Mudei de endereço

Postar um comentário

sexta-feira, 9 de maio de 2008

O dia em que ganhei de Murphy

Ontem à noite, numa idéia retumbante de tão gloriosa, decidi descobrir se havia algo decente para se ouvir aqui em São Paulo. Oh, timing maravilhoso: Scofield no SESC em pleno feriado, justo no dia em que Gabriel chega. Animadinha, dei as boas novas para ele com planos de escrever também para a Liga da Justiça (Marcelo etc.) e combinarmos uma farofa em plena Vila Mariana.

Mas hoje, numa idéia estrondosa de tão beatífica, decido telefonar para o SESC, muito matreira, para saber a quantas anda a venda de ingressos.

- Senhora, existem quatro entradas disponíveis.

Eu estava no meio daquele "retoque do meio-dia" que quem usa maquilagem sabe como é.

Saí do escritório da minha tia sem blush e sem batom (porém com rímel), e em cinco minutos estava no SESC.

Sigo até a bilheteria, e - claro - havia um rapaz à minha frente.

E de repente todas as questões filosóficas do mundo resumiam-se a esta:

"Como determinar - pela aparência, pela postura e pelo trajar - se um indivíduo gosta do John Scofield?"

E de repente tudo ficou claro. Pois todo mundo sabe que o público ouvinte de jazz no Brasil divide-se em adolescentes que gostam de guitarra e tiozões que gostam de whisky. Sendo que o Scofield atrai majoritariamente ouvintes do primeiro tipo.

E o rapaz à minha frente... Usava um capacete de bicicleta!

Elementar: adolescentes que gostam de guitarra jamais andariam de bicicleta. Onde colocar o case?

Abençoadas sejam, portanto, as bicicletas e seus ciclistas que preferem balé a jazz.

***

Moral da história: COMPREI OS DOIS ÚLTIMOS INGRESSOS PARA O SHOW DO SCOFIELD NO SESC VILA MARIANA.

E tudo fica ainda mais emocionante quando a gente considera que:

- o show desse trio do Scofield com Steve Swallow e Bill Stewart foi o grande flop de Nova York em 2006. Porque foi no Blue Note, que comporta apenas os tiozões do whisky; e os engenheiros de som de lá aparentemente faltaram nas aulas de mixagem e equalização. O resultado é que o show foi praticamente um workshop de bateria, com ecos de contrabaixo aqui e ali e aproximadamente meio DB de guitarra. Pior: esse foi o show para o qual levei a Bel, após insistir horrores para ela ir comigo. E aí a gente foi e viu um não-show. Tudo bem que mesmo assim eu me diverti, afinal Bill Stewart é meu pastor - mas Scofield me faltou e, em situações assim, eternamente me faltará.

- Steve Swallow e Bill Stewart formam uma das seções rítmicas mais estranhas e criativas do mundo;

- aliás, o Bill Stewart, como já se disse, é meu pastor (e do Gabriel também): dou pulinhos de emoção quando ele faz aquelas polirritmias no aro da caixa. Isso vem do Roy Haynes, claro, mas que se pode fazer - acho que é natural a gente se identificar mais com o que nos é contemporâneo;

- o Bill Stewart - ainda ele - acaba de lançar disco novo (resenha no AAJ aqui) e creio não ser demasiado ingênuo de minha parte esperar que ele monte uma barraquinha de CDs no SESC;

- além do trio, o show conta também com uma seção de metais / madeiras;

- o show conta com isso porque é o show do This Meets That, que é nada menos que O MELHOR DISCO DO SCOFIELD EVER;

- então eu vou ver o show do MELHOR DISCO DO SCOFIELD EVER. Tudo bem que isso já estava implícito, mas deu vontade de escrever: foi uma frase-beliscão.

Moral da história #2: O fim de semana será passado ao som de vocês-sabem-o-quê.

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial