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domingo, 9 de dezembro de 2007

Um fim de semana no Oriente Médio

Tá, o fim de semana foi passado em São Paulo mesmo, capital e interior. Mas começou com Amós Oz na manhã de sábado (será que meus três leitores + minha quarta leitora ainda agüentam meus posts sobre ele?) e prosseguiu com uma festa árabe que, ao primeiro pão com coalhada, transformou o Arábia num Habib's mais ajeitadinho. A tarde prosseguiu com uma passagem tão breve quanto excruciante pelo interior paulista - e o trânsito e o calor não foram os principais responsáveis por isso. A visita interiorana, contudo, era necessária - e sim, mostrou-se bastante recompensadora. Afinal, o Oriente Médio não consegue ir muito longe numa cabeça cristã: fui criada para esperar o prazer depois (junto?) da dor. Nem que ele tenha de ser comprado: no sábado, o prazer atendeu pelo nome de "oitava temporada de Seinfeld", adquirida junto da nona, de um livro novo (mais uma vez, dor e prazer caminham juntos: a angústia da ignorância suscitada por mais um livro na pilha é acrescida da alegria que vem com a consciência de que mais um desejo literário será eventualmente saciado) e de uma caixinha de lápis inútil e essencial.

Então no sábado à noite mergulhei no meu binge judaico, e assim fiquei pelo resto do fim de semana, transitando entre Amós Oz e Seinfeld. Sobre o primeiro (respirem fundo que aí vem mais deslumbramento), queria tentar comunicar aquela que considero a grande qualidade do livro que estou lendo - e tentar fazê-lo sem recorrer a exemplos. Será que dá?

Na Flip, Oz leu um trecho que buscava (e conseguia) retratar a pouca distância que vigora entre tragédia e comédia (coisa, aliás, também explicitamente buscada, porém não conseguida, por Woody Allen em Melinda & Melinda). Não me recordo se ele apontou este como o objetivo do romance como um todo ou só daquele trecho em particular. O que quer que ele tenha dito na ocasião, eu fico com a primeira alternativa.

E como, pergunto a ele, a mim e a vocês - como ele consegue fazer isso? Eis o que venho notando ao longo da leitura até agora: Oz apaga muito sutilmente as fronteiras entre tragicidade e comicidade (é sutil porque não é tragicômico, principal problema do filme de Allen) à medida que retrata os personagens e situações da maneira mais absolutamente crua, objetiva e perscrutadora, beirando um cinismo que nunca chega a se realizar porque tudo isso é perpassado pela mais profunda compaixão. O resultado é um humor compassivo - enquanto humor, muito diferente daquele a que estamos habituados, pois nada tem a ver com a ironia ou a sátira: em nenhum momento o narrador "tira sarro" de um personagem, por mais que o leitor o considerasse digno de tal. Por outro lado, a compaixão nada tem a ver com o "perdoa-os, Pai, pois não sabem o que fazem" cristão, mas com um exercício tenaz de empatia, de aproximação da alteridade.

E como, pergunto mais uma vez, como ele faz isso? Como diria vovô Aleksander (essa é só para quem leu o livro): esta é uma questão em que ainda estou a trabalhar.

***

Com relação ao segundo elemento do meu binge judaico, veio-me a vontade de compartilhar um depoimento de Jerry Seinfeld, o próprio: disse ele que o seriado constituiu sua grande oportunidade de utilizar uma série de conhecimentos (inúteis?) adquiridos ao longo de toda a vida, fruto de sua eterna obsessão por all things comedy. Tudo isso foi parar lá, no show de TV. E com esse depoimento percebi que as pessoas cujo trabalho mais admiro costumam ter isto em comum: levar extremamente a sério aquilo que fazem, mas sem se levar muito a sério. Não todas, claro (alguém pensou no Miles Davis?). É, talvez o único ponto em comum entre todas elas seja mesmo a dedicação para com aquilo que fazem. Não se levar muito a sério - eis a arte, o bonus super combo extra special. Seinfeld e Oz compartilham essa qualidade.

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