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quinta-feira, 3 de abril de 2008

Follow-up da fossa

Como assim

De manhã, no espaço de uma hora, falei com três pessoas tão diferentes quanto queridas - para avisar que cheguei, que a viagem foi ótima, e que.

E essas três pessoas de universos tão distintos - uma advogada, um músico e uma psicóloga; uma amiga de infância, um amigo da internet e uma amiga do trabalho - reagiram à notícia com o mesmo espanto e, mais espantosamente ainda, com precisamente as mesmas palavras:

Como assim?

Não lembro o que respondi para nenhuma delas.

***

O encalhe das lingeries

Nada ressoa mais a fim de namoro do que lingeries novas ainda envoltas nos papéis cor-de-rosa da Victoria's Secret.

Comprei, ao todo, quatro presentes para o Rafa. Nenhum deles grande coisa, claro. Mas cada um gestado e materializado com o carinho e a paixão que me transbordavam - e ainda transbordam - naquele momento. Não cansava de visualizar a hora em que os entregaria, contando todas as circunstâncias que envolveram cada uma das compras - onde eu estava, com quem, de onde veio a idéia do presente, o sentido inerente a cada um deles - enfim, as coisas bobas que a gente morre de vontade de contar quando quer dar alguma coisa para alguém.

Esses presentes são o de menos. Encontrarão bons destinatários, a quem terei o cuidado de avisar antes que não se trata de receber presentes, mas de me ajudar na elaboração de uma perda.

As lingeries, contudo, terão de ser elaboradas de alguma outra forma.

Comprar lingerie tendo uma pessoa em vista é o início do sexo.

Passei duas horas escolhendo lingeries que me caíssem bem, é claro - mas, principalmente, que me fizessem bela e desejável aos olhos dele, só dele. Era esse o sentido da compra - era esse o critério.

E agora?

Em primeiro lugar, a raiva imediata e incontida de uma consumidora frustrada: deixei de comprar algumas peças de lingerie básica para investir em lingerie sensual.

Só uma mulher sabe da dificuldade de encontrar o sutiã perfeito. Um que não aperte, não esprema, não achate e não desloque os peitos pra baixo nem pros lados. Um que com o tempo não encolha nem lasseie, não esmague nem afrouxe, cujas alças mantenham-se firmes e suaves, cujos bojos mantenham a forma arredondada e cuja estrutura não desprenda arames farpados.

Amigos, eu achei este sutiã.

E deixei de comprar o preto - justo o preto! - para adquirir peças sem funcionalidade alguma. Com o puro intuito de agradar, seduzir, estimular.

Por alguns instantes, confesso que meu afã consumista em busca do sutiã perfeito levou-me a considerar um erro o dispêndio de tanto tempo e dinheiro naquilo que, como a poesia, a música e uns poucos blogs, não tem objetivo definido - só beleza.

Mas meu afã feminino é maior.

Não vou deixar que tragédia amorosa alguma imponha limites aos meus desejos de dar a um homem - uma peça de roupa, meu corpo envolto em renda e charmeuse.

***

O impasse

Como eu queria não desejar que ele mude de idéia e me ligue - daqui a uma semana, um mês, um ano.

A esperança de que os mortos voltem à vida é o sintoma mais mortífero de minha existência, assola-me desde muito antes de mortes factuais, mata-me para o prazer e acende-me para um mundo interno parado e viciado, em que tudo é como eu gostaria e nada corresponde à realidade.

Vejo-me impossibilitada de não desejar que ele me ligue e diga - ô, linda.

Mas nada disso me é novidade.

Essa constelação psíquica é velha conhecida minha.

A novidade está em que, desta vez, o baque foi tão grande, a decepção tão profunda, que mesmo que ele efetivamente me ligue - daqui a uma semana, um mês, um ano - não sei se conseguiria recebê-lo de volta.

Ao Rafa-interno agregaram-se com toda a força as qualidades da imaturidade e da covardia.

É por isso que sei que acabou mesmo.

E ninguém imagina o esforço que preciso fazer para digitar isso.

Acabou mesmo.

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