Nós em NY: a Odisséia continua, versão jazzística
Como eu ia dizendo, ontem fiz coisas fantásticas quando cheguei em casa. Duas, para ser mais exata, a primeira das quais é o mote deste post.
Quando Bel propôs anteciparmos a viagem do Carnaval para janeiro, é claro que topei na hora - mas, no íntimo, confesso ter ficado um pouco apreensiva. Afinal, janeiro é um mês tão parado - música, será que rola? Será que os músicos todos não estariam de férias nessa época, passando esses dias com a família no interior, ou tocando em algum festival na Europa?
Abençoada ignorância. Pois cidade parada em janeiro é São Paulo, ó débil ser - nunca, jamais, a minha cidade favorita.
Ontem, muito mais do que "o primeiro dia do ano", era o dia em que sairia a nova edição do jornalzinho AAJ-NY, com a programação de eventos musicais da cidade do mês inteiro (isto é, os eventos que me interessam. Os grandes estão listados no Pollstar, mas decidi que, desta vez, vou deixar o show da American Idol Kellie Pickler passar). Não só o mês de janeiro não é parado como é freneticamente agitado, forçando-me a dolorosas decisões. Depois de muito meditar, calcular e confabular, cheguei à seguinte programação:
Dia 11 - Kenny Garrett no Iridium
12 - Pat Martino no Birdland
13 - Anat Cohen & The Waverly Seven no Iridium de novo
14 - MARIA SCHNEIDER ORCHESTRA no Jazz Standard
15 - Grant Stewart no Smalls
16 - Mark Soskin no Jazz Standard de novo
17 - Donny McCaslin no 55
18 - Adam Rogers no Jazz Gallery
Começando pelos lugares: fiquei feliz por não haver nenhum evento absolutamente imperdível no Blue Note (eita lugarzinho brega miserável); um pouco triste por ir uma vez só ao 55, o bar que seria o meu Supremo caso eu morasse em NY; feliz de novo por voltar ao Jazz Gallery, do qual tenho a belíssima recordação do show da Claudia Acuña em 2005; um pouco triste de novo por não ter tempo de ir ao Village desta vez; feliz também por voltar duas vezes ao Iridium, bar mais do que honesto que há tempos tenho vontade de conhecer melhor; um pouquinho triste por não conhecer o Louis 649, bar relativamente novo que deve competir com o Smalls/Fat Cat em aconchego, hospitalidade e qualidade das jams; por fim, exuberantemente feliz por ver a Maria Schneider pela primeira vez na casa dela!!! (Para vocês verem que o lugar nunca é independente da música que ali se toca.)
Prossigo com os cortes que fui obrigada a fazer, a começar por um festival no Knitting Factory que vai das seis da tarde de sábado até as três da manhã no domingo, cuja proposta é apresentar artistas novos à crítica e ao público. Não conheço quase nenhum deles; olhando a programação do mesmo festival uns três ou quatro anos atrás, porém, a proporção praticamente se inverte, e não há quase ninguém que eu não conheça e, conhecendo, goste um bocado. Ou seja, boto uma fé em que o festival seja bastante bom - mas não o suficiente para que eu me disponha a participar. Os motivos: sete horas seguidas de música ao vivo constituem experiência não muito diferente de oito horas consecutivas de trânsito; tudo bem que o festival é no Knitting Factory e o engenheiro de som, diferentemente dos daqui, deve ao menos ter o segundo grau completo, mas mesmo assim palcos armados em dez minutos quase nunca fazem justiça ao som que uma banda poderia apresentar; dado que se trata de um festival destinado a apresentar o "novo", certamente haverá grupos imitando o E.S.T. de maneira ainda mais descarada e mal-feita que o Bad Plus.
Mas é claro que nada disso seria suficiente para me fazer desistir desse festival - who am I kidding, mesmo com todo o exposto acima, adoro festivais - a não ser pelo singelo fato de que passarei apenas 9 dias em NY, e quero fazê-los render em todos os sentidos possíveis. Se eu fosse ficar lá três semanas, iria a esse festival sem piscar. Como não é o caso, optei por uma gig tradicional, que comporte também um jantar à noite e um passeio na manhã seguinte.
