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sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Meios inesquecíveis

Acabo de viver uma história amorosa que, mal começou, terminou – o que acabou por me remeter à importância dos meios e recheios que dão substância às nossas vidas.

Decidi compartilhar com vocês, então, uma outra história que também começou e terminou bem rapidinho em minha vida: o livro do Sérgio Rodrigues, prontamente devorado em dois dias.

Diferentemente da história amorosa, porém, essa história literária permanecerá em mim por muito tempo. E, sobretudo, ela possui um meio muitíssimo bem constituído, capaz de costurar um fim sensacional a um começo absolutamente enojante e perturbador – e tudo isso sem deixar entrever a linha e os movimentos da agulha.

Então convido vocês a experimentarem As Sementes de Flowerville como quem come uma bolacha trakinas: atacando primeiro a massa de morango ou chocolate para então mordiscar os biscoitos.

Depois eu descrevo para vocês a minha experiência literária-costureira-gastronômica-emocional com o livro.

P.S.: Dri e Bel, vejam se esse trecho não dá o que pensar sobre On Arrogance...


***

Neumani acorda de ressaca. Tomando um café-da-manhã tardio atrás do jornal, quase 11 horas, olha para a foto do morro deslizado em algum bairro miserável da Cidade Velha. Ao lado dela, entre outros anúncios fúnebres, o tijolo gigante informa que um certo Goldenstein goza, se assim se pode dizer de um morto, do amor irrestrito de família numerosa e rica. Neumani vira a página pensando com desgosto no que o dia lhe reserva, muito matutar sobre a Fórmula da Sociedade Ideal, e a princípio fica vendo as letras diante de seu nariz, sem compreendê-las. De repente se lembra, inteiro, de um gordo buquê de sensações – o sonho do qual acabou de acordar.

Era um sonho caprichado na decoração de época: sala de jantar com mesa de pés-palitos, tampo de fórmica chapiscada, jarro de vidro translúcido cheio de pontas, mas tudo meio cinzento como numa TV com chiado, ou como se uma enceradeira zumbisse ao fundo lembrando Jesus & Mary Chain. A mãe e o pai estavam em casa mas não na cena, a presença deles se concentrava numa série de gemidos altos, indecentíssimos, por trás da porta trancada do quarto.

Neumani, apesar de adulto, se embolava no sofá da sala com Vica e Clara, seus melhores amigos de infância, uns sobre os outros, o que era morno e bom. Comiam toneladas de Diamante Negro, Vica sorria de lado e Clara usava um vestidinho curto, pernas magras e brancas, uma galáxia de sardas nas coxas onde se apoiavam as canelas peludas de Neumani. E nesse momento, inchado de orgulho e da maior felicidade que sentira na vida, ele anunciava solene que tinha decifrado o último teorema de Fermat.

Toma um gole de café, comovido. Que obra-prima de sonho. Vica e Clara entenderam perfeitamente a dimensão heróica de seu feito, e logo todos se abraçavam com lágrimas nos olhos, acabavam mais embolados do que antes no sofá, como uma criatura de seis braços e seis pernas.

Quantos anos tinha quando decidiu que desafiaria o maior enigma da história dos números, missão abraçada com bravura de menino? Oito, nove? Pois não era evidente que a esfinge se mantivera indevassável às mais poderosas mentes matemáticas do universo por todos aqueles séculos para se revelar a ele, justamente? Foi o que deliberou quando leu na biblioteca do colégio a história de Fermat, e estava deliberado. Numa idade em que os mais espertos de sua geração se engajavam em debates seriíssimos sobre Kikos Marinhos, Twilight Zone, Apollo 11, o Mug, o Speed Racer, os poderes relativos de National Kid, Ultraman e Jaspion, Neumani fez diferente: transformou uma questão estratosférica de matemática pura na razão de ser de sua vida.

