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quarta-feira, 30 de julho de 2008

Os 200 de E a I

Então estou completamente bitolada. E está engraçadíssimo porque nunca pensei nas coisas desse jeito. Tudo, agora, são iniciais: no meu aparentemente infindável processo de digitalizar e queimar todos os meus discos, dentro de poucos minutos chegarei à letra J, e a sensação é de que dela não sairei jamais, pois minhas prateleiras abrigam quatro grandes enjotados: James Taylor, João Gilberto, John Coltrane e Joni Mitchell. Já o I, por exemplo, foi ridículo, só tem praticamente Ivan Lins. Assim como o F, que quase não vai além do Frank Sinatra. Incrível, repito, como nunca pensei sobre música nesses termos: há pouquíssimos efes e is na minha vida! Ou melhor, é absolutamente crível, porque convenhamos - quanta bobagem.

Mas, como eu ia dizendo, blog é pra essas coisas, então continuemos com a bobajada. Meus dois outros grandes entraves, depois do J, serão o M e o P. O eme é de lei, como todo jogador de stop bem sabe: é a letra que todo mundo torce pra sair, a letra que gera um STOP! em menos de um minuto. Nos meus CDs, claro, também vigora a abundância dos iniciados por eme. Com a grande diferença de que, exatamente por isso, o STOP! demorará muito mais a sair.

Mas o P... O pê, com seus Pats, Pauls, Paulos e Paulinhos, vai ser ainda mais complicado. O pê vale por uns dez efes e is.

Agora repitam comigo esta frase, esta pérola de sabedoria, este ensinamento que certamente iluminará o seu dia:

"O pê vale por uns dez efes e is."

Bom. Depois de tantos raciocínios primorosos - eu diria, até, acadêmicos em seu rigor -, passemos sem mais delongas à continuação da lista:


E.S.T. - Seven Days of Falling

Eberhard Weber - The Following Morning

Edu Lobo - Cantiga de Longe

Elis Regina - Elis (1973); Elis (1974); Essa Mulher; Elis Especial; Elis & Tom

Ella Fitzgerald - The Cole Porter Songbook; Porgy & Bess

Ennio Morricone - Cinema Paradiso

Everything But The Girl - Amplified Heart

Frank Sinatra - Songs For Young Lovers; Swing Easy; Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim; Sinatra/Basie

Fred Hersch - Leaves of Grass

Gal Costa - Aquarela do Brasil

Guinga - Delírio Carioca; Noturno Copacabana

Herbie Hancock - Maiden Voyage; Speak Like a Child

Hermeto Pascoal - Festa dos Deuses

Horace Silver - Song For My Father

Ivan Lins - A Noite; Cantando Histórias; Somos Todos Iguais Esta Noite

***

Como o Francisco, o Mariano e o Mandacaru devem ter reparado, quando o disco é de dois ou mais artistas estou classificando-o sob o nome do primeiro - não é assim que o mundo das letras e das ciências funciona? O melhor e mais popular dicionário de Psicanálise, por exemplo, é mundialmente conhecido como Laplanche; apenas os chatos dizem Laplanche e Pontalis. Da mesma forma, Elis & Tom fica catalogado sob Elis, e assim por diante*. Além disso, haja paciência pra ficar escrevendo Fulaninho Trio, Fulaninho Quartet, Fulaninho & Banda, The Fulaninho Group, Fulaninho & Sua Orquestra. Tudo isso está virando, simplesmente, "Fulaninho".

Para amanhã, um projeto ambicioso: o J e o K (que também é de respeito, por causa dos Keiths). Desejem-me boa sorte.


* Ainda na graduação, eu achava esse sistema muito injusto, pois ele implicava que, na dupla dinâmica Botter & Pavanelli, apenas a Bel seria famosa. Tranqüilizei-me quando descobri que Pontalis é O cara - há esperança no mundo para as pessoas com sobrenome em P.

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segunda-feira, 28 de julho de 2008

No Amálgama

Você é incapaz de ler "ei-ei-eimael..." ou "lula-lá!" sem que imediatamente lhe ocorram melodias detestáveis à cabeça? Pois então este texto foi escrito especialmente para você. Descubra os bastidores do processo de composição de um jingle - e, se além disso você descobrir também a identidade secreta de Morgado e Genésio, conte aqui nos comentários e ganhe um lindo brinde (que ainda não defini o que vai ser, mas até alguém comentar eu penso em alguma coisa).

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domingo, 27 de julho de 2008

Inúteis pirações musicais, parte 1: os meus 200

Imagino que qualquer um que goste demais de uma coisa qualquer tenha certos devaneios cuja possibilidade de compartilhamento com o mundo exterior seja bastante restrita. No caso desta qualquer uma que aqui escreve, a qualquer coisa é música, e um dos muitos devaneios que a cercam é minha imaginária lista dos 200 discos preferidos.

E por que 200? Muito simples: porque esse é um número aproximado muito mais realista do que os cabalísticos 7, 10 ou mesmo 100. Duzentos é um número que suponho próximo de contemplar todos os discos que realmente importam para mim. Vamos reformular esta frase: discos que importam há muito mais; os 200, mais ou menos, são aqueles que moldaram minha vida, que definem meus parâmetros estéticos de excelência, que em alguma época da minha vida eu soube - e freqüentemente ainda sei - de cor, que me fizeram chorar, gargalhar, arrepiar, coçar e toda uma série de reações físicas que demonstram cabalmente a falácia da dissociação entre o puramente físico e o emocional.

