Fotos musicais NOLA, parte 1
Vista do segundo andar do COSEAS (será que um dia eu aprendo o nome do prédio e deixo de chamá-lo de COSEAS?). No meio da tarde, uma banda de blues no pátio tão aleatória quanto ótima. Uma das coisas que mais me encantaram em New Orleans é que a música não precisa de motivo para acontecer.
Na abertura da BRASA, Chris Dunn, professor e gato. Toda instituição de ensino tem o seu - bem como a mocinha semi-psicótica que tem certeza de que o professor e gato está a fim dela (e só não descobriu isso ainda). Não raro a mocinha semi-psicótica incita-me a ser sua conselheira amorosa - é a personalidade não-psicótica da mocinha querendo ser chamada à realidade via um "amiga, vai procurar a sua turma". But I digress. Importa assinalar aqui que acho que vou me divertir muito no curso de música brasileira oferecido por ele - que, aliás, fala português melhor do que eu e você - e pelo Idelber. E também que ele organizou um congresso dos mais bacanas. E que eu fiquei feliz da vida em ter podido ajudar um micro-pouquinho na organização do evento.
É difícil pensar em lugar pior para ouvir música do que congresso: o nível costuma ser de Scala FM pra baixo. Grandes clássicos do rock e da MPB reinterpretados por ursinhos pimpões da Disney - é mais ou menos essa a imagem que música-de-congresso (prima-irmã da música-de-elevador e tia-avó da música-de-dentista) costuma me suscitar.
Pois a BRASA revolucionou meus conceitos sobre música-de-congresso ao contratar a Vavavoom para tocar durante o coquetel e o almoço do dia seguinte. É um som que, hmm, a única referência que consigo pensar para dar é o Django. "Gypsy jazz swing", diz o site deles, e me parece acertadíssimo. É isso mesmo: um jazz bem folk lá dos primórdios trazido para a nossa realidade, para um repertório em que convivem Duke Ellington e Luiz Bonfá (e mais uma porção de outras músicas que nunca ouvi mais gordas e que agora é imperativo conhecer).
O único momento em que ouvi música ruim em New Orleans foi quando chegou a vez do inevitável grupo de samba brasileiro. O grande problema do grupo de samba brasileiro não é nem o Brasil, nem o samba, nem mesmo o tchan que eles insistiam que deveria estar bem seguro e amarrado: o grande problema do grupo de samba brasileiro é o engenheiro de som brasileiro. Sabe aquelas refeições para quinhentas pessoas em que o arroz invariavelmente acaba pegando o gosto da carne, que pega o gosto do alface, que pega o gosto do tomate, que por sua vez pega o gosto do arroz? Pois o engenheiro de som brasileiro tem o dom de fazer o cavaquinho pegar o gosto do pandeiro, que pega o gosto do violão, que pega o gosto do surdo que pega em cheio no seu peito, te impelindo com toda a força para bem longe do tchan.
Kermit Ruffins no Vaughn's. Foi legal, foi bacana - principalmente pela ótima companhia de Idelber e sua turma. Mas só vou voltar se for para levar alguém. Sozinha, não tem por quê. Eu gosto de ouvir música, e aquele lugar é uma balada. Uma balada com o ótimo atrativo de ter boa música - mas, além de não ser uma música que me revire o cérebro (toca-se, basicamente, blues, e senti uma falta danada de um baixo acústico ali), ainda assim é uma balada, em que as pessoas vão para pegar e ser pegadas, beber e fumar sem se importar com a polícia. Em suma, tudo muito longe de me interessar. Com exceção da música, que estava legal, sim.
Agora, música mesmo fui ouvir no último dia, em que fomos - Alex, Paulo e eu; do Paulo falo já já - ver o quinteto do Delfeayo Marsalis. Para quem não sabe, os Marsalis são tipo a família Caymmi dos estado-unidenses: cada um ali toca alguma coisa e todos são mais ou menos excelentes no que fazem. Com a diferença de que os Caymmi têm três gênios e os Marsalis um só: o saxofonista Branford, que todos devem conhecer dos discos do Sting. Aliás, nunca consegui me decidir pelo solo de saxofone improvisado mais bonito da história da música popular. Mas cheguei a um top 3, em ordem não-especificada:
Branford Marsalis em Englishman in New York, do Sting
Nivaldo Ornelas em Beijo Partido, do Milton Nascimento (música do Toninho Horta)
Michael Brecker em Don't Let Me Be Lonely Tonight, do James Taylor
Voltando. O Branford, além de gênio, é meio do contra - porque o cara politicamente mais importante de sua família é seu irmão mais novo Wynton, trompetista tão competente quanto chato. Foi ele o grande difusor daquelas idéias ultra-manjadas de que o jazz morreu na década de 60 e é preciso resgatar os valores do passado e zzz... (Dêem uma olhada - melhor ainda, cliquem - na listinha aí do lado para vocês verem o quanto essas idéias me comovem: rigorosamente nada.) Moral da história: enquanto Wynton faz discursos apocalípticos, toca o Lincoln Center e se torna o principal porta-voz do jazz no mundo, Branford grava com Sting, expande as fronteiras do jazz e toca cada vez melhor. (O Wynton até toca bem, mas faz cada disco chaaaaaaaato...)
