O horror dos bachelors bobinhos: antepenúltimo texto ressignificado
Conversando ontem com a Nath, os bachelors bobinhos revelaram uma face de horror que até então eu não percebera - e o texto deixou de ser um exercício frívolo de fazer gracinha para representar tudo aquilo que mais tenho medo de voltar a ser.
Porque os bachelors, como sói acontecer, são eu.
Durante muito tempo senti-me culpada por não ser alguma coisa que eu mesma não sabia exatamente o que era, mas que definitivamente tinha a ver com ser mulher.
No outro término por e-mail que vivi - impossível não revisitar esses sentimentos agora -, não me restou a menor dúvida de que a culpa era toda minha. Claramente, eu havia feito por merecer. Não era suficientemente inteligente, sensível, culta, experiente, musical, boa de cama ou fotogênica. Cada dia eu achava que me faltava uma dessas qualidades, ou alguma combinação maluca de duas ou mais delas. Em suma, eu não era mulher o bastante. (E, em certa medida, não era mesmo, porque só uma menininha-mulherzinha para se deixa atolar em questionamentos tão básicos sobre a própria identidade - e, francamente, para se levar tão a sério.)
Ora, os bachelors de NY sofrem deste mesmo mal: não se acham homens o bastante. Não estão confortáveis com quem são, e precisam recorrer a pessoas, imagens e conhecimentos externos para se bancar num relacionamento - e, o que é mais grave, num relacionamento que ainda nem existe. O Bachelor #1 alardeia uma amizade, o Bachelor #2 um gosto e o Bachelor #3 um conhecimento (sobre instrumentos musicais). Nos três casos, coisas que eles não têm ou não são (ou, no caso do Bachelor #1, até pode ser que tenha - mas e daí? O que isso me diz sobre ele? Como a amizade de um músico que admiro poderia torná-lo uma pessoa mais interessante aos meus olhos?)
Mas aí é que está: tenho certeza de que os três bachelors sentiram-se mais desejáveis uma vez anunciada suas características especiais - seus superpoderes. Que, por serem super, eles não puderam manter por muito tempo - afinal, são apenas homens.
Apenas homens. E eu apenas uma mulher.
Uma mulher que, como eles, por muito tempo achou insustentável não ser amiga do Toninho Horta, não gostar de jazz e não saber a diferença entre um trombone e uma tuba.
Tenho medo de voltar a ser - de querer voltar a ser - uma caricatura grotesca de uma mulher que sabe-se lá quais superpoderes precisa ter.
Felizmente, dia desses o Alex me relembrou de que a gente só tem medo do que não aconteceu ainda.
Mas, se a gente tem medo, está perigando acontecer.
É compreensível - a tentação é grande. Vontade de se deixar soterrar por representações fantásticas quando sou apenas uma mulher que levou um pé na bunda fenomenal.
Não quero mais o fantástico: quero aquilo que é; aquilo que sou.
Quero bachelors assim:
Bachelor Ele-Mesmo #1: Então quer dizer que você gosta do Toninho Horta? Que legal, eu também!
Bachelor Ele-Mesmo #2: Ouço todos os tipos de música, mas gosto mesmo é de rock / bolero / polca.
Bachelor Ele-Mesmo #3: Essa foto vai ficar boa, com aquele instrumento bizarro ao fundo.
Quero sobretudo ser uma mulher e bachelorette digna de bachelors como esses.
Porque os bachelors, como sói acontecer, são eu.
Durante muito tempo senti-me culpada por não ser alguma coisa que eu mesma não sabia exatamente o que era, mas que definitivamente tinha a ver com ser mulher.
No outro término por e-mail que vivi - impossível não revisitar esses sentimentos agora -, não me restou a menor dúvida de que a culpa era toda minha. Claramente, eu havia feito por merecer. Não era suficientemente inteligente, sensível, culta, experiente, musical, boa de cama ou fotogênica. Cada dia eu achava que me faltava uma dessas qualidades, ou alguma combinação maluca de duas ou mais delas. Em suma, eu não era mulher o bastante. (E, em certa medida, não era mesmo, porque só uma menininha-mulherzinha para se deixa atolar em questionamentos tão básicos sobre a própria identidade - e, francamente, para se levar tão a sério.)
Ora, os bachelors de NY sofrem deste mesmo mal: não se acham homens o bastante. Não estão confortáveis com quem são, e precisam recorrer a pessoas, imagens e conhecimentos externos para se bancar num relacionamento - e, o que é mais grave, num relacionamento que ainda nem existe. O Bachelor #1 alardeia uma amizade, o Bachelor #2 um gosto e o Bachelor #3 um conhecimento (sobre instrumentos musicais). Nos três casos, coisas que eles não têm ou não são (ou, no caso do Bachelor #1, até pode ser que tenha - mas e daí? O que isso me diz sobre ele? Como a amizade de um músico que admiro poderia torná-lo uma pessoa mais interessante aos meus olhos?)
Mas aí é que está: tenho certeza de que os três bachelors sentiram-se mais desejáveis uma vez anunciada suas características especiais - seus superpoderes. Que, por serem super, eles não puderam manter por muito tempo - afinal, são apenas homens.
Apenas homens. E eu apenas uma mulher.
Uma mulher que, como eles, por muito tempo achou insustentável não ser amiga do Toninho Horta, não gostar de jazz e não saber a diferença entre um trombone e uma tuba.
Tenho medo de voltar a ser - de querer voltar a ser - uma caricatura grotesca de uma mulher que sabe-se lá quais superpoderes precisa ter.
Felizmente, dia desses o Alex me relembrou de que a gente só tem medo do que não aconteceu ainda.
Mas, se a gente tem medo, está perigando acontecer.
É compreensível - a tentação é grande. Vontade de se deixar soterrar por representações fantásticas quando sou apenas uma mulher que levou um pé na bunda fenomenal.
Não quero mais o fantástico: quero aquilo que é; aquilo que sou.
Quero bachelors assim:
Bachelor Ele-Mesmo #1: Então quer dizer que você gosta do Toninho Horta? Que legal, eu também!
Bachelor Ele-Mesmo #2: Ouço todos os tipos de música, mas gosto mesmo é de rock / bolero / polca.
Bachelor Ele-Mesmo #3: Essa foto vai ficar boa, com aquele instrumento bizarro ao fundo.
Quero sobretudo ser uma mulher e bachelorette digna de bachelors como esses.
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