Mas é claro que esta lista não existe concretamente nem na minha cabeça, pois nunca tive vontade, possibilidade ou motivos para compilá-la. Fazer um brainstorm desses 200 discos é a tarefa mais fácil do mundo, no primeiro minuto - já a empreendi algumas vezes, em conversas com amigos -, mas no segundo minuto começam as dúvidas: não estou esquecendo nenhum do Tom? E do Horta, lembrei de todos? E os discos de saxofonista, são só esses mesmo? No terceiro minuto, a conversa geralmente estaciona no Tom, no Horta ou no que quer que atice a sensibilidade do interlocutor com mais veemência naquele dado momento. Afinal, melhor ficar com um Passarim na mão do que tentar inutilmente capturar dois saxofonistas voando.

A função dos 200, assim, resume-se a pontuar enfaticamente algumas opiniões. Segue um exemplo clássico de sua utilização: no meio de uma conversa sobre, digamos, Moacir Santos, eu lanço um "putz! Saudade tá super entre os meus 200", no que o interlocutor retruca "sim, esse tá no topo dos meus 200 também", sendo que o topo possui a imensa e reconfortante vantagem de ser da extensão que o dono da lista quiser.

Por tudo isso, o destino dos 200 parecia ser mesmo o folclore: uma lista não-escrita e não-pensada, mas nem por isso menos verdadeira.

Quando eis que surge uma oportunidade única de trazer os 200 à vida.

Porque eu vou selecionar as roupas que irei levar para New Orleans; vou selecionar os livros e os sapatos; mas os discos, esses eu não seleciono de jeito nenhum.

Estou digitalizando tudo o que tenho e de que gosto pelo menos um pouquinho. Para ser sincera, mesmo os discos sabidamente ruins e que jamais ouvirei de novo estou copiando, com a desculpa de que é para ter a "referência" (como se eu trabalhasse com isso e algum dia fosse precisar de uma referência de "choro com teclados dos anos 80" ou similares). A verdade é que não estou pensando: estou copiando. Pois é exatamente este o ponto: já estou deixando para trás coisas e pessoas demais na minha vida; música, não. Minha tia vai continuar no Brasil, assim como a Liga e as obras completas do Ogden - mas um disco de choro com teclados DX7, isso ninguém me tira!

A grande oportunidade que a digitalização me oferece é de passar a limpo todos os discos que foram importantes para mim (fora os tantos que baixei e nunca ouvi) - porque, se um determinado disco foi importante, eu o adquiri. Tem também, é claro, os muito importantes que por um motivo qualquer atualmente não possuo - mas desses é fácil lembrar, em meio ao entra e sai de disquinhos no (com)putador.

Chegou o momento, portanto, de fazer a lista* passar do folclore à realidade.

Meus discos estão classificados em ordem alfabética, a única que para mim faz algum sentido quando se trata de música. Como por enquanto a digitalização ainda está na letra E, seguem os eméritos integrantes da minha Lista dos 200, de A a D:

Alison Krauss & Union Station - Lonely Runs Both Ways

André Geraissati - SOLO

André Mehmari - De Árvores e Valsas

Antonio Carlos Jobim - Inédito; Matita Perê; Passarim; Stone Flower; Terra Brasilis; Urubu; Wave

Astor Piazzolla - La Camorra

Bill Evans - Alone; At The Montreux Jazz Festival; Conversations With Myself; How My Heart Sings; The Complete Village Vanguard Recordings, 1961; You Must Believe In Spring

Billie Holiday - Songs For Distingué Lovers

Björk - Post

Brad Mehldau - Art of The Trio, vol. 5

Brian Blade - Perceptual

Cartola - Cartola (1976)

Charles Mingus - Ah Um

Chico Buarque - Chico Buarque (1978)

Claudia Acuña - Luna

Clementina de Jesus, Pixinguinha e João da Bahiana - Gente da Antiga

D'Alma - A Quem Interessar Possa

Dori Caymmi - Dori Caymmi (1980); Dori Caymmi (1982)

Dorival Caymmi - Canções Praieiras; Caymmi e o Mar

Duke Ellington & John Coltrane - Duke Ellington & John Coltrane

***

Quando eu chegar no H ou I, posto os próximos discos. Afinal, blog é pra essas coisas.


* Que, graças a Jacob, está sempre em expansão - esta é outra vantagem do número 200, grande o bastante para abrigar novas descobertas; e, se e quando esse número não for mais suficiente, que se rebatize a lista como "dos 300", e assim sucessivamente.

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sexta-feira, 25 de julho de 2008

Complexo de Édipo

Prova irrefutável de que padeci do Complexo de Édipo: Os livros dos meus pais possuíam um carimbo logo na página de rosto, onde se lia "propriedade de Olivio e Agar". Talvez este carimbo tenha algo a ver com o Círculo do Livro, mas não estou bem certa. O fato é que a visão dos nomes deles unidos pela posse de um livro - ou antes, como se o livro fosse fruto da união deles - impressionou-me a ponto de transpor a coisa para os CDs, só que - claro - com meu nome substituindo o de minha mãe. Fiz e imprimi diversas etiquetinhas com as palavras "Olivio e Camila", e fui grudando uma a uma no verso dos nossos CDs, por sob a embalagem de acrílico. Dava um trabalho desgraçado, pois era necessário desmontar as caixinhas de CD uma a uma.