O cubo da hipotenusa jamais será igual à soma do cubo dos catetos. Então prove, é que está. O quadrado, certo, o quadrado, sim: o teorema dos teoremas, o de Pitágoras. Acontece que tudo depois disso, o cubo, a quarta potência, a quinta, a milionésima, a infinitésima, todas elasnunca mais que a hipotenusa e a soma dos catetos conseguem se encontrar. Pois então demonstre, prove matematicamente o que acabou de dizer. E ninguém consegue, é que está.

No meio de mais uma bicada no café, foi de um golpe que as letras que fitava há algum tempo no jornal fizeram sentido. Antes não tivessem feito. Era o título de uma pequena notícia internacional na coluna da direita, metade inferior da página:


Matemático inglês
decifra enigma do
teorema de Fermat


Imediatamente, a relação de Neumani com o tempo se desacertou por completo. Meses comprimiram-se em segundos, ele envelheceu e morreu antes que o café esfriasse na xícara, enquanto ficava para sempre de bobeira olhando aquelas letras, que agora tinham voltado a perder o sentidocomo se significar algo fosse uma manobra para enlouquecê-lo, coisa provisória, breve passagem entre nada e coisa alguma. Como assim, um matemático inglês? Como assim, Fermat? Esse papel não estava reservado para ele? A impressão do sonho, tão forte segundos atrás, se dissipou no ar feito fumaça de cigarro, deixando apenas a memória dolorida do destino real de seus melhores amigos de infância, ambos mortos antes dos primeiros hormônios da puberdade, um após o outro, meses a separá-los – Vica ao cair do galho mais alto de uma mangueira gigante e quebrar o pescoço no chão pedregoso, Clara atacada por um enxame de abelhas africanas que cobriu seu corpo de ferroadas, uma para cada sarda.

Ele? Não, ele não: ele ficou. Precisava sobreviver porque tinha um compromisso. Um compromisso com Fermat. vinha um matemático inglês, um escroto – e agora?

Agora, Neumani compreendeu que tinha perdido de vista para sempre os loucos deuses da matemática que um belo dia achou de acreditar que um dia, este mais belo que aquele, iam salvá-lo por fim.

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O desastre esmiuçado

Dos pretendentes

Bachelor #1: Meu, você ouviu o solo de guitarra do Fulano no disco de Sicrano com arranjos do Beltrano?!? Cada puta harmona! O cara tá quebrando tudo!!

(Quando a expectativa era de algo na linha de: “Oi, estou com saudades, vamos nos encontrar?”).

Bachelor #2: Meu mapa astral diz que vou me envolver com alguém em 2008.

(?!?!!?!?!??)


Das alcoviteiras

Amiga #1: Tenho um amigo para te apresentar. Ele tem 25 anos...

Amiga #2: Tenho um amigo para te apresentar. Ele tem 25 anos...

Amiga #3: Tenho um amigo para te apresentar. Ele tem 23 anos...

(No que começo a temer a iniciativa de uma próximahipotéticaamiga: “Tenho um amigo para te apresentar. Ele não tem 18 anos ainda, mas olha, é uma graça, come sozinho e tudo!”)

Amiga #4: Tenho um amigo para te apresentar...

(No que saio correndo.)


Do proletariado

Motoboy indeterminado: Linda!

Morador de rua indeterminado: Gostosa!


***


Vamos deixar uma coisa bem clara: gosto dos pretendentes acima mencionados e amo minhas queridas e bem-intencionadas amigas.

Mas vocês hão de convir comigo que tem algo de muito errado acontecendo quando as pessoas que mais conseguem elevar a sua auto-estima são aquelas que não te conhecem...

