Saudade de NOLA (segunda parte das fotos musicais)





Conheci o Paulo assim - e olha que a parte embaraçosa da história eu não tinha contado pra ninguém até agora! -: como eu estava com um carro alugado, acharam por bem me pedir - naquela maluca e deliciosa mania do povo do departamento de misturar português, inglês e espanhol - para que eu fosse pegar um speaker e trazê-lo para a universidade.
"Que legal, é claro que eu vou - só me fala direito o que é, e onde é."
(Reparem bem - eu perguntei o que era. Felizmente ninguém pareceu notar.)
"É um tal de Pedro... Pedro Araújo, conhece?"
Meu pensamento imediato foi:
"Que pena, não é Dynaudio!"
Ou seja: tamanha é a musicalidade de New Orleans, que quando me pediram para buscar o speaker eu achei que estava para transportar caixas de som - e logo as melhores do mundo!
Mas o speaker, no fim, não era nem Dynaudio nem Pedro, e sim Paulo César de Araújo (blog a caminho) - que para mim, então, era apenas o personagem principal e involuntário de uma das maiores pataquadas da história do judiciário brasileiro.
Mal sabia eu que passaríamos - Alex, ele e eu - dois lindíssimos dias e noites juntos, cuja lembrança agora me toma de supetão.
Debatemos sobre os diferentes papéis de Tom Jobim e João Gilberto na criação da bossa nova e na divulgação da música brasileira no exterior; a qualidade (ou falta de) do disco Jazz Samba; as melhores e piores letras em inglês do repertório Jobim; a diferença entre bossa nova e muzak; as inovações rítmicas que se diluem e perdem numa bossa nova pasteurizada; o paradeiro de Newton Mendonça. Realizamos um dos sonhos da vida do Paulo ao irmos a um cinema de 1920; realizamos um dos meus ao ir ao Snug Harbor ouvir o quinteto do Delfeayo Marsalis. Andamos muito pelo centro, pelo French Quarter, pelas margens do rio e até pela Bourbon Street; conhecemos a loja da Hustler e compramos balangandãs para a filhinha do Paulo (não na Hustler, calma). Comemos cookies e rebolamos para achar pratos vegetarianos para ele; assistimos a diversas palestras sobre música brasileira; Alex e eu autorizamos o Paulo a, caso fôssemos atropelados pelo trem, relatar o ocorrido; Paulo tentou me convencer de que Sua Estupidez é uma obra-prima (é, Paulo, é bonitinha, isso eu concedo); eu esqueci de tentar convencê-lo de que o melhor baterista de bossa nova do mundo é mexicano. Tivemos diálogos impagáveis, um dos quais já adianto agora:
Paulo cantarola: - "Eu tenho tanto / pra lhe falar / mas com palavras / não sei dizer"...
Eu: Ah, eu não acredito que, depois de tudo, você ainda fica cantando isso!
Paulo: É engraçado, as pessoas me perguntam se não tenho ressentimento do Roberto... Mas sempre soube separar muito bem o artista da obra. A obra supera em muito o artista.
Eu: Não! Não é isso. Eu não acredito como você consegue gostar dessa música. (Depois de um dia em que falamos à beça sobre bossa nova etc.)
Desnecessário dizer que o Paulo é uma pessoa que eu adoraria ter sempre bem perto de mim.

Saudade desses rapazes; saudade daqueles dois dias.
Marcadores: recordar
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