O espanto com a vida
Jamais compreendi que um dia as coisas e as pessoas fazem puf! e morrem. Desaparecem para todo o sempre. Incompreensão e inaceitação se confundem. O puf não entra na minha cabeça: fica zanzando em torno dela, como aquele mosquito que não sei se me persegue ou me acompanha madrugada adentro, ora mais perto de um ouvido, ora de outro.
Mas há também um outro tipo de espanto. E tão mais espantoso por ser muito mais raro.
É o espanto de lembrar que algumas coisas e pessoas ainda vivem.
As crianças de uma determinada idade tapam os olhos quando estão muito assustadas: se elas não podem ver o que quer que lhes causa medo, tudo cessa de existir. O medo, o ente ameaçador e elas próprias, que se tornam invisíveis.
Depois as crianças crescem e percebem que tapar os olhos só as torna mais vulneráveis aos monstros.
Eu ainda estou naquela primeira idade. Vez ou outra, espio pelas frestas dos dedos, e justo no momento mais crítico do filme de terror. Não quero ver a mocinha ser estrangulada; quero, sim, saber se eu mesma sobrevivo - outlive - à mocinha - à dor de percebê-la em sofrimento.
Ainda não descobri. Minhas mãos sempre voltam a esmagar meus olhos. Eu gosto da mocinha. Não quero que ela sofra, e sim que seja para sempre uma linda mocinha. Se eu não olhar para ela, continuará lá. Eternamente. À distância e à espera de um estrangulamento.
Mas esse instante nem breve, nem longo, quando meu olhar e o olhar da mocinha se tocam - ela sabe que estou a observá-la - esse instante de duração indeterminada e de localização precisa - esse instante, e só ele, é a vida.
Mas há também um outro tipo de espanto. E tão mais espantoso por ser muito mais raro.
É o espanto de lembrar que algumas coisas e pessoas ainda vivem.
As crianças de uma determinada idade tapam os olhos quando estão muito assustadas: se elas não podem ver o que quer que lhes causa medo, tudo cessa de existir. O medo, o ente ameaçador e elas próprias, que se tornam invisíveis.
Depois as crianças crescem e percebem que tapar os olhos só as torna mais vulneráveis aos monstros.
Eu ainda estou naquela primeira idade. Vez ou outra, espio pelas frestas dos dedos, e justo no momento mais crítico do filme de terror. Não quero ver a mocinha ser estrangulada; quero, sim, saber se eu mesma sobrevivo - outlive - à mocinha - à dor de percebê-la em sofrimento.
Ainda não descobri. Minhas mãos sempre voltam a esmagar meus olhos. Eu gosto da mocinha. Não quero que ela sofra, e sim que seja para sempre uma linda mocinha. Se eu não olhar para ela, continuará lá. Eternamente. À distância e à espera de um estrangulamento.
Mas esse instante nem breve, nem longo, quando meu olhar e o olhar da mocinha se tocam - ela sabe que estou a observá-la - esse instante de duração indeterminada e de localização precisa - esse instante, e só ele, é a vida.
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