Prova adicional de que padeci do Complexo de Édipo: Quando anos depois - mas ainda muito antes de descobrir que Freud e Froid eram a mesma pessoa - me dei conta da semelhança entre carimbo e etiqueta e do que ela implicava, senti vergonha.

Prova irrefutável de que, mal-e-mal, elaborei o Complexo de Édipo: Muito rapidamente o desmontamento de caixinhas cansou a minha beleza e as etiquetas perderam toda a graça e o sentido. Os CDs etiquetados vão só até a letra C.

Prova adicional de que, mal-e-mal, elaborei o Complexo de Édipo: Hoje acho muita graça nessa história toda.

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Feia, boba, chata. E idiota.

Estou num daqueles momentos. Nos quais tudo aponta para a minha própria feiúra, bobeira e chatice. Inclusive este bitchin' & moanin' post.

Porque não consigo pensar psicanaliticamente - profundamente, desconstrutivamente - sobre quem se relaciona comigo. Com quem se relaciona comigo, só consigo aplicar a máxima "a explicação mais simples geralmente é a mais correta". E quando alguém dá um fora em alguém, a explicação mais simples é que o alguém no. 1 não gosta do alguém no. 2 - explicação absolutamente válida para todos os foras que já dei na minha vida. Nunca terminei com ninguém por causa de "circunstância" alguma - todas as vezes que encerrei alguma coisa foi tão-somente por não gostar da pessoa, ou não gostar dela do jeito que eu gostaria de gostar. Porque gostar, a gente sempre gosta, das pessoas queridas. Coisa que a maioria dos ex-bachelors da minha vida são: pessoas queridas. Mas faltava o gostar-gostar. Quando é assim, só resta mesmo terminar.

Então, depois do dramático, patético, humorístico e absolutamente verdadeiro Grande Amor Da Minha Vida - depois de muito sofrimento, muito Häagen-Dasz no pote e muitos posts ridículos - eu recentemente me descubro gostandinho de uma pessoinha. Que rapidamente se converteu num bachelor. E mais rápida e surpreendentemente ainda passou a ex-bachelor.

E agora os amigos e mesmo o ex-bachelor ficam ou ficaram tentando me convencer de que o problema é outro, é que o (ex-)bachelor está passando por um momento assim, é que ele tem uma personalidade assado, é uma impossibilidade dele, você tem que entender, Camila, você que é tão inteligente, que é muito difícil se envolver com alguém que você sabe de antemão que vai sair da sua vida dentro de três semanas. Minha reação? A tudo isso? Em primeiro lugar - eu amo os meus amigos, beijo pra vocês, valeu a tentativa. Em segundo? A realidade é muito mais simples. A realidade é tosca. A realidade é só essa: o bachelor em questão, o primeiro de que gostei um pouquinho depois da tragédia do começo do ano... Não gosta de mim.

E tudo bem, ele pode até não gostar de mim porque ele é uma pessoa a, b e c que não gosta de pessoas como eu, super x, y e z.

Mas não posso deixar de pensar que, além disso, ele não gosta de mim porque eu sou feia. E boba, e chata. E, principalmente, muito idiota, por ter me deixado envolver um pouquinho que seja com uma pessoa tão, tão... Nada a ver comigo.

Então é isso. Passei a semana me sentindo a mais completa trouxa. E é óbvio que automaticamente fico me sentindo mais trouxa ainda por trazer estas coisas a público, pois não há dúvida de que alguma reportagem de alguma edição antiga de Nova ou Marie Claire já alertava para o perigo de se mostrar frágil e desequilibrada para os machos que vierem a ler esta bagaça. Afinal, uma mulher há de ser sempre fina, bem-humorada, alegre e delicada. Pois agora estou de um jeito que, se eu tivesse um saco, o saco eu coçaria. E dá-lhe bolo com sorvete. E não, este post não tem o final otimista de sempre. Este é um post bobo e chato. Como eu.

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quarta-feira, 23 de julho de 2008

Não consigo parar

Mais duas vítimas da negligência nas maternidades:


Yuri Popoff


Joe Zawinul

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O de sempre

De novo, o assunto dos tchaus, despedidas, mortes, abandonos e renascimentos. Que é o assunto mais difícil de todos e por isso foi o tema central da minha análise e do meu mestrado. Porque eu precisava - eu preciso - ficar um pouco menos aflita com essas coisas.

Toda a minha análise se resume à desconstrução da cena mais terrível da minha filmografia particular. Quarta temporada de Alias: Sydney e Nadia descobrem que sua mãe, por todos dada como morta, estava viva. Capturada pelos inimigos. Então elas vão lá e resgatam a mãe. Entendam bem o que estou dizendo: elas descobrem que a mãe não estava morta, estava viva. No meu universo psíquico, não pode haver maravilha maior do que esta. Acreditei nisso a minha vida toda: a única diferença de Agar para Irina é que esta era mantida num esconderijo subterrâneo, enquanto minha mãe mofava num fundo de armário. De resto, vi materializado na tela tudo em que acreditei a minha adolescência inteira, embora não o soubesse.