Continuando com as futuras não-realizações. Cheguei a considerar a possibilidade de ir a duas gigs no mesmo dia, em três dias diferentes. Desisti não só pelo motivo que acabo de mencionar - fazer os dias e as noites renderem, em mais de um sentido - como também pela grana que isso iria me custar de táxi (não daria tempo de ir de trem de um lugar para outro) e, principalmente, porque cá este débil ser ficaria olhando no relógio durante toda a gig número 1 calculando se daria realmente para chegar a tempo na gig número 2. Como o que menos preciso nesta viagem é desse tipo de preocuação, optei pela velha e boa castração do desejo, que abre caminho para a realização plena de desejos outros. Sendo assim, as principais gigs castradas da viagem serão as do Paul Motian, do Aaron Goldberg, do Kenny Werner e do Joel Harrison. Estas foram as difíceis. As fáceis foram o McCoy Tyner - do qual, aliás, ó vergonha suprema, só gosto no quarteto no Coltrane; não consigo me envolver com os discos dele e o único motivo para eu ir a um show seu seria a possibilidade de contar para os meus netos depois; como nem tenho muita certeza se irei ter filhos algum dia, o mais sensato foi mesmo desistir - e o Mike Stern no 55 - a primeira vez é legal, a segunda ligeiramente menos, e a terceira já receio que venha a ser um pouquinho deprimente, principalmente com ele insistindo em manter a pose de galanteador. Pretendo não pagar para ver.
Para excluir o Paul Motian e o trio do Aaron Goldberg, o critéiro implacável foi: já ouvi, tem muita música no mundo, vou ouvir outras coisas. O que não fez desta uma decisão fácil: eu gostaria muito, muito mesmo de rever o trio de piano cujo show mais me marcou; e, para piorar, o Paul Motian desta vez vai tocar com o Chris Potter, sim, o grande herdeiro do Michael Brecker e autor de um dos três discos mais deslumbrantemente lindos do ano passado. Já o Kenny Werner é aquele pianista que toca no disco da Joyce com o Dori e que gravou um disco interessante no começo do ano passado, com uns efeitos eletrônicos legaizinhos e, sobretudo, com a presença do - como diria a Joni - "Brian Blade, the wonderful". E o Joel Harrison é um guitarrista que também fez um disco bastante audível no ano passado, dominado pela presença do sax alto que rapidamente aprendi a amar: David Binney. O critério de exclusão destes dois foi a banda da fofíssima Anat Cohen com seus colegas de gravadora, os Waverly Seven, que morro de vontade de ouvir desde o primeiro dia em que passei uma boa hora no site deles.
E com isso inauguro a série de posts sobre as gigs que efetivamente hei de ver, explicitando minha relação com a música até agora e minhas expectativas para o que há de vir...
Quando Bel propôs anteciparmos a viagem do Carnaval para janeiro, é claro que topei na hora - mas, no íntimo, confesso ter ficado um pouco apreensiva. Afinal, janeiro é um mês tão parado - música, será que rola? Será que os músicos todos não estariam de férias nessa época, passando esses dias com a família no interior, ou tocando em algum festival na Europa?
Abençoada ignorância. Pois cidade parada em janeiro é São Paulo, ó débil ser - nunca, jamais, a minha cidade favorita.
Ontem, muito mais do que "o primeiro dia do ano", era o dia em que sairia a nova edição do jornalzinho AAJ-NY, com a programação de eventos musicais da cidade do mês inteiro (isto é, os eventos que me interessam. Os grandes estão listados no Pollstar, mas decidi que, desta vez, vou deixar o show da American Idol Kellie Pickler passar). Não só o mês de janeiro não é parado como é freneticamente agitado, forçando-me a dolorosas decisões. Depois de muito meditar, calcular e confabular, cheguei à seguinte programação:
Dia 11 - Kenny Garrett no Iridium
12 - Pat Martino no Birdland
13 - Anat Cohen & The Waverly Seven no Iridium de novo
14 - MARIA SCHNEIDER ORCHESTRA no Jazz Standard
15 - Grant Stewart no Smalls
16 - Mark Soskin no Jazz Standard de novo
17 - Donny McCaslin no 55
18 - Adam Rogers no Jazz Gallery
Começando pelos lugares: fiquei feliz por não haver nenhum evento absolutamente imperdível no Blue Note (eita lugarzinho brega miserável); um pouco triste por ir uma vez só ao 55, o bar que seria o meu Supremo caso eu morasse em NY; feliz de novo por voltar ao Jazz Gallery, do qual tenho a belíssima recordação do show da Claudia Acuña em 2005; um pouco triste de novo por não ter tempo de ir ao Village desta vez; feliz também por voltar duas vezes ao Iridium, bar mais do que honesto que há tempos tenho vontade de conhecer melhor; um pouquinho triste por não conhecer o Louis 649, bar relativamente novo que deve competir com o Smalls/Fat Cat em aconchego, hospitalidade e qualidade das jams; por fim, exuberantemente feliz por ver a Maria Schneider pela primeira vez na casa dela!!! (Para vocês verem que o lugar nunca é independente da música que ali se toca.)
