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segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Estou aqui, um pouco bem e um pouco aflita, estou com fome, estou feliz

E já começo com uma desistência, que sou brasileira e desisto sempre. No caso, de contar tudo o que aconteceu - a chegada, a busca por uma casa, a umidade que gruda na pele, a saga da troca de casa, a mala perdida, a melhor cole slaw da história, a mala reencontrada, a Bel o tempo todo, a Bel indo embora, as saudades no estômago, o Nextel a mil, a matrícula sendo feita.

Passo, então, ao que se passa agora.

1) Estou aqui.

Há dez dias, eu não sabia de nada. Onde e com quem iria morar, em que cama dormir, que vizinhos cumprimentar, em que restaurante almoçar.

Hoje tenho o maior alívio e orgulho de dizer que estou instalada neste quartinho aqui:




Com esta pessoa aqui:


Está aberta a temporada de adivinhações: como se chama minha querida roomate? A única pista é: o nome dela é a maior coincidência das galáxias. E mais não digo.

Mais fotos seguirão em breve, que a maioria está na câmera da Bel.


2) Um pouco bem, um pouco aflita.

Estou lenta. Um pouco pelo calor, um pouco pelo desconhecimento; tarefas banais, como tomar banho, por exemplo, são agora ressignificadas: tenho de me abaixar para pegar o xampu; ainda não me acostumei à cortina no lugar do box de vidro; às vezes me perco na ordem dos cremes a passar. A vida fica confusa sem uma rotina - nem que seja a rotina do banho.

Estou cansada, mas quase não percebo.

A partida da Bel foi bem difícil.

Da minha família também. Mas, enquanto eu me despedia do meu pai, da minha avó e das minhas tias, ela estava comigo.

Quando me despedi dela, não havia ninguém ao meu lado.

Mas eu consegui. Eu fiz um plano. Criei uma rotina. Nos minutos que antecederam a partida dela, eu só conseguia - eu só podia - repetir para mim mesma: comprar hidratante, pegar táxi; hidratante, táxi. E assim eu fiz. Comprei um hidratante novo, vim de táxi para casa e terminei a faxina do banheiro em homenagem a ela.

Fiquei bem.


3) Estou com fome

Tirando as despedidas, hoje enfrentei o maior desafio da viagem inteira.

Antes disso, tive também um dos momentos mais felizes: finalmente terminei de arrumar o meu quarto, do jeito que eu queria, e fiquei imaginando o que minha família e a Bel vão achar dele. Eles eu não sei, mas eu adorei e, principalmente, já me apropriei totalmente. Outras partes da casa ainda estão por ser desbravadas e conquistadas. Mas o quarto é meu.

Há pouco, enquanto eu arrumava os últimos detalhes, pregando um calendário na parede, lembrei-me de que há poucos meses pedi para o meu pai fazer isso por mim, no meu ex-quarto de São Paulo. "Pregar um troço na parede, como assim", foi meu pensamento na época. Nem cogitei a possibilidade de fazê-lo sozinha.

Hoje, nem cogitei a possibilidade de não fazê-lo, tão simples a atividade me pareceu.

Tantas outras coisas das quais eu me julgava incapaz... E não é que eu não era. Estou aqui e estou bem. Numa casa que até sexta ou sábado estará perto dos eternamente inatingíveis cem por cento. Planejando o piquenique comemorativo do fim de semana que vem. Vibrando a cada chamada da minha família e a cada e-mail da Bel.

Retomando o blog.

(Ah, sim, o computador é novo, e está reluzindo ao brilho da minha baba.)

Mas antes, eu dizia que estava com fome.

Pois é, estou com muita fome.

O plano era, depois de arrumar o meu quarto, comer alguma coisa, limpar o último armário que faltava na cozinha e lavar e guardar os copos e taças que compramos hoje.

Tudo muito razoável, portanto.

Todavia, eis que.

(Parênteses para contar o que aconteceu ontem.)

Ontem mi querida y destemida roomate (ella es uruguaya) matou uma barata na cozinha.

Felizmente não presenciei esta cena de horror.

Hoje pedimos para a casa ser dedetizada.

Beleza. O Omar veio aqui hoje à tarde e mandou ver no spray na casa toda. Inclusive, a aranha de um centímetro de diâmetro que morava no meu quarto morreu pouco tempo depois. Achei ótimo.

Acabada a arrumação do meu quarto, portanto, desci para pôr em prática o plano cozinha.

Quando de repente.

Não era uma aranhinha de um centímetro de diâmetro que eu encontrei morta na cozinha.

Sim, era o que vocês estão pensando.

Mind you - a roomate saiu e não chegou ainda.

Naturalmente, a coisa mais razoável a ser feita seria jogar a barata fora, desinfetar o local que abrigou os últimos suspiros da pobre e continuar com o plano.

Só que... Então.
Eu até consegui pregar um calendário na parede.

Aliás, eu consegui, com a ajuda da Bel, montar uma escrivaninha e um criado-mudo. Podem me perguntar o que for sobre parafusos, pregos, chaves de fenda, que vou saber responder.

Consegui tantas coisas que vocês não fazem idéia.

Mas lidar com barata?

Aí não.

Em suma: ela ainda estava agonizante. Depois de uma hora ao telefone com minha tia - que foi acompanhando o processo todo e mostrou-se a melhor AT que jamais existiu -, e de duas tentativas mal sucedidas de resolução do problema - nas quais me aproximei da cozinha, olhei para a barata e fugi chorando sem qualquer esboço de reação prática -, consegui jogar litros de veneno em cima da barata e cobri-la com várias camadas de papel higiênico. Depois, subi correndo para o meu quarto e daqui não saí mais (ah é: meu quarto fica no segundo andar de uma casinha fofa).
Então a vida tem sido assim: tenho me surpreendido com coisas das quais não sabia ser capaz, e fico bem orgulhosa de mim mesma. Por outro lado, muitas vezes ainda fico achando que é pouco. Então o esforço é no sentido de não perder a perspectiva: não perder de vista que o que fiz hoje foi um feito histórico na minha vida, um passo digno de homem que chega à Lua.

Porque, se não for assim... Não vale a pena pensar em termos comparativos. Se eu pensar que minha grande realização da semana foi jogar veneno sobre uma barata, enquanto Michael Phelps no mesmo período ganhou oito medalhas de ouro numa Olimpíada... Bem, mais vale pensar que há dez dias eu não tinha nada, e hoje estou até matando barata na minha casinha. Se isso não for motivo de orgulho, não sei o que é.

O diabo é que estou morta de fome, e cadê a coragem de me aproximar da cozinha?


4) Estou feliz

Sou a pessoa sozinha mais bem acompanhada que há. O Nextel, depois do fogo e da roda, é a terceira grande invenção da humanidade, empatando com o papel-toalha. Falo com minha família várias vezes por dia.

Sou grata aos recados tão afetivos que chegaram a este blog e à minha caixa de entrada.

Estou feliz por viver em uma cidade tão, tão bonita.

Estou muito feliz por esta cidade tão bonita ser dotada de músicas e comidas que estão entre as que mais me agradam.

Sobretudo, estou feliz por estar progredindo nas minhas tentativas de cuidar de mim mesma.

***

UPDATE final-feliz: minha roomate chegou, jogou a barata fora, me acalmou, me felicitou por meu grande feito e ficou comigo enquanto eu jantava. Uma salva de palmas para ela.

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