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segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Problemas de comunicação

Da New Yorker deste mês:

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domingo, 26 de agosto de 2007

Tradutor de músico

Minha extensa, intensa e muitas vezes enlouquecedora experiência com músicos e musicistas resultou em pelo menos um efeito colateral curioso: entrei em contato com uma linguagem nova e particular. Assim como os médicos e advogados, também os músicos possuem um jargão pelo qual somente eles transitam e que somente eles compreendem. Aos de fora, cumpre observar tudo cuidadosamente e não sucumbir às pistas falsas que levam a uma compreensão rápida, porém equivocada.

Após anos de convivência, é preciso admitir que aindamuito que aprender. Não obstante, creio ser possível afirmar com segurança que algumas das estruturas básicas desta linguagemseu verbo to be e seu simple present, por assim dizer se encontram suficientemente estabelecidas em mim para que eu me arrisque a compartilhá-las com vocês.

Assim sendo, o blog Recordar, Repetir e Elaborar presta um inestimável serviço de utilidade pública ao compartilhar tão relevante informação com a população não-musicista deste país – e finalmente revelar o que os músicos realmente querem dizer:

Músico: “Fulano quebra tudo”!
Tradução: Fulano toca muitas notas muito rápido e muito alto.

Músico: “Saca as harmonas de Fulano”!
Tradução: Fulano toca acordes com mais de três notas.

Músico: “Fulano compõe super bem”.
Tradução: Fulano não toca merda nenhuma.

Músico: “A cantora Fulana tem uma super personalidade”.
Tradução: A cantora Fulana é desafinada.

Músico: “A cantora Fulana é super afinada”.
Tradução: A cantora Fulana não tem personalidade.

Músico: “O guitarrista Fulano é fortemente influenciado pelo Pat Metheny”.
Tradução: O guitarrista Fulano toca uma Gibson ou uma Ibanez e usa camiseta listrada.

Músico: “O saxofonista Fulano é fortemente influenciado pelo bebop”.
Tradução: O saxofonista Fulano cita Donna Lee a cada quatro compassos.

Músico: “O baixista Fulano é fortemente influenciado pelo Jaco Pastorius”.
Tradução: Fulano é baixista.

Músico: “O multinstrumentista Fulano faz um som experimental super inovador.”
Tradução: Corra que Fulano é um chato.

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sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Dicas utilíssimas

#1 - SEMPRE tirar o rímel antes de ir para a aula de natação.

#2 - NUNCA manter biscoitinhos de chocolate belga em casa após a primeira semana de aulas de natação.

Bom fim de semana a todos!

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quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Para o meu pai

Hoje peço a Deus em voz alta tudo aquilo que desejo cotidianamente para o meu paicom tanta naturalidade, que quase nunca paro para pronunciar as palavras uma a uma, como deve ser. E as palavras sãosaúde” e “felicidade”, basicamente (ouviu, Deus, anota , fazendo o favor). Sendo quefelicidade”, de longe, é a principal delas.

Uma alma mais pentelha poderia objetar que comecei este texto mal, deixando de lado os dilemas éticos envolvidos na supervalorização da felicidade. Tipo: “a felicidade não pode ser um fim cujos meios se auto-justifiquem”. Ou então: “a felicidade de um acaba quando começa a liberdade do outro”. Idéias nessa linha.

Não que esse debate me desagrade. O problema é que este texto é sobre o meu pai – e essa discussão toda passa tão, mas TÃO ao largo dele, que não tem o menor cabimento empreendê-la aqui. Explico.

Conforme dei a entender, o primeiro argumento que nos ocorre – ou ocorre, pelo menos, aos recônditos mais baixos e pentelhos de nossas almasquando pensamos sobre a controvérsia envolvida na valorização da felicidade acima de todas as coisas, é o seguinte: e se o fulaninho sente que a felicidade dele depende... Da mulher do próximo? Ou, pior ainda, da extinção do próximo?

Pois é. que algumas (raras) pessoas são diferentes. Sua felicidade depende, intrinsecamente... Do bem do próximo.

Assim é o meu pai. Mas em vez de passar parágrafos louvando-lhe o caráter, contento-me com a divulgação de um pequeno fato a seu respeito.