Precisei da análise para dar início a um processo que não tem a menor possibilidade de acabar, mas tem todas as possibilidades de se desenvolver muito bem: viver sem a expectativa de que a qualquer momento minha mãe saltará do fundo do armário. Ou melhor: não precisar desta expectativa para poder viver. Perceber que minha mãe não precisa estar num armário. Porque ela já está em mim, e sou muito mais preciosa que qualquer item de mobília.

Todo meu mestrado consistiu em estudar este processo, só que aplicado a outro objeto - em vez da mãe, teorias que nos são caras. Fui estudar a dificuldade que os analistas temos de nos desapegarmos de teorias que não existem mais, mas que amamos tanto; estudei os entraves gerados por esta dificuldade na clínica e as vantagens de tirar uma teoria do armário e armazená-la dentro de si próprio. Escrevi sobre tudo isso, mas a riqueza do trabalho consiste justamente em eu ter vivido esta experiência com alguns textos teóricos específicos: o processo de luto e internalização da teoria foi vivido ao longo do mestrado, transparecendo, assim, em meu próprio texto. Com isso, minha dissertação não é uma escrita-sobre (alguma coisa), é uma escrita-que-é (a própria coisa). Tenho muito orgulho disso, e nenhuma modéstia. E não é nem porque só Deus sabe o quanto trabalhei (até porque não é verdade - meu ex-namorado e a Bel também sabem), mas porque minha vida melhorou muito com e após o mestrado e a análise. Orgulho-me de ter querido - e conseguido - viver melhor; orgulho-me de ter percebido que minha vida poderia ser melhor do que era. Eu estava certa.

Essas conquistas são permanentes e preciosas, o que não implica que sejam estáticas. Vez ou outra bate o medo da recaída no diálogo com os mortos.

Domingo à noite, eu queria tentar um diálogo com alguém que, morto, dera sinais inequívocos de vida, confundindo-me bastante. Quem sabe não é um coma?, pensei.

De um lado, o medo da recaída - de agir como se determinadas coisas e pessoas estivessem vivas quando há muito já se foram.

De outro, a dúvida do coma. Porque eu gostava desta pessoa que se matou para mim. Gostava mesmo. E quando a gente gosta - e a pessoa em questão não é uma imbecil - sempre vale a pena acreditar.

Felizmente, a dúvida prevaleceu. Por um minuto e meio, dei voz a ela.

No fim, a pessoa gostada tinha morrido mesmo. E ainda estou bem triste com isso.

Mas a tristeza, querendo ou não, passa.

O que não passa, e que me deixou feliz da vida, foi constatar que eu posso ter dúvidas. Eu posso insistir. Eu posso olhar uma última vez para dentro do armário.

E, então, seguir vivendo.

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sábado, 19 de julho de 2008

Mais um erro na maternidade

Enquanto as atividades da Liga da Justiça consomem todas as energias desta blogueira desocupada, deixo-vos com dois gêmeos cruelmente separados na maternidade:


Don Alias



Danilo Caymmi


O erro médico foi constatado esta noite, durante a trilionésima exibição de Shadows & Light na sede da Liga.

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quinta-feira, 17 de julho de 2008

Diálogo pra começar bem o dia

Na lanchonete:

Eu: - Bom dia, vocês têm chá?

Balconista: - Tem sim senhora.

E: - De que sabor?

B: - Só tem de pêssego.

E: - Ok, vê um pra mim, fazendo favor.

B: - Do que, de pêssego?

E: - ...

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quarta-feira, 16 de julho de 2008

Top 5 Você Sabe Que É Doente Quando

Top 5 Você Sabe Que É Doente - você e as pessoas com quem convive - Quando:

5 - Você propõe uma Reunião Extraordinária da Liga para ouvir e discutir as melhores músicas de cada disco do Pat Metheny Group, com previsão estimada de 4 horas de música, e ninguém considera a duração do evento excessiva.

4 - Você propõe o supracitado evento e seus amigos respondem "oh não, será a decisão mais difícil que já tomei em toda a minha vida!".

3 - Você é capaz de apostar com grau razoável de certeza em qual música cada um dos seus amigos irá votar.

2 - O debate intelectual mais estimulante da semana gira em torno das motivações e possíveis desvios de personalidade do maior Metheny-Freak do planeta.

1 - Você menciona o nome Nando Lauria numa conversa com a sua melhor amiga - que não é do "núcleo da novela músicos" - e não registra o menor sinal de estranhamento da parte dela. Ao contrário, é como se você tivesse acabado de falar em Justin Timberlake* ou - quem é mesmo que está no topo das paradas hoje em dia? (Ainda existem paradas de sucesso?)


* A amiga, aliás, já cruzou com Justin em pleno supermercado e não o reconheceu. No que se deduz que também ela não é parâmetro para nada.

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Beiço carioca

Desde a oficialização da minha partida para New Orleans, as pessoas que se importam com isso não se isentaram de articular um beicinho em pelo menos um momento - aquele beicinho que diz por todos os poros "fica, vai".

Mas o beiço de hoje foi diferente. Ele exprimia "já que você está decidida a sair de São Paulo mesmo, por que não se muda... Para o Rio?".

O original argumento foi desenvolvido por meu amigo rato de sebo, ex-DJ do Rancho Barra XV e fundador do bloco carnavalesco Os Reminiscentes do Chapéu Coco, que reinou em Miracema entre 80 e 82.

