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segunda-feira, 21 de abril de 2008

Raciocínios que assustam

Existe um tipo de reação que sempre me incomoda muito toda vez que alguma tragédia criminal ocupa o centro das atenções da mídia. Algumas pessoas se incomodam com o destaque em si - com o circo que se arma em torno da tragédia.

O circo é uma instituição que, dentre tantas outras, nunca fez parte da minha vida. Exemplos: nunca peguei carinhas na balada, nunca segurei o tchan, nunca parei para ver acidente na estrada e nunca me interessaram os detalhes dos laudos técnicos referentes ao assassinato da menina Isabella. São coisas que simplesmente não me interessam. Não são essas as vias que utilizo para (nos dois primeiros casos) expressar a minha sexualidade nem (nos dois últimos) minha empatia e solidariedade para com outros seres humanos. Mas não me surpreende nem me indigna que estas sejam as vias de expressão adotadas por outras pessoas. Em nada me incomoda, no que se refere à tragédia de agora, que ela ocupe a primeira página dos jornais há semanas. Se é o que as pessoas querem consumir, é o que o jornal oferecerá. Simples assim.

Mas incomoda-me muito, incomoda-me de verdade, o seguinte argumento: "todo mundo fica aí falando dessa menina assassinada, mas se ela fosse preta e pobre queria ver se ia dar esse rebu todo!"*.

Porque essa reação pode até demorar um tempinho para aparecer, mas é como o recalcado: sempre retorna. Quando Marcelo Frommer foi assassinado, veio a pergunta: e se fosse sambista? Quando Liana Friedenbach foi assassinada - e se não fosse judia?

Eu sinceramente não entendo o que esse tipo de argumento pretende demonstrar.

Que está errado deixar-se indignar por assassinatos cometidos contra pessoas de classe média/brancas/roqueiras/judias? Que indignantes mesmo são os assassinatos cometidos contra pobres/pretos/sambistas/não-judeus?

Socorro.

*Fonte: conversa de corredor.

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