Vocês se lembram do meu texto sobre géis de limpeza facial? Pois então.

Sabem o que o meu pai me deu de presente?

Um gel de limpeza facial da Lancôme. Com extrato de abacaxi e mamão, vejam vocês. Nem seria preciso dizer, mas digo mesmo assimmaravilhoso. Para que eu jogasse fora de uma vez por todas o gel fedorento. Para que eu fosse mais feliz.

Assim é o meu pai. A felicidade dele depende da felicidade dos que os cercam.

que isso é tão acentuado nele, que às vezes uma coisa curiosa acontece.

Ele se desdobra em tantos pedacinhos cuidando dos outros e preocupando-se com o bem-estar alheio, que... De repente, ele fica um trapo.

E , bem, eu até entendo a satisfação em ajudar o próximo, mas – péra . Tudo tem limite, como diria Lacan caso ele fosse um escritor de auto-ajuda.

O meu pai possui a estranha tendência de distribuir frascos de Lancôme por aí, enquanto ele mesmo se limpa com sabão de banha de cachorro.

Então, neste aniversário e para o resto da vida, o que mais desejo para ele, de verdade, é que ele consiga, cada vez mais, dar presentes a si próprio. Aceitar os presentes ofertados pelos outros é um primeiro passo. Mas nada substitui a possibilidade de você mesmo dar-se o direito de comprar o seu próprio gel de limpeza facial da Lancôme. Porque eu, como filha, sempre serei muito grata aos presentes dele... Mas sabe? Ao fim e ao cabo, não sou uma pessoa tãoassim. Afinal de contas, sou filha dele. Alguma coisa eu puxei. A felicidade dos outros também me deixa feliz.

Então, neste vinte e três de agosto de dois mil e sete, nada melhor do que dar vazão aos meus melhores sentimentos, boa parte dos quais foram herdados de e inspirados por ele:

Nada me fará mais feliz no dia de hoje, papai, do que saber que você está se empenhando, cotidianamente, em ser uma pessoa significativamente mais feliz. Ainda nesta vida.

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quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Querido diário

(Afinal, blog também é pra isso.)

Dia difícil hoje. Aulas que não foram lá essas coisas, cãimbras na piscina, expectativas que não se cumpriram... Até a conexão com a internet hoje está lenta, como que me arrastando cada vez mais para a cama, para a paciência (não a virtude, o jogo), para uma preguiça que não gosto de sentir.

Amanhã vai ser melhor - tem Bel e papai. Sexta também - tem Luciana Souza. (Na verdade, mesmo daqui a pouquinho tudo estará melhor - tem Grê e Brê.)

Eu não gosto de mim mesma quando fico querendo colo. E o pior é que não sei se preciso aprender a gostar, ou se preciso é parar de querer colo e largar mão de ser desanimada, ô mulé mole!

Idéias? Alguém?...

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Helô no All of Jazz amanhã!

Poxa, Helô, tinha que ser bem nesta quinta? É aniversário do meu pai e tudo o que mais desejo e preciso no mundo é estar com ele nesse dia.

Para os desinformados, muita atenção:

Amanhã, às 21h30min, Heloisa Fernandes estará no Pastel, com um trio diferente do habitual - Zé Alexandre no baixo e Kleber Almeida na bateria. Vai ser lindo, já estou vendo. Eu nunca ouvi esta formação específica - estou particularmente curiosa quanto à interação entre a Helô e o Kleber, que é um músico super sensível e musical que eu adoro e que faz um tempão não ouço tocar.

Para vocês que não têm o aniversário de uma das pessoas mais importantes de suas vidas bem nesta quinta-feira... Apareçam!

P.S.: Além do que, no All of Jazz você tem a oportunidade única de dizer a todos os seus amigos que comeu a Billie Holiday ou o Pat Metheny. Eu, pelo menos, variava entre esses dois: a Billie era o carpaccio e o Pat os pastéis. Ou o contrário. Nossa, faz tempo que não vou lá.

