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sexta-feira, 9 de maio de 2008

Release do disco do Gabriel, versão 3.0 e definitiva

A menos que alguém tenha fortes argumentos contrários e excelentes sugestões, evidentemente!

Ficou um pouco longa, mas tanto Gabriel quanto eu ficamos bem satisfeitos com o resultado. Agora sim, o texto está com cara de resenha: traz mais informações objetivas sobre o disco, pero sin perder la ternura jamás (ou assim espero).

Mais uma vez, agradeço a todos e em especial à Mari pela ajuda.

E agora estou liberada para pensar com cuidado naquilo que mais tem preocupado o Gabriel ultimamente (o disco e o release são meros passatempos): o roteiro gastronômico de sua estadia em São Paulo.

(E haja Ponto Chic, Toninho & Freitas, Família Mancini, Mestiço...)

EDITADO PARA ACRESCENTAR: a cor roxa é coisa do blogger com o gmail e eu não tenho nada a ver com isso.

***

Aos 27 anos e iniciando um doutorado em composição pela Universidade do Texas (EUA), o baiano de Ilhéus Gabriel Santiago lança disco homônimo surpreendente e precioso. Surpreende, em primeiro lugar, porque apesar de este ser seu primeiro disco solo, trata-se do trabalho de um compositor e arranjador maduro, que já processou algumas de suas principais influências - notadamente, Ivan Lins e a dupla Pat Metheny / Lyle Mays - para construir uma linguagem musical própria. Diga-se desde já que esta linguagem prestou-se a ótimas conversas com músicos do porte de Odair Assad, Gilson Peranzzetta, Cliff Korman, Gabriel Grossi e Márcio Bahia, para citar apenas alguns.

O disco Gabriel Santiago constitui-se quase que inteiramente por composições do próprio Gabriel. As exceções são a faixa de abertura O Homem e o Cacau, da autoria de seu pai, o compositor Délio Santiago; e a bela Valseana, cedida por Sérgio Assad, que ganha interpretação singular de Odair Assad e Gabriel num duo de violão e guitarra. Cada uma das músicas do disco possui uma formação diferente: há desde o tradicional quarteto com violão e piano (De Clara pra Anna) até formações inusitadas como um trio-base de piano, violão de 12 cordas e contrabaixo acrescido de violoncello, violino e vozes (Clareanna).

Transitando pela música brasileira e pelo jazz, com especial ênfase no samba e na valsa, as composições de Gabriel compartilham de um "senso de inevitabilidade" - aquela sensação tão subjetiva e tão concreta de que a cada nota e a cada acorde só poderiam seguir-se precisamente aquela próxima nota e aquele próximo acorde - e de um delicado entrelace de partes escritas e partes improvisadas, característica tão cara ao Pat Metheny Group. Mas para além do compositor, há também o músico - criativo nos improvisos de violão e guitarra, inteligente na distribuição de acordes ao piano e conhecedor profundo do papel rítmico do violão como instrumento de acompanhamento, especialmente no samba (ouça-se, por exemplo, Considerações a Respeito). Por fim, há o Gabriel arranjador, que escreve para formações orquestrais com ambição e desenvoltura e rege uma orquestra de câmara na valsa Lis Bela e no samba Toma Lá Dá Cá. Este último traz ainda um interlúdio minimalista com ecos de Lyle Mays e a performance simultânea de duas baterias, tocadas por Hernane Castro e Erivelton Silva.

Estas são apenas algumas das surpresas que o disco Gabriel Santiago reserva ao ouvinte. Há também vozes e cordas quando menos se espera; um frevo que aos poucos vira marcha-rancho;
arranjos de metais de fazer orgulho a Moacir Santos; um violão de 12 cordas e um violino que timbram como uma viola caipira e uma rabeca. Mas, para que este texto não desmanche prazeres nem futuras surpresas, que se diga apenas, então, que o disco de estréia de Gabriel Santiago é impossível de se ouvir uma vez só.

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