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terça-feira, 15 de julho de 2008

Atenção jornalistas e políticos desesperados: a metáfora que faltava, aqui mesmo, pela bagatela de um banner do Senado

Primeiro foi o Elio Gaspari falando em ditadura.

Depois o Arthur Virgílio citando o Terceiro Reich.

Ditadores, nazistas... Qual será o próximo passo?

Matutei, matutei e concluí que, para superar essas duas, a nova pérola da retórica só poderia ser bíblica.

Assim, deixo à disposição dos indignados com a espetacularização do caso Daniel Dantas uma metáfora igualmente espetacular - pois, como sabemos, a Operação Satiagraha promoveu a prisão de pessoas acima de qualquer suspeita:

"O comportamento histérico da Polícia Federal, fazendo uso de algemas com o único intuito de humilhar cidadãos sobre os quais nada se pode provar, lembra as presepadas de um certo Senhor Iscariotes, que acusou um suposto criminoso sem averiguar a veracidade dos fatos e isentou-se de toda responsabilidade sobre os danos morais e físicos infligidos ao falso culpado."

O pagamento para o control cê e control vê? Pouca coisa - um bannerzinho do Senado aqui no blog e estamos conversados.

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domingo, 13 de julho de 2008

Amalgamai-vos!

Queridos amigos, leitores e pessoas que chegam aqui via google em busca de vestidos de noiva,


Está no ar um blog que, se fosse angu, eu diria que tem caroço:

Amálgama*

Trata-se de um novíssimo blog coletivo onde haverá espaço para quase tudo - inclusive divagações sobre uma certa mudança para New Orleans. Sim, é isso mesmo: agora vocês também poderão me ler . Na minha estréia, um texto sobre despedidas; outros sobre música estão a caminho. É a vitória da cara-de-pau sobre o superego!

Então fica o pedido de sempre: leiam, comentem, divulguem. E mandem um hi5 mental para o Daniel, que me convidou para a brincadeira.


* Reparem que é ponto blog e não ponto com.

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sábado, 12 de julho de 2008

Para não dizer que não ganhei flores

Hoje ganhei um vistoso buquê de salsão do meu ex-namorado.



Foi possivelmente o gesto mais romântico do ano inteiro.

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Odeio: o "espetáculo" e o "corporativismo"

Duas coisas que me dão vontade de digitar AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA:

- Dizer que a operação da PF é espetacular. O cacete. Espetacular é a picaretagem na privatização das teles way back then ter ficado impune até hoje - e o argumento repisado e engolido por tanta gente de que "poxa, mas pelo menos a qualidade do serviço melhorou". É a lógica do rouba-mas-faz levada às raias do absurdo.

- E a Globonews fazendo de tudo para desconstruir o "espetáculo da operação", chamando um figurão para dizer que Gilmar Mendes simplesmente cumpriu com seu dever etc. Até aí, tudo mal. Quando eis que um repórter pergunta por que motivo cento e tantos juízes federais assinaram um documento de repúdio ao presidente do Supremo. No que o figurão dá um risadinha e dá a entender que o conteúdo da carta é político e não técnico (estou totalmente parafraseando aqui, não lembro as palavras exatas do cara). Aí vem a Monica Waldwogel (spelling?) e arremata: "é corporativismo, né?".

Esta inocente perguntinha disparou seriíssimas questões sobre a passagem do tempo e minha própria mortalidade: por que diabo perdi preciosos dez minutos da minha vida vendo um jornal da Globo dizer que está tudo muito bom, está tudo muito bem - quando eu poderia estar revendo Seinfeld?

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quinta-feira, 10 de julho de 2008

Por que assino a Piauí

Em junho de 2007, foi publicado um esclarecedor e profético perfil de Daniel Dantas.

O esclarecimento sobre a personalidade da criatura a gente já vê no primeiro parágrafo:

"Numa tarde ensolarada do começo do outono, a 'Serenata no 13 em sol maior', de Mozart, ecoava pela sala envidraçada que abriga a presidência do banco Opportunity. A ela, seguiram-se sonatas, sinfonias, concertos. O ocupante da sala, o economista Daniel Dantas, surpreendeu-se com a pergunta sobre o seu apreço por música clássica. 'Como?', reagiu, sem entender. 'Ah, a música!', disse, afinal. Com um sorriso maroto, caminhou em direção à janela, apontou um pequeno vão no teto, entre a janela e a persiana, e informou: 'Descobrimos microfones aqui, estavam ouvindo as conversas e antecipando nossos movimentos'. Dantas mandou instalar um sistema de som no forro do teto do banco — o Opportunity ocupa o 28o andar de um dos maiores prédios do centro do Rio — para dificultar a gravação do que se diz ali."

A profecia, no último:

"Ele interrompe a conversa para atender o celular. Fala rapidamente. Ao desligar, faz um comentário misterioso. 'Me ligaram para dizer que estão tramando alguma coisa contra mim.' Não fica preocupado? 'Não. Já me acostumei a viver assim.' Mas, afinal, não existe nada de que tenha medo? Ele solta uma gargalhada e responde: 'Da Polícia Federal'".

