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quarta-feira, 2 de abril de 2008

O fim

Este blog sempre tratou mais das entrelinhas do que dos fatos, mas agora o relato de alguns deles será necessário para a compreensão do que está por vir:

Hoje o Rafa terminou comigo. Por e-mail.

(Não venham me perguntar por que; obviamente, não entendi. Fico burrinha nessas horas. Parece que tem alguma coisa a ver com precisar ficar sozinho e não-é-você-sou-eu. Só sei - disso não há a menor dúvida - que um zumbi comeu o Rafa que eu conhecia enquanto estive viajando.)

Ele não conseguiu sustentar sua decisão por telefone. Se anteontem recebi um número recorde de cartões de embarque (história de aeroporto chatíssima que os leitores não merecem ver narrada aqui), hoje ouvi uma quantidade não menos Guiness-worthy de eu não seis e estou em dúvidas.

Então ficamos de nos encontrar à noite, já que ele não sabia.

A tarde toda, pensei muito.

E no fim da tarde liguei para ele dizendo que não queria encontrá-lo não.

Porque, se ele está na dúvida, eu estou bem certa. Tenho três certezas que me acompanham desde praticamente o momento em que saímos juntos pela primeira vez: que estou apaixonada por ele; que o amo; que quero ficar com ele.

Já ele, na melhor das hipóteses, "está em dúvida" (sic).

Ora, eu iria encontrá-lo para quê? Para tentar convencê-lo de que ele me ama? De que um relacionamento assim não se defenestra edifício abaixo? De que vou ficar ainda mais gostosa nas minhas lingeries novas?

***

O fim deste namoro só é comparável em sofrimento, para mim, à morte da minha mãe.

Mas há um sofrimento ainda maior do que o luto: a melancolia.

Melancólica estive por muitos anos, e melancólica voltaria a estar se me dispusesse a estar com um homem que, de fato, já morreu. Morreu para mim.

Não - eu quero a vida; quero o Rafa que me ama e que me quer como sua mulher.

Infelizmente este homem não existe mais. Sobraram uns ossinhos miúdos, cuspidos pelo zumbi - ossinhos que tilintam dizendo "estou em dúvida" e "eu não sei".

***

Este é o último post em que trato do Rafa-objeto-externo. Acabou. A partir daqui, vocês só verão o Rafa-objeto-interno neste blog - objeto incrivelmente ambivalente que precisará ser progressivamente processado, dissolvido, destruído e enterrado.

Como fazer isso, não tenho a menor idéia.

O dia inteiro tive surtos de choro intercalados por breves ilhas de apatia. Nunca este blog foi tão diarinho-de-moçoila e tão chato. E não consigo fazer nada a respeito - nem do blog, nem do choro.

Peço, uma vez mais, paciência. E solidariedade, em grandes quantias - para que mais um recorde seja quebrado. O recorde do calma-você-vai-ficar-bem-tudo-vai-dar-certo.

Porque está muito difícil acreditar nisso agora.

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