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terça-feira, 20 de novembro de 2007

Um amor construído

Esta semana recebi uma ligação que me pôs para pensar:

"Ouvi uma música da Joni, lembrei de você".

Como explicar o impacto emocional que isso provoca em alguém que, até então, só ouvira um tipo de associação com o próprio nome: "ouvi uma música do Pat, lembrei de você"?

Mais e mais pessoas ouvem Maria Schneider, Keith Jarrett, Brad Mehldau e lembram-se de mim. Mas, com a Joni Mitchell, essa associação é especialmente inusitada - pois, de início, ela era apenas uma cantora que tivera a honra de tocar com o Pat; eu não depositava qualquer interesse nela que não fosse motivado pela participação do Pat em seu disco; o disco era um mero suporte através do qual eu teria nova chance de ouvir o Pat.

Só que havia um detalhe: Shadows & Light, o disco e o vídeo, não era apenas mais um show com a participação do Pat. Ali, tínhamos o Pat na companhia do Lyle, fora do contexto Pat Metheny Group (!!!), numa formação muito mais próxima daquela tradicionalmente associada ao jazz, com um saxofone à frente, com o saxofonista sendo ninguém menos que o Michael Brecker. E, se isso já seria instigante o suficiente, bota aí mais algumas ampolas de adrenalina no meu sistema nervoso: esse era também o único registro oficial em vídeo do Pat com o Jaco, pouco após terem gravado Bright Size Life; e era também a primeira vez que eu veria o Jaco tocando.

Entendam: era muito estímulo para mim. Tanto, que lembro nitidamente desta sensação ao assistir a Shadows & Light pela primeira vez: uma irritação profunda com a dona da gig. Eu queria mais era que aquela tiazinha calasse a boca e deixasse a banda tocar. E que músicas eram aquelas?? O que eles estavam fazendo que não tocavam Bright Size Life, Three Views of a Secret?...

E foi assim que nasceu uma paixão estética tão fundamental - em seu sentido mais preciso de fundamento, base, sustentação do ser - quanto as que eu vinha cultivando até então (Pat, Lyle, Jaco, Jobim).

Isso, de início, se deu aos poucos. Começou por In France They Kiss On Main Street, por causa do solo do Pat, que citava Phase Dance ("até que enfim, uma música que vale a pena nesse show!"). Continuou, curiosamente (porque nesta o Pat só fingia que tocava), por Goodbye Pork Pie Hat, cuja melodia imediatamente eu soube que haveria de memorizar - bem como, aliás, o solo do Brecker. E foi mais ou menos isso.

Depois, não sei como, conheci Help Me, sua música mais deliciosamente pop, daquelas que não tem como não sair cantando junto já na volta do A, depois de um B com dois versos que afinal me fizeram ver que talvez eu devesse começar a prestar atenção nas letras dela: "didn't it feel good, we were sitting there talking - or lying there not talking".

Até aí, porém, eu apenas havia deixado de desejar que a tiazinha fosse abduzida pela nave da Xuxa no meio do show, passando a considerá-la uma cantora pop competente.

Hoje, me é MUITO LOUCO perceber o quanto eu estava fechada, na época - eu tinha uns 17 anos, então -, para qualquer experiência musical que extrapolasse minimamente o universo Pat Metheny - apenas a música da Joni mais obviamente destinada ao sucesso, a mais inescapável, a mais acessível, conseguiu me atingir. Os versos que inicialmente me capturaram são o melhor exemplo disso: a cuidadosa construção imagética erguida em Goodbye Pork Pie Hat era por demais complexa e estranha para que eu me aventurasse a mergulhar nela; ative-me ao conforto de versos lindinhos e sugestivos. Gostei de Pork Pie Hat - e também de In France - apesar e não por causa da Joni Mitchell.

Felizmente, porém, Help Me foi o que bastou para fisgar minha alma e levar-me a ir atrás de mais. Help Me, pensando agora, fez com que eu ajudasse a mim mesma. A partir desta canção, conheci Hejira, o disco. E então...

(To be continued.)

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