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quarta-feira, 9 de julho de 2008

Entre o alívio e a procrastinação

Comecemos por um silogismo otimista - afinal, Freud já dizia que se cura uma neurose com outra (a de transferência); sendo assim, para curar uma síndrome da falsa importância, nada melhor do que se sentir mais falsamente importante ainda:

Chico Buarque joga campo minado.
Eu jogo campo minado.
Chico Buarque recorda ("Agora eu era o herói...").
Chico Buarque repete ("Morena de angola que leva o chocalho...").
Chico Buarque elabora ("Ah, se já perdemos a noção da hora...").
Eu recordo, repito e elaboro.
Chico Buarque é gênio.
Logo,
...
...
devo ser gênia.

***

Primeiro lembrei, para me acalmar, de uma lenda urbana segundo a qual Chico era adepto da paciência. E me deparei com a reportagem que a desmistifica: "Chego a ficar 40 minutos jogando paciência e campo minado antes de trabalhar no computador. Com a Internet seria uma loucura, sei que me viciaria". Li e pensei: "sei". Quando encontro uma entrevista posterior na qual ele admite:

"Antigamente, eu ficava jogando paciência, que era uma espécie de aquecimento dos dedos para você começar a escrever. E, às vezes, só aquecia. 'Hoje eu vou escrever meu livro', e aí sentava e ficava aquecendo o dedo. Uma hora, duas, três, quatro horas, e dizia 'não, agora vou desligar a paciência' (risos). Aí passava para a folha em branco, olhava, escrevia duas palavras, voltava para a paciência e desligava o computador. Durante todo o tempo em que escrevi meu livro, tinha esse ritual. E agora, em vez da paciência, tem o Google, sei lá, fazer uma pesquisa, ver uma sacanagem."

Porque convenhamos, essa história dos 40 minutos de joguinho e zero de navegação não convence ninguém - ou, ao menos, não dura muito tempo. Agora, devidamente viciado nas procrastinações que só a internet e os joguinhos de pontos infindáveis nos proporcionam, Chico Buarque derruba de um só golpe meu superego metidinho a besta e me permite refletir sobre essa estranha mania que me domina, sempre que algo de importante está para acontecer.

A paciência como desanuviadora das chaminés cerebrais é recurso tradicionalmente utilizado por autores em processo de escrita, como já admitiram LFV e J.K. Rowling. Esta última, na verdade, prefere campo minado, mas estou considerando como paciência qualquer jogo solitário com potencial viciante. A abrangência desta definição não invalida sua pertinência para este post, preocupado com o costume (vício? necessidade?) de paralisar o tempo e se dedicar desvairadamente a algo que não leva a nada.

O papel da paciência no processo de escrita é algo que conheço muito bem. Durante toda a fase final de redação do meu mestrado, eu passava os dias em frente ao computador com diversos livros e textos abertos na escrivaninha, no chão e no meu colo, e tantas outras janelas e abas de navegador abertas na tela. A paciência nunca saiu de lá.

Considero impossível determinar o ponto exato em que o jogo da paciência deixa de ser um necessário descanso para a alma e converte-se num refúgio covarde de quem não se crê capaz de concluir o presente parágrafo e iniciar o próximo. Para mim, a dinâmica sempre foi essa: a paciência começava como um recurso tão fundamental para a escrita quanto o toddynho e os cuidados do namorado; mas, ao contrário destes últimos, sempre transformava-se numa prisão da qual eu precisava lutar muito para sair. A sensação recorrente era de que, ao parar de jogar, eu já havia ultrapassado em muito o ponto imaginário a partir do qual o jogo se tornara nocivo.

Mas a escrita não é a única situação que impulsiona o jogo. Tenho jogado muita paciência esses últimos dias. Campo minado, mais especificamente. Descobri que não falta muito para eu me classificar no ranking do Authoritative Minesweeper e me consagrar como uma das jogadoras mais rápidas do Brasil. É necessário possuir escores de no máximo 6, 35 e 99 nos níveis iniciante, intermediário e avançado, respectivamente. As duas primeiras pontuações já estão garantidas: 5 e 34. Continuo muito distante da última, presa no 123, marca que já atingi perto de uma dezena de vezes. Descobri que esse empacamento na pontuação tem até nome: Síndrome de Elmar.

Ponho-me a jogar paciência compulsivamente sempre que alguma coisa sobre a qual tenho expectativas extraordinárias está para acontecer. Antes de agora, o último surto compulsivo aconteceu nas vésperas da viagem para NY & NOLA. Antes disso, nos dias que antecederam a defesa do mestrado.

É difícil admitir que durante algumas horas perco completamente a capacidade de fazer qualquer coisa diferente de clicar em numerinhos e distribuir bandeirinhas. Enquanto isso, estou pensando o tempo todo, freneticamente. O problema é que, quando paro de jogar, não lembro de nada em que pensei com tanto afinco durante tanto tempo. Sim, este é o próprio discurso do maconheiro. E talvez por isso Um Jogador esteja entre as histórias que mais me impressionam.

Uma hora, é preciso parar de jogar, e consegui-lo nunca é fácil. Mas esta não é a dificuldade principal. Difícil mesmo é não se considerar uma imprestável e irresponsável por chafurdar algumas horas no mais absoluto vazio existencial, virar Macabéa por um momento. É, enfim, não dar asas - ou antes, um machado - ao superego carniceiro.

Nessas horas, Chico Buarque ajuda.

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segunda-feira, 7 de julho de 2008

Vagabunda, como não?

