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quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Até daqui a pouco

Estas são as minhas últimas horas aqui no apartamento, e decidi passar parte delas envolvida em uma atividade tão familiar, corriqueira e imprescindível para mim: escrevendo no blog.

Ontem, finalmente, entendi. Saquei o que era a esquisitice que me acompanhava desde algum momento indeterminado da minha festa de despedida. Naquele imponderável momento, parei no meio daquela gente toda e pensei - essas pessoas estão indo embora. E não era: quem estava indo embora era eu. E a festa não era só um substantivo. Era um substantivo acompanhado de... Locução adjetiva? Não sei. Assim como eu não sabia que, na expressão festa de despedida, o mais importante era a despedida, não a festa. Só soube no meio dela, e foi estranho - a festa foi ótima; a despedida, nem tanto.

Estranheza e esquisitice me acompanharam até ontem à noite. Meu pai estava saindo daqui, depois de horas ajudando-me a fazer as malas, quando comecei a falar com uma voz que apenas muito lentamente descobri ser a minha:

Eu tenho medo de que você não vá para lá me visitar. De que isso não seja uma prioridade para você. De que você não se importe mais comigo. De que a gente perca o contato ou a intimidade. Eu tenho medo de que você me esqueça.

Pronto, era isso: eu tenho medo de que as pessoas me esqueçam.

Morar sozinha em terra estrangeira? Pagar as contas? Limpar o banheiro? Fazer as unhas?

Não duvido de que tudo isso seja muito difícil. Mas, sem querer esnobar - na boa, acho que já passei por experiências mais traumáticas do que essas.

Mas o medo de morrer nas e para as pessoas que eu amo - isso é assustador. E agora estou achando que é com isso que venho tentando sonhar ultimamente. Tentando e não conseguindo.

***

Claro que minha família riu desse medo, tão absurdo ele lhes parece. Claro que eu sei que eles não vão me esquecer.

Claro? Claro nada.

Enfim.

***

Então já que estou indo para os Estados Unidos, melhor entrar no clima e pensar alegrias - pus no blog uma música que para mim representa boa parte de tudo o que aquele país tem de melhor: Herbie Hancock, Gershwin, Wayne Shorter e Stevie Wonder - e uma pitada de Canadá, que ninguém é de ferro.

A maravilha da Joni Mitchell - e isso Lyle Mays já disse em entrevista - é que ela não se mistura com ninguém. Ela se sobrepõe a todos eles e faz de Gershwin, Hancock etc. uma experiência musical dela. Summertime vira composição de Joni Mitchell. E, é claro, Summertime nunca mais foi a mesma depois de cantada por ela.

Como gosto de pensar grande, acho que meu objetivo em New Orleans não deve estar nem um milímetro aquém disso: pegar o melhor da cidade, em todos os lugares e sentidos, e fazer disso uma experiência minha - da qual irei rise up singing.

Na verdade, apesar de saber a letra de Summertime de cor, nunca soube do que se tratava (sim, tenho essa peculiaridade com letras de música: decoro fonemas, nunca um texto prenhe de significados). Só vim a descobrir agora que a música fala de alguém que, one of these mornings, irá rise up singing - mas que, till that morning, nada poderá harm esta pessoa, pois daddy and momma estão standing by.

Eu sou o bebê de Summertime, tempos depois: em pleno verão estado-unidense, estou chegando lá para conferir se posso spread minhas wings e take to the sky sem que daddy and momma estejam confortavelmente plantados ao meu lado. Quer dizer - sem, numas. Porque eu acho, sim, que eles não vão me esquecer. Meu pai, minha avó, minhas tias, a Bel e os mais chegados.

***

Acho que devem passar uns bons dez dias até eu conseguir um putador (many thanks, Luiza!), conexão com a internet, tempo e sobretudo estrutura psico-físico-química para voltar a postar aqui. Mas eu volto (dã!). E, até lá... Espero que alguém ainda se lembre. :-)

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