Por tudo isso, o destino dos 200 parecia ser mesmo o folclore: uma lista não-escrita e não-pensada, mas nem por isso menos verdadeira.
Quando eis que surge uma oportunidade única de trazer os 200 à vida.
Porque eu vou selecionar as roupas que irei levar para New Orleans; vou selecionar os livros e os sapatos; mas os discos, esses eu não seleciono de jeito nenhum.
Estou digitalizando tudo o que tenho e de que gosto pelo menos um pouquinho. Para ser sincera, mesmo os discos sabidamente ruins e que jamais ouvirei de novo estou copiando, com a desculpa de que é para ter a "referência" (como se eu trabalhasse com isso e algum dia fosse precisar de uma referência de "choro com teclados dos anos 80" ou similares). A verdade é que não estou pensando: estou copiando. Pois é exatamente este o ponto: já estou deixando para trás coisas e pessoas demais na minha vida; música, não. Minha tia vai continuar no Brasil, assim como a Liga e as obras completas do Ogden - mas um disco de choro com teclados DX7, isso ninguém me tira!
A grande oportunidade que a digitalização me oferece é de passar a limpo todos os discos que foram importantes para mim (fora os tantos que baixei e nunca ouvi) - porque, se um determinado disco foi importante, eu o adquiri. Tem também, é claro, os muito importantes que por um motivo qualquer atualmente não possuo - mas desses é fácil lembrar, em meio ao entra e sai de disquinhos no (com)putador.
Chegou o momento, portanto, de fazer a lista* passar do folclore à realidade.
Meus discos estão classificados em ordem alfabética, a única que para mim faz algum sentido quando se trata de música. Como por enquanto a digitalização ainda está na letra E, seguem os eméritos integrantes da minha Lista dos 200, de A a D:
Alison Krauss & Union Station - Lonely Runs Both Ways
André Geraissati - SOLO
André Mehmari - De Árvores e Valsas
Antonio Carlos Jobim - Inédito; Matita Perê; Passarim; Stone Flower; Terra Brasilis; Urubu; Wave
Astor Piazzolla - La Camorra
Bill Evans - Alone; At The Montreux Jazz Festival; Conversations With Myself; How My Heart Sings; The Complete Village Vanguard Recordings, 1961; You Must Believe In Spring
Billie Holiday - Songs For Distingué Lovers
Björk - Post
Brad Mehldau - Art of The Trio, vol. 5
Brian Blade - Perceptual
Cartola - Cartola (1976)
Charles Mingus - Ah Um
Chico Buarque - Chico Buarque (1978)
Claudia Acuña - Luna
Clementina de Jesus, Pixinguinha e João da Bahiana - Gente da Antiga
D'Alma - A Quem Interessar Possa
Dori Caymmi - Dori Caymmi (1980); Dori Caymmi (1982)
Dorival Caymmi - Canções Praieiras; Caymmi e o Mar
Duke Ellington & John Coltrane - Duke Ellington & John Coltrane
***
Quando eu chegar no H ou I, posto os próximos discos. Afinal, blog é pra essas coisas.
* Que, graças a Jacob, está sempre em expansão - esta é outra vantagem do número 200, grande o bastante para abrigar novas descobertas; e, se e quando esse número não for mais suficiente, que se rebatize a lista como "dos 300", e assim sucessivamente.
E por que 200? Muito simples: porque esse é um número aproximado muito mais realista do que os cabalísticos 7, 10 ou mesmo 100. Duzentos é um número que suponho próximo de contemplar todos os discos que realmente importam para mim. Vamos reformular esta frase: discos que importam há muito mais; os 200, mais ou menos, são aqueles que moldaram minha vida, que definem meus parâmetros estéticos de excelência, que em alguma época da minha vida eu soube - e freqüentemente ainda sei - de cor, que me fizeram chorar, gargalhar, arrepiar, coçar e toda uma série de reações físicas que demonstram cabalmente a falácia da dissociação entre o puramente físico e o emocional.