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Influência a posteriori - mais Joni

Olha , descobri que a segunda estrofe do meu poeminha piauienseque relata o debate entre cabeça e coração – é, de certa forma, uma versão dentro-da-caverna da seguinte estrofe – uma das all-time favorites, bien sûr – de Song for Sharon. Talvez ninguém perceba a semelhança além de mim, mas decidi compartilhar com vocês assim mesmo. Ah, e tenham em mente que a caverna onde mora o meu poeminha é bem ampla, e ele fica beeeem no fundo... Você entra na caverna e tem que andar umas duas horas, desviando de todas as estalactites e estalagmites possíveis e imagináveis, até dar de cara com ele.

Aliás, taí uma importante questão filosófica: existiriam inúmeras cavernas, uma para cada categoria de objetos (caverna dos sentimentos, das artes – e, dentre estas, da música, literatura, cinema etc.), ou moraríamos todos numa caverna onde se espalhariam todos os objetos sensíveis do mundo?

Enquanto vocês ponderam sobre tão relevante questão, fiquem mais uma vez na companhia de Joni:


Dora says, “Have children!”
Mama and Betsy say – “Find yourself a charity.
Help the needy and the crippled
Or put some
time into Ecology.”
Well there’s a wide wide world of noble causes
And lovely landscapes to discover
But all I realy wanna do, right now
Is... find another lover!


Eu adoro essas pessoas que teimam em dizer alguma coisa para a Joni nas músicas dela.

E, que o tema de ontem era solidão – reparem que a palavra “lovely”, neste trecho, muito facilmente pode ser confundida com / substituída por “lonely”. Outro pequeno glimpse de gênia...

P.S.: Para quem não entendeu a coisa da caverna – aqui está o link na wikipedia.

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terça-feira, 21 de agosto de 2007

Sexta-feira

Tá, então o meu superego falou mais alto e eu fiquei com de vocês, expostos a um poema cuja imagem mais significativa é a de um pêlo masculino enroscado num chenile qualquer. Passemos, portanto, à alegria que me aguarda na sexta-feira, quando ouvirei, na voz da Luciana Souza e nas mãos de instrumentistas capitaneados pelo Joni-expert Larry Klein, a música cuja letra compartilho com vocês a seguir.

É uma letra que tem mais a ver comigocom este momento da minha vida – do que eu gostaria de supor. Mas, deixando em suspenso por um instante a minha relação pessoal de amor com a música, vocês hão de convir comigo que “toma-se um gênio” (no caso, uma gênia – e por que será que a gente não pode falar assim em português, “it takes something”?) para fazer de uma canção que brada a plenos pulmõesLove is gone!” uma canção otimista. E esta é. Transpira esperança e novas possibilidades.

E a escolha das palavras? “Clutching the night to you like a fig leaf” – nunca reparei no formato, cor ou textura de uma folha de figo, mas as palavras soam just right. Para mim, o importante é a noite sendo colhida de uma árvore e devorada.

E as imagens? “Quando as últimas luzes despem as sombras desta estranha e nova carne que encontrastes...” Nem uma tradução tosca consegue suprimir a força original destes versos. E a canção escrita no espírito, e o superego (segunda aparição dele neste post... O que será que está acontecendo?) a responsabilizar o sujeito pela indiferença dos amigos? E a pick-up station, que pode ser qualquer lugar?...

A ambigüidade, como não. A mulher que corre aos cobertores (ahá! Existe pelo menos um ponto em comum entre o meu poema e a letra da Joni!) paralay down” (provocar, estabelecer) uma (boa) impressão e... solidão. Ela estava sozinha ou acompanhada? Não importa o fato: sem dúvida, estivesse ela provida ou desprovida de sua estranha carne recém-adquirida – ela estava sozinha. Principalmente quando todo o processo de seleção do calor e da beleza foi narrado como um tantra, tantas vezes repetido e tantas vezes encerrado pela longa e penosa constatação do mesmo sentimentosolidão.