Mas, enfim, o show que vi não foi nem de um nem do outro, e sim do irmão menos famoso Delfeayo, trombonista. E, Jesus, que timbre. E que seção rítmica. Mais um baixista que caiu da grande árvore dos baixistas, um baterista que respondia fração-de-segundo a fração-de-segundo a tudo o que vinha de todos os lados e um pianista que sabiamente tocava com as duas mãos (se tem coisa que me irrita é pianista de jazz cuja mão esquerda fica mortinha nos apoios - geralmente intervalos de quinta - enquanto a direita corre para lá e para cá toda serelepe). O som? Mais convencional, impossível: exposição do tema (eventualmente precedida de introdução), dois ou três chorus pra um, dois ou três chorus pra outro, re-exposição do tema e estamos conversados. Formalmente, tudo muito previsível - mas não tenho nada contra essa previsibilidade do jazz. Tenho alguns amigos que não agüentam mais, e aliás o Eberhard Weber também não. Eu gosto e acho esse universo bem rico, a despeito das limitações formais. Filosofadas à parte, vão lá ouvir este show que achei no youtube. Obviamente, o som parece saído diretamente da piscina e rolam umas edições criminosas - ainda assim, vale pela maravilha que é esta formação.
Moral desta outra história: hei de bater ponto no Snug Harbor toda semana.
Agora, música mesmo fui ouvir no último dia, em que fomos - Alex, Paulo e eu; do Paulo falo já já - ver o quinteto do Delfeayo Marsalis. Para quem não sabe, os Marsalis são tipo a família Caymmi dos estado-unidenses: cada um ali toca alguma coisa e todos são mais ou menos excelentes no que fazem. Com a diferença de que os Caymmi têm três gênios e os Marsalis um só: o saxofonista Branford, que todos devem conhecer dos discos do Sting. Aliás, nunca consegui me decidir pelo solo de saxofone improvisado mais bonito da história da música popular. Mas cheguei a um top 3, em ordem não-especificada:
Branford Marsalis em Englishman in New York, do Sting
Nivaldo Ornelas em Beijo Partido, do Milton Nascimento (música do Toninho Horta)
Michael Brecker em Don't Let Me Be Lonely Tonight, do James Taylor
Voltando. O Branford, além de gênio, é meio do contra - porque o cara politicamente mais importante de sua família é seu irmão mais novo Wynton, trompetista tão competente quanto chato. Foi ele o grande difusor daquelas idéias ultra-manjadas de que o jazz morreu na década de 60 e é preciso resgatar os valores do passado e zzz... (Dêem uma olhada - melhor ainda, cliquem - na listinha aí do lado para vocês verem o quanto essas idéias me comovem: rigorosamente nada.) Moral da história: enquanto Wynton faz discursos apocalípticos, toca o Lincoln Center e se torna o principal porta-voz do jazz no mundo, Branford grava com Sting, expande as fronteiras do jazz e toca cada vez melhor. (O Wynton até toca bem, mas faz cada disco chaaaaaaaato...)
Mas, enfim, o show que vi não foi nem de um nem do outro, e sim do irmão menos famoso Delfeayo, trombonista. E, Jesus, que timbre. E que seção rítmica. Mais um baixista que caiu da grande árvore dos baixistas, um baterista que respondia fração-de-segundo a fração-de-segundo a tudo o que vinha de todos os lados e um pianista que sabiamente tocava com as duas mãos (se tem coisa que me irrita é pianista de jazz cuja mão esquerda fica mortinha nos apoios - geralmente intervalos de quinta - enquanto a direita corre para lá e para cá toda serelepe). O som? Mais convencional, impossível: exposição do tema (eventualmente precedida de introdução), dois ou três chorus pra um, dois ou três chorus pra outro, re-exposição do tema e estamos conversados. Formalmente, tudo muito previsível - mas não tenho nada contra essa previsibilidade do jazz. Tenho alguns amigos que não agüentam mais, e aliás o Eberhard Weber também não. Eu gosto e acho esse universo bem rico, a despeito das limitações formais. Filosofadas à parte, vão lá ouvir este show que achei no youtube. Obviamente, o som parece saído diretamente da piscina e rolam umas edições criminosas - ainda assim, vale pela maravilha que é esta formação.
Moral desta outra história: hei de bater ponto no Snug Harbor toda semana.
Na parede do Vaughn's, diversas representações da Flor-de-lis (valei-me, Deus...), símbolo da cidade. Música que a Kate McGarry cantou em português e inglês lá no 55. Vontade de escrever que o ciclo se fecha.
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