Prossigo com os cortes que fui obrigada a fazer, a começar por um festival no Knitting Factory que vai das seis da tarde de sábado até as três da manhã no domingo, cuja proposta é apresentar artistas novos à crítica e ao público. Não conheço quase nenhum deles; olhando a programação do mesmo festival uns três ou quatro anos atrás, porém, a proporção praticamente se inverte, e não há quase ninguém que eu não conheça e, conhecendo, goste um bocado. Ou seja, boto uma fé em que o festival seja bastante bom - mas não o suficiente para que eu me disponha a participar. Os motivos: sete horas seguidas de música ao vivo constituem experiência não muito diferente de oito horas consecutivas de trânsito; tudo bem que o festival é no Knitting Factory e o engenheiro de som, diferentemente dos daqui, deve ao menos ter o segundo grau completo, mas mesmo assim palcos armados em dez minutos quase nunca fazem justiça ao som que uma banda poderia apresentar; dado que se trata de um festival destinado a apresentar o "novo", certamente haverá grupos imitando o E.S.T. de maneira ainda mais descarada e mal-feita que o Bad Plus.
Mas é claro que nada disso seria suficiente para me fazer desistir desse festival - who am I kidding, mesmo com todo o exposto acima, adoro festivais - a não ser pelo singelo fato de que passarei apenas 9 dias em NY, e quero fazê-los render em todos os sentidos possíveis. Se eu fosse ficar lá três semanas, iria a esse festival sem piscar. Como não é o caso, optei por uma gig tradicional, que comporte também um jantar à noite e um passeio na manhã seguinte.
Continuando com as futuras não-realizações. Cheguei a considerar a possibilidade de ir a duas gigs no mesmo dia, em três dias diferentes. Desisti não só pelo motivo que acabo de mencionar - fazer os dias e as noites renderem, em mais de um sentido - como também pela grana que isso iria me custar de táxi (não daria tempo de ir de trem de um lugar para outro) e, principalmente, porque cá este débil ser ficaria olhando no relógio durante toda a gig número 1 calculando se daria realmente para chegar a tempo na gig número 2. Como o que menos preciso nesta viagem é desse tipo de preocuação, optei pela velha e boa castração do desejo, que abre caminho para a realização plena de desejos outros. Sendo assim, as principais gigs castradas da viagem serão as do Paul Motian, do Aaron Goldberg, do Kenny Werner e do Joel Harrison. Estas foram as difíceis. As fáceis foram o McCoy Tyner - do qual, aliás, ó vergonha suprema, só gosto no quarteto no Coltrane; não consigo me envolver com os discos dele e o único motivo para eu ir a um show seu seria a possibilidade de contar para os meus netos depois; como nem tenho muita certeza se irei ter filhos algum dia, o mais sensato foi mesmo desistir - e o Mike Stern no 55 - a primeira vez é legal, a segunda ligeiramente menos, e a terceira já receio que venha a ser um pouquinho deprimente, principalmente com ele insistindo em manter a pose de galanteador. Pretendo não pagar para ver.
Para excluir o Paul Motian e o trio do Aaron Goldberg, o critéiro implacável foi: já ouvi, tem muita música no mundo, vou ouvir outras coisas. O que não fez desta uma decisão fácil: eu gostaria muito, muito mesmo de rever o trio de piano cujo show mais me marcou; e, para piorar, o Paul Motian desta vez vai tocar com o Chris Potter, sim, o grande herdeiro do Michael Brecker e autor de um dos três discos mais deslumbrantemente lindos do ano passado. Já o Kenny Werner é aquele pianista que toca no disco da Joyce com o Dori e que gravou um disco interessante no começo do ano passado, com uns efeitos eletrônicos legaizinhos e, sobretudo, com a presença do - como diria a Joni - "Brian Blade, the wonderful". E o Joel Harrison é um guitarrista que também fez um disco bastante audível no ano passado, dominado pela presença do sax alto que rapidamente aprendi a amar: David Binney. O critério de exclusão destes dois foi a banda da fofíssima Anat Cohen com seus colegas de gravadora, os Waverly Seven, que morro de vontade de ouvir desde o primeiro dia em que passei uma boa hora no site deles.
E com isso inauguro a série de posts sobre as gigs que efetivamente hei de ver, explicitando minha relação com a música até agora e minhas expectativas para o que há de vir...
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