(A solidão é marcada por uma nota mais grave que todas as outras.)

E o estranhamento? O roçar nesta pessoa desconhecida: “Still somehow the slightest touch of a stranger / Sets up a trembling in my bones”. Ok, este trecho é de outra música, mas não consigo não confundir as duas. O toque de uma pessoa estranha, boa ou friaprincipalmente num momento de solidão, ou mesmo de hejira – eletriza. Estimula e sensibiliza.

E os contrastes? O meu preferido é a volta para o A, ao final (a melodia é quase a mesma na primeira e na última estrofes): é preciso um longo interlúdio instrumental para que haja uma transformação do decretoLove is goneem alguma coisa outra. Não é uma transformação simplestristeza não tem fim; felicidade, sim –, mas recupera o que é essencial da primeira estrofe.

E, principalmente, os dois versos iniciais. Será que, ao fim e ao cabo, isso é tudo que nos resta? Is that what it all comes down to? O tempo passa, marcado por amores e estilos de roupas. Se assim for, hei de lembrar-me do atual momento como repleto de cores e vazio de sentimento...

Mas não precisa ser assim se eu quiser que seja (e eu não quero). Afinal, it all comes

DOWN TO YOU

(Joni Mitchell)


Everything comes and goes
Marked by lovers and styles of clothes
Things that you held high
And told yourself were true
Lost or changing as the days come down to you
Down to you
Constant stranger
You’re a kind person
You’re a cold person too
It’s down to you


You go down to the pick-up station
Craving warmth and beauty
You settle for less than fascination
A few drinks
later you’re not so choosy
When the closing
lights strip off the shadows
On this strange new flesh you found
Clutching the night to you like a fig leaf
You hurry
To the blackness
And the blankets
To lay down an impression
And your loneliness


In the morning there are lovers in the street
They
look so high
You brush against a stranger
And you both apologize
Old friends seem indifferent
You must have brought that on
Old bonds have broken down
Love is gone

Oh love is gone
Written on your spirit this sad song
Love is gone


Everything comes and goes
Pleasure moves on too early
And trouble leaves too slow
Just when you’re thinking
You’ve finally got it made
Bad news
comes knocking
At your garden gate
Knocking for you
Constant stranger
You’re a brute – you’re an angel
You can
crawl – you can fly too
It’s down to you
It all
comes down to you

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segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Link do dia #3

Fábulas do ex-namorado mais lindo do mundo.

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domingo, 19 de agosto de 2007

Meu eu amarelo

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Poeminha para a Piauí

Descobri o jeito ideal de participar do concurso da Piauí deste mês sem me deixar tomar pela pressão de obter resultado melhor do que o conquistado em julho. Muito simples: foi só escrever um poema! Notem que este é o primeiro poema que escrevo em minha vida. Portanto, só o fato de tê-lo escrito já representa alguma coisa - e tenho quase absoluta certeza de que esta coisa é "não escrever poemas nunca mais". Respirem fundo, que aí vai:


Poeminha
de uma mulher
interessada

Estou interessada por um cara.
O cara não está interessado em mim.
"Desastre à vista!", afirma minha cabeça;
"Vai fundo!", retruca meu coração chinfrim.

Meu coração quer que eu ponha "apaixonada" no título.
Minha cabeça me diz: "ao menos disfarce com interessada!".
Meu coração insisite que é preciso ser honesta para conquistá-lo.
Minha cabeça já aprendeu que honestidade demais só irá assustá-lo.