Mas é claro que esta lista não existe concretamente nem na minha cabeça, pois nunca tive vontade, possibilidade ou motivos para compilá-la. Fazer um brainstorm desses 200 discos é a tarefa mais fácil do mundo, no primeiro minuto - já a empreendi algumas vezes, em conversas com amigos -, mas no segundo minuto começam as dúvidas: não estou esquecendo nenhum do Tom? E do Horta, lembrei de todos? E os discos de saxofonista, são só esses mesmo? No terceiro minuto, a conversa geralmente estaciona no Tom, no Horta ou no que quer que atice a sensibilidade do interlocutor com mais veemência naquele dado momento. Afinal, melhor ficar com um Passarim na mão do que tentar inutilmente capturar dois saxofonistas voando.
A função dos 200, assim, resume-se a pontuar enfaticamente algumas opiniões. Segue um exemplo clássico de sua utilização: no meio de uma conversa sobre, digamos, Moacir Santos, eu lanço um "putz! Saudade tá super entre os meus 200", no que o interlocutor retruca "sim, esse tá no topo dos meus 200 também", sendo que o topo possui a imensa e reconfortante vantagem de ser da extensão que o dono da lista quiser.
Por tudo isso, o destino dos 200 parecia ser mesmo o folclore: uma lista não-escrita e não-pensada, mas nem por isso menos verdadeira.
Quando eis que surge uma oportunidade única de trazer os 200 à vida.
Porque eu vou selecionar as roupas que irei levar para New Orleans; vou selecionar os livros e os sapatos; mas os discos, esses eu não seleciono de jeito nenhum.
Estou digitalizando tudo o que tenho e de que gosto pelo menos um pouquinho. Para ser sincera, mesmo os discos sabidamente ruins e que jamais ouvirei de novo estou copiando, com a desculpa de que é para ter a "referência" (como se eu trabalhasse com isso e algum dia fosse precisar de uma referência de "choro com teclados dos anos 80" ou similares). A verdade é que não estou pensando: estou copiando. Pois é exatamente este o ponto: já estou deixando para trás coisas e pessoas demais na minha vida; música, não. Minha tia vai continuar no Brasil, assim como a Liga e as obras completas do Ogden - mas um disco de choro com teclados DX7, isso ninguém me tira!
A grande oportunidade que a digitalização me oferece é de passar a limpo todos os discos que foram importantes para mim (fora os tantos que baixei e nunca ouvi) - porque, se um determinado disco foi importante, eu o adquiri. Tem também, é claro, os muito importantes que por um motivo qualquer atualmente não possuo - mas desses é fácil lembrar, em meio ao entra e sai de disquinhos no (com)putador.
Chegou o momento, portanto, de fazer a lista* passar do folclore à realidade.
Meus discos estão classificados em ordem alfabética, a única que para mim faz algum sentido quando se trata de música. Como por enquanto a digitalização ainda está na letra E, seguem os eméritos integrantes da minha Lista dos 200, de A a D:
Alison Krauss & Union Station - Lonely Runs Both Ways
André Geraissati - SOLO
André Mehmari - De Árvores e Valsas
Antonio Carlos Jobim - Inédito; Matita Perê; Passarim; Stone Flower; Terra Brasilis; Urubu; Wave
Astor Piazzolla - La Camorra
Bill Evans - Alone; At The Montreux Jazz Festival; Conversations With Myself; How My Heart Sings; The Complete Village Vanguard Recordings, 1961; You Must Believe In Spring
Billie Holiday - Songs For Distingué Lovers
Björk - Post
Brad Mehldau - Art of The Trio, vol. 5
Brian Blade - Perceptual
Cartola - Cartola (1976)
Charles Mingus - Ah Um
Chico Buarque - Chico Buarque (1978)
Claudia Acuña - Luna
Clementina de Jesus, Pixinguinha e João da Bahiana - Gente da Antiga
D'Alma - A Quem Interessar Possa
Dori Caymmi - Dori Caymmi (1980); Dori Caymmi (1982)
Dorival Caymmi - Canções Praieiras; Caymmi e o Mar
Duke Ellington & John Coltrane - Duke Ellington & John Coltrane
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Quando eu chegar no H ou I, posto os próximos discos. Afinal, blog é pra essas coisas.
* Que, graças a Jacob, está sempre em expansão - esta é outra vantagem do número 200, grande o bastante para abrigar novas descobertas; e, se e quando esse número não for mais suficiente, que se rebatize a lista como "dos 300", e assim sucessivamente.
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