Porque eu podia estar chorando, eu podia estar me descabelando, eu podia estar roubando e matando - mas, em vez disso, decidi acabar com a garrafa de vinho que Nath e eu abrimos ontem e listar algumas das pequenas e incomensuráveis alegrias de passar oito dias em Nova York com a melhor amiga e sua família extraordinária:

- Subir e descer a Quinta Avenida, a Madison, a Lexington, a Park, a Terceira. Ah, e a Sexta.

- Andar lá embaixo - SoHo e Village - durante o dia.

- Andar pelo parque num dia meio chuvoso ouvindo No Motion Picture do Eberhard Weber - melhor trilha sonora incidental de toda a viagem.

- Ouvir meus quatro bateristas preferidos do mundo inteiro - Paul Motian, Antonio Sanchez, Brian Blade e Bill Stewart - num espaço de oito dias - e, como se ainda fosse pouco, Clarence Penn e Gene Jackson pra arrematar.

- Sacudir uma árvore e despencarem meia dúzia de contrabaixistas afinados e criativos.

- Lembrar que hoje em dia adoro uma série de pianistas que há três anos eu nem sabia existir.

- Constatar que Seamus Blake é mesmo genial e não ver a hora de ouvir todos os discos dele.

- Comprar um monte de cds encalhados na minha wishlist do Soulseek há meses.

- Assistir a um show do Joshua Redman completamente diferente do de Ouro Preto.

- Me emocionar só de olhar as fotos nas paredes do Village.

- Whole Foods Market e seu salad bar.

- Duane Reade e farmácias em geral.

- Pastis, Del Posto, Trattoria Dell'Arte e outros restaurantes de ajoelhar e implorar por mais.

- Chardonnays californianos e bellinis.

- Maquilagem da MAC, vestidos Ann Taylor e J. Crew, bolsas Guess e Michael Kors.

- Hidratantes e esfoliantes de pêra da Victoria's Secret.

- Entrar na Prada como se eu fosse mesmo comprar alguma coisa lá.

- Entrar na Banana Republic e GAP e comprar de fato muitas coisas lá.

- Chegar em casa depois de um show e me deparar com um recadinho super carinhoso de alguma Botter.

- Ter a nítida sensação de que o flat era mesmo a minha casa e que o Central Park era meu quintal.

- Cafés da manhã by Organic Valley: muito cottage com mel no pão de trocentos grãos e muito brownie com leite, que também sou filha de Jacob.

- Descobrir que a tia e a prima da Bel são figuras raras e deliciosas.

- Meu aniversário em Nova York.

- Kate McGarry cantando Caminhos Cruzados e Flor de Lis em português no meu aniversário.

- Músicas inéditas da Kate McGarry por e-mail.

- Aniversário de Bel e Lu em Nova York.

- A refeição mais deliciosa e emocionante de toda a minha vida (deixei de ir a um show por ela).

- Minha cura psicanalítica.

- A melhor versão de Lone Jack que o Pat já tocou.

- A balada mais lindinha do disco novo do Pat - e de longe a melhor do show inteiro - ser em homenagem ao povo da minha nova cidade.

- Gary Peacock Trio tocando um repertório que parecia ter sido escolhido a dedo por mim, incluindo uma linda e esquecida canção da Joni.

- Van Goghs no Met.

- Aquele lugar lá das pirâmides no Met.

- Cookies, muffins, brownies e bagels.

- Dean & Deluca e uma deli gostosa por quarteirão.

- Deixar-se hipnotizar por uma pintura do Klimt.

- Patinar no Wollman Rink.

- Frio com sol quase todos os dias.

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De forma alguma esta listinha se pretende comprehensive e all-inclusive (de repente me ocorreram estes adjetivos em inglês e fiquei com preguiça de me achar esnobe e pretensiosa por isso). Parece-me, no entanto, ideal para dar o tom do que está por vir...