- Por que isso de novo, meu Deus?
Ele dormiu em casa, eis o problema,
E foi aí que (quase) tudo aconteceu:

Os lóbulos da orelha dele roçaram minhas fronhas e meus lençóis;
Os mamilos dele alargaram-se ao contato do grosso cobertor;
As pontas das unhas dele cravaram-se na borda do edredom;
Os pêlos do tornozelo dele grudaram na colcha de chenile.

Então eu escrevo interessada, mas relato toda a discussão.
Minha cabeça faz "tsc, tsc"; meu coração perde a razão.
Eu quis escrever um poema que falasse de mim, assim:
Uma mulher interessante, nunca mulher interessada.

Um poema de rimas ricas e engraçadas - de novo,
Interessante!
Mas que nada. Agora sou pobre e desconexa.
Os versos saem tortos e vou minguando, enquanto penso nele envolto em colcha,
Edredom, cobertor e lençóis de cetim.

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sábado, 18 de agosto de 2007

NA TRAAAAAAAAAAAVE!!!!!

Gente, pára tudo: vocês viram que eu fiquei em quarto lugar no grande concurso da Piauí de julho???! Tá aqui, ó.

Um dia eu chego lá!

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Link do dia #2

Ai, ai, mais um clique diário em minha vida: Jorge Garcia agora tem um blog!

A idéia inicial era que fosse, como indica o título, uma espécie de diário das gravações da quarta temporada. Aparentemente, porém, Darlton entrou em pânico com a possibilidade de divulgação de spoilers, e então Jorge ficou em dúvida sobre o que fazer com o blog. Quase desistiu! Felizmente, porém, choveram comentários dos proverbiais 4 cantos do mundo - sendo que o canto mais proeminente foi cá este nosso, mesmo - pedindo que o blog continuasse, e ele disse ao povo que ficava. Ou quase isso: hoje ele escreveu sobre seus sentimentos de primeiro-dia-de-aula suscitados pelo primeiro dia de gravação.

Resta-nos esperar mais postagens para ver se ele "desistiu" (as aspas devem-se ao fato de ele ter sido "educadamente convidado" a isso) de falar sobre as gravações, ou se pretende ir ganhando a confiança dos produtores aos poucos, ofertando-nos minutos de sabedoria da ilha sem estragar qualquer possível surpresa. Quem sabe? Enfim - mesmo que ele decida se restringir a assuntos como o apetite dos cachorros (vide post #6), devo dar uma passada por lá todos os dias. Espero, com isso, saciar meu desejo diário por perdição...

P.S.: Para aqueles que estão com a sobrancelha franzida e emitindo um "ahn?!" neste exato instante: meus amigos, vocês estão deixando a vida passar por vocês. Se você é uma pessoa viva no planeta Terra neste momento histórico da humanidade - pré-condição necessária para ser um leitor deste blog - e NÃO assiste a LOST, isso quer dizer que você está jogando no lixo uma das mais fantásticas experiências que a condição humana pode nos proporcionar. Você está sacrificando parte do seu ser cada vez que decide não assistir a um episódio de Lost pela primeira vez para fazer qualquer outra coisa. E tenho dito.

P.P.S.: Seja dado o crédito a quem é devido: a dica do link foi do CA Monteiro, do sensacional Lost in Lost.

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sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Homens

A experiência que acumulei em vida até a presente data não parece ter sido suficiente para evitar que minha vida amorosa fosse mais freqüentemente um desastre que uma delícia. Porém, o tempo passa e algumas coisas a gente aprende, como por exemplo esta. Os homens podem ser divididos não apenas em louros e morenos, carecas e cabeludos, mas também em:

a) aqueles que acham que a depilação completa (ou íntima) na virilha é uma lenda urbana criada e disseminada pelos filmes pornô, não existindo de fato na vida real de mulheres normais (ou, para não sermos preconceituosos com as atrizes de filme pornônão seriam elas, também, mulheres normais? – com as mulheres que têm outra profissão na vida que não a de atriz de filme pornô);

e

b) aqueles que acham que todas as mulheres, louras ou morenas, carecas ou cabeludas (incluindo as absolutamente cabeludas), possuem suas respectivas virilhas eternamente depiladas e macias, exatamente como nos filmes pornôque seriam, desta forma, a mais perfeita reprodução da realidade.

