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sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Não sussurre

Li há pouco no AAJ uma crítica entusiasmada do disco novo do Standards Trio. A crítica começa pela asserção de que a melhor parte da obra do Jarrett está no trabalho com esse trio, embora não fosse difícil encontrar um argumento que favorecesse seus discos solo.

Eu não poderia concordar mais, como diriam os estadunidenses, e vou além: sem dúvida alguma, o Standards Trio é responsável pela melhor parte da obra do Jarrett, assim como a melhor parte de sua obra é seu trabalho de piano solo, da mesma forma que a melhor banda da carreira dele é o quarteto americano, bem como a melhor formação em que já tocou certamente é o quarteto europeu.

Conheci cada uma dessas bandas em momentos diferentes da minha vida, e relativamente tarde, pois meu pai recusava-se a ouvi-lo em função daqueles grunhidos que se situam em algum lugar do espectro que vai do êxtase religioso-sexual ao desarranjo intestinal. Então, só fui conhecer o disco mais vendido da história da ECM - e um dos mais ouvidos da minha história - já adolescente, na época em que estava aprendendo o que era música modal (não me perguntem que já esqueci). The Köln Concert é o disco a dar de presente para quem acha que música improvisada é chata e difícil: quero ver se não vão pirar no timbre metálico do piano e sair gritando "uuuuuh!!!" e "uoooooooooooou!!!" já ao fim da primeira música. Tenho muitos outros piano-solo queridos do Jarrett, do inovador Facing You até o recente e subestimado The Melody At Night, With You, o disco mais Bill Evans dele, com improvisações contidas e melodias mais do que sentidas.

Depois recebi uma recomendação que foi praticamente uma ordem: eu deveria ouvir o My Song imediatamente, sob pena de adiar inutilmente uma paixão que certamente se abateria sobre mim mais cedo ou mais tarde. É claro que me apaixonei. Eu nunca tinha ouvido o Jan Garbarek, não sabia que aquele timbre existia. Nem que existiam temas como aqueles. O Belonging veio um pouco depois, com outros temas preciosos (incluindo o que o Steely Dan plagiou) e outros tantos solos de piano e saxofone para decorar e cantar junto, para desespero dos desafortunados amigos que se arvoravam a ouvir essas coisas ao meu lado.

Um ou dois anos mais tarde, também praticamente sob coação, é que descobri aqueles estranhos discos com músicas que não acabavam, introduções longuíssimas que só ganhavam algum sentido a posteriori, um piano infelizmente desafinado, percussão maravilhosamente desritmada e um sax tenor que surpreendentemente não exalava a Coltrane - tudo isso criando uma sonoridade única, que não teve antecedentes e não deixou herdeiros. Esses são o Fort Yahuw, Death and the Flower e, principalmente, The Survivor's Suite. Este último é daqueles discos que não posso ouvir a qualquer momento, sob pena de não conseguir fazer mais nada pelo resto do dia.

Por fim, vieram os discos do trio, que vim a conhecer bem mais velha. E aí não foi amor à primeira vista. O primeiro de que realmente gostei foi o Tribute, que tem a melhor All The Things You Are de todos os tempos. Mas tanto o DVD ao vivo no Japão quanto o Bye Bye Blackbird, embora obviamente bons, não mudaram a minha vida não. Mesmo o Tribute não foi tão marcante - talvez porque esses três discos contenham repertórios que não me eram muito familiares. A verdade é que nunca me conformei com o fim das outras bandas do Jarrett - e, principalmente, sempre achei um pouco frustrante que ele nunca tenha gravado, desde que comecei a ouvi-lo, uma composição própria sequer.

Esses dois sentimentos persistem, mas de uns meses para cá, uma coisa mudou: achei o disco do Standards Trio que cutucou a minha alma com uma vara tão curta quanto as dos outros discos aqui mencionados. Tão curta, que foi fácil para ela dele se abocanhar rapidamente.

Já os discos mais recentes de piano solo também cutucaram minha alma, mas com uma vara significativamente mais comprida (depois vocês me dizem se a metáfora ficou excessivamente sexual e de mau gosto). Isto é, eles me intrigaram, mas minha alma não se apoderou deles com tanta presteza. Eles ainda estão a uma distância segura. São discos bonitos, com alguns momentos verdadeiramente iluminados, mas freqüentemente camuflados em emaranhados de notas cujo sentido e significado ainda não consegui captar muito bem.

O curioso é que, com relação a este disco do Standards Trio da vara pequena, sofri uma coação maior ainda: ganhei-o de presente. E, dado que obedeci às duas ordens anteriores tão prontamente, hoje me é difícil entender o que aconteceu que o disco ficou ali quietinho na prateleira por cinco anos. Ignorei o conselho de "ouça imediatamente" - e o resultado é que 2007 ficará marcado para mim, dentre tantas outras coisas e discos, como o ano em que conheci o Whisper Not.

Ainda não estou pronta para escrever sobre ele; mas como gostei desse negócio de enquete, deu vontade de perguntar a vocês qual é, afinal, o seu KJ preferido. Votem!

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