Das coisas mais interessantes de se notar em pessoas que querem se mostrar interessantes é a progressiva redução e centramento de seu discurso em si próprios. Ao contrário de uma partida de xadrez, cuja jogada inicial determina movimentos subseqüentes, na conversa das pessoas que precisam ser interessantes é o fim que determina toda a conversa anterior: o assunto pode ser o aquecimento global, a performance da Seleção, a mecânica das bigas romanas, não importa - a conclusão invariavelmente recairá sobre o reluzente caráter do interessante intelocutor, assunto freqüentemente tão distante do original quanto eu de homens fantásticos como esses daqui (um beijinho para os dois).

Pois assim começava uma discussão potencialmente fecunda sobre a virgindade da Virgem Maria. Dizia o interlocutor ser este fato altamente questionável, pois mesmo que Maria fosse virgem à entrada (a saber, do Cristo em seu útero), certamente não mais o seria à saída (idem, ibidem)*.

A discussão seguiu impávida rumo ao conceito de virgindade na Idade Média, até chegar ao ápice do problema:

"Porque veja bem, eu tenho um amigo, o Zezinho, que pensa assim até hoje: ele quer casar com uma moça virgem, mas fica comendo um monte de vagabunda por aí."

Com isso, o interlocutor estava certo de demonstrar cabalmente sua sensibilidade frente à questão da sexualidade feminina. Ele, rapaz moderno e sem preconceitos, achava a atitude do amigo absolutamente condenável: que absurdo deixar-se guiar por essas idéias retrógradas hoje em dia!

No que respondo sem hesitar:

"Diga então a seu amigo que eu, na condição de vagabunda, desejo a ele boa sorte em sua empreitada, mas já adianto que eu e as companheiras vagabundas achamos bem difícil ele ser bem-sucedido em seus intentos."

Durou bem menos que um segundo, mas foi perceptível um brilho em seus olhos revelador de movimentos mais profundos em seu cérebro, que se retorcia e revirava à percepção de que ele mesmo - ele, rapaz moderno e sem preconceitos - acabara de dividir as mulheres do mundo em virgens e vagabundas.

Infelizmente, o tempo que durou o brilho foi menor do que o levado para ele se recompor:

"Não, não foi isso que eu quis dizer, tá vendo como são as mulheres, você entendeu tudo errado..."

E assim vou vivendo, vagabundeando por aí e entendendo tudo errado.


* A semelhança com "preto que não caga na entrada caga na saída" não deve ser mera coincidência.

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domingo, 6 de julho de 2008

O melhor filme que nunca vi

Tinha uns homens fortes de rabo de cavalo e umas mulheres de saia, todos eles vestidos de gente-de-outra-época. Tinha uma cozinha, e uma mesa ao centro, mas dado que ninguém disse que algum book estava na table, fiquei completamente ao Jacob-dará, sem entender palavra alguma daquele inglês estranhíssimo, sabe-se lá de que povo e de que século. Tinha também arcos e flechas e talvez um princípio de guerra. Tinha uma mocinha que claramente queria dar para o índio gostosão, mas devia lealdade ao marido branco e aquela pataquada toda.

Principalmente, tinha um Chardonnay californiano de doze dólares na minha taça, e homus com pimenta no meu pão sírio.

E o melhor de tudo: o melhor amigo ao meu lado*.

***

Não sei situar esta noite no tempo: se foi antes ou depois da Brasa, antes ou depois da festa no Idelber, antes ou depois do e-mail que delineava uma vaquinha marchando confiante em direção ao brejo.

Sei situar esta noite no espaço: ela se insere na esquina do meu cérebro reservada às pessoas que fazem bem, olhando para quem.

Porque primeiro Alex me olhou: começando dos pés, como é de praxe, até chegar à minha cara toda amarrotada após a leitura do dito e-mail da vaquinha.

Depois disso ele não precisou fazer muita coisa, porque ele é das poucas pessoas que entendem que o melhor que se pode fazer por uma pessoa, em situações-vaca, é escutá-la, senti-la, ouvi-la. Olhar para alguém já é fazer o bem.

E não resisto ao clichê de dizer que nunca me esquecerei do seu olhar de desespero ao ver o desespero se apoderando de mim. Porque ele sofre muito, ao ver alguém sofrer.

Mas quando começamos enfim a assistir ao filme, a vaquinha já ia longe, pastando em outras paragens.

Alguns meses depois, tento entender a combinação de fatores disparadora da melhor noite de sono da viagem inteira:

O chardonnay estalando na língua. Uma língua estranha e vagamente familiar bem próxima dos ouvidos. Um edredom desses que só americano sabe fazer.

Foi gostoso ter preservado a consciência de que eu estava caindo no sono. Foi gostoso, pouco a pouco, ouvir as vozes da tela transformando-se em outras, minhas. Foi surpreendente e encorajador perceber que num lugar estranho, repleto de pessoas estranhas, eu ainda assim fui capaz de encontrar acolhimento, e me entregar tão completamente a algo tão desprotegido como um sono largado.

Ele fez algum comentário insinuando que eu não estava vendo o filme, ao que retruquei qualquer coisa entre o engraçado (porque ele riu) e o indignado (porque ele deixou o filme ali até eu adormecer).

***

Outro dia um amigo perguntou: "ei, você pegou o Alex Castro?".