Outra coisa que a gente aprende é a psicologia subjacente às cançonetas infantis. Quando meninas, somos levadas a crer (bom, eu pelo menos fui) que existe uma melhor opção intrínseca a cada um dos pares de opostos em que os homens são divididos: louros e morenos, carecas e cabeludos, reis e ladrões, polícias (sic) e capitães. Prossigamos com uma análise psicossocial de cada um deles:

Louros ou morenos? Acho bastante provável que a compositora da música preferisse os louros aos morenos, seguindo nossa provinciana lógica de considerar os europeus melhores que os africanos (o que nos leva, aliás, a matar pelo menos um Papai Noel de desidratação por Natal). Como, de minha parte, sempre preferi os grisalhos, fica difícil emitir juízo sobre este assunto.

Carecas ou cabeludos? Apesar de todo Carnaval sermos bombardeados com a informação de que os carecas têm preferência no imaginário feminino, acreditar nisso é mais ou menos tão realista quanto supor que as mulheres se comportam como atrizes de filme pornô. De minha parte, namorei carecas e cabeludos. Todos têm sua graça. Empate técnico.

Reis ou ladrões? Esta é uma oposição tão falsa, mas tão falsa, que deixarei para comentá-la ao final desta postagem, porque ela concluirá tudo o que preciso lhes dizer, hoje.

Polícias ou capitães? é covardia. Entre um policial e um capitão, obviamente sempre preferiremos o segundoprincipalmente se for o capitão de alguma seleção nacional italiana (o esporte pouco importa).

Voltemos, assim, ao terceiro par de opostos. Reis ou ladrões? A princípio, ao meio e ao fim – e, principalmente, depois da notícia do casamento iminente de Fernandinho Beira-Mar –, somos desde sempre levadas a crer que um rei é o melhor que uma mulher poderia pescar, neste mar de louros e carecas em que navegamos (Camila também é poesia).

Mas venho a público para refutar tão absurda tese. E o meu argumento é o seguinte: um ladrão pode conhecer Jesus, e se reformar. Um careca pode fazer implante, e um cabeludo, umas tranças. Louros e morenos podem ficar grisalhos em questão de meses, e os grisalhos (estupidamente) insatisfeitos sempre podem recorrer à coloração caju. Tudo é movimento, dizia Heráclito (Camila também é filosofia). Até o homem que acredita na depilação eterna, com um pouquinho de paciência por parte de uma mulher não-atriz de filme pornô, pode mudar. Afinal, sabemos que ele sobreviveu à frustração de descobrir que o Papai Noel é na verdade um tiozinho que sofre de desidratação. Assim, basta explicar a ele que os pêlos nascem, crescem, reproduzem-se e NUNCA morrem, a menos que eliminados por meio de técnicas de tortura medievais – e, ainda assim, renascem no mês seguinte como se nada fosse, desafiando todos os princípios da filmografia erótica.

Espero que o parágrafo anterior tenha deixado evidente minha crença na possibilidade de o ser humano evoluir e se modificarporém, tudo tem limite. Passemos aos reis:

Pense rápido: qual é o primeiro rei que lhe vem à mente? Fácil: Roberto Carlos. Qual o segundo? Meus escassos conhecimentos sobre geopolítica mundial me permitem pensar no... Príncipe Charles, que um dia será rei ( imaginaram? Será que vamos viver para ver isso?).

Agora, a questão que não quer calar: vocês acreditam mesmo que existe alguma possibilidade de RC e PC, algum dia, se tornarem caras legais?

Concluo este post com um manifesto: abaixo a realeza! – e com uma celebração a ele correlata: vivam os homens plebeus deste mundo!

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