Lembrei-me imediatamente da política de boatos do LLL - confirmar tudo, sempre -, passando então a discorrer sobre nossas noites de sexo ardente e depravado; mas, talvez pelo riso que não pude conter, meu amigo parece não ter acreditado muito na confirmação pela qual sua curiosidade ansiava.

Agora, refletindo melhor, concluo que o curioso amigo de fato se enganou.

Eu não peguei o Alex Castro. Ele é que me pegou. Com todo o cuidado, e me pôs para dormir.


* Funciona assim: eu tenho alguns melhores amigos, algumas melhores amigas, e a Bel.

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quinta-feira, 3 de julho de 2008

Oi?!?

Numa mesma semana, a notícia de duas parcerias improbabilíssimas:




Será que só eu estou achando tudo muito estranho ultimamente?

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quarta-feira, 2 de julho de 2008

Sobre a dor da falsa importância

A paixão por livros e discos me é fácil; por humanos, rara. Mais freqüente é a empolgação. Empolgar, me empolgo rapidinho, animadinha; sempre dou o benefício da dúvida a homens que parecem boa gente, e assim vou vivendo uma sucessão de pequenas histórias que, como todo o resto, acabam.

Tem quem prefira dar a receber presentes, e receber a dar foras. É sabido que tem, mas eu é que não. Como não sou celebridade para merecer mimos de desconhecidos, presente vou dando muito mais do que recebendo; já os fins destas pequenas histórias, felizmente, têm tido um saldo bem mais equilibrado. Asveiz é eu, trasveiz é os buona genti que decidem que a história chegou ao fim.

Quando grandes histórias chegam ao fim, a dor é tanta que esteriliza o cérebro, impede a germinação de qualquer idéia verdinha e fértil.

Quando as histórias são pequenas, é mais fácil observar e descrever algumas características particulares a esta dor.

Creio ter descoberto a característica mais marcante desta dor a que meu modo de viver por vezes me obriga a experimentar (dor individual e passageira, cuja presença é tão inegável e insistente quanto sabidamente superável): ela faz com que eu me sinta importante. De uma importância que extrapola em muito quem eu sou. De repente, passo a ser vista, analisada, criticada - reparada. Como se tudo o que eu fizesse tivesse um valor, um sentido, gerasse ohs de surpresa ou desprezo. No limite, é precisamente desta dor que estou falando: quando fui assaltada, e pela primeira vez tive medo de morrer, perseguiu-me e irritou-me por dias o terror de que, se eu morresse, não teria deixado nenhum legado para a humanidade. O problema é que não pauto a minha vida por uma suposta, grandiosa e abstrata "contribuição para a humanidade"; nem acho que alguém esteja reparando em mim quando atravesso a rua. Mas quando fui assaltada - e quando levo um pequeno fora, em menor medida - é exatamente assim que me sinto. Olhada e inflada. E falsa - porque nunca esqueço completamente meu real tamanho. É terrível e não vejo a hora de voltar a atravessar a rua em paz.

Nas duas situações, estou sob ameaça: de perder a vida, de perder uma pequena história. Nas duas situações, de alguma forma e em alguma medida, já as perdi. A resposta só pode ser o inchaço: o enfrentamento narcísico de forças muito mais poderosas que - porque externas ao - eu.

Eu não gosto da paralisia que vem com essa sensação (os obesos movem-se com mais dificuldade que os magros e gordos). E eu me pergunto, e pergunto de novo: o que será que o Fulano da Vez pensa de mim? E eu não gosto de perguntar isso, porque todo o problema está justamente em que Fulano da Vez não está pensando em mim. Só isso. Não é que ele pense A, B ou C, não é que esteja me achando feia, chata ou boba - ele, simplesmente, não pensa. Sou eu que fico tentando me convencer do contrário (afinal, sou tão importante!), mas é só me colocar por um segundo que seja na posição de mim mesma quando mim-mesma encerrou alguma outra pequena história para lembrar que eu não ficava pensando em Sicrano da Vez quando a história com ele acabou. Simples assim.

Além do que, saber o que Fulano da Vez já pensou de mim não altera em nada a presente (e acabada) história. Pensamento é uma coisa, ação é outra; principalmente, os pensamentos e ações de outra pessoa são inteiramente outra coisa.

Pequenas histórias são assim: vão se sucedendo umas às outras até serem interrompidas por uma que venha a ser grande. Estas, curiosamente, também proporcionam um inchaço narcísico fabuloso e fantasioso. Mas, nas grandes histórias, o inchaço é bom. Porque é compartilhado.

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Deus dá o frio conforme o cobertor

No dia em que começa a Flip à qual não irei, chega-me aos ouvidos* a novidade:

The Lost Book Club

O çaite traz os livros aos quais se fez referência ao longo das quatro temporadas da série, com uma brevíssima (mesmo, 2 linhas) sinopse e, o mais legal, o contexto em que apareceu em LOST (estava na estante, dá nome ao episódio, Sawyer leu etc.).

Mais uma lista, portanto, para suscitar aquela velha e conhecida angústia. Mas, embora isso aqui não seja o postsecret, vou contar um segredo: eu gosto. De saber que nunca vou dar conta dos livros a ler e discos a ouvir. É bom - saber que de fome eu não morro.


* C.A. tem a segunda melhor profissão do mundo: é pago para acompanhar e escrever sobre LOST no limite da obsessão. (A primeira, como todos sabem, é a de roteirista de LOST.)